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Nos Trilhos: Capítulo 22 (ÚLTIMAS SEMANAS!)

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Novela de

Sandy

 

Escrita por

Sandy


 Classificação: 



Personagens deste capítulo:

ANA e antítese de Ana (Carolina Kasting)

CARLO (Danton Mello)

GISELE (Christine Fernandes)

LÍVIA (Lucy Ramos)

BEATRIZ (Nívea Maria)

CARLA (Débora Falabella)

LIZA (Vivianne Pasmanter)

NANDO (Chay Suede)

PAULO (Murilo Benício)

PEDRO (Dan stulbach)

LEILA (Giovanna Rispoli)

HELOISA (Ângela Vieira)

LÚCIO (Dalton Vigh)

LOLA (Maria Clara Gueiros)

HEITOR (Marcelo Médici)

HENRIQUE (Petrônio Gotinjo)

MAXIMILIANO (Emílio Orciollo Netto)

VIRGÍLIO (Marcelo Melo jr.)

VIRGINIA (Lavínia Vlasak)

CAROLINA (Isabel Fillardis)

LEANDRO (Fernando Pavão)

BELLA (Barbara França)

EMÍLIO (Danilo Mesquita)

 

Título do capítulo de hoje: "Persuasão & Partida"




CENA 02 APARTAMENTO DE ANA INT/DIA


 


Ana toma um copo de água com açúcar, se acalma e conta a notícia claramente para o marido.

 

PAULO: Vocês já abriram uma ocorrência?

 

ANA: Não, nós combinamos de ir na delegacia agora a tarde...

 

PAULO: Eu irei com vocês, eu tinha uma reunião com os roteiristas daquela série, mas vou dar uma ligada cancelando...

 

ANA: Não vou me fazer de rogada e pedir pra você não cancelar, eu preciso de todo o apoio possível nesse momento!

 

Paulo abraça a esposa, CORTA PARA:

 

CENA 02 DELEGACIA INT/DIA

 

Carlo cumprimenta o casal silenciosamente e os três entram na sala do delegado, CORTA PARA:

 

CENA 03 APARTAMENTO DE GISELE INT/DIA



 

Gisele passa um café enquanto Ana desabafa.

 

GISELE: (Impressionada) Que loucura! Parece plot de filme de suspense!

 

ANA: Parece mais filme de comédia da seção da tarde, que deu errado: dois velhos resolvem tirar férias sem destino certo e sem avisar ninguém!

 

GISELE: Não sei como você consegue fazer piada com uma situação dessas...

 

ANA: Eu já estou ficando louca, não consigo dormir e nem comer direito! Mil teorias se desdobram na minha mente e nenhuma delas é lá muito animadora! Se eu não me permitir reagir, nem que seja com sarcasmo, podem trazer uma camisa de força!

 

GISELE: Será que vão conseguir rastreá-los? Duvido que tenham ido muito longe...

 

ANA: Eu não vou ficar em casa, esperando que a polícia como uma fada madrinha, quebre o encanto, a maldição jogada sobre nós... Eu vou atrás deles, não sei aonde, mas eu vou...

 

As duas amigas ficam em silêncio durante um certo tempo, ouve-se apenas o som do café sendo coado. Gisele serve uma xícara fumegante a amiga.

 

GISELE: Como foi o reencontro com o Carlo?

 

ANA: Num primeiro momento foi tranquilo, eu não sabia o que tinha acontecido, eu me senti bem como ao reencontrar um velho e querido amigo... Não sem sentir um certo frio na barriga, é claro...

 

GISELE: Ele deve remoer até hoje uma dor de cotovelo danada!

 

ANA: Mas depois que eu soube de tudo... Foi como se o passado voltasse como um tsunami me arrastando sobre o presente... e hoje eu dei aula sobre “Persuasão” da Jane Austen!

 

GISELE: Não me coloque na posição de uma Lady Russel da vida... Você nunca escutou os meus conselhos, não devo ter conseguido ser tão persuasiva quanto eu deveria....

 

Ana toma sua xicara de café, com cuidado para não queimar a língua, CORTA PARA:

 

CENA 04 APARTAMENTO DE CARLO INT/DIA



 

Carlo e Max conversam sobre o caso.

 

MAX: Perché ele fez questo!

 

CARLO: Ele sempre teve um comportamento galante, fazia as vontades de todas as mulheres ao seu redor, seria capaz de cometer um crime para colocar um sorriso no rosto da mulher amada! Aonde a dona Beatriz fosse, ele iria; O que ela fizesse, teria o seu aval e a sua cumplicidade...

 

MAX: Madonna mia, parece me quelle disgraziati mataram alguém, esconderam el corpo e fuggirono!

 

CARLO: O pior pra mim foi ver como a Ana ficou, não deveria ter nem contado! Queria preservar na minha memória ela linda, serena e tranquila... Vivendo a sua vida em paz!

 

MAX: Ma foi buono o reencontro?

 

CARLO: Eu senti o meu chão caindo, a minha barriga se revirando... Olhei pro céu e não tinha nada: nem estrelas, nem sol e nem lua... Nada mais existia, a não ser eu & ela, e o som do mar...

 

Carlo fecha os olhos, relembrando aquele momento mágico, CORTA PARA:

 

CENA 05 APARTAMENTO DE EMÍLIO INT/DIA



 

Os namorados estão abraçados no sofá, Nando está arrasado.

 

NANDO: Tô me sentindo tão frágil, tão sozinho no mundo... Tão abandonado...

 

EMÍLIO: Não fala assim, eu estou com você pra sempre...

 

NANDO: Eu sempre me virei sozinho, consegui as minhas coisas sem precisar do empurrão de ninguém... Eu ajudava em casa, cuidava muito mais do velho, do que ele cuidava realmente de mim...

 

EMÍLIO: Você cuida dele, ele não morreu e vai voltar sim, vamos deixar de paranoia!

 

NANDO: Ter alguém, quando você chega em casa, a sua família... Não consigo nem formular frases que façam sentido... Só de pensar que ele não vai tá lá, pintando as telas, fazendo bagunça...

 

EMÍLIO: Ele vai voltar, eles vão voltar...

 

NANDO: Se eu fechar os olhos, posso sentir o cheiro da comida da Beatriz... O arroz, a carne guisada, o purê, o macarrão... Até do maldito som da maquina de costura, eu sinto saudades e não faz nem três dias que eles sumiram!

 

Emílio abraça e beija a testa de Nando, CORTA PARA:

 

CENA 06 CALÇADÃO EXT/DIA



 

Fim de tarde, Lívia sai para fazer algumas compras e faz o caminho de volta a pé. Acaba cruzando com Virgínia e seu marido, quando eles saem de uma farmácia: eles se cumprimentam amistosamente.

 

LÍVIA: Parabéns, e você está linda com esse barrigão. É pra quando?

 

VIRGÍNIA: Falta mais ou menos umas oito semanas.

 

Lívia sorri, Virgílio se mostra constrangido. A grávida começa a conferir as sacolas.

 

VIRGÍNIA: Acho que esquecemos o óleo de amêndoas...

 

VIRGÍLIO: Vou pegar querida.

 

VIRGÍNIA: Não precisa bebê, vou lá pegar e aproveitar pra pegar um esmalte novo... Vi um branquinho tão charmoso! E combina super com o meu estado de grávida, vai chamar umas energias boas... Paz e tranquilidade... Tudo o que preciso!

 

Ela entrega as sacolas ao marido e entra aos pulinhos novamente na farmácia. Lívia e Virgílio ficam sozinhos.

 

LÍVIA: Virgínia e Virgílio, os nomes de vocês são parecidos demais, uma diferença de apenas duas letras...

 

VIRGÍLIO: Mas nossas personalidades são completamente díspares...

 

LÍVIA: Concordo, mas tenho certeza que há tanta disparidade em objetivos, dá pra ver que vocês querem as mesmas coisas, sonham com as mesmas coisas...

 

VIRGÍLIO: Nem tanto, a vida não é um traçar de uma reta, é imprevisível...

 

LÍVIA: Vocês planejaram...?

 

VIRGÍLIO: Não! Acho que ela nem achava possível engravidar, a essa altura do campeonato...

 

Lívia sorri, CORTA PARA:

 

CENA 07 APARTAMENTO DE ANA INT/NOITE

 

Enquanto a tarde ecoa e a luz vai embora, Lúcio se debruça sobre o computador e começa a fazer as alterações pedidas pela editora.

 

LÚCIO: E lá vamos nós...

 

Até que ele fica totalmente no escuro, desliga o computador e se levanta para acender a luz.

 

LÚCIO: Quanto mais mexe, pior fica.

 

Gisele entra.

 

GISELE: Vai querer o que pro jantar? Tô pensando em fazer uma sopinha com o resto da carne do almoço...

 

LÚCIO: (Desanimado) Pode ser, qualquer coisa que você fizer tá bom...

 

GISELE: Que broxante.

 

LÚCIO: Um escritor desanimado não tem muita fome...

 

GISELE: Coma pra ficar animado, ou então eu vou enfiar uma colher goela abaixo daquela Bruxa grávida!

 

LÚCIO: Gisele!

 

GISELE: Aposto que vai nascer um ogrinho, pior que do que os das fábulas e contos de fadas...

 

Lúcio ri, CORTA PARA:

 

CENA 08 APARTAMENTO DE LEONORA INT/NOITE


 


Leonora coloca um suflê no forno, tira as luvas impermeáveis e enche uma taça com vinho-tinto: sente o cheiro da bebida e se delicia com um gole.  A campainha toca, interrompendo o momento.

 

LEONORA: Se for cobrança ou visita indesejada, eu não tô em casa! Sai pra fazer um retiro espiritual na Tailândia!

 

Ela abre a porta: dá de cara com Ana.

 

LEONORA: Norinha! Não se aguentou até sexta e veio filar uma boia, né? Tô preparando um suflê de carne seca e cogumelos, un délice!

 

Leonora arrasta Ana para a cozinha e a faz sentir o cheiro do prato.

 

LEONORA: Sinta o aroma! Nenhuma flor do mundo poderia oferecer tanto deleite aos nossos narizinhos delicados e frágeis! Não sei o seu, mas o meu não aguenta nem perfume barato! Quando eu ponho o pé fora de casa, ele já sente logo a diferença! Se irrita, começa a coçar! Essa cidade também é um esgoto a seu aberto, e o governo não faz nada! Nem aqui na Zona Sul temos o mínimo de limpeza desfrutamos do mínimo de limpeza nas ruas!

 

Leonora tagarela enquanto Ana não encontra forças para falar.

 

LEONORA: É uma cidade feia, com gente mal educada e faladeira! Eu não me recuso a falar com ninguém, você sabe que sou muito espontânea e cativante... Não olho a quem dirijo as palavras, e encanto todo mundo: esses dias sai de manhãzinha pra comprar alguns Croissants, e acabei batendo um papo com um mendigo! O dito cujo acabou até se deliciando com uns desses pãezinhos... Deviam erguer uma estatua em minha homenagem, sou uma santa! Tenho quase certeza que vão estender um tapete de nuvens, branquinhas e felpudas, quando eu morrer e for dar o ar da graça no andar superior!

 

ANA: Nós precisamos ter uma conversa...

 

Leonora parece não ouvir a conversa da nora.

 

LEONORA: Será que meus pezinhos não vão afundar pisando em nuvens? Se bem quando você morre a alma se separa do corpo, da matéria... Minha alma deve ser bem levinha, não é?

 

CORTA PARA:

 

CENA 09 APARTAMENTO DE LIZA INT/NOITE

 

Liza serve o jantar a Pedrinho.

 

PEDRINHO: Tá bom, titia, eu não como isso tudo.

 

LIZA: Não deixe comida sobrando, você tá muito magrinho!  É só pele e osso...

 

Pedro passa o prato a ela, que começa a servi-lo também.

 

PEDRO: Alimentar uma criança não é como colocar papel no triturador não, é importante que ele coma bem, mas não adianta nada ficar empurrando nele!

 

Liza faz ouvidos moucos ao marido.

 

PEDRINHO: Vai ter sobremesa, tia?

 

LIZA: Vai, mas coma primeiro a janta. Quer mais saladinha?

 

PEDRINHO: Não gosta de verde.

 

LIZA: Tem várias cores aí, tem o rosa da beterraba, o laranja da manga, o vermelho do tomate...

 

PEDRO: Manga e maça? Virou salada de frutas?!

 

LIZA; Salda agridoce, pode ser temperada com mel ou vinagre...

 

Eles comem durante um tempinho em silêncio.

 

LIZA: Pedrinho, acho que já já você pode ter um irmãozinho...

 

Pedro quase engasga com um pedaço de brócolis, Liza levanta-se e o auxilia.

 

PEDRO: Um irmãozinho? Grávida, nessa idade?

 

LIZA: Não me faça parecer um matusalém de saias... Mas não, não engravidei e não pretendo. Mas estava pensando seriamente em adoção, a gente conversou sobre isso esses dias?

 

PEDRO: Quando você falou em adoção me veio a mente um cachorrinho, um gato... Até uma calopsita, nunca me passou pela cabeça um bebê!

 

PEDRINHO: Quando vocês forem passar na loja de bebês me levem, quero ajudar a escolher um!

 

Pedro bebê freneticamente um gole de água.

 

LIZA: Às vezes tenho a impressão que você não leva os meus sonhos, as minhas aspirações, o que eu sinto e penso, à sério...

 

Liza tira o guardanapo do colo e se levanta irritada, Pedro faz uma careta, CORTA PARA:

 

CENA 10 APARTAMENTO DE LEONORA INT/NOITE

 

Finalmente Ana consegue chamar a atenção da sogra e as duas sentam-se para conversar.



 

ANA: Minha mãe sumiu, ela e o Alfredo... Sumiram do mapa, desapareceram... Como se fossem feitos de água, e ela evaporasse como vapor...

 

Segue-se um silêncio espectral, a expressão de Leonora muda automaticamente.

 

ANA: Eu sempre soube, eu sempre senti, que o passado de vocês estava ligado... Nunca questionei, nunca comentei, por respeito aos seus sentimentos e a sua vontade de ficar em silêncio. Mas eu estou desesperada agora, e sinto verdadeiramente que a senhora pode me ajudar! Eu preciso saber ao menos o porquê, preciso de um motivo!

 

LEONORA: (Desconcertada) A vida não é uma novela, um livro ou um filme de ficção! Não adianta ficar procurando uma motivação por trás de cada ação, de cada discurso... Simplesmente às vezes não existe nada de muito profundo por trás, não adianta querer cavoucar, querer emergir no subconsciente!  Talvez eles tenham sumido, por que deu vontade... Se não, não posso lhe ajudar!

 

Leonora se levanta, dá uma olhada no suflê pela vidraça do forno.

 

LEONORA: Está quase pronto, não vai embora sem provar um pedacinho, tenho certeza que está uma delícia, de lamber os beiços!

 

As duas passam para sala, de repente um quadro na parede chama a atenção de Ana.

 

ANA: É dele, esse quadro é dele! Por que guarda isso?

 

Leonora novamente fica num silêncio incomodo, até que explode.

 

LEONORA: Por que foi a única coisa que ele me deixou, por que um dia eu o amei com todo o meu coração! Sim, um dia até esse coração de pedra amou.

 

ANA: Nunca achei que a senhora tinha um coração de pedra.

 

LEONORA: Um dia a sua mãe foi a minha melhor amiga, em quem eu mais confiava, mas ela me traiu!

 

Ana sentasse, e coloca as mãos na cabeça.

 

ANA: Por muito tempo eu me martirizei por não amá-la o suficiente, quanto acho que uma filha deveria amar uma mãe... Mas por mais que eu quisesse potencializar o meu amor por ela, a traição me afastou e me afasta dela todos os dias da minha vida...

 

LEONORA: Então por raios está tão impelida a encontrá-la?

 

ANA: Por mais que eu queira me distanciar, trilhar o meu próprio caminho... Ela está em mim, no meu sangue... Na forma como eu falo baixo e ando tentando não incomodar os outros, em como eu arrumo o cabelo de ladinho... Por mais que eu odeie aquele velho babão que ela ama, eu me enrolei durante anos com o sobrinho dele! Algo me puxa para onde ela vai, às vezes tenho até medo que a traição esteja em meu sangue!

 

Ana cai no choro compulsivamente e é acolhida num abraço pela sogra, CORTA PARA:

 

CENA 11 LOCAÇÕES EXTERNAS /DIA



A cidade amanhece ao som de “tutta d’un fiato”, e são mostradas cenas da vida cotidiana: uma garotinha compra pão na esquina, uma madame passeia com seu cachorrinho Poodle, marombas se exercitam na praia, um casal de adolescentes deixa a biblioteca municipal com alguns livros no colo...

 

CORTA PARA:

 

CENA 12 ESCOLINHA PARTICULAR INT/DIA


 


Juntos, Pedro e Carla deixam o filho pela primeira vez na escolinha: Pedrinho corre feliz para entrar na sala de aula à vista amorosa dos pais.

 

PEDRO: Pensei que fosse mais difícil...

 

CARLA: Eu pensei que ele fosse chorar...

 

PEDRO: Saiu correndo e nem esperou o nosso adeus!

 

CARLA: Não seja dramático, ele só está curioso, um mundo novo se abre frente aos seus olhinhos...

 

Os dois fazem o caminho de volta pelo corredor e chegam ao jardim.

 

PEDRO: O tempo passa tão rápido, daqui a pouco recebemos o convite pra formatura...

 

CARLA: Do jeito que os jovens são, talvez ele nem queira que a gente vá na formatura dele!

 

PEDRO: Não fale no presente! Não ajude a transformar um pesadelo em realidade mais rápido!

 

Os dois riem enquanto olham o céu.

 

PEDRO: Quer um café?

 

CARLA: Só se for acompanhado de um misto ou um pão com ovo, não comi nada hoje ainda!

 

PEDRO: Eu também não!

 

CARLA: Eu estava com o estômago se revirando de ansiedade!

 

Pedro sorri, os dois seguem para a cantina, e CORTA PARA:

 

CENA 13 APARTAMENTO DE ANA INT/DIA



 

Ana tem uma conversa séria com Paulo.

 

PAULO: Você não pode ir sozinha atrás dela!

 

ANA: Mas eu não vou sozinha, acho que o Carlo deve estar pensando em fazer o mesmo, afinal é o tio dele...

 

PAULO: Vocês nem sabem para onde eles foram!

 

ANA: Mas não é propriamente uma busca por eles, é muito mais uma reconstituição do passado na verdade, não estamos planejando seguir pegadas... Acho que eles foram embora seguindo um caminho na areia e o vento apagou as marcas deixadas pelos pés deles...

 

Paulo se levanta incomodado.

 

PAULO: Eu sou compreensivo, eu pondero e penso muitas vezes antes de falar, mas isso é demais pra mim! Você quer que eu aceite, sem espernear, que minha mulher vá se enfiar com um ex-namorado num carro pelo mundo? Eu vou com vocês!

 

ANA: E vai largar o seu trabalho? Vai deixara as coisas pela metade?

 

PAULO: Mas você vai fazer isso!

 

ANA: O período na faculdade já tá acabando, e de qualquer forma ela é minha mãe.

 

PAULO: Depois que casamos, ela também se tornou algo meu, eu prometi a Beatriz que ia cuidar de você!

 

ANA: Não devia ter feito essa promessa, eu não era uma jovem virgem e indefesa quando me casei com você: a muito tempo apreendi a me virar sozinha num mundo de mentiras!

 

Paulo encara a mulher no auge da tensão.

 

FIM DO CAPÍTULO.





20:00

Nos Trilhos: Capitulo 21 (ÚLTIMAS SEMANAS!)

by , in

Novela de

Sandy

 

Escrita por

Sandy


 Classificação: 



Personagens deste capítulo:

ANA e antítese de Ana (Carolina Kasting)

CARLO (Danton Mello)

GISELE (Christine Fernandes)

LÍVIA (Lucy Ramos)

BEATRIZ (Nívea Maria)

CARLA (Débora Falabella)

LIZA (Vivianne Pasmanter)

NANDO (Chay Suede)

PAULO (Murilo Benício)

PEDRO (Dan stulbach)

LEILA (Giovanna Rispoli)

HELOISA (Ângela Vieira)

LÚCIO (Dalton Vigh)

LOLA (Maria Clara Gueiros)

HEITOR (Marcelo Médici)

HENRIQUE (Petrônio Gotinjo)

MAXIMILIANO (Emílio Orciollo Netto)

VIRGÍLIO (Marcelo Melo jr.)

VIRGINIA (Lavínia Vlasak)

CAROLINA (Isabel Fillardis)

LEANDRO (Fernando Pavão)

BELLA (Barbara França)

EMÍLIO (Danilo Mesquita)

 

Título do capítulo de hoje: "Abandono"




CENA 01 CONTINUAÇÃO DIRETA DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO ANTERIOR PRÉDIO DE ANA EXT/NOITE


 


Leonora dá um tchauzinho de miss, o taxista arranca. Ana permanece ali sozinha durante um tempo, olhando as estrelas no seu escuro; de repente alguém se aproxima atrás dela e toca-lhe no ombro esquerdo.

 

ANA: Quer me matar de susto!

 

A expressão dela muda, de raiva à um espanto trêmulo, ao ver Carlo à sua frente: com um moletom surrado e barba por fazer.

 

CARLO: Nós precisamos conversar, um assunto muito sério.

 

Passado o susto, Ana olha para Carlo: a barba por fazer lhe chama atenção.

 

ANA: Vamos subir? Eu passo um café pra gente...

 

CARLO: Eu não quero incomodar... Seu marido está?

 

ANA: (Constrangida) Está e ele costuma dormir tarde...

 

CARLO: Precisamos conversar à sós.

 

Eles permanecem em silêncios durante um certo tempo, olhando um para o outro.

 

ANA: Vamos andar um pouco, preciso mesmo tomar um ar.

 

Carlo assente com a cabeça e os dois somem na escuridão, CORTA PARA:

 

CENA 02 PRAIA DESERTA EXT/NOITE



 

Carlo e Ana sentam na areia da praia em silêncio, escutando o som das ondas indo e vindo.

 

ANA: O gato comeu a tua língua?

 

CARLO: Tô procurando as palavras certas, não quero te assustar.

 

ANA: Aconteceu alguma coisa contigo?

 

CARLO: Comigo não, eu tô legal...

 

ANA: Eu soube que você vai rodar um filme, tá podendo hein!

 

CARLO: Eu sempre quis contar uma história, uma história que está no meu sangue... Que de alguma forma, está na minha voz, nos meus gestos... A história dos meus ancestrais, lá da Itália...

 

ANA: E quando acabar o filme, vai contar novas histórias?

 

CARLO: Não sei, talvez a fonte seque, e eu volte a ser um cara comum, um humilde programador de computadores...

 

ANA: Quanta modéstia! Um programador que rodou o mundo, programando e fotografando tudo e todos!

 

Ana sorri, Carlo desconversa.

 

CARLO: Nada do eu possa fazer, nenhuma história que eu conte, fará sentido sem eles...

 

Ana faz uma careta de estranhamento.

 

ANA: Espero que não tenha a ver com o Nando, aquele velho não...?

 

CARLO: Fique tranquila, o velho reagiu relativamente bem a tudo isso; demorou, mas ele e o neto conseguiram superar... Pelo menos antes de...

 

ANA: Desembucha logo, esse mistério todo está me dando nos nervos!

 

CARLO: Hoje de manhã, quando eu cheguei na casa deles, estava tudo quieto... Quieto até demais... Não tinha ninguém em casa, liguei pro Nando (ele tinha dormido no Emílio), peguei a chave reserva e entrei.

 

ANA: Não me diga que aconteceu algum acidente ou...

 

CARLO: Os velhos sumiram do mapa, não deixaram vestígio! Eu revirei a casa toda! As roupas estão nos guarda-roupas, o dinheiro continua guardado... Até os remédios da pressão estão no banheiro! E não deixaram nenhum bilhete, nada! A única coisa que sumiu com eles, foi um álbum de fotografias...

 

Ana para um tempo, totalmente atônita.

 

ANA: Como você se deu conta do álbum?

 

Carlo retira uma foto do bolso do seu moletom.

 

CARLO: Eu tinha pegado essa aqui emprestada, pretendia devolver, mas...

 

A foto mostra Ana e Carlo adolescentes, abraçados e contentes.

 

ANA: Talvez ela tenha mudado o álbum de lugar...

 

CARLO: Eu revirei aquela casa atrás dele, não está lá, eles o levaram para onde, só Deus sabe!

 

Ana levanta-se, cambaleando.

 

ANA: Precisamos ir na polícia!

 

CARLO: Eu e o Nando já fomos, eles disseram que precisamos esperar 48 horas para registrar um boletim de ocorrência!

 

Ana quase cai, mas é amparada pelos braços de Carlo, CORTA PARA:

 

CENA 02 APARTAMENTO DE ANA INT/NOITE

 

Ana entra no apartamento silenciosamente.

 

PAULO: Demorou.

 

ANA: Sai pra tomar um ar por aí.

 

PAULO: A essa hora e sozinha, não é perigoso?

ANA: Foi tranquilo.

 

Os dois se entreolham, ela beija o marido.

 

ANA: Vou deitar, vai ficar aí?

 

PAULO: Vou terminar aqui um trabalho e já já vou.

 

Ela assente com a cabeça e sai para o quarto: se joga na cama, abraçando com força um travesseiro.

 

FLASHBACK ON:



 

Beatriz e a filha tomam café num dia chuvosa.

 

BEATRIZ: Vai querer mais um pedaço de bolo?

 

ANA: Não, não! Você quer me entupir de bolo de fubá, por que?

 

BEATRIZ: Tô meio agoniada hoje, já comi umas três fatias desse bolo, é melhor alguém me ajudar a acabar com ele...

 

ANA: ... ou vai acabar comendo ele inteiro sozinha!

 

BEATRIZ: Eu me empenhei fazendo, dá trabalho! Não é justo que fique às moscas; às vezes eu tenho a sensação que todo o meu trabalho é em vão, o trabalho de uma vida inteira!

ANA: Como alguém que nada, nada num mar infinito e nunca sai do lugar? Às vezes eu me sinto assim também, mas é a vida mãe: chega uma hora que nos sentimos insuficientes.

 

Beatriz se levanta, nervosa.

 

BEATRIZ: Coisas inúteis deviam sumir, eu queria sumir, desaparecer! Sem deixar vestígios, me desintegrar! Quer mais chocolate quente?

 

Ana assente com a cabeça, nervosamente Beatriz enche a xícara da filha e acaba derramando na mesa.

 

ANA: Viver é algo inútil por si só.

 

FLASHBACK OFF.

 

Ana tampa os ouvidos com a almofada, CORTA PARA:

 

CENA 03 APARTAMENTO DE ANA INT/DIA

 

Ana escova os dentes no banheiro, quando se vira dá de cara com a sua velha amiga.

 

ANA: Pensei que você tivesse sumido para sempre da minha vida, sem avisar: uma benção!

 

ANNA: Onde já se viu alguém viver sem consciência? Não sumi, apenas tirei férias longuíssima!

 

ANA: Deixou de fuxicar a minha vida amorosa?

 

ANNA: Seu casamento é uma chatice: felicidade não rende pano pra manga, por isso torcemos: “tomara que caia!”.

 

ANA: E voltou por que, então?

 

ANNA: Sou a maior #Carlana shipper do planeta, e aí? A perna bambeou no reencontro?

 

Automaticamente o rosto de Ana torna-se rubro.

 

ANA: Numa situação dessas você vem me perguntar uma coisa dessas? Minha mãe, uma senhora indefesa sumiu! A essa hora o corpo dela pode estar gelando num freezer de algum necrotério fétido!

 

ANNA: Tremeu ou não tremeu?

 

A visão cruza os braços.

 

ANA: Consciência sem noção!

 

ANNA: Então tremeu?

 

Ana receia, mas acaba assentindo com a cabeça, CORTA PARA:

 

CENA 04 FACULDADE INT/DIA



 

Ana, tentando se manter controlada, dá uma de suas aulas normalmente.

 

ANA: Anne Eliot de “Persuasão” é a heroína de Jane Austen que mais se aproxima de um comportamento tido como romântico, em oposição a crítica que a autora parece tecer a esse tipo de comportamento mais sanguíneo em livros como “Razão e sensibilidade” e “Orgulho e preconceito”. Anne ama uma vez, ainda que tenha tomado decisões racionais, decisões que a fizeram sofrer, mas que precisavam ser tomadas... Vou ler aqui um trechinho, quando ela reencontra o seu amor do passado pela primeira vez, o capitão Wentworth:

 

Ela olha para seus alunos, suspira profundamente.

 

ANA: (Lendo) Oito anos, quase oito anos haviam se passado desde que tudo

terminara...

 

Enquanto lê, sua visão se embaça, e Ana é teletransportada pela sua imaginação para dentro do livro: vestida com um lindo vestido da era Regenciana inglesa, reencontra Carlo por acaso.

 

ANA: (Lendo) Que absurdo retomar a agitação que esse intervalo havia embaçado e banido para longe! O que oito anos não eram capazes de fazer? Acontecimentos de todo tipo, mudanças, distanciamentos, partidas… tudo, tudo podia ser incluído em tal intervalo, e também o esquecimento do passado… nada mais natural, nada mais certo! Oito anos representavam quase um terço de seu tempo de vida!

 

Carlo faz uma reverência, que ela responde constrangida. Ana volta, da sua imaginação para a sala de aula.

 

ANA: (Lendo) Infelizmente, apesar de todas as ponderações, Anne constatou que, para sentimentos represados, oito anos talvez não fossem quase nada.

 

Ana fecha o livro, com o peito palpitando, alguém pede licença para ir ao banheiro, ela responde quase sem voz, CORTA PARA:

 

CENA 05 PRÉDIO DE ANA INT/DIA

 

Ana chega e cruza com Lívia no corredor, as duas se cumprimentam friamente.

 

ANA: Ainda colhendo louros do intercâmbio?

 

LÍVIA: Acho que sim, foi uma experiência enriquecedora.

 

ANA: Imagino.

 

LÍVIA: Você comentou uma vez que que tinha vontade de fazer um pós-doutorado em Roma...

 

Ana mostra o anel de casamento.

 

ANA: Eu disse sim as oportunidades que a vida me deu, e alguns sonhos acabaram ficando pra trás...

 

LÍVIA: A vida é feita de perdas e encontros, nem sempre podemos carregar na mala, tudo o que queremos manter junto do coração.

 

ANA: Nós erramos muitas vezes, não somos dignos de conservar relações: pessoas não são coisas, se não agimos com lealdade e cumplicidade, é natural que elas se afastem de nós!

 

Ana sai, deixando Lívia transtornada, CORTA PARA:

 

CENA 06 CASA DE BEATRIZ INT/DIA



 

Carlo abre um livro na estante, coincidentemente “Persuasão” de Jane Austen e começa a folheá-lo, e começa a ler exatamente a parte onde o Capitão Wentworth escreve uma carta para Anne.

 

CARLO: (Lendo) Não posso mais escutar em silêncio. Preciso lhe falar com os meios dos quais disponho. A senhorita me dilacera a alma. Estou dividido entre aagonia e a esperança. Não me diga que chego tarde, que aqueles tão preciosos sentimentos desapareceram para sempre. Ofereço-me outra vez à senhorita com um coração ainda mais seu do que quando a senhorita quase o partiu, oito anos e meio atrás.

 

Ele se vê transportado, como Ana, ao universo do romance: ele sofre ao escrever aquela carta, com uma pena branca e tinta azul marinho, sentado numa escrivaninha de ébano com detalhes dourados.

 

CARLO: Não se atreva a dizer que o homem esquece com mais facilidade do que a mulher, que o seu amor morre mais cedo. Nunca amei ninguém além da senhorita. Posso ter sido injusto, fraco e ressentido, eu fui, mas nunca inconstante.

 

De volta ao planeta terra, Carlo afasta o livro e põe as mãos na cabeça, CORTA PARA:

 

CENA 07 LIVRARIA MEGA STORE INT/DIA

 

Gisele passa na livraria despretensiosamente depois de fazer algumas compras.

 

VENDEDORA: Todos estão muito ansiosos pelo próximo livro do seu marido! E sempre que alguém leva o anterior escrito por ele, volta procurando mais coisas do autor!

 

GISELE: Fico muito feliz por ele, mas e o meu, tem saído?

 

A vendedora parece recear dar uma resposta.

 

VENDEDORA: Tem saído pouco, você sabe que a Sognare não tem comprado mais espaço na vitrine... E esse tipo de livro ilustrado é para um público muito especifico...

 

GISELE: (Desapontada, mas não surpresa) Entendo...

 

VENDEDORA: As pessoas ultimamente andam preferindo livros de colorir, sabe? Aquela onda de “faça você mesmo” e “ponha a mão na massa” ...

 

Gisele faz uma careta.

 

GISELE: Ler imagens não é tão simples quanto parece.

 

A vendedora se vira para atender um cliente e Gisele sai, CORTA PARA:

 

CENA 08 APARTAMENTO DE GISELE INT/DIA

 

Lúcio fala com Virgínia por telefone.

 

VIRGÍNIA: (Por telefone) [...] Que bom que você pensou bem e resolveu considerar os meus conselhos!

 

LÚCIO: Você é a minha editora, sabe o que o mercado precisa, vou confiar no seu faro. Não cederei por completo, espero que você faça algumas concessões em seus planos.

 

VIRGÍNIA: Não pense que sou uma ditadora, sempre estive aberta ao diálogo. Relaxe, chegaremos num consenso. 

 

LÚCIO: Minha mulher vai ler, vou pedir também para alguns amigos darem uma olhada também. Quero ter uma visão mais ampla do efeito do meu romance nas pessoas.

 

VIRGÍNIA: Podemos pedir para nossos colegas aqui da editora lerem também.

 

LÚCIO: Estamos quase organizando um clube do livro!

 

Lúcio ri no telefone, Gisele entra.

 

GISELE: (Com ciúmes) Viu passarinho verde, ou melhor, ouviu o seu canto?

 

Lúcio se despede e desliga.

 

LÚCIO: Estava falando com a Virgínia, sobre o meu livro.

 

GISELE: Não sei como você aguenta ficar tanto no telefone com ela, a voz dela me dá nos nervos! É insuportável!

 

LÚCIO: Sou indiferente a voz dela, na verdade, nunca tinha reparado...

 

GISELE: Talvez não seja nem a voz em si, mas o tom meloso, arrastado... Como se quisesse tirar algo de você, sugar as suas entranhas, a sua alma!

 

Lúcio faz uma careta de ceticismo, CORTA PARA:

 

CENA 09 APARTAMENTO DE ANA INT/DIA

 

Flashs rápidos mostram Ana chegando em casa após o trabalho, tomando um banho relaxante e demorado. Ela acaba cruzando com Paulo quando sai do banheiro.

 

PAULO: Tá cansada né? Mas aguenta firme, já já as férias do meio ano começam!

 

ANA: Cansada não é exatamente a palavra...

 

PAULO: (Assustado) O que aconteceu?

 

Ana senta-se na cama e Paulo se aproxima, sentando ao seu lado.

 

ANA: Desde que eu era uma menina, minha mãe grita para os quatro ventos que quer sumir, desaparecer... Se desintegrar, sem deixar vestígios. Isso em meio a brigas com o meu pai, em meio a relação que ela construiu depois que eles se separaram...

 

PAULO: Todo mundo já quis sumir mais de uma vez, é natural querer fugir quando a coisa aperta...

 

ANA: Ela nunca quis fugir, ela lutou com unhas e dentes durante toda a nossa vida... Uma vida sob aquela maldita máquina de costura, uma vida escutando aquele barulho que não me deixava dormir! Nem do meu pai ela fugiu, independente do comportamento violento que ele demostrava contra nós: ela o deixou, o largou sozinho e foi trilhar um novo caminho!

 

PAULO: Não tô entendendo aonde essa conversa quer chegar...

 

ANA: Suicídio? Não, ela queria deixar de existir, sem fazer ninguém sofrer.  Ela queria sumir, desaparecer...

 

Ana cai no choro, o marido a consola.

 

ANA: Ela sumiu, Paulo;

 

Em Paulo abraçando Ana.

 

FIM DO CAPÍTULO.