Novela de
Sandy
Escrita por
Sandy
Classificação:
Personagens deste capítulo:
ANA (Carolina Kasting)
CARLO (Danton Mello)
GISELE (Christine Fernandes)
LÍVIA (Lucy Ramos)
BEATRIZ (Nívea Maria)
CARLA (Débora Falabella)
LIZA (Vivianne Pasmanter)
NANDO (Chay Suede)
PAULO (Murilo Benício)
PEDRO (Dan stulbach)
LEILA (Giovanna Rispoli)
HELOISA (Ângela Vieira)
LÚCIO (Dalton Vigh)
LOLA (Maria Clara Gueiros)
HEITOR (Marcelo Médici)
HENRIQUE (Petrônio Gontijo)
MAXIMILIANO (Emílio Orciollo Netto)
VIRGÍLIO (Marcelo Melo jr.)
VIRGINIA (Lavínia Vlasak)
CAROLINA (Isabel Fillardis)
LEANDRO (Fernando Pavão)
BELLA (Barbara França)
EMÍLIO (Danilo Mesquita)
Título do capítulo de hoje: "Filho da mãe"
CENA
01 CORREDOR DO PRÉDIO DAS MENINAS INT/NOITE
Ana
e Lívia chegam no prédio exatamente juntas, se entreolham cansadas.
LÍVIA:
Minha cabeça dói... E aí como foi o encontro?
ANA:
Foi legal, só desandou no final...
LÍVIA:
O que aconteceu?
ANA:
Uma visita...
LÍVIA:
Indesejada, com certeza.
ANA:
Era a mãe dele, mais invasiva impossível. Fazer o que se não existe homem
perfeito?
LÍVIA:
Quando o defeito é externo dá pra relevar.
ANA:
Minha mãe também invade a minha vida, mas eu imponho limites, ele pareceu muito
resignado pro meu gosto! E olha que a dona Beatriz parece uma santa perto
daquela megera, falo com propriedade, infelizmente eu trabalho com ela!
LÍVIA:
Fica tudo em família.
ANA:
No primeiro chega pra lá que eu der nela vou perder esse freela, tenho certeza.
LÍVIA:
Melhor não fazer nenhuma dívida a longo prazo...
O
elevador se abre no andar de Ana, elas se despedem, CORTA PARA:
CENA
02 CASA DE LIZA INT/NOITE
Liza
e Julia assistem um filme romântico na televisão.
JULIA:
Não tá gostando do filme, não?
LIZA:
Você acha mesmo, que nas mãos de um cafajeste como o Pedro, eu vou conseguir
gosta de um filme fofo com um casal protagonista saudável e desimpedidos? É
muito pouco realista pro meu gosto!
JULIA:
Tá passando um filme de terror no outro canal, mudo?
LIZA:
Não, sou sado masoquista: gosto de sofrer com a felicidade alheia.
JULIA:
Tá legal...
LIZA:
E o teu namorado?
JULIA:
Tá bem de saúde, continua feio né, ainda não inventaram o milagre do
embelezamento instantâneo.
LIZA:
Conta aí uma desavença no relacionamento de vocês, vai me fazer um pouco
melhor...
JULIA:
Mas a gente não briga... O Heitor é um paspalho pacifista, ao menos que tentem
roubar comida dele...
LIZA:
Inventa, você é ótima numa fanfic...
JULIA:
Ando sem criatividade pra escrever...
As
duas se calam e prestam atenção no filme, CORTA PARA:
CENA
03 FLAT DE MAXIMILIANO INT/NOITE
Os
dois amigos jantam pizza.
MAXIMILIANO:
Espero que não sejamos presos por roupar documentos históricos de uma
biblioteca centenária...
CARLO:
Farei uma cópia e depois devolvo, não precisa dar piti!
MAXIMILIANO:
O que seria “dar um piti”?
CARLO:
A mesma coisa que “dar um faniquito”!
MAXIMILIANO:
E o que é “um faniquito”?
CARLO:
Não vou me dar o trabalho de explicar, tem coisas que não é desejável que um
gringo entenda o significado...
MAXIMILIANO:
Brasilianos são sempre tão engraçadinhos!
CARLO:
Quem faz a fama, deita na cama!
Os
dois se calam por um tempo.
CARLO:
Me desculpa cara, estou muito mexido: meu coração parece que vai se desintegrar
e escorrer pelas minhas orelhas, pelo meu nariz e pela boca...
MAXIMILIANO:
É saudade? Isso você me explicou o que é! É essa dor no peito, com o coração
ameaçando sair pela boca!
CARLO:
Acho que chegou a hora de voltar para casa, eu sinto que já planei demais na
vida...
Em
Carlo, CORTA PARA:
CENA
04 EMISSORA DE TELEVISÃO INT/DIA
Stocks
shots anunciam o raiar do dia. O elenco se reuni para um laboratório. Ana e
Lola assistem de longe toda a movimentação.
LOLA:
Aquele galo de rinha ali é o nosso galã, acho melhor arrumar um spray de
pimenta, caso precise se esbarrar com ele e estiver sozinha...
Elas
olham para Leandro, que conversa com a jovem atriz Bella.
BELLA:
Você devia se envergonhar de dar em cima de uma garota com idade para ser sua
filha!
LEANDRO:
Não exagere minha belezoca, eu poderia ser apenas seu irmão mais velho, nunca
seu paizinho!
ANA:
Então a má fama dele é verdadeira, pensei que as revistas aumentassem...
LOLA:
Ele não tem nada na cabeça e provavelmente por isso não aceita um não, e ainda
tem quem passe a mão na cabeça...
Acanhada,
Carla aparece e é recebida por todos com uma salva de palmas.
PAULO:
A nossa estrela chegou!
Carla
fica vermelha.
LOLA:
Nepotismo é o nome, garante status e privilégios!
ANA:
Mas ela é uma ótima atriz, quando ela protagonizou aquela novela de época,
deslumbrante...
LOLA:
Linda aquela sombrinha que ela carregava, pra lá e pra cá naquela novela... Mas
o figurino é mais marcante pra mim que a atuação dela...
ANA:
Você é uma artista dessa área, presta mais atenção nos figurinos que nos atores
que os vestem...
LOLA:
Acho ela sem sal de qualquer maneira: preciso planejar um figurino que não a
ofusque completamente...
Ana
sorri para a amiga.
CARLA:
Fico muito emocionada com o carinho de vocês, não tenho nem palavras!
Carla
enxuga as lágrimas que escapam de seus olhos, ela é abraçada por Paulo. Nando,
aparece juntos com outras pessoas da produção trazendo o equipamento necessário
para começarem a programação. Surpresa, Ana o chama num cantinho.
ANA:
O que tu veio fazer aqui, menino?
NANDO:
Tenho que me sustentar né, Ana. Meu tio deu sinal de vida?
ANA:
Me mandou um e-mail de cinco linhas, depois de meses... Mas como descolasse
esse trampo?
NANDO:
Sempre tive vontade de trabalhar com câmera, com essas coisas, um dia apareci
aqui com a cara e a coragem e enchi tanto o saco deles que me arrumaram esse
bico...
ANA:
Se tivesse me avisado eu teria te ajudado, pra mim aquele velh/ o seu tio
cuidava de você...
NANDO:
Realidade: eu que cuido dele e das coisas lá de casa.
ANA:
Suspeito que você também cuidava de Carlo...
Os
dois sorriem, Leonora se atrapalha com o microfone.
LEONORA:
Essa velharia não funciona? Os equipamentos e as instalações dessa emissora devem
ser da época que era menininha e usava anágua! Daqui a pouco vou morrer
esmagada por que vai cair um pedaço do teto na minha cabeça!
Nando
se despede de Ana e vai ajudar Leonora.
LOLA:
Seu sobrinho?
ANA:
É como se fosse.
Nando
consegue fazer o microfone funcionar.
LEONORA:
Sejam todos muito bem-vindos, começamos os preparativos para levar ao ar, uma
das histórias mais impactantes de todos os tempos! Com o regresso da minha
talentosíssima sobrinha, a nossa Anna... O nosso galã maduro, charmoso como sempre,
o nosso Kariên... Essa menina fofa, lourinha...
BELLA:
Kiry, eu sou a Kiry!
LEONORA:
O que? Não ouvi direito, ou você tem a língua presa? Atriz com língua presa só
se for pra atuar em longas mudos!
BELLA:
Eu apenas disse que serei a personagem kiry (Kitty)!
LEONORA:
Que Kiry? É kit-ty! O livro é russo, criatura! Mania irritante dos jovens
querendo americanizar tudo! Na minha época os ímpetos juvenis nos levavam a se
inspiramos nos franceses! La belle époque!
Bella
se encolhe envergonhada.
LEONORA:
Receio que o nosso jovem Vronsky não apareceu... Vamos começar sem ele, então.
Eu mesma vou dar uma aulinha de dança para vocês, meus pupilos! Eu quero todo
mundo dançando, a produção também precisa entrar no clima desse universo de
tecidos, fitas e perfumes! Forem pares, por favor!
Lola
arrasta Heitor.
LOLA:
Ficarei grata se não pisar no meu pezinho de princesa.
HEITOR:
Desde quando princesa causa trinta e oito?
Galantemente,
Paulo tira Ana para dançar.
ANA:
Está nas suas mãos impedir um desastre, não tenho aptidão alguma para a
dança...
PAULO:
Minha controladora me obrigou a fazer aula de dança de salão desde os treze
anos...
Bella
fica sem par, já que Emílio está atrasado, mas então Nando vai sem eu socorro.
BELLA:
Obrigada, muito obrigada! Não aguentaria pagar outro mico em sequência!
NANDO:
Aquela história com a pronuncia? Não achei que foi um mico, achei muito
engraçadinho e a seu sotaque de patricinha é uma fofura!
BELLA:
(Sorrindo) Vou esquecer que me chamou de patricinha e agradecer pelo elogio.
LEONORA:
Venham aqui para o centro! Uma das passagens mais impactantes do romance, é
quando o conde Vronsky tira Anna para dançar, e Kitty descobre o que está
rolando entre os dois...
Leonora
liga o som, e todos os casais começam a dançar fora de sincronia, cada um a sua
maneira.
LEONORA:
Parecem uma manada de flamingos bêbados, terei muito trabalho até atingirem um
nível minimamente aceitável! Ao menos o meu filho é perfeito, que garbo, que
elegância! O criei assim e não esperava nada menos que a maturação completa de
todos os seus talentos!
Ana
e Paulo arrasam e aos poucos os outros casais param para admira-los, até que
eles reinam dançando sozinhos. No final fazem uma acrobacia e Ana termina
ofegante nos braços do diretor.
ANA:
(Em pensamento) Mas será possível que foi me apaixonar de novo?
CORTA
PARA:
CENA
06 APARTAMENTO DE GISELE INT/DIA
Um
papel em branco, um pincel traz cor e a arrasta pela superfície: um desenho
começa a se formar.
LÚCIO:
Anda desenhando bastante?
GISELE:
Terapia... Andava muito estressada.
Gisele
sorri consigo mesma, e traz para sua aquarela outra cor-resplandecente, CORTA
PARA:
CENA
07 LANCHONETE EXT/DIA
Virgílio
entrega uma caixinha para a namorada: uma linda gargantilha.
LÍVIA:
(Encantada) Que linda, não sei nem como...
VIRGÍLIO:
De todo o meu coração, escolhi pensando em você.
LÍVIA:
Não posso aceitar, quanto isso custou? É de ouro!
VIRGÍLIO:
O negocinho, o pingente, é de diamante: pode morder! Eu não vou aceitar de volta,
é seu e quero ver no seu lindo e longo pescocinho!
LÍVIA:
Mas eu não mereço, nem o presente e muito menos o carinho de quem o escolheu!
Tenho agido muito mal com você... Ando te colocando em segundo, ou em terceiro
plano!
VIRGÍLIO:
Se redima aceitando meu presente, não preciso de mais para perdoar o
esquecimento.
Ela
o abraça, e ele abre um lindo sorriso, CORTA PARA:
CENA
08 CASA DE LIZA INT/DIA
Pedro
aparece com um buquê de flores.
LIZA:
Que milagre! Você nunca aparece aqui a essa hora do dia, precisa da proteção
das sombras!
PEDRO:
Não me aguentava mais, precisava fazer as pazes o mais rápido possível.
LIZA:
Não adianta me trazer flores, agora sou alérgica a elas!
PEDRO:
Mas você sempre reclamou que eu não te trazia flores!
LIZA:
É que eu não tinha notado o óbvio: homem só presenteia a mulher com flores
quando pisa na bola ou tem medo de ser passado pra trás! Mas não serei ingênua
uma segunda vez: preciso de muito mais não vão ser algumas rosas roubadas de um
cemitério que me farão te aceitar de volta!
PEDRO:
Você sabe que tenho as pernas curtas, não ia conseguir pular o muro do
cemitério!
LIZA:
Deixe de gracinhas ou vai parar numa cova rasa mais rápido do que imagina! Um
mês, apenas um mês para se decidir! Ou eu ou ela, as duas não admito mais!
Pedro
se assusta, CORTA PARA:
CENA
09 APARTAMENTO DE ANA INT/DIA
Ana
chega em casa cansada, meio avoada, larga sua bolsa no sofá. A sua mente a
transporta de volta ao momento que Paulo a teve nos braços. Ela esfrega os
olhos.
ANA:
Não será tudo um sonho?
Praticamente
flutuando, ela abre a porta da geladeira, retira a garrafa e enche um copo
d’água. Bebe lentamente, depois devolve a garrafa e fecha a porta.
VOZ
FEMININA: Cuidado não esquecer a geladeira aberta, sua amiga não vai gostar...
Melhor verificar!
Ana
se assusta e derruba o copo no chão.
ANA:
Quem é você? Não tenho nada de valor aqui não! Só trabalho com cheque
pré-datado!
VOZ
FEMININA: Não tenho poder para extorquir ninguém.
Ana
vê uma figura nas sombras, pega uma vassoura para se defender.
VOZ
FEMININA: Sou feita de sonho e nevoa...
ANA:
Um fantasma! Meu Deus, logo eu que faltei praticamente todas as aulas do
catecismo pra ir ler na biblioteca municipal! Não sei nem rezar!
VOZ:
Não tenho medo, não sou um fantasma!
Ela
sai das sombras, segurando sua cabeça nos braços.
ANNA
KARIÊNINA: Sou a sua consciência!
Ana
solta um grito estridente e tudo se apaga, CORTA PARA:
CENA
10 APARTAMENTO DE ANA INT/NOITE
Gisele
socorre a amiga, que se acorda depois de um tempo desacordada.
GISELE:
Graças a Deus! Estava quase chamando o SAMU! Nisso que dar fazer essas dietas
malucas! Resolveu passar o dia só com um copo d’água de novo?
ANA:
Minha cabeça!
GISELE:
Vou pegar uma colherzinha de sal, melhor prevenir do que remediar!
Gisele
envia a colher na boca da amiga, corte rápido: as duas jantam arroz, feijão e
batata frita.
ANA:
E o teu marido?
GISELE:
Foi jantar na casa da megera da mãe dele, ela cozinha melhor do que eu: faz um
risoto, uma perdição! Mas eu tenho que fingir que não é tão bom assim, não vou
dar moral pra víboras! Capaz dela colocar algum veneno na próxima vez!
Ana
olha para os lados, como se estivesse procurando algo ou alguém.
GISELE:
Perdesse alguma coisa? Tu não sai dessa mesa sem comer toda essa batata, não
quero amiga minha anoréxica! Normal, nem gorda e nem magra!
ANA:
Cadê a Lívia pra falar dos padrões impostos pela sociedade!
GISELE:
Tá enrolando o coitado lá do Virgílio! Daqui a pouco ele vai aparecer com as
alianças pra pedir em casamento e vai levar um belo de um fora!
ANA:
Não existe coisa pior do que você continuar do lado de alguém por pena, é
humilhante demais!
De
repente, Lívia entra sem fazer cerimônia.
GISELE:
Falou no diabo...
LÍVIA:
Sou um assunto delicioso, é muito difícil não falar de mim!
ANA:
Convencida!
Gisele
examina a gargantilha nova de Lívia.
GISELE;
Coisa fina!
ANA:
Tá podendo!
LÍVIA:
Presente, do Virgílio!
GISELE:
(Debochada) Ele me decepcionou! Achei que te presentearia com um anel de
noivado ou com as alianças!
Lívia
rouba algumas das batatas do prato de Ana.
LÍVIA:
Casamento não é uma das minhas prioridades!
GISELE:
Com o Virgílio que não tem onde cair morto, agora se aparecer um velho rico...
As
três começam a “se provocar” e caem na risada conjunta, CORTA PARA:
CENA
11 APARTAMENTO DE ANA INT/NOITE
Ana
fecha a porta, após se despedir das amigas. Olha para os lados, verificando se
está realmente sozinha.
ANA:
Calma Ana, a loucura não pode se apoderar da sua mente perturbada!
Ela
relaxa ao se dar conta que está sozinha verdadeiramente.
ANA:
Tudo não passou de um pesadelo, um tragicômico pesadelo! Vou tentar descansar
de verdade, e isso não vai voltar a acontecer!
Ela
apaga a luz e entra em seu quarto, CORTA PARA:
CENA
12 ALDEIA NOS AREDORES DA ITÁLIA EXT/DIA
O
dia amanhece, um carro velho aparece no horizonte: Max dirige e Carlo ao seu
lado no banco da frente.
MAXIMILIANO:
Só você para me fazer eu me acordar quest’ ora del mattino!
CARLO:
Sempre me falaram que aqui é mais bonito quando a luz do sol toca os telhados
das casas, ainda molhados de orvalho...
MAXIMILIANO:
Lui è un poeta! (Ele é um poeta!)
CARLO:
Chegamos, para aqui mesmo!
MAXIMILIANO:
(Irônico) Uma caminhadinha de manhã, non c'è cosa migliore! (Não há coisa
melhor!)
Eles
descem em silêncio, Carlo vai na frente e se aproxima de uma casinha de paredes
de pedra: as marcas da guerra são visíveis. Max espirra e o amigo o olha com ar
reprovador.
MAXIMILIANO:
Que frio horroroso, madonna mia!
CARLO:
Ninguém mais mora por aqui...
MAXIMILIANO:
Io aspetto que os fantasmas estejam de bom humor e não nos expulsem!
CARLO:
Vamos entrar?
MAXIMILIANO:
Se faz tanta questão assim...
Carlo
força porta, que facilmente cede a um pouco de força. O vento frio invade o
ambiente enquanto eles entram.
MAXIMILIANO:
Um ambiente veramente melancólico...
Emocionado
Carlo observa o ambiente: uma mesa, uma cadeira de madeira local, uns dois
bancos simples... Fixa o olhar num crucifixo com a imagem de Jesus na parede,
ele limpa uma lágrima que escorre do olho esquerdo.
Eles
saem, e andam pela aldeia, olham para o campo onde outrora cultivavam.
MAXIMILIANO:
Acho que a cultura predominante nessa região deve ser o trigo... Ma perché
abandonaram tudo?
CARLO:
A fome, a fome quebram laços, separa famílias e amores...
Eles
caminham lentamente, chegam a uma mansão de uma fazenda.
MAXIMILIANO:
Vamos entrar aqui também?
CARLO:
Não, acho que aqui ainda há gente...
Vêm
a cabeça de Carlos imagens de um passado que ele não viveu: naquela mesma
varanda, uma garota é puxada para dentro por um pai autoritário e separada de
um jovem camponês de olhar tristonho:
MOÇA:
(Gritando) Lo amo, babo! Non lasciarmi, ti prego!
Choro
abafado, o rapaz olha melancólico para a mansão e vai embora cabisbaixo pelo
mesmo caminho que os dois amigos passaram. As imagens desaparecem da mesma
forma instantânea que nasceram.
CARLO:
Vamos embora...
Os
dois fazem o caminho de volta pela mesma estradinha, CORTA PARA:
CENA
13 EDITORA SOGNARE INT/DIA
Hora
de almoço no Brasil, Gisele aparece com sua pasta debaixo do braço e encontra
com Henrique saindo.
GISELE:
Trouxe meus rascunhos para o livro... Pra você dar uma olhada...
HENRIQUE:
Não quer almoçar comigo? A gente vai num bistrô aqui do lado, come uma comida
saudável e eu dou uma olhada neles com calma...
GISELE:
Eu aceito, mas pode ser uma coisa mais normal? Não gosto de comida natureba,
prefiro comida de gente... Mas nada contra quem gosta...
HENRIQUE:
(Sorrindo) Vamos comer um hamburger!
Os
dois saem lado a lado, são espiados por Virginia e Carolina que trabalham num
computador.
VIRGINIA:
Vivi pra ver ele comendo porcaria, ou melhor, indo comer...
CAROLINA:
Tá na cara que ele tá afim dessa loura aguada, só isso explica tamanha
promoção: de revisora ocasional a artista da casa editorial!
VIRGINIA:
Mas ela é casada, e você aí solta até demais e ficou chupando o dedo...
CAROLINA:
Não duvido que ela largue o marido, o Henrique é mais vantajoso
financeiramente...
VIRGINIA:
“O Henrique” que intimidade menina! Tá a fim mesmo!
CAROLINA:
Ele não é pra mim, e tenho plena consciência disso!
VIRGINIA:
Será que ele dá um cartão de crédito sem limites pra namorada? Talvez eu
entrasse na fila...
Carolina
nada responde, Virginia pega sua bolsa.
VIRGINIA:
Quer almoçar comigo no shopping?
CAROLINA:
Trouxe um sanduíche, mas obrigada.
Virginia
sai rebolando, CORTA PARA:
CENA
14 SHOPPING INT/DIA
Virginia
paga o seu almoço e sai do restaurante, no mesmo instante Pedro e Liza entram e
ocupam uma mesa. Rapidamente ela retira o celular da bolsa e tira discretamente
algumas fotos.
VIRGINIA:
E vamos de flagra! Estou me sentindo um paparazzi de revista de fofoca falida!
Ela
sai com o celular ainda nas mãos. Disca um número.
VIRGINIA:
A Carla não está? Uma pena, é uma amiga dela... A gente sempre faz mãos e pés
juntas na sexta feira... Um recado? Vou passar aí pessoalmente amanhã... Um
assunto de muitíssima importância!
Ela
desliga o celular e sorri.
FIM DO CAPÍTULO.
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