Nos Trilhos: Capítulo 3





Novela de

Sandy

 

Escrita por

Sandy


 Classificação: 



Personagens deste capítulo:

ANA (Carolina Kasting)

CARLO (Danton Mello)

GISELE (Christine Fernandes)

LÍVIA (Lucy Ramos)

BEATRIZ (Nívea Maria)

CARLA (Débora Falabella)

PAULO (Murilo Benício)

PEDRO (Dan Stulbach)

LEILA (Giovanna Rispoli)

HELOISA (Ângela Vieira)

LOLA (Maria Clara Gueiros)

HEITOR (Marcelo Médici)

HENRIQUE (Petrônio Gontijo)

 

Título do capítulo de hoje: “O resto é silêncio”


CENA 1 ORLA DE COPACABANA EXT/DIA



 

Ana corre na areia fofa, tentando espantar os seus fantasmas colocando seu corpo em exaustão. Corre durante alguns minutos e para pra tomar uma água de coco, encontra Paulo fazendo o mesmo. Os dois se cumprimentam, trocando beijos no rosto um do outro.

 

PAULO: Quer me fazer companhia, preciso de um incentivo de uma moça bonita, ou corro o risco de desistir e engordar mais ainda...

 

ANA: Você está muito bem, corra apenas para fazer a manutenção da sua saúde!

 

Os dois terminam de tomar a água de coco e continuam a corrida juntos. Ana permanece calada durante um tempo, dando atenção aos seus pensamentos.

 

PAULO: Você gosta do silêncio, não é?

 

ANA: Às vezes eu sinto que ele é o meu único e verdadeiro amigo...

 

PAULO: (Sorrindo) Ele nunca fala demais!

 

ANA: Ele nunca é insincero, nunca nos julga ou nos machuca...

 

PAULO: Mas quem silencia também machuca, quem se abstêm recai na insensibilidade...

 

ANA: Aí são as pessoas que estão errando e se calando por fraqueza, já o silêncio é uma entidade que paira no tempo e no espaço... Os planetas a se moverem em suas órbitas banhados em silêncio...

 

PAULO: Isso é o que podemos chamar de poesia, malhando o cérebro com o corpo!

 

ANA: Eu acho que a poesia é o alimento da alma, ou talvez do coração, mas o cérebro é prático demais para se exercitar com poesia...

 

Os dois sorriem e continuam correndo e conversando, CORTA PARA:

 

CENA 02 CASA DE CARLA INT/DIA



 

Carla termina de se vestir para descer e tomar o seu café: delicadamente coloca o último brinco de perola na orelha esquerda. Pedro se acorda e lhe dá um beijo no rosto.

 

CARLA: Não borre a minha maquiagem, querido!

 

PEDRO: Você fica ainda mais linda sem maquiagem, devia usar menos, mal sai de casa...

 

CARLA: Me faz bem, eu gosto de me sentir bonita em casa, na minha casa.

 

Pedro entra no banheiro, Carla toma coragem para falar.

 

CARLA: Seria um incomodo pra você se eu voltasse a atuar?

 

PEDRO: (Somente a voz vinda do banheiro da suíte) Não, foi uma opção sua se afastar, e se quiser voltar, não precisa me consultar.

 

CARLA: Eu parei por que não me sentia completa, no começo achava que seria apenas uma pausa, mas veio o nosso filho...

 

Ele entra no quarto de toalha e pega sua necessaire no criado-mudo.

 

PEDRO: Fique tranquila, eu vou entender se essa vida não lhe preencher mais, se sentir incompleto é muito desagradável.

 

CARLA: Não é isso, eu me sinto completa, inteira: pela nossa vida, pelo nosso filho, pela nossa casa...

 

Pedro volta para o banheiro.

 

PEDRO: Então...?

 

CARLA: Às vezes eu sinto como se tudo isso, toda a minha felicidade pudesse se escorrer das minhas mãos, como se fosse a areia de um castelinho na praia... Se tudo o que prezo, se tudo o que eu amo acabar, se desfazer, vou me apoiar aonde? Em que?

 

PEDRO: Não vai acabar, simples assim!

 

CARLA: Preciso ter alguma reserva, pra me sentir mais segura...

 

PEDRO: Não tem nenhuma oposição da minha parte, se apoie onde tiver vontade!

 

Em Carla pensativa, CORTA PARA:

 

CENA 03 BAIRRO NOBRE DO RIO EXT/DIA

 

Ana e Paulo terminam seu exercício e saem da areia.

 

PAULO: Foi muito agradável...

 

ANA: Pra mim também.

 

PAULO: Eu preciso resolver algumas coisas na emissora, a gente podia ir andando até lá pra complementar o nosso exercício.

 

ANA: Pode ser, estou com a manhã livre...

 

PAULO: Você dá aula né?

 

ANA: Sim, de literatura.

 

Os dois andam sorridentes, ao som de “Tutta d'un Fiato”: Paulo diz algo engraçado, Ana cai na risada involuntariamente. Eles param na vitrine com o vestido vermelho.

 

PAULO: Quer provar? Vai ficar lindo em você.

 

ANA: Estou toda suada... Outro dia volto aqui...

 

Eles continuam a caminhar, CORTA PARA:

 

CENA 04 EMISSORA DE TV EDUCATIVA EXT/DIA

 

Os dois entram, tomam um elevador e sorriem um para o outro. O elevador se abre e dão de cara com Heitor e Lola, fofocando na porta de uma sala, ele está com um saco de batatas fritas.

 

LOLA: [...] Você sabe muito bem que ele já pegou metade das atrizes da Globo, essa moça nova já deve estar na rede...

 

HEITOR: Ela parece muito inteligente pra se deixar enrolar por esse veterano da guerra do amor...

 

LOLA: Que trocadilho péssimo e brega, ainda bem que você só produz e não escreve...

 

Heitor e Lola sorridentes passam por eles.

 

LOLA: Não disse, coitadinha, mais uma iludida!

 

HEITOR: Bem que você queria ser enredada por essa rede, não é?

 

LOLA: Obviamente que sim, me dá mais, tô com fome!

 

HEITOR: Como você come, e como continua magra assim?

 

LOLA: É genética, a da minha família é muito boa, mamãe era bailarina esguia e ligeira, pena que só me dei com agulhas, linhas e tesouras...

 

HEITOR: Eu engordo até ingerindo vento...

 

Lola rouba o pacote de batatas e sai correndo.

 

HEITOR: Ei, volte aqui!

 

LOLA: É meu dever contribuir com a tua dieta! Tão uma delícia as batatinhas, obrigada!

 

Heitor faz uma careta, CORTA PARA:

 

CENA 05 SOGNARE EDITORA INT/DIA




 

Henrique e Gisele conversam na sala dele.

 

GISELE: Se tiver mais livros no prelo, pode mandar, nunca precisei tanto de trabalho como agora...

 

HENRIQUE: Sua revisão sempre é feita com precisão cirúrgica, mas eu acho que esse mês não vai sair mais nenhum um livro...

 

Gisele não esconde seu desapontamento.

 

HENRIQUE: Estamos segurando a maioria dos lançamentos para o fim das férias. Quase ninguém lê na praia ou na piscina...

 

GISELE: Mil vezes um bom livro lido na sombra, que se enfiar numa piscina com um bando de desconhecidos! Passo mal até com o cheiro de cloro, mas sei que não sou o padrão...

 

HENRIQUE: Eu posso arrumar alguma outra coisa pra você fazer por aqui...

 

GISELE: Eu não me especializei, fiquei limitada a minha área das palavras, nisso que dá pensar no casamento como um mar-de-rosas... Deveria ter ouvido com atenção as palavras do padre: “na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza”.

 

Henrique se ilumina, como se tivesse uma ideia brilhante.

 

HENRIQUE: Você ainda desenha? Eu me lembro que me mostrasse uns desenhos uma vez!

 

GISELE: Quando eu tinha tempo, aquarelas eram o meu passatempo... Mas não entendi onde você quer chegar...

 

HENRIQUE: Já pensou em trabalhar com isso... Digo ilustrando: nada de comissão e sim uma parte nas vendas do livro!

 

GISELE: (Surpresa) Não sei se tenho segurança comigo mesma para aceitar essa proposta! Quer ver meus garranchos, eles não são tão bons assim!

 

HENRIQUE: Traga os mais recentes pra mim amanhã, mas eu tenho consciência do seu talento e criatividade, ou não jamais faria o convite,

 

Gisele sorri animada, CORTA PARA:



 

CENA 06 RESTAURANTE INT/DIA

 

Ana e Paulo almoçam juntos.

 

ANA: [...] Quer dizer que você cozinha?

 

PAULO: Eu faço os meus experimentos na cozinha, às vezes dão um bom resultado final, outras vezes nem tanto...

 

ANA:  Tenho que provar alguns desses “experimentos” ...

 

PAULO: Considere-se convidada para jantar em meu apartamento e a experimentar as coisinhas que eu me arrisco a preparar!

 

ANA: Aprecio e aceito o convite, mas agora preciso ir pra casa tomar um banho, tenho que dar aula hoje a tarde... Até logo...

 

PAULO: Até mais!

 

Os dois se despedem com o olhar, CORTA PARA:

 

CENA 07 APARTAMENTO DE ANA INT/DIA

 

Ana entra no banheiro correndo, está atrasada: ouve-se o som do chuveiro ligado, enquanto no computador ligado aparece a notificação de um e-mail de Carlo; ela sai do banheiro, se veste rapidamente e sai sem passar o olho no computador, CORTA PARA:

 

CENA 08 FACULDADE FEDERAL INT/DIA



 

Stock shots do Rio demonstram o passar da tarde. Ana ministra uma de suas aulas diárias sobre arte e literatura para uma parca turma de jovens sonolentos e impacientes.

 

ANA: (Citando diretamente) “Toda a diversidade, todo o encanto, toda a beleza da vida é feita de sombra e luz”, uma afirmação verdadeira sem dúvida alguma!  Mesmo feita da boca de um cafajeste como Oblonsky, como se sua infidelidade e seus comportamento desregrados, fossem uma forma de apreciar a vida em sua plenitude! Podemos até desconfiar, talvez Tólstoi não acreditasse que a beleza da vida é encontrada no fundir do mal com o bem... Ou podemos nos arriscar ao atribuirmos o cinismo de Oblonsky a Tólstoi...

 

ALUNO: A gente pode relacionar o simbolismo do trem com o vai e vem da vida, esse turbilhão de acontecimentos que nos rodeiam e nos atordoam...

 

Ana vira-se para o quadro, como se estivesse apagando algo com um dedo.

 

ANA: O trem tem uma importância crucial no enredo, desde o início: Anna e Vronsky se conhecem no desembarque da viagem de volta entre São Petersburgo e Moscou... Depois de apagar o incêndio no casamento da cunhada após uma traição de Oblonsky. O final é prenunciado quando eles desembarcam e presenciam um mujique destroçado entre os trilhos...

 

Vira-se de volta para a classe.

 

ANA: O próprio trem teve uma grande importância na vida de Tólstoi, ele puniu cruelmente sua principal heroína, mas como ela teve seu fim numa estação como aquela...

 

Todos sentem um frio na espinha.

 

ANA: Na velhice, ele queria doar toda a sua fortuna para os mujiques, tinha constantes brigas com a mulher... Afinal ela não queria que os filhos ficassem na miséria. Numa dessas brigas ele saiu sozinho em pleno inverno, vestido como um romeiro... Foi encontrado morto, provavelmente de frio, na estação de trem...

 

LEILA: Eu confesso que fiquei assustada durante a leitura... Não parecem personagens, parece gente, gente de verdade!

 

ANA: (Melancólica) Com ossos, nervos que sentem e sangue correndo nas veias... Eu lhe entendo, e “gente de verdade” nos assusta... “gente de verdade” são capazes de crueldades, de abandonos, de coisas inimagináveis...

 

Ana dirige seu olhar forte e ao mesmo tempo delicado à Leila por alguns segundos silenciosos.

 

ANA: De fato, os personagens de Anna Kariênina são assustadoramente verdadeiros, tanto que perdi a hora falando deles! Passamos meia-hora a mais do que o tempo necessário! Aula-encerrada por hoje e nos vemos semana que vêm!

 

Enquanto os outros alunos saem, Leila fala com Ana.

 

LEILA: A senhora andava tão tristinha, mas hoje está com um brilho diferente no olhar! Mas bonita, com a pele boa!

 

ANA: Obrigada querida.

 

Leila sai, CORTA PARA:

 

CENA 09 APARTAMENTO DE ANA INT/DIA

 

Ana entra em casa com um pacote que recebeu na portaria. Senta-se e olha o cartão.

 

PAULO: (Em off) Com muito carinho, use quando vier jantar em casa, espero ter acertado o tamanho.

 

Ana abre com ânsia o pacote e revela-se o vestido vermelho que estava na vitrine, CORTA PARA:

 

CENA 10 APARTAMENTO DE ANA INT/NOITE

 

Ana prova o vestido que ganhou de Paulo e pede a opinião das amigas.

 

GISELE: Que delícia o tecido, é como um carinho na pele!

 

Gisele passa a barra do vestido no rosto delicadamente.

 

LÍVIA: Obviamente esse cara quer alguma coisa, ou não te presentearia com um vestido desses, deve ter sido caro...

 

GISELE: Existem presentes desinteressados, baby!

 

ANA: Não importa, me ajudem a tirar isso!

 

Gisele a auxilia com os botões nas costas.

 

ANA: Provavelmente nem vou usar, queria me livrar o mais rápido possível disso, mas não tenho coragem: é um presente...

 

LÍVIA: Ficar com coisa indesejada me parece atraso de vida...

 

GISELE: Jogar presente fora traz azar, muito azar! Uma coisa tão linda, tão delicada, na certa comprada com tanto carinho!

 

ANA: Eu reconheço isso, o tecido, o corte e a beleza dele me atraem, mas...

 

GISELE: Mas...

 

ANA: Minha mãe ganhou um vestido do mesmo modelo, na mesma cor, daquele velho esclerosado!

 

LÍVIA: Mãe e filha com o mesmo vestido, que bizarro!

 

ANA: Se ela tivesse comprado, ou feito com as próprias mãos naquela maquina de costura velha, mas ganhado daquele homem... Todas as vezes que pôr essa porcaria vou automaticamente me segurar para não pôr pra provar meu almoço!

 

GISELE: Uma pena, é tão lindo!

 

Gisele e Lívia se entreolham, Ana termina de vestir sua roupa costumeira.

 

ANA: Então a Gi vai virar uma artista profissional?

 

GISELE: Pra não passar fome, você vende o que têm: como eu não tenho nada de meu na vida, e me recuso a ir pro calçadão rodar a bolsinha, vou vender aqueles borrões que faço desde adolescência...

 

LÍVIA: Quero é ver a cara do teu marido quando der de cara com um livro com “Gisele Palhares” escrito na capa...

 

GISELE: Nem contei a ele...

 

ANA: Ele não publica nada faz uns bons dez anos ou mais, vai ser um belo de um golpe no orgulho masculino...

 

GISELE: Ele ultimamente não tem pagado nem a metade das nossas dívidas, trabalhando e retrabalhando num livro que nunca fica pronto, o orgulho dele vai ter que aguentar calado...

 

As três amigas sorriem uma para a outra, CORTA PARA:

 

CENA 11 CASA DE CARLA INT/NOITE




Heloisa mexe numa panela e Carla pica os alimentos, as duas preparam o jantar.

 

CARLA: Mãe...

 

HELOISA: Me passa o sal, por favor filhinha...

 

Ela dá o que a mãe lhe pede.

 

CARLA: Eu passei o dia todo pensado comigo mesma...

 

HELOISA: Em que, minha querida?

 

CARLA: Num pedido que o Paulo me fez...

 

HELOISA: Dinheiro emprestado? Mas a tua tia não fica se gabando tanto, de que ganha dinheiro e é independente? Com a demissão veio a falência?

 

CARLA: Não mãe, nada disso... Ele mais me ofereceu, do que me pediu na verdade...

 

HELOISA: Fala então, minha filha.

 

Heloisa enxuga as mãos com um pano de prato, enquanto Carla toma coragem para falar.

 

CARLA: Ele me fez um convite...

 

HELOISA: Que espécie de convite?

 

Heloisa arregala os olhos, visivelmente ansiosa.

 

CARLA: O primo me quer, no novo projeto dele na televisão... É algo simples, sem muitas regalias, na televisão educativa...

 

HELOISA: (Animada) Primeiro os passos pequenos, depois você dispara de vez na escada no sucesso, de volta a globo! Protagonista de novela das nove! Ou melhor vilã, na sua carreira de mocinhas chorosas fazer uma vilã pode ser uma virada e tanto: “Voltei e agora sou má, muito má!”.

 

CARLA: Calma mãe! Eu pensei muito, pesei os prós e contras, estou a tanto tempo afastada, longe dos holofotes e no conforto da minha casa com a minha família...

 

HELOISA: Só me falta aquele teu marido querer te segurar em casa! Homem sempre quer puxar a mulher pra baixo, ela sempre que estar a seus pés, assim ele se enxerga maior do que é de verdade!

 

CARLA: Pelo o contrário! Ele sempre me deixou livre pra voltar, quando e se eu quisesse, e eu nunca quis... Você tem que cair na real mãe. Não era a minha vontade voltar...

 

HELOISA: Mas você é tão jovenzinha ainda, pode brilhar, ter as luzes todas do mundo no teu rostinho lindo!

 

Carla toca a face coma mão.

 

CARLA: Já lhe disse, às vezes as luzes queimam...

 

HELOISA: Então para de suspense, tá rodando tanto pra dizer que recusou, mas eu te aviso: uma hora os convites vão parar de chegar!

 

CARLA: (Profundamente calma) Mas eu não recusei, e depois de pensar tanto, acho que não vou recusar... Algo me diz que eu preciso fazer, mesmo que seja a minha última aparição a frente das câmeras, esse eu tenho que fazer!

 

As duas se abraçam, Heloisa começa a fazer mil planos para o recomeço da carreira da filha. CORTA PARA:

 

CENA 12 CORREDOR DO PRÉDIO DAS AMIGAS INT/NOITE

 

Gisele e Lívia saem do apartamento de Ana de braços dados.

 

LÍVIA: Por que ela tem tanta aversão ao namorado da mãe? Que preconceito idiota, gente velha também ama, também precisa de companhia...

 

GISELE: Descansa mulher, não é nada disso... Ela não tem problema algum com o fato da mãe ter uma vida ativa, o problema é com o velho em especifico...

 

LÍVIA: Que nojo! Será que o velho tentou...

 

GISELE: Não! É porque os velhos se amam desde outros carnavais...

 

LÍVIA: Como assim?

 

As duas entram no elevador e apertam o seu andar.

 

GISELE: Desde que o pai dela era vivo... Acho que é até por isso que ela se sujeita aquele cafajeste pseudo-italiano: antes uma traição consentida que ser enganada e sofrer...

 

LÍVIA: E eu que achava esse negócio de relacionamento aberto tão libertário...

 

GISELE: Realidade: é doentio, ela sofre do mesmo e mantém uma pose que não engana ninguém... O sofrimento está escrito na testa dela! Antes fizesse um barraco e empurrasse ele pra fora da vida dela... Não, é “um acordo” ... Dessa espécie de acordo eu passo, não consigo engolir...

 

O elevador se abre e elas saem.

 

LÍVIA: Por que é uma conservadora amargurada...

 

De brincadeira Gisele brinca de dar uma tapa na amiga, as duas riem e somem na escuridão, CORTA PARA:

 

CENA 13 APARTAMENTO DE ANA INT/NOITE



 

Ana se deita na cama, exausta. Em sua mente, flashs do passado borbulham como bolhas de sabão:

 

A sua mãe, jovem e bonita vestindo um lindo vestido verde, batom vermelho e cabelos num coque elegante, e saindo de casa: a deixando sozinha, o choro da menina que se sente abandonada.

 

Ela e Carlo, crianças brincando sozinhos na rua até tarde.

 

O pai dela, chegando em casa após um dia de trabalho, e encontrando a filha sozinha.

 

Alfredo, um homem galante e de penetrantes olhos azuis, troca olhares com Beatriz.

 

Ana espanta os fantasmas, abraça com força o travesseiro de encontro ao corpo, em posição fetal.

 

FIM DO CAPÍTULO.






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