Novela de
Sandy
Escrita por
Sandy
Classificação:
Personagens deste capítulo:
ANA (Carolina Kasting)
CARLO (Danton Mello)
GISELE (Christine Fernandes)
LÍVIA (Lucy Ramos)
BEATRIZ (Nívea Maria)
CARLA (Débora Falabella)
PAULO (Murilo Benício)
PEDRO (Dan Stulbach)
LEILA (Giovanna Rispoli)
HELOISA (Ângela Vieira)
LOLA (Maria Clara Gueiros)
HEITOR (Marcelo Médici)
Título do capítulo de hoje: Todas as famílias são iguais?
CENA
01 EMISSORA DE TV EDUCATIVA INT/DIA
Coffee
break depois da reunião, Lola serve o café para Ana, quase derrama o líquido
negro e quente na nova colega.
LOLA:
Mil desculpas, a amiga já tá toda acabadinha, mas não precisa se queimar com
café por minha causa! Sou tão desastrada!
ANA:
Não tem nada não, ao menos eu ficaria mais aquecida com o banho de café!
As
duas sorriem.
LOLA:
Vai escrever né?
ANA:
Eu trabalhava naquele semanal de literatura ao vivo, apareci até na frente das
câmeras umas duas vezes falando de Tólstoi... Ai tavam precisando de alguém pra
ajudar na pesquisa, não sei quando e como, acabei sendo contratada pra
roteirizar a adaptação...
LOLA:
Sabe que sempre é assim por aqui, era pra fazer uma coisa, acaba acumulando dez
funções... A gente não ganha mais por isso, mas faz mesmo assim por amor a
profissão e a arte e também por que na nossa área não é tão fácil arrumar
trampo...
ANA:
Espero que eu não tenha causado uma má impressão, não suporto chamar atenção,
se for má então...
LOLA:
Pode relaxar, o bonitão do diretor só faltou estender um tapete vermelho pra
você desfilar... Aquele cafajeste falido... Talvez a velha tenha franzido uma
das sobrancelhas, mas ela vai na do filho: se ele gosta de alguém, ela gosta
também!
ANA:
Eles são mãe filho?
LOLA:
O babado é grande: eles trabalhavam lá na Globo, ela escrevia aquela novela “O
pecado de amar” ... Ruim que doía! Você dava cada volta assistindo aquele
rocambole que ficava bêbado: era fulano que era irmão bastardo de cicrano, que
era vizinho de fulano que matou o primo de beltrano! Ele dirigia, teve uma
treta nos bastidores, mas ninguém sabe exatamente o que foi... Ele se demitiu,
a velha também largou a novela no meio e os dois vieram pra aqui: serem pobres,
porem cults filmando “Anna Kariênina” com neve de papelão...
ANA:
(Incrédula) Que história!
LOLA:
Digna de “O pecado de amar”!
Paulo
Figueiredo se aproxima delas.
PAULO:
Coloca mais café para mim Lolinha, s'il te plait!
LOLA:
Coloco sim, galanteador barato!
Ela
despeja o café no copo descartável dele.
PAULO:
Não seja injusta comigo, a senhorita sabe que não tenho olhos para outras
damas...
Lola
abre bem os olhos.
LOLA:
Esse, é irmão desse aqui! Não me engana que eu não gosto!
Ele
pega o café dá um beijo na bochecha da figurinista, logo depois se vira para
Ana.
PAULO:
E a senhorita, curtiu o quentinho do meu casaco?
ANA:
Arrisco dizer que sim, ele é muito agradável!
Ela
começa a tirá-lo, mas é impedida por ele.
PAULO:
Não, não! Vá com ele pra casa, não quero que fique resfriada, outro dia você me
devolve!
ANA:
Se insiste, mas eu tenho a saúde muito boa, não me resfrio com facilidade.
PAULO:
Melhor prevenir que remediar, deixa eu me apresentar, me chamo Paulo: Paulo
Figueiredo.
Ana
demonstra algum receio em falar o seu nome.
ANA:
O meu é Ana, com um N apenas...
PAULO:
Que coincidência adorável!
Os
dois se entreolham ternamente, Ana sorve o último gole do seu café sorrindo,
CORTA PARA:
CENA
02 APARTAMENTO DE ANA INT/DIA
Ana
entra e escuta a voz de sua mãe ainda em sua casa.
ANA:
(Em voz alta) A faxina foi boa, a senhora almoçou aqui? Tenha cuidado, melhor
não ficar com a barriga vazia!
Beatriz
aparece, vestida num lindo vestido idêntico ao modelo que Ana viu na vitrine.
BEATRIZ:
Cozinhei alguma coisinha aqui mesmo, um peixe delicioso! Comeu alguma porcaria
na rua ou quer que eu esquente comida de gente pra você?
Ana
olha estupefata para a mãe.
BEATRIZ:
Gostou? Foi um presente... Não posso contar de quem...
No
contraste entre a beleza e arrumação da mãe e o estado da filha, após o banho
de lama.
ANA:
Muito bonito mãe, mas você não acha que é um pouco inadequado... Pra faxina?
Ana
tenta esconder o seu visível incomodo, Beatriz dá um giro como se desfilasse no
meio da sala.
BEATRIZ:
Já acabei por hoje, tenho um compromisso, vou sair para dançar... Usei o seu
banheiro, mas olhe como eu deixei em perfeito estado! Nada daquele aguaceiro em
que a senhora insiste em transformá-lo.
ANA:
Vai com ele não é mesmo? Não precisa fazer mistério, e isso foi um presente
dele, não é?
BEATRIZ:
É, ele tem muito bom gosto...
ANA:
(Cruel) Não para uma mulher da sua idade, essa cor, esse corte... Só ele para
lhe presentear com uma coisa dessas!
BEATRIZ:
Nunca te interessa-se por costura, pelo meu ganha-pão, e agora quer meter o bedelho
no que eu visto... Durante uma vida toda copiei os modelos que via na vitrine
num caderninho e costurava na máquina velha e rouca... Mas hoje não preciso
mais, posso ir na loja e comprar feito um vestido, uma saia...
Nos
ouvidos de Ana ecoa o som conhecido da máquina de costura, roído que a
perseguia durante toda a infância.
ANA:
Eu odiava o som daquela geringonça, queria ler meus livros, mas não tinha um
momento de paz em casa... Não tinha um quarto só meu, era tudo amontoado... Me
habituei a dormir com esse som infernal,
enquanto você trabalhava até tarde pra entregar as costuras a tempos... Mas
isso não vem ao caso, estamos falando disso; Isto é um presente, você não
comprou esse vestido...
BEATRIZ:
Um presente muito especial...
ANA:
Eu sempre lhe dou roupa nova, mas mesmo assim a senhora insiste e continuar com
esse casaquinho surrado de sempre!
BEATRIZ:
Os filhos foram vestidos pelos pais na infância, é obrigação deles vesti-los na
velhice. Esse vestido é um presente especial. O tio não culpa se o sobrinho não é um
cavalheiro como ele.
ANA:
Por favor, mãe, estou com dor de cabeça!
Ana
larga sua bolsa no sofá e entra no banheiro, a mãe não a segue.
BEATRIZ:
Quando terminar deixe tudo bem sequinho!
Ana
nada responde.
BEATRIZ:
Não entendo como você pode amar um e odiar outro, eles são idênticos!
Beatriz
pega a sua bolsa e seu casaco surrado em cima da mesa da sala de jantar, bate a
porta e vai embora, CORTA PARA:
CENA
03 APARTAMENTO DE ANA INT/NOITE
Ana
sai do banho, enrolada em seu roupão cor-de-rosa, abre o armário procurando
algo para comer: começa a preparar macarrão instantâneo. Corte rápido, ela
senta-se em seu sofá e começa a comer dentro da panela com um garfo de
plástico,
ANA:
(Em off) Minha mãe sempre foi tão ativa, com uma presença tão forte, com uma
força de ordenação ao meu redor, sempre me assustou um pouco... Esse medo
despertou em mim a vontade de ser mais pacífica, mais relaxada comigo mesma e
com as coisas ao meu redor... Quis me distanciar e trilhar o meu próprio
caminho, longe do que ela esperava tanto de mim. Mas tenho que admitir que a
imagem dela, com suas costuras e aflições, sempre me fascinará, muito além dos
meus temores... e aquele vestido vermelho ficou mais bonito em seu talhe
elegante, apesar das deformações da terceira idade, do que jamais ficaria no
meu corpo....
Ana
coloca a panela em cima da pia, onde a louça limpa espera para ser guardada na
escorredeira, CORTA PARA:
CENA
04 BAILE DA TERCEIRA IDADE INT/NOITE
Alfredo
e Beatriz sacodem o esqueleto no forró.
BEATRIZ:
Não acha que é muito escandaloso?
ALFREDO:
Eu escandaloso? Sou um velhinho tão tímido e dócil, mal olho paras as pernas
das moças quando estou na fila do banco...
BEATRIZ:
Nada disso, seu velho tarado! Tô falando do vestido, não acha que tá muito
assim pra uma senhora da minha idade?
Ele
aperta a cintura da companheira.
ALFREDO:
No, bella mia, ainda és um chuchu, ainda que não esteja mais madurinho...
BEATRIZ:
Eu lá sou artigo de horticultura pra estar passada ou madura?
Ela
bate com sua bolsinha nele.
ALFREDO:
Não precisa me bater, eu só estava fazendo um elogio!
BEATRIZ:
Cheio de segundas intenções!
ALFREDO:
De terceiras, de quartas...
BEATRIZ:
O que vou fazer contigo, meu velho?
ALFREDO:
Continuar dançando, minha velha!
Ele
a pega novamente pela cintura, e os dois saem rodopiando pelo salão, CORTA
PARA:
CENA
05 APARTAMENTO DE GISELE INT/NOITE
Gisele
faz as contas do mês numa enorme calculadora eletrônica.
GISELE:
E fechamos no vermelho pelo vigésimo mês seguido...
LÚCIO:
O vermelho é a cor dell'amore!
GISELE:
E agora vai dar para imitar aquele carcamano sem consideração?
LÚCIO:
Vai sentir minha falta se eu sumir no mundo sem sobreaviso?
GISELE:
Talvez... Depende, vai que você me deixa divididas para quitar!
Ele
se aproxima de onde ela está, tira-lhe os óculos delicadamente, e logo depois
coloca as mãos entre as delas.
LÚCIO:
Confie em mim, confie em si mesma, em suma confie em nós... Vamos dar um jeito!
GISELE:
Que jeito? Nosso dinheiro mal dá para o fim do mês, daqui a pouco vamos ter que
ir usar o banheiro da Ana para economizar papel higiênico!
LÚCIO:
Mantenha a calma querida, tudo vai dar certo!
GISELE:
Calma como, só é possível manter aquilo que já temos e estou cansada demais
para tirar calma seja lá de onde for! Não dá pra viver só de picos, eu, você ou
de preferência nos dois, precisamos arrumar um emprego!
LÚCIO:
(Sombrio) Por mim não colocavas mais o pé naquela pseudo-editora... Não gosto
daquele cara... E muito menos dos livros ruins que ele manda você revisar!
GISELE:
Crises de ciúmes não vão ajudar a nos tirar do fundo do poço... E são esses
“livros ruins” que colocam comida nessa mesa!
LÚCIO:
Como você anda agressiva Gi!
GISELE:
Vá sentar a bunda no computador e escreva seu “livro de verdade”, prometo uma
revisão caprichada!
Ele
deixa Gisele barquejando sozinha, CORTA PARA:
CENA
06 CASA DE CARLA INT/NOITE
Paulo
toma um chá na casa da prima depois do jantar, ele se encanta com um lindo
samovar russo.
PAULO:
Você poderia nos emprestar esse negócio, seria ótimo para complementar a
atmosfera!
HELOISA:
Samovar é o nome.
PAULO:
Apenas trabalho com a imagética, não com as palavras.
CARLA:
Eu empresto sim, sei que você é cuidadoso.
LEONORA:
Meu filho deixa as coisas dele espalhadas por aí, mas cuida muito bem do que
não é dele...
PAULO:
Deixe de insinuações, mamãe...
LEONORA:
Não insinuei nada querido, fiz uma afirmação certeira.
CARLA:
Quer mais chá titia?
Leonora
passa para a sobrinha a xícara com desprendimento excessivo.
LEONORA:
O jogo é inglês, não é? Adoro essa mistura de referências e nacionalidades na
decoração daqui!
HELOISA:
Adorei o elogio, mas você sabe muito bem que nunca ouve intenção minha de
montar uma decoração: apenas as coisas foram se acumulando com o passar dos
anos, despretensiosamente...
LEONORA:
Maninha, você devia se livrar das coisas de mamãe, essa casa não é um depósito
ou um museu!
HELOISA:
Me lembram dela, as vezes eu troco as coisas de lugar, só pra colocar tudo de
novo no lugar certo... Fico o dia todo imaginando onde ela colocaria
certas coisas, pra aonde ele arrastaria aquele móvel...
LEONORA:
Que mórbido mortos trabalharem como consultores de decoração! Mas tem suas
vantagens: não é preciso pagar-lhes despesas trabalhistas!
Carla
e Paulo se afastam com suas xícaras de chá fumegantes.
CARLA:
Ela continua assim?
PAULO:
Ela sempre será assim, e não há nada que possamos fazer para mudá-la,
seria como tentar impedir a corrente de um rio parar de jorrar com um pauzinho
e uma pedrinha...
CARLA:
E você trabalha com ela, mãe em tempo
integral e presença garantida nas horas vagas e feriados... Eu sei como é, pode
não parecer, mas dina Heloísa não é tão diferente da irmã, ainda que proclame
isso aos quatro ventos!
Paulo
dá as mãos a prima.
PAULO:
Vamos deixar nossas mães implicando uma coisa com a outra... Preciso ter uma
conversa importante contigo... O Pedro chega cedo?
CARLA:
Ele sempre está presente de dia, mas evapora durante a noite, suspeito que vire
abóbora depois das sete, ou transforme-se em um lobisomem correndo entre
igrejas e cemitérios...
PAULO:
Na verdade te quero te fazer um convite, um convite muito especial, espero
pense nele com muito carinho...
CARLA:
Sempre penso com muito carinho no que você me pede, ainda que não possa atendê-lo
sempre...
PAULO:
Já leu Anna Kariênina, tem um exemplar na biblioteca...
CARLA:
Li sim, mas confesso ter uma certa repulsa por ele, punições excessivas para as
personagens femininas, indulgência demais com os homens... e a Anna é uma chata
de galocha, ainda que não merecesse perder a cabeça literalmente por seus
erros.
PAULO:
Espero que essa repulsa não pese contra o meu pedido...
CARLA:
Aonde você quer chegar Paulinho?
PAULO:
Quero que você interprete a minha protagonista, a minha Anna!
Carla
se esquiva automaticamente.
PAULO:
Figurinos de época sempre te caíram tão bem...
O
rosto de Carla arde por causa do caminho da conversa.
CARLA:
Sempre fui a mocinha, meu rosto angelical sempre me afastou de tipos
controversos...
PAULO:
Se esqueça de rótulos, imagina interpretar uma das maiores anti-heroínas da
literatura universal!
CARLA:
Você sabe que não tenho planos de voltar a atuar, de voltar para a televisão...
PAULO:
Mas esse é um projeto tão legal, para um público tão especifico... Garanto que
não vai ser uma exposição maior do que é saudável... E é uma personagem tão
rica, sem rótulos de vilã ou heroína!
Um
brilho diferente toma o olhar de Carla.
PAULO:
Pense direitinho sobre o meu convite, mas não me cozinhe em banho-maria por
muito tempo, já estamos em cima da hora para o inicio das gravações... E uma
atriz-protagonista é indispensável...
Em
Carla indecisa, CORTA PARA:
CENA
07 APARTAMENTO DE ANA INT/NOITE
Ana
penteia os cabelos antes de dormir, com raiva.
FLASHBACK
ON:
Ana,
criança tem os cabelos penteados pela mãe.
BEATRIZ:
Que cara feia!
Ela
dá um puxão com a escova nos cabelos da filha.
ANA:
Cuidado com o meu cabelo, mãe!
Ana
se contorce em caretas.
BEATRIZ:
Parece que o teu cabelo fica cada vez mais difícil de pentear quando estás com
raiva!
FLASHBACK
OFF.
Ana
percorre o quarto à meia luz, senta-se na cama. Para um instante calada, fecha
os olhos e começa a ouvir o som da tão conhecida maquina de costura velha,
modelo singer, de Beatriz. Ela tenta tapar os ouvidos com as mãos para não
ouvir, mas de nada adianta.
BEATRIZ:
(Em off) Não entendo como você pode amar um e odiar outro, eles são idênticos!
Exausta,
ela se joga na cama, tentando dormir e coexistir com o som da máquina de
costura a perseguindo durante a noite, CORTA PARA:
CENA
08 APARTAMENTO DE LÍVIA INT/NOITE
Virgílio
aparece com uns convites de um show para a namorada, Lívia. Ela o beija para
agradecer. Carolina, irmã da moça, a incentiva do sofá enquanto assiste a
novela.
CAROLINA: Vá e leve essa chata daqui logo, eu não
aguento mais ela trancada dentro de casa e buzinando no meu ouvido: “Não por
que você não pode jogar óleo de cozinha direto no ralo!” ...
Lívia
ignora as provocações da irmã.
LÍVIA:
Eu agradeço do fundo do meu coração, mas hoje não, tô muito cansada.... Cheguei
agorinha da faculdade, e estou só o pó da rabiola. Você me entende?
VÍRGILIO:
(Desapontado) Entendo sim minha flor, outro dia a gente faz um programinha a
dois.
Ela
tenta consolá-lo com um beijo.
CAROLINA:
Um dia ainda será comprovado que a preguiça de tomar um banho e vestir uma
roupa limpa, pode pôr fim a relacionamentos...
Lívia
fulmina a irmã com um olhar.
VÍRGILIO:
Então até amanhã, vou aproveitar pra dormir mais cedo, amanhã pego no serviço
cedo.
Os
dois se despedem e ela acompanha o namorado até a porta, na volta dá de cara
com a irmã em pé desligando a televisão.
CAROLINA:
Você devia liberar o coitado do moço, enrolar alguém desse jeito devia
desencadear multa no procom amoroso!
LÍVIA:
Não sabia que você tinha arrumado um emprego como fiscal de relacionamentos
alheios...
CAROLINA:
Não estou fiscalizando nada, só tenho pena do rapaz...
LÍVIA:
Não tenho a mínima culpa se ele está depositando sonhos em mim, eu não sei se
posso cumpri-los...
CAROLINA:
Sonho muito difícil de realizar: sair para beber um drink...
LÍVIA:
Eu só não estou a fim, é um pecado mortal na sua cartilha de boa-namorada?
Carolina
faz uma careta.
LÍVIA:
Eu gosto dele, ele me faz bem... Ainda que nossos caminhos não pudessem ser
mais dispares um do outro... Ele não tem expectativas, não tem ambições...
CAROLINA:
O seu problema é achar que todo mundo que não quer ter o carro do ano, entrar
na universidade ou trabalhar com figurões de terno e gravata, não tem
expectativas de vida, não tem ambições.
Carolina
entra no quarto e deixa Lívia sozinha, CORTA PARA:
CENA
09 APARTAMENTO DE GISELE INT/NOITE
Gisele
entra no quarto, encontra o marido deitado na cama e fingindo dormir. Disposta
a fazer as pazes, se deita e o aperta contra os seus braços e fala baixinho na
orelha dele.
GISELE:
Eu não gosto de brigar...
LÚCIO:
Não lhe culpo, os ânimos nessa casa andam exaltados demais... E por minha
culpa, único e exclusivamente por minha culpa...
GISELE:
Eu também tenho minha parcela de culpa...
LÚCIO:
Você já faz demais querida, com seus trabalhos na editora... Eu que não faço
nem metade do que deveria, do que seria confortável que eu fizesse...
GISELE:
Mas sou eu a força desestabilizadora, sou eu que transformo a calmaria em
tempestade...
LÚCIO:
Quando você olha para o mar, as águas parecem tranquilas, serenas... Mas
ninguém sabe que transformações, que guerras são travadas lá dentro, em seu
interior... Algumas pessoas são como o mar...
Eles
se abraçam forte, CORTA PARA:
CENA
09 APARTAMENTO DE ANA INT/NOITE
Ana
se mexe bastante na cama, como se o som da maquina de costura rodando não
tivesse sessado. Ela põe o branco e gordo travesseiro sobre a cabeça para
tentar espantar a insônia. Stock shots do rio mostram a alta noite passando
pelo Rio, CORTA PARA:
CENA
10 LABIRINTO DE CRETA INT/NOITE
No
escuro, Ana é perseguida pelo “Monstro” pelos canais do labirinto.
ANA:
Pelo amor de Deus, alguém me ajude por favor!
Ela
corre, se sente náuseas pelo movimento circular das paredes que parecem correr
sempre a sua frente. Ela olha para trás, a criatura funga com seus focinhos
latentes. Ana põe as mãos na cabeça, parece que tudo está perdido.
ANA: O que será de mim? Nunca fiz mal a ninguém,
por que isso aconteceu comigo?
De
repente, um buraco abre-se no teto do labirinto e Carlo surge ali: joga-lhe uma
corda, que ela agarra com toda a força. Ela começa a subir, rapidamente como se
estivesse em um desenho animado e chega na borda.
ANA:
Você sabe que eu te amo?
Carlo
não diz nada, e a solta: ela cai gritando.
ANA:
NAAÃO!
Ela
acorda, já é de manhã, põe a mão na testa e sente o suor gelado.
FIM DO CAPÍTULO.
Nenhum comentário:
Postar um comentário