-Episódio 01: "Ela Ama Demais"-
Escrito por
João Pedro Figueredo
Personagens deste episódio:
Letícia Persíles – “Luísa”
Lília Cabral – “Ana”
Jéssica Ellen – “Beatriz”
Emílio Dantas – “Elio”
Dandara Albuquerque– “Clarisse”
Ana Flávia Cavalcanti – “Laura”
Juliana Schalch – “Miriam”
CENA 0. QUADRO SENDO PINTADO
A imagem se abre com
um pincel passando pela tela. Vemos uma combinação de várias
cores se encontrando e formando uma bela imagem da natureza.
A voz de Luísa (27) entra.
LUÍSA
(off/recitando)
SENTIR TUDO DE TODAS AS MANEIRAS
VIVER TUDO DE TODOS OS LADOS
SER A MESMA COISA DE TODOS OS MODOS
POSSÍVEIS AO MESMO TEMPO,(...)/
FUSÃO PARA:
CENA 1. INT. APTO ANA / QUARTO DE LUÍSA - DIA
Luísa em pé enquanto pinta. Beatriz (27) sentada na cama da
amiga.
LUÍSA
(para de pintar)
Esses versos do Fernando Pessoa
falam tanto sobre mim. É como se me
descrevessem através deles. É tudo
tão forte para mim.
BEATRIZ
E você vai falar isso para a sua
psicóloga nova?
LUÍSA
E eu tenho escolha?
BEATRIZ
Ah, Luísa, já faz tantos anos que
você faz terapia. Já deveria ter se
acostumado a falar tudo.
Luísa larga o pincel e senta ao lado de Beatriz.
LUÍSA
Eu nunca entendi o porquê disso. Eu
falo, começo a criar um vínculo com
ela, ela me acha maluca e me
encaminha para outra terapeuta.
(t)
Você sabe que eu tenho medo de
perder quem eu amo. Assim foi com a
Letícia, a última, e eu não quero
que seja agora com essa tal de
Clarisse.
BEATRIZ
Você não disse que ela se formou a
pouco tempo? Isso às vezes ajuda.
Ela precisa de pacientes. E se
doutora Laura te mandou para ela, é
porque vai ser bom para você.
Confia em mim!
LUÍSA
Você é um anjo, Beatriz!
Batidas na porta. Ana (58) abre a porta e entra.
ANA
(Para Luísa)
Tá na hora, filha. Vamos se não
você vai se atrasar.
BEATRIZ
Vai lá, Luísa! Mais tarde a gente
conversa mais.
Luísa se levanta e sai.
CORTE PARA:
CENA 2. EXT. RUAS DA CIDADE / CARRO DE ANA - DIA
Mostrando o carro
andando, entra o letreiro: "'Elas' apresenta: Ela Ama Demais".
Dentro do carro: Ana dirigindo, Luísa ao lado.
ANA
Por favor, Luísa, trata bem a sua
terapeuta. Se não der certo, a
gente conversa com a Laura e nós
vemos o que a gente pode fazer.
LUÍSA
Credo, mãe! Até parece que eu sou
uma adolescente inconsequente.
Prometo que vou tentar fazer o meu
melhor.
ANA
Não foi isso que eu quis dizer, mas
você sabe como você é.
(t)
Tomou os seus remédios direitinho
hoje?
LUÍSA
Tomei, mãe!
ANA
Que bom! Isso é muito importante
para você se manter estável.
Ana para o carro.
ANA (CONT'D)
É aqui! Fica com Deus, minha filha.
Daqui a uma hora eu venho te
buscar.
LUÍSA
Obrigada, mãe.
Luísa abre a porta do carro.
LUÍSA (CONT'D)
Te amo, mãe!
ANA
Também te amo, filha! Te amo
demais.
Luísa sai do carro e Ana dá partida e sai. Reação de Ana,
preocupada.
CORTE PARA:
CENA 3 INT. CLÍNICA / SALA DE ESPERA - DIA
Luísa esperando para ser atendida. Ao lado dela, uma mulher
de aparentemente 35 anos, segurando uma bebê de oito meses de
vida. A bebê olha para Luísa e Luísa brinca com a bebê. A
bebê ri, gargalha.
LUÍSA
(à mulher)
A sua bebê é linda!
MULHER
Obrigada!
(t)
Você tem filhos?
LUÍSA
Não, mas eu adoro crianças. Um dia
eu quero ter.
As duas sorriem uma para a outra. A senha de Luísa é chamada
e ela sai.
CORTE PARA:
CENA 4 INT. CLÍNICA / SALA DE CLARISSE - DIA
Clarisse (26) sentada de frente com Luísa.
CLARISSE
Luísa, você sabe o porquê de estar
aqui?
LUÍSA
(demonstrando não querer
falar)
A Laura, minha psiquiatra, me
mandou pra cá. A minha antiga
psicóloga não podia mais me
atender. Talvez eu fosse um
problema na vida profissional dela.
Um erro.
CLARISSE
E por que você acha que seria um
erro na vida dela?
LUÍSA
Porque eu sou um problema na vida
de todo mundo que eu amo.
Luísa começa a chorar.
LUÍSA (CONT'D)
(chorando)
Eu tenho tanto medo de perder quem
eu amo, Clarisse. Eu amava tanto
passar com a minha antiga
psicóloga. E ela me deixou. Por que
você acha que eu sou assim?
CLARISSE
Luísa, há quanto tempo você faz
tratamento com a doutora Laura?
LUÍSA
Seis anos.
CLARISSE
E você poderia me dizer qual foi o
último diagnóstico que ela fez?
LUÍSA
(exita)
É... Transtorno de Personalidade
Borderline.
Clarisse presta atenção em cada palavra que Luísa fala.
CORTE PARA:
CENA 5 INT. APTO ANA / QUARTO DE LUÍSA - DIA
Beatriz e Luísa
LUÍSA
E foi isso. Deu tudo certo, Bia.
BEATRIZ
Que bom, Luísa. Fico muito feliz
por você ter conseguido.
LUÍSA
Obrigada!
BEATRIZ
(muda de assunto)
Ei, vamos na festa na casa da
Renatinha hoje?
LUÍSA
Será?
BEATRIZ
Vamos! Vai ser bom pra você se
distrair.
LUÍSA
Eu não vou poder beber. Estou
tomando remédio.
BEATRIZ
E quem disse que você precisa de
álcool para se divertir. Vai ser
mais legal do você acha que vai
ser.
Reação de Luísa, pensativa.
CORTE RÁPIDO PARA:
CENA 6 INT. FESTA - NOITE
Várias pessoas confraternizando, dançando. Luísa e Beatriz juntas, dançando, lindas. As duas chamam a atenção da festa inteira.
BEATRIZ
Prometi para a sua mãe que eu ia
tomar conta de você hoje.
LUÍSA
(animada)
Fica tranquila, Beatriz! Estou bem
de boa.
Ao longe, vemos Élio (29) dançando e olhando para Luísa.
LUÍSA (CONT'D)
Bia, acho que aquele cara, gato, tá
olhando para mim.
BEATRIZ
Cuidado, Luísa! Não vai se meter em
roubada.
LUÍSA
Eu sei o que faço.
Luísa ri. CORTE DESCONTÍNUO PARA: Luísa no bar da festa. Élio
se aproxima do bar e para ao lado de Luísa.
ÉLIO
(para o barman)
Amigo, me vê duas cervejas?
O barman entrega duas cervejas em lata para Élio. Élio
oferece uma para Luísa.
ÉLIO (CONT'D)
(para Luísa)
O que eu preciso fazer para uma
menina linda que nem você aceitar
essa cerveja?
LUÍSA
Não, obrigada! Eu nem te conheço.
Luísa ri.
ÉLIO
Não seja por isso.
(dá a mão direita para
Luísa)
Élio. Prazer!
LUÍSA
Prazer! Me chamo Luísa.
Eles se cumprimentam trocando olhares intensos.
ÉLIO
Aceita a cerveja agora? Só uma.
LUÍSA
(no impulso)
Aceito.
CORTE RÁPIDO PARA:
CENA 7 INT. FESTA / BANHEIRO FEMININO - NOITE
Dentro de uma das cabines, Luísa vomitando. Beatriz dando
apoio para a amiga.
BEATRIZ
(segurando a cabeça de
Luísa)
Você sabia que não podia beber. Por
que você não falou isso pro cara.
Luísa percebe que o vômito parou
LUÍSA
Desculpa! Eu não pensei muito. Só
agi. Não foi por maldade.
BEATRIZ
Eu sei que não foi por maldade
Luísa. E sei que muitas vezes você
não consegue se controlar. Mas já
está na hora de se forçar a pensar
antes de agir por impulso.
LUÍSA
(romântica)
Ah, Bia, ele é tão lindo, tão
gentil. O nome dele é Élio.
BEATRIZ
Luísa, você conheceu ele há meia
hora.
LUÍSA
Tempo suficiente para me apaixonar
por ele.
BEATRIZ
(ri)
Ah, Luísa, só você mesmo.
(t)
Vamos! Acho melhor você descansar
agora.
Beatriz e Luísa saem da cabine do banheiro e veem a longa
fila para ser usado.
LUÍSA
Ele me deu o telefone dele.
BEATRIZ
(não ligando muito)
Que bom! Amanhã você liga para ele
então.
CORTE PARA:
CENA 8. INT. APTO ANA / QUARTO DE LUÍSA - DIA
Luísa acorda e olha o celular. No celular uma mensagem de Élio: "Bom dia <3". Luísa digita: "Bom dia <3. Quero te ver hoje". Reação de Luísa apaixonada. O clima é quebrado quando Ana entra no quarto.
ANA
Bom dia, filha.
LUÍSA
Bom dia, mãe!
ANA
Você tá bem? A Beatriz me contou
que você bebeu ontem a noite. Por
que, Luísa? Você sabe que é
perigoso misturar remédios com
bebidas.
LUÍSA
(preocupada)
Ai, não acredito que a Beatriz
fofocou pra você.
ANA
(dando sermão)
Não tem isso de fofocar, Luísa!
Você sabia que não podia fazer
isso. Imagina se acontecesse alguma
coisa com você?
LUÍSA
Mas não aconteceu, mãe. Eu só
fiquei enjoada. Não precisa se
preocupar tanto.
ANA
Você não faz ideia de como eu
ficaria acabada se eu te perdesse.
Luísa abraça a mãe e começa a chorar. Ana se emociona.
LUÍSA
Desculpa, mãe. Mil desculpas mesmo.
Eu não queria te decepcionar.
ANA
Tudo bem, filha! É só não agir
assim de novo.
(t)
Não tem problema nenhum beber numa
festa, porém deve ser com
moderação. E é claro, se você não
tiver tomando remédio nenhum.
LUÍSA
Eu não deveria ter bebido nada. Não
pensei mesmo. Desculpa!
ANA
(acariciando Luísa)
Sabe, filha, quando você teve a sua
primeira crise de pânico, você era
muito jovem. Eu entrei em
desespero. Como eu podia perder a
minha filha com onze anos de idade
só? Depois você foi crescendo, você
foi ficando diferente. Doía muito
cada vez que você tentava fazer
alguma coisa contra a sua própria
vida, uma parte de mim se
perguntava: "Será que eu estou
errando em alguma coisa com ela?".
Luísa, eu te amo tanto filha. Eu
sei que você me ama muito também.
Eu sei que você ama demais as
pessoas. Sempre que você for fazer
qualquer coisa, qualquer coisa
mesmo, pensa em mim. Pensa no
quanto eu te amo.
Luísa dá um forte abraço em Ana. As duas choram.
CORTE PARA:
CENA 9. INT. CAFÉ E LIVRARIA - DIA
Élio andando em meio aos livros e encontra um vendedor.
ÉLIO
Ei, cara, tudo bom?
O vendedor olha para Élio.
ÉLIO (CONT'D)
Você por um acaso trabalha aqui?
VENDEDOR
Opa, sim, trabalho!
(t)
Posso ajudar?
ÉLIO
Vocês têm o livro "O Cântico dos
Cânticos", do Rei Salomão?
VENDEDOR
"O Cânticos dos Cânticos"?
o vendedor pensa por um momento. Ele vai até uma das
prateleiras e procura calmamente. Ao encontrar, pega o livro
e dá para Élio.
VENDEDOR (CONT'D)
"O Cântico dos Cânticos". Uma das
mais antigas declarações de amor já
registrada no mundo.
ÉLIO
E uma das mais belas também.
VENDEDOR
(sorrindo)
Ótima escolha!
(t)
Você vai levar?
ÉLIO
Embala pra presente, por favor.
CORTE DESCONTÍNUO PARA: Élio sentado na parte do café
esperando Luísa. Luísa chega e Élio levanta para cumprimentá-
la.
LUÍSA
Oi, desculpa o atraso. O trânsito
estava caótico.
ÉLIO
(ri)
Fica tranquila, Luísa. Na hora em
que você me ligou para a gente se
ver aqui, eu vim correndo.
Luísa ri, flertando.
LUÍSA
Eu adoro esse lugar. Venho quase
sempre aqui. Os livros daqui me
trazem aconchego. Quase sempre tiro
as inspirações das minhas pinturas
das coisas que eu leio.
ÉLIO
(surpreso)
Você pinta?
LUÍSA
Sim, desde adolescente. Mas eu fui
me aperfeiçoando com o tempo.
ÉLIO
Um dia eu quero que você pinte um
quadro meu.
LUÍSA
Tenho certeza de que vai ficar
lindo.
Élio sorri tímido.
ÉLIO
Você quer ficar por aqui mesmo ou
quer dar uma saidinha?
Luísa sorri maliciosa para Élio.
CORTE RÁPIDO PARA:
CENA 10. INT. CASA ÉLIO / QUARTO - DIA
Élio abre a porta enquanto
beija Luísa. Os dois trocam olhares e toques intensos. Luísa
começa a tirar a roupa de Élio. Élio a de Luísa. Os dois se
beijam mais uma vez e ali se amam.
CORTE PARA:
CENA 11. GERAIS DO RIO DE JANEIRO
Dias depois
CORTE PARA:
CENA 12. INT. APTO ANA / SALA - DIA
Beatriz e Luísa
BEATRIZ
Deixa eu entender, Luísa! Vocês
estão namorando há um pouco mais de
um mês e você ainda não contou pra
ele que você tem Borderline?
LUÍSA
Claro que não, Bia! Se ele souber,
aí que ele não vai querer ficar
comigo de verdade. Ele vai achar
que eu sou louca.
BEATRIZ
(estupefata)
Luísa de Barros Pimentel!
LUÍSA
Você não entende porque não está
aqui no meu lugar. Se tivesse, iria
concordar comigo.
BEATRIZ
Só você mesmo!
Ana entra nesse exato momento.
ANA
Filha, o Élio vai almoçar aqui
hoje?
LUÍSA
Não, mãe. Ele só vai trazer um
livro que eu esqueci na casa dele
ontem.
(t)
Parece que ele tem alguma coisa
importante para resolver no
trabalho dele hoje, sei lá.
ANA
Ah, tudo bem!
CORTE DESCONTÍNUO PARA: Luísa recebendo Élio na porta com um
beijo.
LUÍSA
Ah, meu amor! Obrigada por trazer
meu livro.
Élio entrega para Luísa o exemplar de "O Cânticos dos
Cânticos", que ele deu no primeiro encontro.
ÉLIO
Já estava pensando que você estava
devolvendo o presente.
Élio ri.
LUÍSA
Nunca!
ÉLIO
Luísa, preciso ir. Mais tarde a
gente se fala mais?
LUÍSA
Não, meu amor. Fica mais um pouco.
Por mim?
ÉLIO
Eu não posso, Luísa. Tenho coisas
importantes para resolver hoje.
Mais tarde a gente se fala, tá?
LUÍSA
(entristecida)
Tá bom! Te amo.
ÉLIO
Também te amo.
Os dois se beijam e Élio sai. Luísa começa a chorar. Ana vai
até a filha.
ANA
(preocupada)
Luísa, o que está acontecendo? Você
estava bem até agora.
LUÍSA
(chorando)
Mãe, eu acho que o Élio não me quer
mais.
ANA
Por que você acha isso? Ele veio
aqui, falou que te amava. Vocês
conversaram muito bem até. Não tem
motivo pra você achar isso.
LUÍSA
Ele veio aqui e saiu num sopro. Nem
atenção direito ele quis me dar. Como se ele não se importasse
comigo.
ANA
Isso não tem nada a ver, Luísa. Ele
tinha um compromisso no trabalho.
Não podia passar muito tempo aqui.
Vai por mim! Está tudo bem.
Beatriz se aproxima de Luísa.
BEATRIZ
Vem, Luísa! Vamos assistir alguma
coisa. Uma série, pode ser?
LUÍSA
Pode!
Beatriz sai com Luísa e as duas vão para o quarto. Luísa se
acalmando.
CORTE PARA:
CENA 13. INT. EMPRESA / SALA DE REUNIÃO - DIA
Élio desligando o celular. Alguns empresários e empresárias
começam entrar na sala, inclusive Miriam (25), sua
secretária.
ÉLIO
(para todos)
Boa tarde, senhores e senhoras. Vim
aqui esta tarde, especialmente,
para apresentar o novo projeto de
marketing da empresa.
Todos prestam atenção a Élio.
CORTE PARA:
CENA 14. INT. APTO ANA / SALA - DIA
Ana e Beatriz
BEATRIZ
Então, dona Ana, a Luísa dormiu. Eu
preciso ir. Tenho algumas coisas
para resolver na escola à noite,
provas para corrigir, essas coisas.
ANA
Tudo bem, Bia! Se você quiser, eu
te levo. Tenho algumas coisas para
resolver na rua.
BEATRIZ
Não vai te atrapalhar, dona Ana?
ANA
Claro que não! Vamos lá.
Beatriz e Ana saem.
CORTE PARA:
CENA 15. INT. APTO ANA / QUARTO DE LUÍSA - DIA
Luísa, aparentemente, dormindo.
FECHA EM LUÍSA
Luísa abre os olhos. Ela levanta ansiosa e sai do quarto com
o celular.
CORTE PARA:
CENA 16. INT. APTO ANA / SALA - DIA
Luísa, ansiosa, começa a chorar desesperada mais uma vez. Ela
liga para o celular de Élio. Toca, mas cai na caixa postal.
Luísa tenta de novo, mas cai na caixa postal. INTERCALAR COM:
CONTINUAÇÃO DA CENA 13, SEM ÁUDIO, Élio apresentando o seu
projeto. Luísa senta no chão, ainda tentando ligar, e chora
cada vez mais, por medo. Até que Luísa engole o choro. Se
levanta decidida e sai do apartamento.
CORTE PARA:
CENA 17. INT. EMPRESA / RECEPÇÃO - DIA
Élio sai da apresentação recém terminada. Vários empresários
e empresárias sem da sala. Miriam corre até Élio e os dois
conversar. Não sabemos do que se trata, mas vemos que é
formal. CORTE PARA: Um pouco mais distante, Luísa observando
Miriam e Élio conversando. Luísa tomada por um ódio
irracional. Luísa vê Miriam se despedindo de Élio e indo até
o banheiro feminino. Devagar, sem ser notada, Luísa vai até o
banheiro também.
CORTE PARA:
CENA 18. INT. EMPRESA / BANHEIRO FEMININO - DIA
Miriam sai da cabine e vai para lavar a mão. Pelo reflexo do
espelho vê Luísa e se assusta.
MIRIAM
(assustada)
Ah, que susto, menina!
(ri)
Achei que eu estava sozinha.
LUÍSA
Hum!
MIRIAM
E você quem é? Nunca te vi por
aqui.
LUÍSA
Sou a namorada daquele cara que
você estava se insinuando.
MIRIAM
(sem entender)
Me insinuando? Que cara?
LUÍSA
Mas isso não vai ficar assim.
Luísa, de surpresa, puxa o cabelo de Miriam por trás. Miriam
não entende a situação. Luísa joga Miriam no chão e sobe na
garota.
MIRIAM
(desesperada)
Socorro! Alguém me ajuda?! Tem uma
louca em cima de mim.
LUÍSA
(dando tapas)
Isso é pra você aprender a nunca
mais mexer com o namorado das
outras.
Luísa continua agredindo Miriam por um tempo até que cai na
realidade. Miriam toda machucada.
MIRIAM
(dolorida)
Você tá falando do Élio? Eu sou a
secretária dele. É o meu trabalho
estar perto dele.
Luísa para de agredir Miriam. Estupefata e arrependida ela se
aproxima novamente de Miriam.
LUÍSA
(muito
arrependida/repetindo)
Me perdoa?
Miriam não entende.
LUÍSA (CONT'D)
Eu não pensei, me desculpa, por
favor!
Luísa começa a chorar.
MIRIAM
Você é louca, menina? Olha como
você me deixou!
LUÍSA
Desculpa!
Dois seguranças entram no banheiro e veem as duas no chão.
Miriam toda machucada. Um dos seguranças ajuda Miriam a se
levantar. O outro leva Luísa. Ambos levam as garotas para
fora do banheiro.
CORTE PARA:
CENA 19. INT. EMPRESA / RECEPÇÃO - DIA
Muita gente em volta da porta do banheiro feminino, entre
eles, Élio. Um dos seguranças sai com Miriam. O outro sai com
Luísa. Élio pasma ao ver a namorada. Luísa olha arrependida
para Élio.
CORTE PARA:
CENA 20. INT. EMPRESA / SALA DE ÉLIO - DIA
Luísa e Élio
ÉLIO
Agredir fisicamente a minha
secretária, Luísa? Me fala o que
você tem na cabeça pra fazer isso!
LUÍSA
Me desculpa, Élio! Não foi a minha
intenção fazer isso. Eu não pensei
na hora. Eu tava te ligando e...
ÉLIO
(interrompe)
Espera! Você fez isso porque você
estava me ligando e eu não tinha
atendido?
(t)
Luísa, eu estava em reunião. Eu não
ia poder te atender.
LUÍSA
Você me tratou de uma maneira tão
fria hoje em casa. Pensei que você
não me queria mais. Depois te vi
aos risos com aquela... aquela
garota. Eu não consegui me segurar,
cara. Isso foi uma forma de tentar
proteger o nosso relacionamento.
ÉLIO
É e ajudou muito. Ajudou a terminar
isso aqui, né?
(t)
Quando eu te conheci, eu pensei que
você era diferente.
LUÍSA
Você tá terminando comigo?
ÉLIO
Não, mas acho que a gente tem que
tirar um tempo pensar no que
aconteceu, Luísa. Você acha que é
normal acontecer isso?
LUÍSA
Isso não tá certo, Élio. Eu te amo.
Você não pode terminar comigo
assim.
ÉLIO
Você deveria ter pensado antes de
fazer o que você fez.
LUÍSA
(medrosa)
Não, Élio, por favor! Eu prometo
que não vou mais fazer isso. Vamos
esquecer essa história. Seguir em
frente. A gente foi feito um para o
outro.
ÉLIO
Eu também gosto muito de você,
Luísa. Mas agora eu não sei se tenho
certeza disso. Por favor, respeita
essa minha decisão.
Luísa começa a chorar desesperadamente e se ajoelha.
LUÍSA
(desesperada)
Élio, eu não consigo viver sem
você. Não precisamos desse tempo.
Precisamos estar juntos como o
verdadeiro casal que nós somos.
ÉLIO
Escuta o que você tá falando,
Luísa! Como você não sabe viver sem
mim? Nós nos conhecemos há um pouco
mais de um mês, como é que era
antes?
LUÍSA
Você é um pedaço de mim, Élio. Você
faz parte de mim. Antes de você só
existia um vazio dentro de mim. Com
você eu sou completa.
Reação de Élio tentando se colocar no lugar de Luísa.
ÉLIO
(calmo)
Vamos esperar isso passar. Depois a
gente conversa.
Élio sai da sala, deixando Luísa sozinha. Luísa explode e
joga tudo o que estava em cima da mesa. Luísa sai.
CORTE PARA:
CENA 21. EXT. RUAS DA CIDADE - DIA
Vários carros passando. Luísa transtornada começa andar pelo
meio dos carros enquanto o diálogo anterior volta na cabeça
dela.
ÉLIO
(off)
É e ajudou muito. Ajudou a terminar
isso aqui, né?
(t)
Quando eu te conheci, eu pensei que
você era diferente.
LUÍSA
(off)
Você tá terminando comigo?
ÉLIO
(off)
Não, mas acho que a gente tem que
tirar um tempo pensar no que
aconteceu, Luísa. Você acha que é
normal acontecer isso?
Enquanto Luísa passa pelos carros, os motoristas buzinam.
Luísa olha envolta passando mal até que desmaia.
FUSÃO LENTA PARA:
CENA 22. INT. HOSPITAL / OBSERVAÇÃO - NOITE
ABRE EM LUÍSA DESPERTANDO
Laura (37) e Ana envolta de Luísa.
ANA
Filha? Luísa, você tá bem? O Élio
ligou falando o que aconteceu...
LUÍSA
(interrompe/tonta)
Eu tô sim, mãe. Só estou um pouco
tonta.
LAURA
(para Ana)
Dona Ana, a senhora pode me deixar
à sós com a Luísa, por favor?
ANA
Mas já, doutora Laura? A Luísa
acabou de acordar.
LAURA
Por favor, dona Ana. É importante.
ANA
Tá bom!
Ana faz um carinho na filha e sai.
LAURA
Luísa, minha querida, você pode me
dizer o que aconteceu hoje à tarde?
O que te trouxe até aqui?
LUÍSA
Laura, não foi por querer. Eu agi
sem pensar.
LAURA
Eu não estou aqui para te dar
sermão, mas você poderia ter sido
presa pela agressão da colega de
trabalho do Élio.
LUÍSA
Eu prefiro ser presa, doutora
Laura, e saber que o Élio vai tá
comigo, do que estar solta e estar
sem ele.
LAURA
Sua mãe encontrou os comprimidos
que você deveria estar tomando
embaixo da cama. Luísa, é
importante para o seu tratamento
que tome a medicação da forma
certa.
(t)
A Beatriz me disse que o Élio não
sabia do seu transtorno. Por que
você não contou a ele? Seria muito
mais saudável para a relação de
vocês.
LUÍSA
Eu fiquei com medo, doutora. Não
podia passar pela minha cabeça que
ele iria me deixar se soubesse. Ia
achar que eu era louca.
LAURA
Isso a gente resolve depois. A sua
mãe achou por bem contar o seu
quadro para o Élio. Eu pedi para
eles conversarem com a Clarisse.
Ela vai poder explicar melhor o seu
quadro enquanto eu estou aqui com
você.
LUÍSA
E o sigilo? Vocês não podem falar
nada pra ele, doutora. É melhor não
falar nada.
LAURA
Luísa, você não está em condições
de enfrentar isso sozinha. Vai ser
melhor para todos.
(t)
Quanto aos medicamentos, o que você
pode falar sobre eles?
LUÍSA
Eu me sentia bem, me sentia viva.
Eu não precisava daquilo. Remédio é
pra quem tá doente, doutora. Eu não
estava. A energia do Élio me
deixava viva.
LAURA
Ninguém deixa ninguém viva, Luísa.
Só você é capaz de te deixar viva.
LUÍSA
Quando que a Clarisse vai contar
para o Élio sobre isso?
LAURA
Eles devem estar conversando agora.
Reações.
CORTE RÁPIDO PARA:
CENA 23. INT. CLÍNICA / SALA DE CLARISSE - NOITE
Clarisse e Élio.
ÉLIO
(pasmo)
Transtorno de Personalidade
Borderline?
CLARISSE
É! Acho importante, Élio, que você
não veja isso como uma doença. Não
é. Um transtorno de personalidade
vai mais além. É uma forma de ser,
de expressar o sentido da sua vida.
Existem vários...
ÉLIO
(interrompe)
É, eu já ouvi falar em alguns. O
narcisista, o paranoide, o
antissocial...
CLARISSE
(interrompe)
Sim, esses são alguns transtornos
de personalidade que estão no DSM-
IV.
(t)
O border, ou limítrofe, é um deles.
É caracterizado por instabilidade
emocional, medo do abandono,
impulsividade, baixa-autoestima.
Isso tudo geralmente ocorre em
alguma situação de ameaça. Eles se
sentem ameaçados o tempo todo. Como
se eles não fossem boas pessoas,
que ninguém quisesse estar com
elas.
ÉLIO
Essa ameaça vem da onde? É como se
fosse uma esquizofrenia?
CLARISSE
Não! Se olharmos a etimologia do
nome vemos as palavras "borda",
"limite". Eles estão ali, na
fronteira da neurose e da psicose.
ÉLIO
Entendi!
CLARISSE
Esse transtorno é sub-divido em
dois. O Borderline implosivo e o
explosivo.
(t)
O implosivo é aquele que durante a
crise se machuca, se fere. O
explosivo é aquele que tem crises
de raiva. Se enfurece. Mesmo com
tudo isso, são pessoas brilhantes,
talentosas. São pessoas boas. O que
elas fazem de errado é uma maneira,
mesmo que não certa, de se
proteger...
Élio presta atenção à Clarisse.
FUSÃO LENTA PARA:
CENA 24. GERAIS DO RIO DE JANEIRO. DIA
Com as imagens da cidade maravilhosa num dia de chuva, vemos
um letreiro: "Alguns dias depois".
CORTE PARA:
CENA 25. INT. APTO ANA / QUARTO DE LUÍSA - DIA
Luísa e Beatriz olhando o tempo pela janela. Beatriz se
afasta.
BEATRIZ
Luísa, eu preciso ir embora agora.
Qualquer coisa é só me ligar, tá?
LUÍSA
(cabisbaixa)
Obrigada, Bia!
Chega uma mensagem no celular de Beatriz.
BEATRIZ
(olhando a mensagem)
Tá vendo! Já é aluno querendo saber
como estão as notas.
(t)
Preciso ir mesmo, se não, não terei
paz.
Beatriz ri.
LUÍSA
Tchau, Bia! Espero te ver logo.
BEATRIZ
Que é isso?
(ri)
Amanhã eu volto aqui.
As duas se abraçam e Beatriz sai. Tempo de Luísa sozinha.
Batidas na porta. Ana entra.
ANA
Filha, tem visita pra você.
LUÍSA
Visita?
Élio entra segurando um buquê de rosas brancas.
ÉLIO
Oi, Luísa.
LUÍSA
Élio!
Os dois sorriem um para o outro.
ANA
Vou deixar vocês conversarem. Se
precisarem de algo, é só me chamar.
Ana sai.
ÉLIO
(entregando as flores)
Trouxe essas flores para você. Eu
sabia que você gostava de rosas
brancas, aí eu as trouxe pra você.
Luísa pega as flores. Os dois sentam na cama.
LUÍSA
Obrigada, Élio. Elas são lindas.
Muito lindas.
ÉLIO
A Laura e a Clarisse conversaram
comigo sobre o que aconteceu. Sobre
você. Eu falei com a Miriam também.
Eu não falei tudo, mas ela não vai
te denunciar e nem nada. Desculpa
também se eu fui um pouco duro com
você aquele dia.
LUÍSA
Fica tranquilo, Élio. Eu é que peço
desculpas por toda aquela cena.
Saiba que eu estou muito
arrependida do que aconteceu
naquele dia.
(t)
Eu tento mudar, sabe? Eu tento me
tornar mais racional, menos
impulsiva, mas é muito difícil para
mim. É horrível amar demais. É como
se eu estivesse viciada.
ÉLIO
E todo vício tem cura. Basta fazer
e aceitar o tratamento.
LUÍSA
Você me perdoa?
ÉLIO
É claro que eu te perdoo. Já
passou.
Luísa segura as mãos de Élio.
LUÍSA
(franca)
Obrigada!
ÉLIO
Luísa, se você quiser, a gente pode
tentar...
LUÍSA
(interrompe)
Shhh... vamos manter assim por um
tempo. Até eu me recuperar
totalmente. Eu não quero que comece
tudo de novo.
Élio arruma o cabelo de Luísa atrás da orelha.
ÉLIO
Você prefere assim? Isso vai ser
bom pra você?
LUÍSA
Eu prefiro. E prefiro fazer isso,
porque eu te amo. E... e eu devo
tentar me amar também.
ÉLIO
Fica bem!
LUÍSA
Eu vou ficar.
Élio levanta e sai do quarto. Reação de Luísa, plena. Ana bate na porta entra.
ANA
Você está bem, filha?
LUÍSA
(olha para Ana/plena)
Eu estou, mãe.
Ana senta ao lado de Luísa e a conforta em seus braços. Pela
janela, Luísa vê, lá embaixo, Élio saindo do prédio. Ana e
Luísa sorriem uma para a outra.
FIM
CENA 19. INT. EMPRESA / RECEPÇÃO - DIA
Muita gente em volta da porta do banheiro feminino, entre
eles, Élio. Um dos seguranças sai com Miriam. O outro sai com
Luísa. Élio pasma ao ver a namorada. Luísa olha arrependida
para Élio.
CORTE PARA:
CENA 20. INT. EMPRESA / SALA DE ÉLIO - DIA
Luísa e Élio
ÉLIO
Agredir fisicamente a minha
secretária, Luísa? Me fala o que
você tem na cabeça pra fazer isso!
LUÍSA
Me desculpa, Élio! Não foi a minha
intenção fazer isso. Eu não pensei
na hora. Eu tava te ligando e...
ÉLIO
(interrompe)
Espera! Você fez isso porque você
estava me ligando e eu não tinha
atendido?
(t)
Luísa, eu estava em reunião. Eu não
ia poder te atender.
LUÍSA
Você me tratou de uma maneira tão
fria hoje em casa. Pensei que você
não me queria mais. Depois te vi
aos risos com aquela... aquela
garota. Eu não consegui me segurar,
cara. Isso foi uma forma de tentar
proteger o nosso relacionamento.
ÉLIO
É e ajudou muito. Ajudou a terminar
isso aqui, né?
(t)
Quando eu te conheci, eu pensei que
você era diferente.
LUÍSA
Você tá terminando comigo?
ÉLIO
Não, mas acho que a gente tem que
tirar um tempo pensar no que
aconteceu, Luísa. Você acha que é
normal acontecer isso?
LUÍSA
Isso não tá certo, Élio. Eu te amo.
Você não pode terminar comigo
assim.
ÉLIO
Você deveria ter pensado antes de
fazer o que você fez.
LUÍSA
(medrosa)
Não, Élio, por favor! Eu prometo
que não vou mais fazer isso. Vamos
esquecer essa história. Seguir em
frente. A gente foi feito um para o
outro.
ÉLIO
Eu também gosto muito de você,
Luísa. Mas agora eu não sei se tenho
certeza disso. Por favor, respeita
essa minha decisão.
Luísa começa a chorar desesperadamente e se ajoelha.
LUÍSA
(desesperada)
Élio, eu não consigo viver sem
você. Não precisamos desse tempo.
Precisamos estar juntos como o
verdadeiro casal que nós somos.
ÉLIO
Escuta o que você tá falando,
Luísa! Como você não sabe viver sem
mim? Nós nos conhecemos há um pouco
mais de um mês, como é que era
antes?
LUÍSA
Você é um pedaço de mim, Élio. Você
faz parte de mim. Antes de você só
existia um vazio dentro de mim. Com
você eu sou completa.
Reação de Élio tentando se colocar no lugar de Luísa.
ÉLIO
(calmo)
Vamos esperar isso passar. Depois a
gente conversa.
Élio sai da sala, deixando Luísa sozinha. Luísa explode e
joga tudo o que estava em cima da mesa. Luísa sai.
CORTE PARA:
CENA 21. EXT. RUAS DA CIDADE - DIA
Vários carros passando. Luísa transtornada começa andar pelo
meio dos carros enquanto o diálogo anterior volta na cabeça
dela.
ÉLIO
(off)
É e ajudou muito. Ajudou a terminar
isso aqui, né?
(t)
Quando eu te conheci, eu pensei que
você era diferente.
LUÍSA
(off)
Você tá terminando comigo?
ÉLIO
(off)
Não, mas acho que a gente tem que
tirar um tempo pensar no que
aconteceu, Luísa. Você acha que é
normal acontecer isso?
Enquanto Luísa passa pelos carros, os motoristas buzinam.
Luísa olha envolta passando mal até que desmaia.
FUSÃO LENTA PARA:
CENA 22. INT. HOSPITAL / OBSERVAÇÃO - NOITE
ABRE EM LUÍSA DESPERTANDO
Laura (37) e Ana envolta de Luísa.
ANA
Filha? Luísa, você tá bem? O Élio
ligou falando o que aconteceu...
LUÍSA
(interrompe/tonta)
Eu tô sim, mãe. Só estou um pouco
tonta.
LAURA
(para Ana)
Dona Ana, a senhora pode me deixar
à sós com a Luísa, por favor?
ANA
Mas já, doutora Laura? A Luísa
acabou de acordar.
LAURA
Por favor, dona Ana. É importante.
ANA
Tá bom!
Ana faz um carinho na filha e sai.
LAURA
Luísa, minha querida, você pode me
dizer o que aconteceu hoje à tarde?
O que te trouxe até aqui?
LUÍSA
Laura, não foi por querer. Eu agi
sem pensar.
LAURA
Eu não estou aqui para te dar
sermão, mas você poderia ter sido
presa pela agressão da colega de
trabalho do Élio.
LUÍSA
Eu prefiro ser presa, doutora
Laura, e saber que o Élio vai tá
comigo, do que estar solta e estar
sem ele.
LAURA
Sua mãe encontrou os comprimidos
que você deveria estar tomando
embaixo da cama. Luísa, é
importante para o seu tratamento
que tome a medicação da forma
certa.
(t)
A Beatriz me disse que o Élio não
sabia do seu transtorno. Por que
você não contou a ele? Seria muito
mais saudável para a relação de
vocês.
LUÍSA
Eu fiquei com medo, doutora. Não
podia passar pela minha cabeça que
ele iria me deixar se soubesse. Ia
achar que eu era louca.
LAURA
Isso a gente resolve depois. A sua
mãe achou por bem contar o seu
quadro para o Élio. Eu pedi para
eles conversarem com a Clarisse.
Ela vai poder explicar melhor o seu
quadro enquanto eu estou aqui com
você.
LUÍSA
E o sigilo? Vocês não podem falar
nada pra ele, doutora. É melhor não
falar nada.
LAURA
Luísa, você não está em condições
de enfrentar isso sozinha. Vai ser
melhor para todos.
(t)
Quanto aos medicamentos, o que você
pode falar sobre eles?
LUÍSA
Eu me sentia bem, me sentia viva.
Eu não precisava daquilo. Remédio é
pra quem tá doente, doutora. Eu não
estava. A energia do Élio me
deixava viva.
LAURA
Ninguém deixa ninguém viva, Luísa.
Só você é capaz de te deixar viva.
LUÍSA
Quando que a Clarisse vai contar
para o Élio sobre isso?
LAURA
Eles devem estar conversando agora.
Reações.
CORTE RÁPIDO PARA:
CENA 23. INT. CLÍNICA / SALA DE CLARISSE - NOITE
Clarisse e Élio.
ÉLIO
(pasmo)
Transtorno de Personalidade
Borderline?
CLARISSE
É! Acho importante, Élio, que você
não veja isso como uma doença. Não
é. Um transtorno de personalidade
vai mais além. É uma forma de ser,
de expressar o sentido da sua vida.
Existem vários...
ÉLIO
(interrompe)
É, eu já ouvi falar em alguns. O
narcisista, o paranoide, o
antissocial...
CLARISSE
(interrompe)
Sim, esses são alguns transtornos
de personalidade que estão no DSM-
IV.
(t)
O border, ou limítrofe, é um deles.
É caracterizado por instabilidade
emocional, medo do abandono,
impulsividade, baixa-autoestima.
Isso tudo geralmente ocorre em
alguma situação de ameaça. Eles se
sentem ameaçados o tempo todo. Como
se eles não fossem boas pessoas,
que ninguém quisesse estar com
elas.
ÉLIO
Essa ameaça vem da onde? É como se
fosse uma esquizofrenia?
CLARISSE
Não! Se olharmos a etimologia do
nome vemos as palavras "borda",
"limite". Eles estão ali, na
fronteira da neurose e da psicose.
ÉLIO
Entendi!
CLARISSE
Esse transtorno é sub-divido em
dois. O Borderline implosivo e o
explosivo.
(t)
O implosivo é aquele que durante a
crise se machuca, se fere. O
explosivo é aquele que tem crises
de raiva. Se enfurece. Mesmo com
tudo isso, são pessoas brilhantes,
talentosas. São pessoas boas. O que
elas fazem de errado é uma maneira,
mesmo que não certa, de se
proteger...
Élio presta atenção à Clarisse.
FUSÃO LENTA PARA:
CENA 24. GERAIS DO RIO DE JANEIRO. DIA
Com as imagens da cidade maravilhosa num dia de chuva, vemos
um letreiro: "Alguns dias depois".
CORTE PARA:
CENA 25. INT. APTO ANA / QUARTO DE LUÍSA - DIA
Luísa e Beatriz olhando o tempo pela janela. Beatriz se
afasta.
BEATRIZ
Luísa, eu preciso ir embora agora.
Qualquer coisa é só me ligar, tá?
LUÍSA
(cabisbaixa)
Obrigada, Bia!
Chega uma mensagem no celular de Beatriz.
BEATRIZ
(olhando a mensagem)
Tá vendo! Já é aluno querendo saber
como estão as notas.
(t)
Preciso ir mesmo, se não, não terei
paz.
Beatriz ri.
LUÍSA
Tchau, Bia! Espero te ver logo.
BEATRIZ
Que é isso?
(ri)
Amanhã eu volto aqui.
As duas se abraçam e Beatriz sai. Tempo de Luísa sozinha.
Batidas na porta. Ana entra.
ANA
Filha, tem visita pra você.
LUÍSA
Visita?
Élio entra segurando um buquê de rosas brancas.
ÉLIO
Oi, Luísa.
LUÍSA
Élio!
Os dois sorriem um para o outro.
ANA
Vou deixar vocês conversarem. Se
precisarem de algo, é só me chamar.
Ana sai.
ÉLIO
(entregando as flores)
Trouxe essas flores para você. Eu
sabia que você gostava de rosas
brancas, aí eu as trouxe pra você.
Luísa pega as flores. Os dois sentam na cama.
LUÍSA
Obrigada, Élio. Elas são lindas.
Muito lindas.
ÉLIO
A Laura e a Clarisse conversaram
comigo sobre o que aconteceu. Sobre
você. Eu falei com a Miriam também.
Eu não falei tudo, mas ela não vai
te denunciar e nem nada. Desculpa
também se eu fui um pouco duro com
você aquele dia.
LUÍSA
Fica tranquilo, Élio. Eu é que peço
desculpas por toda aquela cena.
Saiba que eu estou muito
arrependida do que aconteceu
naquele dia.
(t)
Eu tento mudar, sabe? Eu tento me
tornar mais racional, menos
impulsiva, mas é muito difícil para
mim. É horrível amar demais. É como
se eu estivesse viciada.
ÉLIO
E todo vício tem cura. Basta fazer
e aceitar o tratamento.
LUÍSA
Você me perdoa?
ÉLIO
É claro que eu te perdoo. Já
passou.
Luísa segura as mãos de Élio.
LUÍSA
(franca)
Obrigada!
ÉLIO
Luísa, se você quiser, a gente pode
tentar...
LUÍSA
(interrompe)
Shhh... vamos manter assim por um
tempo. Até eu me recuperar
totalmente. Eu não quero que comece
tudo de novo.
Élio arruma o cabelo de Luísa atrás da orelha.
ÉLIO
Você prefere assim? Isso vai ser
bom pra você?
LUÍSA
Eu prefiro. E prefiro fazer isso,
porque eu te amo. E... e eu devo
tentar me amar também.
ÉLIO
Fica bem!
LUÍSA
Eu vou ficar.
Élio levanta e sai do quarto. Reação de Luísa, plena. Ana bate na porta entra.
ANA
Você está bem, filha?
LUÍSA
(olha para Ana/plena)
Eu estou, mãe.
Ana senta ao lado de Luísa e a conforta em seus braços. Pela
janela, Luísa vê, lá embaixo, Élio saindo do prédio. Ana e
Luísa sorriem uma para a outra.
FIM
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