Nos Trilhos: Capítulo 15 - Ana rompe com Carlo



Novela de

Sandy

 

Escrita por

Sandy


 Classificação: 



Personagens deste capítulo:

ANA e antítese de Ana (Carolina Kasting)

CARLO (Danton Mello)

GISELE (Christine Fernandes)

LÍVIA (Lucy Ramos)

BEATRIZ (Nívea Maria)

CARLA (Débora Falabella)

LIZA (Vivianne Pasmanter)

NANDO (Chay Suede)

PAULO (Murilo Benício)

PEDRO (Dan stulbach)

LEILA (Giovanna Rispoli)

HELOISA (Ângela Vieira)

LÚCIO (Dalton Vigh)

LOLA (Maria Clara Gueiros)

HEITOR (Marcelo Médici)

HENRIQUE (Petrônio Gotinjo)

MAXIMILIANO (Emílio Orciollo Netto)

VIRGÍLIO (Marcelo Melo jr.)

VIRGINIA (Lavínia Vlasak)

CAROLINA (Isabel Fillardis)

LEANDRO (Fernando Pavão)

BELLA (Barbara França)

EMÍLIO (Danilo Mesquita)

 

Título do capítulo de hoje: "O fim".



CENA 01 CONTINUAÇÃO DIRETA DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO ANTERIOR APARTAMENTO DE ANA INT/NOITE


 


Carlo esbarra em suas malas.

 

CARLO: Por que as minhas coisas estão aqui?

 

Ana olha para ele e deixa uma lágrima escorrer.

 

ANA: Não vou lhe culpar, não vou me descabelar mais por você... Afinal, tínhamos um acordo, um desigual e cruel acordo... Nunca pensei que você fosse leva-lo tão longe! Minha amiga, uma das minhas melhores amigas! Mas não posso exigir decência e sensibilidade, de quem nunca o teve... Não posso exigir respeito, de quem nunca respeitou os outros!

 

CARLO: Eu... Posso explicar...

Ele tenta se aproximar, conciliador.

 

ANA: Não quero explicação, não posso e não quero ouvir mais nada! Não estou encarando esse desastre como uma traição, não da sua parte pelo menos... Saiba apenas que cai na real, tardiamente e depois de sofrer calada por tempo demais! Saia, apenas saia da minha casa e da minha vida!

 

Sem reação, Carlo apanha as suas coisas e sai tropeçando nos seus próprios pés.

 

GISELE: (Transtornada) Não sei o que dizer!

 

Ana desaba nos braços de Gisele, CORTA PARA:

 

CENA 02 APARTAMENTO DE ANA INT/NOITE

 

Gisele cobre Ana com um cobertor e apaga a luz do quarto antes de sair. Na sala, senta-se no sofá e põe as mãos na cabeça. De repente, Lívia abre a porta e entra.

 

GISELE: Não sei como você tem coragem de aparecer!

 

Lívia fica sem reação.

 

Gisele arrasta a outra para fora do apartamento.

 

GISELE: Ela e eu já sabemos de tudo! Acho melhor você desaparecer da nossa frente!

 

LÍVIA: (Chorando) Eu posso explicar... Eu não queria! Foi um acidente!

 

Gisele ameaça dar-lhe um tapa, mas se controla fechando a mão direita.

 

GISELE: Se ela, que foi traída tão levianamente, não quer te dar uns tapas, não vai ser eu que vou fazer isso! Não vou me sujar, não eu não vou! Mas saiba, fidelidade uma vez perdida, não é recuperada tão facilmente! Não sei o estado do coração da Ana, mas eu duvido muito que ela consiga te perdoar... E mesmo que isso aconteça, nunca mais a nossa relação será a mesma! Remendos diminuem o valor de qualquer mercadoria!

 

LÍVIA: Mas não é uma relação de câmbio, de compra e venda! Somos pessoas, somos amigas!

 

GISELE: Fomos amigas! E você jogou no lixo a nossa amizade: então não devia valer muito pra você!

 

Gisele entra no apartamento e fecha a porta na cara de Lívia, a deixando em lágrimas, CORTA PARA:

 

CENA 03 QUARTO DE HOTEL INT/NOITE



 

Max ouve o relato de Carlo.

 

MAX: Non credo, non posso credere! A Lívia, poxa Carlo! Burrice demais!

 

CARLO: Eu tava bêbado... e triste, e com ciúmes daquele maldito diretor!

 

MAX: Pisou na bola, troppo stupido!

 

CARLO: Nós já tivemos alguns rompimentos... Mas acho que dessa vez foi pra sempre, eu tenho essa sensação agora... que eu nunca tinha sentido... não tem mais volta!

 

MAX: Ti meriti tutto questo! Queres sair por uma porta e entrar por outra, durante uma vida inteira... Tudo tem seu preço!

 

CARLO: Vou me resignar e pagá-lo, não tem mais cara de correr atrás dela... Mas eu nunca pensei que machucaria ela tanto, tanto e tão profundamente dessa forma... Devo ter subestimado o meu poder de destruição... Talvez chegue uma hora em que não sobrará nada, nada ao meu redor!

 

MAX: Povero amico idiota!

 

Max tenta consolar o amigo, CORTA PARA:

 

CENA 04 APARTAMENTO DE ANA INT/NOITE 


Gisele conversa com Lúcio.

 

LÚCIO: [...] Que barra, que barra pesadíssima... Superou a canalhice de anos, um feito que nem eu imaginava que ele fosse capaz de tanto...

 

GISELE: Ao menos ela conseguiu dormir... Devia estar muito cansada...  Nem sei por onde andou, com quem andou... Quando penso em tudo isso, tenho vontade de...

 

LÚCIO: Um crime passional...

 

GISELE: Não seja idiota e sem sentimentos, a situação não admite piadas!

 

LÚCIO: Vai ficar com ela essa noite?

 

GISELE: Sim, não dormiria tranquila longe dela...

 

LÚCIO: E a mãe dela?

 

GISELE: Amanhã ligo pra Dona Beatriz, não vou tirar o sossego dela, não quando tudo parece menos pior...

 

LÚCIO: Tudo bem, eu vou pra casa...

Lúcio beija a esposa e sai. Sozinha, Gisele apaga as luzes da sala e se dirige para o quarto: ela deitasse ao lado da amiga, Ana se mexe.

 

GISELE: Te acordei?

 

ANA: Não, eu já tava meio acordada, flutuando em meio ao nada...

 

GISELE: Nunca vou te deixar só!

 

Gisele abraça a amiga, e as duas fecham os olhos em comunhão silenciosa, corta para a janela e são mostradas imagens da cidade, CORTA PARA:

 

CENA 05 QUARTO DE HOTEL INT/NOITE 


Carlo tenta dormir durante a madrugada, mas não consegue, e se mexe de um lado para o outro em sua cama.

 

CARLO: (Em off) Ana sempre reclamou de insônia e do som-imaginário de uma máquina de costura, que a perseguia... Que lhe oprimia... Eu acho que não tenho poesia no sangue, no corpo, na alma... O que me oprime, o que oprime a minha consciência, não tem nenhum tratamento literário ou metafórico... Meus próprios erros, vão e voltam, num looping cru e realista... Sem nenhuma maquiagem... Não sei se dói mais ou menos por causa disso, só me resta tentar suportar...

 

Ele cobre-se com um cobertor, CORTA PARA:

 

CENA 06 APARTAMENTO DE ANA INT/DIA


 


Stocks shots demostram o nascer de um novo dia. Ana e Gisele tomam café da manhã ao lado de Beatriz.

 

BEATRIZ: Eu acordei com um pressentimento, com algo me chamando... Eu precisava dar uma passada aqui... pra me sentir melhor, me certificar que está tudo certo!

 

ANA: Eu tô sim mãe, e apesar de toda a minha desordem interior, pelo menos até chegar a esse ponto... Agora estou me sentindo muito melhor!

 

BEATRIZ: Mas você gostava, gosta, tanto dele...

 

ANA: Mas só o meu sentimento, e o dele (apesar de tudo, eu sei que ele me ama, do jeito egoísta dele, mas ama), não sustentam uma relação... Não sustentam uma vida juntos...

 

GISELE: Até parece que ele quis compartilhar uma vida com você... Não se compartilha uma vida entrando por uma porta e depois pulando a janela pra sair fora!

 

ANA: O erro foi meu, o espírito dele é naturalmente daquele jeito... E eu estava me anulando, abrindo mão de coisas que me são importantes, para tentar manter viva uma chama, que não tinha tanto valor assim... Uma chama que me fazia mal, me queimava... E o calor que ela me oferecia não era suficiente, apenas agradável...

 

GISELE: Quantas vezes a gente não confunde: o que nos faz mal, nos parece fazer tão bem...

 

BEATRIZ: Um casamento só acaba quando disposição para entender os erros e defeitos do outro chega ao fim...

 

ANA: Eu cansei de ter tolerância, acho que no fundo a cumplicidade que existia entre nós morreu... Resta saber quem foi o assassino!

 

GISELE: Obviamente foi ele, vamos culpar aquele canalha para sempre!

 

Beatriz se levanta e abraça a filha.

 

BEATRIZ: Foi um livramento na sua vida, filha!

 

ANA: Espero que aconteça um “livramento” desses na sua também...

 

BEATRIZ: Não vá começar de novo, o Alfredo é diferente...

 

ANA: Diferente? Aquele velho babão deve passar o rodo no baile da terceira idade!

 

BEATRIZ: Não mesmo, ele é um cavalheiro fiel a sua dama!

 

Gisele sorrindo, observa a disputa entre mãe e filha, enquanto toma um copo de suco de laranja, CORTA PARA:

 

CENA 07 CASA DE CARLA INT/DIA



 

Carla, Leila e Heloisa conversam animadamente no quarto da atriz.

 

CARLA: É difícil sair depois do personagem, tão pouco tempo depois que as gravações acabaram... Ela ainda está na minha pele, suas palavras ainda estão na ponta da minha língua!

 

Ela fecha os olhos em transe.

 

CARLA: Por que eu fiz tudo isso? Eu fiz por ti, somente por tua causa...

 

HELOISA: Logo, logo você a exorciza da tua vida, mas primeiro, precisa colher as glórias do seu talento num trabalho impecável!

 

Carla se levanta da cama.

 

CARLA: Eu preciso escolher um vestido... A festa de lançamento, as coletivas, tão aí..

 

LEILA: Vamos as compras maninha: mãos nos cartões de crédito e preparar largada!

 

CARLA: Eu queria algo mais pessoal, mas caseiro, mas íntimo... As grandes marcas não combinam comigo, não demostram o que eu sinto e a mensagem que eu quero passar pro mundo...

 

HELOISA: Minha filhinha? O glamour lhe assusta?

 

CARLA: Nunca me senti glamourosa, prefiro parecer discreta e elegante!

 

LEILA: Você algo significado, algo que tenha história, que tenha conteúdo? Acho que sei exatamente do que você precisa!

 

Leila sai e deixa as duas conversando, logo depois volta com um baú.

 

LEILA: Lembram disso aqui?

 

HELOISA: (Surpresa) As relíquias da sua avó?

 

LEILA: Nada com mais história do que Ofélia, Julieta e Desdêmona!

 

Carla se aproxima e toca delicadamente no conteúdo do baú.

 

HELOISA: Que ideia mórbida! Quer que sua irmã apareça empoeirada e fantasiada, como um espectro grotesco?

 

LEILA: Não, você não me entendeu mamãe! Vamos levar essas coisas, lavadas e limpas é claro, para a dona Beatriz... Assim ela terá material para fazer um lindo e único vestido...

 

CARLA: (Emocionada) Vou continuar o caminho de onde ela parou?

 

HELOISA: Tenho que admitir que pode ser uma linda e tocante homenagem, vou ter que dar o braço a torcer!

 

As três se abraçam emocionadas, CORTA PARA:

 

CENA 08 CASA DE BEATRIZ INT/DIA

 

Beatriz chega em casa e encontra Alfredo lanchando um sanduíche improvisado, ela abre a geladeira e pega toma um copo de água.

 

ALFREDO: A menina tá melhor?

 

BEATRIZ: Tá sim, querido, mas a muito tempo que ela não é mais uma menina...

 

ALFREDO: Costume, alguns a gente nunca perde, mesmo depois de toda uma vida!

 

BEATRIZ: E o traste?

 

ALFREDO: Eu não falei com ele ainda, não usa celular... Temos que esperar ele aparecer aqui por livre e espontânea vontade. Se ele saiu do apartamento da Ana, onde será que ele está dormindo?

 

BEATRIZ: Não sei e não quero saber, e se ele aparecer aqui vou dar-lhe umas boas vassouradas!

 

ALFREDO: Menos querida, ele é meu sobrinho! Se ele pedir a minha ajuda, não posso lhe negar, de maneira alguma!

 

BEATRIZ: Pode lhe ajudar, lhe auxiliar, lhe pagar um copo de cerveja geladinha ou lhe emprestar algum dinheiro (mesmo não o tendo nem pra si)... Mas faça essas coisas longe dos meus olhinhos!

 

ALFREDO: Assim o seu coraçãozinho não vai ficar enciumado, só por que estou ajudando um menino que criei como meu próprio filho!

 

BEATRIZ: Ele não é mais um menino, é um homem, com todos os defeitos e qualidades que despontavam desde muito cedo...

 

ALFREDO: Nunca consegui lhe impor limites...

 

BEATRIZ: Como se nunca tentou de verdade? Seja sincero, seguiu a máxima popular: prendam as suas cabritas, o meu bode está solto!

 

ALFREDO: Tá bem, se te faz se sentir melhor, eu assumo a minha negligência e todas as consequências que ela trouxe...

 

Ela se aproxima e toca delicadamente o rosto do parceiro de tantos anos.

 

BEATRIZ: Não, não quero que assuma nada... Muitas coisas, apesar de todos os nossos esforços, escorrem entre os nossos dedos, saem do nosso controle...

 

Ele devolve-lhe um sorriso, tristemente.

 

BEATRIZ: Nós já fizemos por eles, tudo o que deveríamos e podíamos ter feito... Acho que num futuro nem tão distante, chegará a hora em que sairemos de cena, sem alarde, sem trilha sonora ou efeitos especiais: vamos abrir a porta, sair em silêncio e fecha-la devagarzinho...

 

Os dois se abraçam, CORTA PARA:

 

CENA 09 APARTAMENTO DE ANA INT/DIA



 

Ana toma um banho quente e relaxante novamente, fecha os olhos e lembranças de uma das inúmeras viagens que fez com Carlo, rebobinam em sua mente.

 

FLASHBACK ON:

 

Carlo e Ana embarcam no maior romance num lindo trem do século XIX: ele lhe dá a mão para que ela possa subir com mais segurança.

 

ANA: Obrigada.

 

CARLO: Não há de quê...

 

Eles sentam-se lado a lado em um dos bancos, o trem começa a andar e Ana dirige sua visão à janela para observar a paisagem. Carlo aperta a mão dela contra a sua e ela sentindo esse carinho vira-se e lhe sorri ternamente. Corte rápido, os dois se deliciam no vagão restaurante e ele lhe presenteia com uma das rosas de um jarro que enfeitava a mesa.

 

ANA: Isso é roubo Carlo, deixa isso aí quieto!

 

CARLO: Acho que eles e você podem me perdoar, foi um furto motivado por amor!

 

Ela sorri para ele, vermelha de vergonha, corte rápido novamente: os dois se amam na cabine destina ao casal.

 

FLASHBACK OFF.

 

Ana se enxuga e sai, triste e resignada, CORTA PARA:

 

CENA 10 CASA DE BEATRIZ INT/DIA



 

Carla e Heloisa trazem o baú para a sua antiga amiga e costureira e lhe fazem o pedido.

 

BEATRIZ: [...] É uma encomenda exótica, talvez recusasse se não fosse de uma antiga amiga!

 

CARLA: Uma pena que eu e a Ana não tivemos muito tempo para estreitar os laços durante as gravações...

 

BEATRIZ: Foi natural o desencontro, ela apenas escrevia... E você, uma grande estrela inacessível, atuava!

 

CARLA: Mas eu sou bem acessível, e ela sempre estava nos bastidores, ao lado do meu primo...

 

HELOISA: Minha filha é tímida...

 

BEATRIZ: E a minha bastante discreta, não costuma invadir o espaço alheio e não vai aonde não é convidada...

 

Beatriz começa a tirar as medidas de Carla.

 

HELOISA: Nossas filhas terão mais oportunidade de estreitar os laços, quem sabe elas não se tornam parentes?

 

CARLA: Não constranja a dona Beatriz! Fofocar não é bonito!

 

BEATRIZ: A Leonora não sabe que a Ana é minha filha?

 

HELOISA: Acho que ninguém o disse e tão pouco ela procurou saber...

 

CARLA: Qual a relação com a minha tia?

 

BEATRIZ: Não queira saber, não é nada boa... Mas faz muito tempo que não nos vemos...

 

HELOISA: Depois sou eu que gosto de fofocar!

 

CARLA: Só fiquei curiosa, um pouco curiosa... Vocês não precisam me contar nada! Nada mesmo!

 

As três caem na risada, CORTA PARA:

 

CENA 11 APARTAMENTO DE LIVIA INT/DIA



 

Após dias deitada chorando, Lívia desabafa com Carolina.

 

CAROLINA: Eu sempre soube, que o tratamento leviano que você dava ao Virgílio, um dia se voltaria contra ti mesma! Como você pode enrolar o coitado por tanto tempo, sabendo dos sonhos que ele planejava para vocês dois...

 

LÍVIA: Ele é grandinho o suficiente, se nunca ligou para os meus sonhos individuais, para o que eu pensava ser melhor pra mim! Por que eu deveria fazer a ponte entre o meu mundo e o dele?

 

CAROLINA: Sim, era uma obrigação dos dois, cada um deveria trazer um material diferentes e construir um ponto em comum juntos... Mas se isso não foi possível, se houveram falhas de comunicação e você estava ciente delas, teria sido melhor não deixa-lo se iludir...

 

LÍVIA: (Chorando) Você não pode me criticar por falta de comunicação, a anos gosta de um cara que não sabe nem que você existe fora daquela maldita editora!

 

CAROLINA: Sim, sou uma covarde, mas a minha covardia apenas me faz sofrer... Só a mim, a sua covardia prejudicou muitas pessoas! Duas amigas perdidas, e eu suspeito que pelo menos uma delas jamais irá lhe perdoar!

 

Lívia roei as unhas da mãe direita, em agonia.

 

LÍVIA: Por incrível que pareça, ainda acho que a Ana pode me perdoar um dia... Mas a Gisele não, tomará as dores dela para sempre...

 

Carolina demonstra empatia no olhar e abraça a irmã, CORTA PARA:

 

CENA 12 APARTAMENTO DE ANA INT/DIA

 

Ana começa a passar delicadamente o vestido vermelho que outrora ganhou de Paulo.

 

GISELE: Vai repetir vestido, logo num evento tão importante como esse?

 

ANA: Ninguém nunca me viu publicamente com ele, e não é qualquer vestido, é o vestido! Tem um significado especial!

 

GISELE: Então resolveu dar uma chance ao bonitão?

 

ANA: Resolvi deixar o tempo correr livre, sem angustias e ansiedades, quem sabe o que e para onde ele nos levará?

 

Ana sorri para Gisele, CORTA PARA:

 

CENA 13 FACULDADE INT/DIA

 

Semanas Depois, Ana dá aula para uma de suas turmas.

 

ANA: [...] E aquele que lhes deu a vida, Chronos, os consumiu... Zeus e seus irmãos, se tornaram deuses, por derrotarem o pai tirânico. Mas nós não podemos derrotar o tempo que nos consome, a cada segundo perdemos um precioso grão de vida... O tempo é implacável, mas de certa forma, também é misericordioso... Apenas as mentes românticas demonstram o desejo de sofrer imensamente pela eternidade; mas para as pessoas comuns, racionais, o sofrimento se não tem fim, ao menos é aplacado, apaziguado!

 

LEILA: Não dizem que o sofrimento e o tempo, mudam as pessoas?

 

ANA: Sim, certo querida. Mas se hoje eu não sou a mesma de ontem, da semana, do mês passado; o sofrimento que sinto, também já não é o mesmo! Sofro hoje por causas diferentes das que me tiravam o sono na adolescência...

 

ESTUDANTE: Nós não podemos nunca entrar no mesmo rio, pois, como as águas, nós mesmos já somos outros...

 

ANA: Heráclito, vejo que aproveitaram bem as aulas de filosofia no período passado! Muito bem! Mas voltando para a literatura clássica, os gregos concebiam o tempo e o destino como implacáveis: é impossível ir contra o que já estava predestinado, do nascimento à morte de cada mortal...

 

LEILA: As moiras fiavam o fio da vida dos humanos...

 

Ana olha para o seu relógio de pulso.

 

ANA: E dos deuses também, mas naturalmente estes tinham mais livre arbítrio que as pessoas comuns...  Infelizmente a nossa aula de hoje precisa acabar, nos empolgamos e já até passamos do nosso horário habitual, vocês estão liberados!

 

Enquanto os alunos saem, Ana pega a sua bolsa e vai para o banheiro da sala dos professores, CORTA PARA:

 

CENA 14 FACULDADE FEDERAL INT/DIA



 

Ana já está vestida no seu deslumbrante vestido vermelho, arruma o cabelo de forma caseira e começa a passar o batom rubro com acabamento fosco.

 

ANA: Finalmente consegui ficar quase tão bonita quanto a minha mãe...

 

Ela rapidamente junta as suas coisas na bolsa e sai, foco nos chiquérrimos sapatos negros com solado vermelho.

 

FIM DO CAPÍTULO.


 

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