Novela de
Sandy
Escrita por
Sandy
Classificação:
Personagens deste capítulo:
ANA e antítese de Ana (Carolina Kasting)
CARLO (Danton Mello)
GISELE (Christine Fernandes)
LÍVIA (Lucy Ramos)
BEATRIZ (Nívea Maria)
CARLA (Débora Falabella)
LIZA (Vivianne Pasmanter)
NANDO (Chay Suede)
PAULO (Murilo Benício)
PEDRO (Dan stulbach)
LEILA (Giovanna Rispoli)
HELOISA (Ângela Vieira)
LÚCIO (Dalton Vigh)
LOLA (Maria Clara Gueiros)
HEITOR (Marcelo Médici)
HENRIQUE (Petrônio Gontijo)
MAXIMILIANO (Emílio Orciollo Netto)
VIRGÍLIO (Marcelo Melo jr.)
VIRGINIA (Lavínia Vlasak)
CAROLINA (Isabel Fillardis)
LEANDRO (Fernando Pavão)
BELLA (Barbara França)
EMÍLIO (Danilo Mesquita)
Título do capítulo de hoje: "Possessão".
CENA
01 CONTINUAÇÃO DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO ANTERIOR APARTAMENTO DE ANA INT/DIA
Ana
é surpreendida pela sua visitante recorrente.
ANNA:
Acho muito difícil que a senhorita consiga esconder algo da sua própria
consciência...
ANA:
Se você é minha consciência se mantenha calada e preserve a minha lucidez!
A
criatura faz um gesto de desdém.
ANNA:
É só impressão minha ou você quer enganar esse pobre coitado que estava te
ligando?
ANA:
Ele sabe da minha ligação com o Carlo, a gente conversou sobre isso durante
horas e mais horas nos últimos tempos!
ANNA:
Então por que está escondendo um do outro... Isso não vai dar certo... Foi
tentando equilibrar dois homens entre os meus ombros que perdi a minha
cabeça...
ANA:
Eu vou ser sincera com os dois, mas o Carlo voltou agorinha, não faz nem vinte
e quatro horas! Quando as coisas assentarem na minha cabeça e no meu coração,
eu prometo que vou ser sincera...
ANNA:
Quem é sincero, é sincero de uma vez só! Quem fica retardando a sinceridade,
geralmente não conta a verdade!
ANA:
(Quase gritando) Você não sabe de nada! Olha aqui...
De
repente Carlo abre a porta do banheiro e encontra Ana apontando um shampoo para
a parede.
CARLO:
(Sorrindo) Que engraçado, você falando sozinha! Não me lembrava desse teu
costume...
ANA:
(Gaguejando) Eee... Eu só estava falando com uma amiga no celular!
Ana
sorri constrangida, CORTA PARA:
CENA
02 APARTAMENTO DE GISELE INT/NOITE
Gisele
mostra suas ilustrações para Lívia.
LÍVIA:
A cegonha com a sua filhinha... É maternidade o tema?
GISELE:
Acho que é meio uma coisa dia das mães... Os bichos e suas ninhadas, as
relações maternais no reino animal!
Foco
nos desenhos em aquarela, mostrando um sapo e seus girinos, uma coelha e seus
filhotes e etc...
LÍVIA:
Gostei muito dos tons, as cores se misturando, desaparecendo em tons mais claro
e ressurgindo com mais força nas pinceladas escuras...
GISELE:
Isso é da natureza da aquarela, não é tão mérito meu...
LÍVIA:
Não se faça de modesta, é um trabalho lindo!
GISELE:
É engraçado, eu acho que eu nunca refletiria sobre ou faria desenhos com essa
temática, se não tivessem me incitado... Pagado, na verdade. Mas sabe que foi
uma experiência nova, eu gostei... Despertou em mim sentimentos desconhecidos,
que não sabia que existiam, deviam estar adormecidos...
LÍVIA:
Tomara que você não surte, igual personagem de novela, queira ser mãe a todo
custo e roube um bebê dos carinhos das mães que passeiam no calçadão!
GISELE:
(Rindo) Não necessariamente isso é um gatilho pra mim, mas foi divertido me
imaginar nessa situação...
LÍVIA:
Na pindaíba e com uma boca a mais pra alimentar...
GISELE:
Mas quem sabe se eu fosse mãe não teria mais força pra lutar? Não dizem que as
mães tem alma de leoas?
LÍVIA:
Pode ser... Mas nem todas! A minha mãe mesmo largou os filhos pro mundo muito
antes do fim da adolescência, deu educação e condições na medida do possível,
mas nunca me senti protegida por ela nesse sentido de fera que protege a cria,
sabe? Ela fez a obrigação dela, não me acho no direito de cobrar mais, mas as
vezes eu sinto falta... Talvez eu necessitasse mais de carinho e amor do que
ela pode dar pra mim...
GISELE:
A Carolina parecesse mais sua mãe que irmã...
LÍVIA:
Às vezes eu acho que a Carol quer mandar na vida por pirraça, coisa de irmã
mais velha sabe... Mas apesar dos atritos, talvez eu sinta no abraço dela o que
eu nunca tive no colo da nossa mãe...
GISELE:
Eu não sei se quero ser mãe, na verdade essa nunca foi uma questão na minha
vida... Desde cedo sempre tive que lutar tanto por mim e pelos outros, nunca
tive nada de mão beijada, não tive tempo pra pensar em filho... Fazendo esses
desenhos eu me peguei imaginando como mãe, cuidando de uma criança...
LÍVIA:
Como brincar de casinha depois de velha?
GISELE:
Talvez, quando eu era menina preferia me sujar de tinta, colocar os pés
descalços na terra molhada... Hoje, uns dez anos depois do fim da minha
juventude e uns quarenta depois do fim da infância, pensar na maternidade se
tornou algo mais tranquilo... deixou de ser uma questão...
LÍVIA:
Talvez por que tenha deixado de ser uma obrigação, e virou uma possibilidade
pouco provável... Pelo menos do ponto de vista da gravidez.
GISELE:
Eu me pego pensando no Lúcio também, acho que minhas cobranças sufocaram ele ao
ponto, de nunca termos conversado sobre o assunto! Eu não faço ideia se pra ele
é ok a gente não ter um filho.
Lívia
coloca suas mãos nas de Gisele.
LÍVIA:
Pense bem amiga, você crítica tanto a Ana por se anular para atendera as
demandas de um homem, será que de uma forma parecida a Gisele também não anula
o Lúcio?
GISELE:
Não sei, nunca enxerguei que as minhas cobranças anulassem o meu marido, afinal
ter o dinheiro pra pagara as contas no final do mês é uma necessidade nossa! A
Ana cede pro Carlo em pontos que apenas a prejudicam, cede muitas vezes nos
próprios princípios!
LÍVIA:
Talvez pro Lúcio seja importante trabalhar e ganhar o dinheiro no que ele
gosta, e você no seu imenso senso de praticidade, não enxerga isso!
Gisele
olha para Lívia demostrando dúvida, CORTA PARA:
CENA
03 EMPRESA ALEATÓRIA INT/DIA
Lúcio
trabalha de faxineiro: passa o pano no chão, varre, leva o lixo pra fora, lava
privadas... No fim do dia está exausto.
LÚCIO:
Finalmente acabei, não aguentava mais...
Ele
troca de roupa, se despede dos colegas (que o ignoram) e vai pra casa, CORTA
PARA:
CENA
04 APARTAMENTO DE GISELE INT/NOITE
Gisele
abraça o marido quando ele chega em casa.
LÚCIO:
Passou uma tarde sem mim e já está com tantas saudades? Vou tomar um banho,
você se sujou todinha me apertando desse jeito...
GISELE:
Não faz mal... Mas vai rápido, quero conversar com você...
LÚCIO:
Só por que eu queria passar horas debaixo da ducha quente... Mas farei esse
sacrifício por você, que não venha bronca por ai!
Gisele
nada responde e senta-se no sofá apreensiva, CORTA PARA:
CENA
05 CASA DE CARLA INT/NOITE
Carla
está deitada na sua cama, Heloisa entra.
HELOISA:
Está melhor filha?
Carla
se levanta e olha para mãe com uma expressão triste.
CARLA:
Minha cabeça dói...
HELOISA:
Quer um analgésico?
CARLA:
Já tomei um comprimido que tinha na bolsa, obrigada mãe.
Heloisa
olha pra filha por um certo tempo, as duas permanecem em pleno silêncio.
CARLA:
Parece que tudo o que aconteceu hoje foi um sonho, um sonho inquietamente e
próximo demais da minha realidade...
HELOISA:
Espero que você esteja se sentindo bem, apesar de tudo o que aconteceu...
CARLA:
Por incrível que pareça, estou muito melhor, apesar do estupor que tomou conta
dos meus membros... Por mais absurdas que as coisas pareçam, as vezes é preciso
passar por elas...
Elas
se olham ternamente e se abraçam, CORTA PARA:
CENA
05 CASA DE BEATRIZ INT/NOITE
Nando
e Alfredo jogam baralho, Beatriz já se levantou para preparar o jantar.
ALFREDO:
Tem certeza que está melhor mesmo?
BEATRIZ:
Nova em folha.
ALFREDO:
O vento arrasta as folhas para onde quiser...
BEATRIZ:
Estou com as raízes bem fincadas na terra, posso até desfolhar, mas nem raios e
trovões podem me derrubar!
NANDO:
Cuidado ai, velho! Não pense que pode me roubar!
ALFREDO:
Sou um exímio jogador, não preciso de trapaças, ganho com garbo e elegância,
sempre!
A
campainha toca.
BEATRIZ:
Os homens não servem nem pra abrir uma porta!
Ela
vai até a porta e abre: Ana entra primeiro.
ANA:
Eu queria ter vindo mais cedo, mas tive um contratempo...
Carlo
entra e deixa todos chocados.
CENA
06 CASA DE BEATRIZ INT/NOITE
Nando
e Alfredo jogam baralho, Beatriz já se levantou para preparar o jantar.
ALFREDO:
Tem certeza que está melhor mesmo?
BEATRIZ:
Nova em folha.
ALFREDO:
O vento arrasta as folhas para onde quiser...
BEATRIZ:
Estou com as raízes bem fincadas na terra, posso até desfolhar, mas nem raios e
trovões podem me derrubar!
NANDO:
Cuidado ai, velho! Não pense que pode me roubar!
ALFREDO:
Sou um exímio jogador, não preciso de trapaças, ganho com garbo e elegância,
sempre!
A
campainha toca.
BEATRIZ:
Os homens não servem nem pra abrir uma porta!
Ela
vai até a porta e abre: Ana entra primeiro.
ANA:
Eu queria ter vindo mais cedo, mas tive um contratempo...
Carlo
entra e deixa todos chocados.
CARLO:
Buona notte, famiglia mia!
Alfredo
e Nando correm para abraça-lo, Beatriz reprime uma careta.
BEATRIZ:
Que imprevisto!
ANA:
Foi por uma boa causa.
BEATRIZ:
Mantenho minhas dúvidas...
CARLO:
Vocês não mudaram nada, estão iguais! Esse rapaz não cresce mais! Ao menos não
vou me sentir mais baixo do que realmente sou!
ALFREDO:
Minhas costas doem cada vez mais, mas é consequência do galopar natural da vida...
Alguns, inevitavelmente vão ficando para trás!
NANDO:
O velho hoje está melancólico...
Os
três fazem piadinhas e riem entre si, as mulheres conversam em voz baixa.
BEATRIZ:
Você tava tão bem sem esse traste!
ANA:
Eu não posso dizer o mesmo de você mamãe, o seu traste íntimo não tira a bunda
desse sofá nem pra ir no mercado comprar o cigarro que fuma...
BEATRIZ:
A conduta dele comigo se equivale a de um cavalheiro com uma velha viúva
elegante e solitária, você pode questionara as atitudes dele referentes a
outras pessoas, a você mesma inclusive... Mas comigo, ele nunca errou
gravemente...
ANA:
Viúva de marido vivo, meu pai ainda respira, mesmo que enfiado em algum bueiro
desconhecido...
De
repente, o cavalete de Alfredo repousando na sala, chama a atenção de Carlo.
CARLO:
A quanto tempo eu não sinto o cheiro dessas tintas baratas! Toda a minha
infância é rebobinada na minha mente por ele!
NANDO:
Ele parou um tempo, acho que estava sem dinheiro pro material, mas eu arrumei
um negócio lá meu fixo, e deu pra abastecer o estoque!
CARLO:
A Ana me falou, trabalhando em televisão, hein! O nosso Jayme Monjardim!
ALFREDO:
Eu podia ter comprado as tintas, se quisesse, mas me faltava inspiração pra
pintar!
CARLO:
Vamos ver aonde essa sua musa centenária te levou...
ALFREDO:
(Calmamente) É um retrato...
CARLO:
Então conheceremos o rosto da musa a despontar!
Com
um gesto teatral Carlo arranca o pano velho e moído, revelando o esboço do
rosto de Ana, começando a ser colorida com as tintas a óleo.
CARLO:
La faccia di Ana, óleo sobre tela!
Em
Ana visivelmente incomodada, CORTA PARA:
CENA
07 APARTAMENTO DE GISELE INT/NOITE
Lúcio
escuta atentamente Gisele até o fim.
LÚCIO:
Você vai publicar um livro?
GISELE:
Não é bem um livro meu, só fiz os desenhos... Mas ganhei um grana melhor do que
a que eu ganhava concertando os erros de digitação dos outros...
LÚCIO:
Você terá participação nos direitos autorais do livro, na cama, estará escrito
o seu nome: Gisele Soares, o livro é seu. Estou muito feliz por você, mas uma
vez mostrou o seu imenso valor!
GISELE:
Então por que eu sinto uma certa amargura nas suas palavras?
LÚCIO:
Por que você escondeu tudo isso de mim, perdi toda gestação do seu “filho” ...
Não que eu quisesse ser o pai, não entendo nada dessa arte sua... Mas se você é
uma mãe
solteira,
pelo menos podia ter confiado em mim como um padrinho amoroso!
GISELE:
Você nunca ligou pras minhas manchas molhadas em papel, e eu faço aquarela
desde muito antes de começarmos a namorar!
LÚCIO:
Mas é diferente agora! A sua arte é só sua, eu nunca tive coragem de meter o
bedelho num campo que não entendo... Mas publicar um livro, esse campo de atuação
é meu, eu queria participar dessa sua adentrada nesse mundo mágico... Preparar
para futuras frustrações, orientar...
GISELE:
Eu admito que talvez tenha errado, mas eu fiquei com medo! Nenhum homem gosta
de ver a mulher entrando e desbravando os territórios que são deles!
LÚCIO:
Mas eu não sou igual aos outros homens, eu sou o seu homem, achava que você
saberia distinguir melhor as coisas!
GISELE:
Eu sou assim, eu gosto de fazer as coisas por mim mesma e sem a ajuda de
ninguém... É da minha natureza, o que posso fazer!
LÚCIO:
Como se não tivesse o dedo daquele seu amigo nessa história toda! Nunca vi você
nem se quer demonstrando o desejo de transformar um robe e trabalho!
GISELE:
(Mentindo) Ele me deu a oportunidade né, afinal é isso que um editor faz... Mas
ele não participou do processo criativo!
Lúcio
se senta emburrado no sofá e liga a televisão no futebol. Gisele vai até a mesa
e delicadamente pega a sua pasta e senta-se ao lado do marido.
GISELE:
Tome aqui, eu quero que você veja, não é preciso de conhecimento técnico pra
apreciar um desenho bonito!
Ela
sorri, e ele que não tem um coração de pedra, corresponde ao sorriso e os dois
começam a examinar as ilustrações.
LÚCIO:
Acho que essa é a minha preferida, é forte e ao mesmo tempo delicadinha...
GISELE:
Eu usei algodão pra dar esse esfumaçado nas nuvens...
CORTA
PARA:
CENA
08 CASA DE BEATRIZ INT/NOITE
Ana
não esconde o constrangimento ao se deparar com o retrato.
CARLO:
Esses braços ao redor dela são os meus?
ALFREDO:
Vou fazer a minha Beatriz abraçando a filha, é um presente para elas duas...
Você é muito feio para que eu perca meu tempo tentando fazer um teu retrato
minimamente aceitável!
NANDO:
Então você se acha feio né velho? Nunca pintou um autorretrato...
ALFREDO:
Pode ser superstição, mas vai que eu perco, o que eu chamo de minha
“sensibilidade artística” me pintando? Vai que minha alma fica presa na tela e
eu não consigo mais libertá-la? É muito egocentrismo se pintar, não acham?
BEATRIZ:
Vivi pra ver um artista que não fosse egocêntrico...
ALFREDO:
Eu tenho orgulho do meu trabalho, mas de mim? Não acho que valho tanto a pena
pra virar obra de arte!
CARLO:
Qualquer coisa a gente colocava o autorretrato na frente da casa, pra espantar
mau-olhado!
Todos
caem no riso, menos Ana que permanece em silêncio.
CARLO:
Já que falou em presente, vou distribuir as lembrancinhas que trouxe da viagem!
Ele
abre a mochila que trouxe nas costas, e distribui pacotes para todos, por
último uma caixa quadrada para Ana.
BEATRIZ:
Que brincos lindos!
Beatriz
experimenta o presente no espelho da sala, Nando agradece o vídeo game novo.
CARLO:
Cuidado não se viciar moleque!
NANDO:
Eu não sou mias moleque, mas confesso que tava querendo um desses mesmo!
Alfredo
folheia um romance em italiano.
ALFREDO:
“Il leopardo”, já li umas cinquentas vezes, o filme então... Vi umas cem!
CARLO:
Não despreze o meu presente, é um exemplar da primeira edição, uma raridade!
Eles
se abraçam, festejando.
De
repente, Ana que observava tudo, se lembra da caixa que está entre as suas
mãos, e tira a tampa delicadamente: põe a mão e retira um globo de neve
vitoriano, quase intacto: lê-se na borda do objeto “Para Guiomar”. Carlo se
aproxima e se delicia com a reação encadeada pelo seu presente.
CARLO:
Comprei num antiquário em Londres, pena a neve ficou presa com o tempo e não
neva mais sobre o casal patinando no lago...
Ela
agradece com os olhos, CORTA PARA:
CENA
09 TRAJETO DE VOLTA INT/NOITE
No
carro, Ana dirige em pleno silêncio.
CARLO:
Você ficou o jantar inteiro calada, parece uma múmia trancafiada num sarcófago
que eu vi num museu em Pizza.
ANA:
Às vezes ficar em silêncio é bom, principalmente quando se dirige, não quero
bater meu vermelho numa árvore...
CARLO:
As cobras ficam em silêncio quando vão dar um bote, confesso que fiquei com
medo de você avançar pra cima do quadro e babau!
ANA:
Me incomoda o seu tio-avô dispor assim da minha imagem, sem a minha
autorização, mas eu nunca faria nada! Iria magoar a minha mãe...
CARLO:
Às vezes me esqueço que você é tão autocentrada, nunca pegou um bom barraco uma
vez na vida!
ANA:
Sempre achei que perder o controle não vale a pena.
O
ar seco inunda o carro em silêncio, CORTA PARA:
CENA
10 APARTAMENTO DE ANA INT/NOITE
Ana
e Carlo sobem o elevador de mãos dadas, em silêncio escutam o barulho do
aparelho até ele parar e as portas se abrirem. Eles andam pelo corredor, volte
e meia se entreolhando, chegam em casa e entram. Ela joga as chaves do carro em
cima da mesa, enquanto ele fecha a porta. Os dois param e se olham.
ANA:
Você sabe que eu te amo?
CARLO:
Sempre soube e nunca me esqueci.
Os
dois se aproximam e se beijam delicadamente. Corte rápido, os dois se amam, a
CAM se afasta da cama e se aproxima do celular dela e mostra várias chamadas
perdidas de Paulo, CORTA PARA:
CENA
11 APARTAMENTO NOVO DE LIZA INT/DIA
Imagens
da cidade maravilhosa anunciam um novo dia e o correr das horas, Liza, Julia e
Pedro conhecem o novo apartamento do casal.
JULIA:
Uma belezura viu, quem sabe se meu namorado parar de me enrolar a gente não
compra um desses...
LIZA:
Só se for em um milhão de parcelas!
JULIA:
Talvez eu mude de namorado e arrume um executivo poderoso como você amiga!
PEDRO:
Meninas, não briguem...
LIZA:
Pior que quando eu o conheci pensava que era pobre, de pôr a mão no bolso e nem
tirar vale alimentação!
JULIA:
Não creio! Como foi isso?
PEDRO:
Nos dividimos o mesmo táxi, eu estava atrasado pra chegar no trabalho e ela fez
a gentiliza de me dar uma carona... Na
pressa, deixei a minha carteira em casa...
Liza
abraça Pedro.
LIZA:
Acabei pagando a corrida sozinha... E quase tava pagando um prato feito pra
você... Tava tão desarrumado, quase um mendigo de luxo!
PEDRO:
(Rindo) Eu sai sem pentear o cabelo!
JULIA:
Um filme de comédia romântica, daqueles que passa de vez em quando na sessão da
tarde...
LIZA:
Só faltou um clichê envolvendo um cachorrinho!
PEDRO:
Vamos colocar um sofá enorme aqui! Tem um quartinho pra montarmos o meu
escritório também!
LIZA:
Eu nem acredito que depois de tanto tempo na clandestinidade, vou ter a minha
casinha, o nosso lar doce lar...
JULIA:
Pena que você mal casou e quase virou viúva! As fotos da quase-tesourada estão
pipocando na internet!
LIZA:
Não saiu uma fotinha minha se quer! Também sou uma personalidade da mídia!
PEDRO:
Eu fiquei assustado, nunca imaginei que a Carla pudesse chegar a esse ponto...
Ela sempre foi tão calma, tão estável! Parecia uma planta com raízes fortes:
nem o vento podia fazê-la se mover!
JULIA:
Mulher traída vira bicho, melhor tomar cuidado!
Em
Pedro vacilante, CORTA PARA:
CENA 12 BAIRRO NOBRE DO RIO EXT/DIA
Carla
anda com uns óculos escuros escondendo os efeitos do seu sofrimento. Ela para
assim que ouve a voz de um vendedor de algodão doce, vira-se e o vê dando um pacotão
para uma menina. Vai até ele e compra um punhado cor-de-rosa e logo vai se
deliciando com ele.
FLASHABACK
ON:
Carla
e Pedro dividem um algodão doce, logo no início do namoro.
CARLA:
Não come tudo, seu comilão!
PEDRO:
Abandonou as mil dietas? Finalmente você vai parar de contar calorias...
CARLA:
Seu idiota, até parece que sou uma neurótica por perder peso... Eu só procuro
manter o meu peso... Faz parte do meu trabalho.
PEDRO:
Eu custo a acreditar que uma mulher como você, tão tímida e doce goste de ser o
centro das atenções, goste daquelas câmeras, da luz direto na sua carinha...
CARLA:
Quando eu estou lá, parece que tudo some: o diretor, as pessoas da produção, os
câmeras e toda aquela parafernália... às vezes eu fico no camarim com um
friozinho na barriga, o rosto ardendo, mas tudo depois tudo desaparece quando
eu ouço o “gravando” atrás de mim!
PEDRO:
Eu confesso que sinto algo estranho quando vejo a novela, você ali linda e
deslumbrante... mas não é exatamente a minha Carla, é outra pessoa... Parece
uma mágica, um sortilégio...
CARLA:
Será que atuar não é uma espécie de possessão?
PEDRO:
Acho bonito, mas é difícil pra mim entender...
CARLA:
Às vezes não é preciso entender, apenas sentir!
Ela
sorri pra ele, FLASHBACK OFF
Carla
está parada durante um tempo, alguém a chama: um repórter suplica uma
entrevista e uma câmera já está apontada para o seu rosto.
REPÓRTER:
Estamos aqui com a atriz Carla Cabral, conhecida por inúmeros trabalhos
marcantes durante os anos 2000, e que prepara sua volta triunfal para a
televisão num projeto do seu primo, o grande diretor Paulo Figueiredo!
Carla
esconde o rosto com as mãos.
CARLA:
Eu não quero dar nenhuma entrevista, por favor desliguem essa câmera!
O
apelo dela é ignorado e o repórter enfia o microfone nas fuças de Carla.
REPÓRTER:
Recentemente você se envolveu num escândalo pós-separação, o que aconteceu para
que ameaçasse seu marido com uma tesoura de pontas afiadas?
CARLA:
Eu não tenho nada para falar sobre esse assunto!
Desesperada
Carla empurra o repórter e foge correndo.
REPÓRTER:
Vamos, não podemos deixar esse furo escapar!
Carla
vê um táxi parado e se enfia nele: senta-se ao lado de Maximiliano.
TAXISTA:
Está ocupado moça!
MAX:
Non tem problema, tu lascia a signorina no destino dela e depois me leva pro
meu! Tudo por mia conta!
CARLA:
Obrigada!
MAX:
Pode ir!
O
repórter e seu cinegrafista correm atrás do carro.
REPÓRTER:
Que ódio! Esse já era!
Ele
bufa com ódio, CORTA PARA:
CENA
13 EMISSORA EDUCATIVA INT/DIA
Todos
estão apreensivos esperando Carla aparecer parar gravar as cenas dela.
HEITOR:
Nosso cronograma está uma bagunça, já adiantamos muitas cenas dos outros
personagens, mas não dá ela é a protagonista...
LEONORA:
Se ela for desistir é melhor ao menos se lembrar de nos avisar, nunca vi
tamanho descaso com a oportunidade de ouro para voltar aos holofotes!
PAULO:
Você tem de entender o lado dela, mãe!
LEONORA:
Não entendo! Sem o insensível do marido a empatando, deveria estar se jogando
na sua arte, ou pelo menos aproveitando o buzz que a separação somada com o seu
comeback estão fazendo na mídia...
PAULO:
Eu conheço a Carla, por mais que esteja sendo difícil pra ela, nunca seria
leviana com a gente... Estou mais preocupado com a Ana, ela disse que ia dar
uma passadinha aqui...
LEONORA:
Espero que a mãe dela não tenha piorado, odeio desculpas para fugir do
trabalho... Preciso para essa semana uma pesquisa importantíssima sobre os
hábitos da sociedade russa, especificamente sobre como eles servem o chá!
HEITOR:
Hábitos do chá? Mas isso não faz diferença num produto audiovisual! Não faz a
mínima diferença se eles tomam chá de bétula, cravo, canela ou hortelã!
LEONORA:
Faz toda a diferença sim! Eu preciso emergir na atmosfera do universo da
história, dos costumes desse povo, para poder escrever com fidelidade!
Heitor
faz uma careta de incredulidade, Paulo liga novamente para Ana, CORTA PARA:
CENA
09 APARTAMENTO DE ANA INT/DIA
Ana
trancasse no banheiro para atender a ligação de Paulo.
ANA:
Eu tô me arrumando pra dar uma passadinha aí, quem sabe dar uma moral pra
Carla... Sei que ela nem deve saber que eu existo...
PAULO:
Eu falei com ela mais cedo, hoje acho que ela não fura...
ANA:
Vou me apressar aqui, tchau...
Ela
vira-se e encontra a sua nova amiga de novo, comendo um salgadinho.
ANNA:
Que seca, nem parece que estava se derretendo por ele até esses dias!
ANA:
Então quer dizer que a minha consciência resolveu roubar a minha despensa?
ANNA:
A sua imaginação também precisa de alimento. mon cher!
Ana
pega o pacote e retira um punhado para si, a outra pega o pacote de volta.
ANA:
Estava precisando mesmo disso, comer uma besteira regozija a minha alma!
ANNA:
Não cometa o meu erro e seja honesta desde o início, o Paulo não merece levar
um pé na bunda e saber por terceiros! E não adianta continuar fugindo, imagina
se ele resolver aparecer aqui e pega o italiano na sua cama, de drama com final
trágico eu entendo muito bem! As mulheres sempre terminam se dando mal!
ANA:
Como você usa gírias se teoricamente você saiu de um livro do século XIX? E
ainda deve ser surda, não escutou minha conversa ao celular?
ANNA:
Sempre procuro me modernizar, sou uma mulher multifacetada e antenada!
ANA:
Não tenho tempo pra você, vou ver o Paulo e começar a preparar terreno, gosto
dele e não quero que ele sofra! Bye!
Ana
sai do banheiro batendo a porta antes que Anna pudesse falar algo.
ANNA:
Tenho medo do que pode acontecer se ela não ouvir os meus concelhos...
Ela
olha para o fundo do pacote.
ANNA:
Que pena que acabou, isso é tão gostoso!
FIM DO CAPÍTULO.
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