Viagem no Tempo: Rumo ao Quinto dos Infernos



Não é de hoje que Carlota, Dom Pedro, Domitila, Chalaça e companhia dão as caras na teledramaturgia.
Pegando carona no sucesso de Novo Mundo, vamos relembrar a trajetória desses personagens em O Quinto dos Infernos, minissérie de 48 capítulos, o que equivale a novela das 23h ou a supersérie de hoje em dia.



Escrita por Carlos Lombardi essa quase pornochanchada televisiva tem seu  inicio em 1785 com a chegada da espanhola Carlota Joaquina (Betty Lago) aos 8 anos de idade em Portugal para casar-se com Dom João VI (André Mattos). Após alguns minutos de exibição a minissérie dá um salto para 1808 e apresenta uma rainha louca, um príncipe medroso e uma princesa devassa. Enquanto Carlota torna-se uma princesa adúltera e cheia de amantes, muitas vezes dando a entender que Pedro pode ser filho de um de seus amantes, por isso a raiva que ela sente por seu primogênito, Dom João fica em estado de pânico com a invasão de Napoleão a Portugal e resolve fugir para o Brasil junto com sua família, a nobreza e levando todo a riqueza dos cofres de Portugal já que ele estava respondendo por sua mãe, a  Rainha Maria, a louca (Eva Wilma).




No meio dessa invasão à Portugal, está o aventureiro Chalaça (Humberto Martins) que está fugindo de um homem que o pegou na cama com sua esposa.  Não muito distante dali, encontra-se Manoela (Danielle Winits) que foi expulsa de casa pela mãe após ser violentada pelo padrasto e acaba andando pelas ruas de Portugal sem rumo. Na véspera do embarque da família Real para o Brasil, os dois acabam se conhecendo e se apaixonando. Ele promete cuidar dela dali pra frente, mas no dia seguinte acabam sofrendo uma emboscada do marido traído, e Chalaça para se salvar entra no navio da Família Real que está vindo para o Brasil, achando que Manoela morreu no atentando.  Mas Manoela está viva e  acha que foi enganada por Chalaça e sem ter para onde ir, acaba virando prostituta e promete se vingar dele.




Quando a Família Real chega ao Brasil, a trama tem outra passagem de tempo, onde João e Carlota tornam-se rei e rainha com a morte de Maria e Dom Pedro (Marcos Pasquim) já adulto torna-se um ninfomaníaco que adora cair na esbórnia ao lado de Chalaça, que acaba virando seu melhor amigo. Ele está prestes a se casar com Leopoldina (Érika Evatini), mas sua amante Noémi (Carolina Ferraz) descobre  que está grávida para desespero de Carlota Joaquina (Betty Lago) que dá um jeito de sumir com a amante do filho e casá-lo com Leopoldina.




Em 1822, já casado com Leopoldina, Dom Pedro conhece Domitila (Luana Piovani), por quem tem uma paixão arrebatadora com direito a muitas cenas de sexo e paixão. Em meio a esta maior tórrida e louca paixão que a história do país já teve, Dom Pedro,  assume o trono e torna-se o príncipe regente. Cercado de inimigos, sendo que o principal é seu irmão Dom Miguel (Caco Ciocler) , invejoso e  manipulado por Carlota, ele ambiciona ocupar o lugar de príncipe regente. Para tentar salvar o Brasil, Pedro proclama a independência do Brasil.



Com o passar do tempo, Leopoldina fica cada vez mais doente e acaba morrendo para a felicidade de Domitila que tem esperanças de virar a nova Imperatriz, mas por conta de jogadas políticas, Dom Pedro acaba casando com  a Duquesa de Leuchtenberg., Amélia (Cláudia Abreu), deixando Domitila novamente no posto de amante. E para piorar, Amélia é diferente de Leopoldina e acaba batendo de frente com a amante do marido.




Em paralelo a isso, está a chegada de Manoela ao Brasil,  disposta a se vingar de Chalaça depois de anos. Ele está caído de amores pela ambiciosa Branca (Bruna Lombardi), uma mulher que só quer ficar com ele, por conta da amizade e o cargo que ele ocupa junto à Família Real. Chalaça  fica dividido com a volta de Manoela que até então ele achava que estava morta.




 O Quinto dos Infernos x Novo Mundo


 Se na novela de Thereza Falcão e Alessandro Marson, o Brasil é chamado de "Novo Mundo", na minissérie de Carlos Lombardi, o nosso país é chamado de "O Quinto dos Infernos".

Assim como na atual novela das 18h, O Quinto dos Infernos mesclava personagens reais com personagens ficcionais que fizeram parte do processo de independência do nosso país. Enquanto Novo Mundo coloca Leopoldina (Letícia Collin) e sua comitiva rumo ao Brasil como ponto de partida e um dos alicerces da obra, O Quinto dos Infernos tinha como partida o navio que trazia a Família Real para o Brasil e aqui  Leopoldina não tinha tanto destaque como na novela, deixando o protagonismo para Domitila e dando mais destaque para a segunda esposa de Pedro, Amélia de Leuchtenberg.

Um personagem interessante que passou quase despercebido em Novo Mundo foi Dom Miguel. Em O Quinto dos Infernos, esse personagem é defendido brilhantemente pelo ator Caco Ciocler que ficou irreconhecível no papel, sendo um dos grandes vilões da trama ao lado de sua mãe Carlota Joaquina. Dom Miguel é o oposto do irmão, vive em casa trancado a analisar os passos de Pedro. Mais pra frente podemos observar que ele possui uma forte atração sexual por Dom Pedro, chegando a observá-lo transando com a escrava Dandara (Taís Araújo) e em seguida sonhando que está numa cama fazendo sexo com os dois. Invejoso, covarde e ganancioso, Miguel faz de tudo para derrubar o irmão e ocupar o lugar dele como príncipe regente do Brasil.

Assim como  Anna (Isabelle Drummond) e Joaquim (Chay Suede)  formam um casal que se conhecem pouco antes da saída do navio, Chalaça e Manoela também se conhecem e engatam romance durante o processo da viagem da Família Real. Só que diferente do casal de Novo Mundo, Chalaça entra sozinho no navio, achando que sua amada Manoela havia morrido, reencontrando a bela só na segunda fase, quando já está tendo um caso com a interesseira Branca.



 Curiosidades:

O título da minissérie tem origem na famosa frase de Carlota Joaquina quando está vindo para o Brasil: "“um lugar longínquo, perdido, um quinto dos infernos”. Essa era a visão que muitos portugueses tinham a respeito do nosso país.

 O Quinto dos Infernos não retratou fielmente a história, o autor Carlos Lombardi resolveu dar um outro ponto de vista ao passado, resultando numa obra bem aceita  pelo público, composta de muitas cenas de sexo, comédia e aventura, uma grande chanchada pastelão, deixando pra trás a ousadia de Presença de Anita e o ritmo lento de Os Maias com um texto dinâmico e super irreverente que andava à passos frenéticos, marca registrada do autor.

Carlos Lombardi foi duramente criticado por vários historiadores da época por não retratar de forma correta a realidade. Uma pena, já que não entenderam a brincadeira do autor nessa obra ficcional que não tinha nenhum compromisso de dar uma aula de história e não souberam se deliciar com os estereótipos criados para os personagens históricos.

Dom Pedro e Domitila também foram retratados na minissérie da Manchete, A Marquesa de Santos, com Maitê Proença e Gracindo Júnior nos papeis do casal. E Tarcísio Meira e Glória Menezes viveram os mesmos personagens no cinema, no filme Independência ou Morte. Reynaldo Gianecchini também interpretou Dom Pedro I, no especial  de fim de ano, O Natal do Menino Imperador, exibido em 2008.

 O Quinto dos Infernos marcou 37 pontos na sua estreia e fechou com 23 pontos de média geral. Mesmo estando longe dos 30 pontos de Presença de Anita e dos 29 de A Muralha, a minissérie de Carlos Lombardi, foi considerada um enorme sucesso, pois a trama foi exibida por vezes depois da meia-noite, fato que incomodou o autor.

A história era de época, mas teve uma trilha sonora espetacular e atemporal.  I've Got You Under My Skin, Raindrops Keep Falling on My Head e os clássicos nacionais Barco Negro de Ney Matogroso e Só Louco, na voz de Gal Costa embalavam e ajudavam a dar um toque especial nas cenas.

ABERTURA:

A abertura de O Quinto dos Infernos retrata o espírito da minissérie. Desde a invasão à Portugal, até a chegada dos portugueses no Brasil com direito a sexo e espiões na corte.






Para encerrar esse post, nada melhor que um clima animado e descontraído como essa divertida obra merece.  No Carnaval de 2002, o elenco desfilou na escola de samba Porto da Pedra, caracterizado de seus personagens com direito a Domitila (Luana Piovani) como rainha de bateria, as imperatrizes Leopoldina (Erika Evantini) e Amélia (Cláudia Abreu) como destaque de cargo alegórico ao lado de  Carlota (Betty Lago), Dom João (André Mattos) e  Dom Miguel (Caco Ciocler), os picaretas Branca (Bruna Lombardi) e Camargo (Pedro Paulo Rangel) de passistas, o casal Manoela (Danielle Winits) e Chalaça (Humberto Martins) de mestre-sala e porta bandeira e Dom Pedro (Marcos Pasquim) na bateria.







Espero que tenham gostado dessa nossa viagem ao quinto dos infernos.