Nos Trilhos: Capítulo 8, um barraco no shopping e o reencontro do casal protagonistas!




Novela de

Sandy

 

Escrita por

Sandy


 Classificação: 



Personagens deste capítulo:

ANA e antítese de Ana (Carolina Kasting)

CARLO (Danton Mello)

GISELE (Christine Fernandes)

LÍVIA (Lucy Ramos)

BEATRIZ (Nívea Maria)

CARLA (Débora Falabella)

LIZA (Vivianne Pasmanter)

NANDO (Chay Suede)

PAULO (Murilo Benício)

PEDRO (Dan stulbach)

LEILA (Giovanna Rispoli)

HELOISA (Ângela Vieira)

LÚCIO (Dalton Vigh)

LOLA (Maria Clara Gueiros)

HEITOR (Marcelo Médici)

HENRIQUE (Petrônio Gontijo)

MAXIMILIANO (Emílio Orciollo Netto)

VIRGÍLIO (Marcelo Melo jr.)

VIRGINIA (Lavínia Vlasak)

CAROLINA (Isabel Fillardis)

LEANDRO (Fernando Pavão)

BELLA (Barbara França)

EMÍLIO (Danilo Mesquita)

 

Título do capítulo de hoje:“Retratos, pintores e seus modelos”.




CENA 01 CASA DE BEATRIZ INT/NOITE

 

Ana vê uma revista enquanto a mãe dorme. Mas ela a fecha, entediada. Abre o celular, responde umas mensagens... Acaba abrindo a galeria sem querer e sorri ao ver uma das últimas fotos que tirou com Paulo; sorrindo, ela confere várias fotos tiradas com ele, em lugares e momentos diversos. De repente ela acaba encontrando uma foto antiga de si mesma com Carlo. ela desliga o celular como tentando espantar um fantasma. Beatriz se mexe na cama, Ana se levanta e “espia” a mãe.

 

ANA: Você está melhor?

 

BEATRIZ: Me sinto novinha em folha.

 

Ana arruma os travesseiros da mãe.

 

ANA: Você precisa se cuidar mãe, eu não estou mais debaixo das suas asas, você não tem mais essa desculpa...

 

BEATRIZ: É a ordem natural das coisas: os pais cuidam dos filhos negligentes, para no futuro, os filhos cuidarem dos pais negligentes...

 

ANA: Eu não posso cuidar de você de longe, ou espionar a sua vida... Mesmo se eu quisesse, não tenho como colocar uma câmera na sua casa...  E não tenho anteninhas, ou algum tipo de pressentimento recorrente, não sinto no ar quando as coisas andam mal...

 

Beatriz nada diz e se afasta para o lado na cama.

 

BEATRIZ: Deixa de me dar sermão e deita aqui!

 

Ana se mostra reticente, Beatriz a olha, lhe encorajando e ela deita-se ao lado da mãe.

 

BEATRIZ: Lembra quando a gente fingia ver as estrelas no teto mal rebocado...

 

ANA: Lembro... A gente fingia que o zunido das muriçocas era o som dos grilos...

 

BEATRIZ: A luz dos faróis dos carros que passavam nas ruas, vagalumes em tamanho gigante...

 

ANA: Tempos difíceis...

 

BEATRIZ: Tempo bom que não volto mais...

 

ANA: Não esqueço das privações...

 

Ela coloca as mãos da mãe entre as suas.

 

ANA: Mãos de uma vida trabalhando numa máquina de costura... Essa marca aqui, lembro bem, foi de um acidente... A agulha escapou e perfurou fundo, até aqui...

 

BEATRIZ: Por isso nunca lhe ensinei, é trabalho pra adulto... Mas lembro que você se encantava pela máquina, não tirava os olhinhos dela enquanto cingia calças, costura um vestido...

 

ANA: Eu lhe dei uma máquina nova depois, moderna com mais funções e que faz um acabamento melhor... Mas aquela sua máquina antiga Singer, nunca saiu da minha mente, parecia um gatinho: com as formas curvilíneas, toda preta com riscos em prata...

 

BEATRIZ: Mesmo com a nova, a velha me serviu por muito tempo... Era muito boa aquela máquina, me ajudou a te criar, a me sustentar... Só me desfiz dela já quando não me servia mais de nada...

 

ANA: Meu pai te ajudava.

 

BEATRIZ: Eu nunca quis depender de homem, nunca dependi... Graças a Deus, sempre tive vontade para trabalhar...

 

ANA: Você tem talento mãe, o que você fez e faz vida toda, com uns trapos numa máquina doméstica, é arte!

 

BEATRIZ: Pode ser verdade o que você fala, mas eu não tive estudo, não tive oportunidades quando era jovenzinha...

 

As duas se olham ternamente, CORTA:

 

CENA 02 CASA DE BEATRIZ INT/NOITE


 

Num cavalete Alfredo esboça um retrato de Ana com carvão.

 

ALFREDO (P/ si mesmo) Os olhos dela são difíceis de fazer... Ela tem o olhar muito forte, muito penetrante... É muito difícil de copiar...

 

Ana entra na sala e ele automaticamente tampa a tela com um pano.

 

ANA: (Desinteressada) Ainda pinta?

 

ALFREDO: Me sustentei a vida toda com a pintura, nunca parei... Vou apenas dar uma pausa e ir dormir, já está tarde...

 

Ele arruma as coisas e leva para o seu quarto.

 

ALFREDO: Vai se ajeitar aí mesmo? Vou buscar um lençol e alguns travesseiros...

 

ANA: Obrigada, vou me ajeitar aqui mesmo...

 

Ele faz uma mesura.

 

ALFREDO: Boa noite!

 

Ela faz um meneio de cabeça.

 

ANA: Boa noite!

 

CORTA PARA:

 

CENA 03 CASA DE CARLA INT/NOITE



 

Carla termina de vestir sua camisola, olha-se no espelho tristemente.

 

CARLA: Será que vou sobreviver?

 

Ela toca delicadamente seu cabelo, CORTA PARA:

 

CENA 04 APARTAMENTO DE ANA INT/DIA

 

Carlo dorme espalhado no sofá, com a mesma roupa que chegou de viagem. De repente ele acorda com o barulho de chaves na porta: Ana entra apressada em casa, os dois se chocam com o reencontro.



 

CARLO: Ana!

 

Desesperadamente, ela larga as coisas no chão e corre para lhe dar um abraço.

 

ANA: (Emocionada) Você demorou... Demorou muito...

 

CARLO: Demorei o tempo que foi necessário, pra mim, pra você, pra nós...

 

ANA: Dormiu aqui? Por que não foi pro quarto?

 

CARLO: Eu já estou invadindo sua casa, sua vida de novo... Não queria me enfiar no seu quarto, sem você estar em casa...

 

ANA: Essa é a nossa casa, aquele é o nosso quarto, a nossa cama...

 

CARLO: Depois de tanto tempo, não sabia se você ia me aceitar de volta...

 

ANA: Você é parte de mim, parte do meu coração! Não se recusa ou põe pra fora um pedaço do nosso corpo...

 

CARLO: Aninha sempre passional! Mas é natural botar aquilo que nos faz mal pra fora!

 

ANA: Você não me faz mal, muito pelo contrário... Dói não se sentir inteira, completa... Vamos levar suas coisas de volta pra dentro...

 

Ela mesma pega uma sacola dele e o obriga a carregar todo resto.

 

ANA: Quero saber todos os detalhes...

 

CARLO: Mas a gente já fez esse roteiro: Roma, Milão, Nápoles...

 

ANA: O seu olhar das coisas é único, você sempre presta atenção em coisas que me escapam completamente... Fale, fale, vou sentir como se não conhecesse esses lugares pessoalmente...

 

Os dois entram no quarto, aos risos, CORTA PARA:

 

CENA 05 APARTAMENTO DE GISELE INT/DIA



 

Lívia fila uma boia no almoço da amiga.

 

LÍVIA: [...] Eu estava lá dando comida pro cachorro e botando as plantas pra fora... e o homem se materializa no meio da sala...

 

GISELE: Que ódio, eu tava shippando tanto a Ana com o diretor lá da novela... Ele vai estragar tudo...

 

LÚCIO: Do jeito que ela é louca por ele, se estivesse em casa, os dois teriam transado ali no meio da sala... Em cima dos tapetes...

 

LÍVIA: Os homens fazem cada comentário desnecessário!

 

LÚCIO: Me desculpem pela grosseria, queridas damas virginais...

 

Lívia faz uma careta de reprovação.

 

GISELE: Pelo menos ela não estava em casa mesmo, quem sabe a gente pode ir lá dar um fim enquanto ele está dormindo, e pimba, meu otp está são e salvo!

 

LÍVIA: Minha única esperança é que ela tenha cultivado o mínimo de amor próprio e ponha esse traste pra fora!

 

LÚCIO: Duvido!

 

Lúcio põe uma garfada cheia na boca, CORTA PARA:

 

CENA 06 CASA DE CARLA INT/DIA

 

Leila, Pedrinho e Heloisa almoçam.

 

HELOISA: [...] Se a senhorita ousar chegar em casa antes das doze de novo, terá a mesada cortada... E mais nada de táxi, vai ter que andar de ônibus! Já providenciou a carteirinha de estudante?

 

LEILA: Não exagere mamãe, cheguei sã e salva, não é?

 

HELOISA: Dessa vez, na próxima posso ter que te buscar num necrotério!

 

Carla aparece toda arrumada e com uns grandes óculos escuros.

 

HELOISA: Querida, junte-se a nós! Sente-se melhor?

 

CARLA: Estou tentando mamãe, estou tentando... Mas eu vou ao shopping com a Virginia, almoço lá...

 

HELOISA: Isso mesmo querida, não se deixe se abalar: levante a cabeça para que todos possam te ver mais linda e segura do que nunca!

 

Carla sorri tristemente para a mãe e sai, CORTA PARA:

 

CENA 07 SHOPPING INT/DIA

 

Carla se encontra com Virginia na praça de alimentação, as duas se cumprimentam.

 

VIRGINIA: Não vai pedir nada?

 

CARLA: Não estou com fome, e no momento me vem uma vontade insuportável de vomitar...

 

VIRGINIA: O que aconteceu amiga?

 

CARLA: Que cabeça minha... Não tinha como você saber... Eu e o Pedro, a gente...

 

VIRGINIA: Você descobriu...

 

CARLA: Não descobri nada! Ele simplesmente saiu de casa, sem brigas, sem escândalos... Estou tentando entender...

 

VIRGINIA: Quer perguntar se eu sei de alguma coisa?

 

CARLA: Isso, não dizem que o traído é sempre o último a saber?

 

VIRGINIA: Não sei de detalhes, mas eu já o vi algumas vezes em restaurantes com uma mulher em especifico...

 

CARLA: Como ela era?

 

VIRGINIA: (Se fazendo de inocente) Era um tipo vulgar, loura, mas muito mais velha que você... Nunca tive o estralo...

 

CARLA: Você precisa me ajudar a descobrir quem essa criatura!

 

VIRGINIA: O Pedro tá morando aonde, agora que vocês... Eu poso tentar sondar alguma coisa...

 

CARLA: Eu não sei, ele apenas pegou as malas e saiu de casa, eu não sei onde ele se enfiou... Em algum buraco, com certeza, se está metido com ratazanas oxigenadas!

 

VIRGINIA: Isso tem quanto tempo? Uma semana, alguns dias?

 

CARLA: Não tem nem vinte e quatro horas...

 

VIRGINIA: Então se acalma, amiga: você vai descobrir o endereço dele e eu vou te ajudar a descobrir alguns detalhes, te aclama, toma um suco...

 

CARLA: Pedir pra eu me acalmar é como pedir para um poeta parar de fazer mais poesia...

 

Virginia cospe o suco que estava tomando assim que vê Pedro e Liza, entrando de mãos dadas em uma loja de cama, mesa e banho.

 

VIRGINIA: Olha para trás!

 

CARLA: São eles!

 

Petrificada Carla olha os dois sumirem entre lençóis e fronhas.

 

VIRGINIA: Garçom, traz um copo de água com açúcar pra ela, por favor!

 

CARLA: (Surtando) Eu mão quero, não quero nada!

 

VIRGINIA: Você precisa se acalmar. amiga... Não fique nesse estado por causa dele, ele não merece!

 

O garçom traz o copo com água, num espasmo Carla derruba a bandeja no chão e se levanta.

 

VIRGINIA: Carla! Meu deus!

 

CORTA PARA:

 

CENA 08 EDITORA SOGNARE INT/DIA

 

Henrique conversa com Carolina sobre assuntos de trabalho.

 

CAROLINA: [...] Uma tiragem tão grande, de um livro infantil?

 

HENRIQUE: (Sem olhar no rosto dela) É um projeto muito especial, e vejo muito potencial nele, vou me arriscar e apostar de forma mais robusta nele...

 

Carolina lê o nome de Gisele entre os autores e faz uma careta.

 

CAROLINA: Vou planejar o lançamento para o começo do ano que vem, mas ele ainda não está finalizado...

 

HENRIQUE: O texto já está pronto, apenas a parte gráfica que está em desenvolvimento ainda...

 

CAROLINA: Entendi, vou providenciar tudo, mas a parte burocrática não pode sair na frente da criativa....

 

HENRIQUE: De qualquer forma eu quero que você prepare um gordo adiantamento para as autoras.

 

CAROLINA: Mas isso é incomum, não é melhor esperar o livro entrar no prelo?

 

HENRIQUE: Eu disse que esse é um caso especial.

 

CAROLINA: Ok, com licença.

 

Carolina sai bufando de ciúmes, CORTA PARA:

 

CENA 09 SHOPPING INT/DIA

 

Carla entra na loja, seguida por Virginia, que tenta apagar um incêndio iminente.

 

VIRGINIA: Vamos embora, amiga... Não vai te fazer bem...

 

Elas olham para Liza e Pedro juntos, mas o casal não as percebe ali. Carla segura a cabeça meio desnorteada, coloca a mão para se apoiar numa bancada de tecidos vendidos ao metro e esbarra numa tesoura. Num surto ela pega o objeto cortante e sai apontando para onde o ex-marido está.

 

PEDRO: (Assustado) Carla!

 

CARLA: (Descontrolada) Seu desgraçado! Você destruiu a minha vida, me fez em pedaços e jogou pra debaixo do tapete!

 

Os dois começam uma luta corporal, com ele tentando tirar a tesoura da mão dela.

 

PEDRO: Te acalma, não é pra tanto!

 

CARLA: Pra tanto? Quem é você pra relativizar a intensidade dos meus sentimentos?

 

Liza se esconde atrás de um monte de tecidos.

 

LIZA: Filial não tem um minuto de paz na terra, nem quando é promovida a matriz!

 

Virginia aparece por trás dela e aperta com força o rabo de cavalo dela.

 

VIRGINIA: Você é a culpada de tudo isso! De todo esse descontrole emocional, não vai sair impune?

 

LIZA: Me largue sua brega! Tá doente!

 

VIRGINIA: É pra doer mesmo!

 

Enquanto isso, a luta continua, e Carla consegue rasgar a camiseta de Pedro com a tesoura.

 

CARLA: (Gritando) Talvez perfurando o teu coração, o meu pare de doer!

 

PEDRO: Para de loucura mulher, você vai machucar alguém!

 

CARLA: Não me importa, ninguém sairá mais machucado do que eu nessa história toda!

 

Finalmente Pedro consegue fazê-la soltar a tesoura: ela se afasta segurando o pulso direito com a mão esquerda.

 

CARLA: Mais uma dor infligida a mim por você!

 

PEDRO: Você me obrigou a tanto!

 

Ele se abaixa e pega a tesoura caída no chão. A essa altura muitas pessoas assistem o barraco pelo vidro da vitrine, vários filmaram e tiraram fotos. Virginia dá um puxão final no cabelo de Liza e arranca vários fios de cabelo.

 

LIZA: Sua louca! Quer me deixar careca?

 

Virginia se mostra reticente entre continuar o barraco ou ir acudir a amiga que chora no chão, mas acaba optando pela última opção.

 

VIRGINIA: Vamos embora...

 

Elas saem com Carla apoiada na amiga, CORTA PARA:

 

CENA 10 APARTAMENTO DE ANA INT/DIA



 

Ana e Carlo fazem um completo piquenique no meio da sala.

 

CARLO: Mesmo depois de tanto tempo... Você ainda me surpreende!

 

ANA: Odeio gente previsível...

 

CARLO: Mas a gente já se conhece a tanto tempo, já sabe tanto sobre a vida, sobre os sonhos e pensamentos um do outro, e ainda sim conseguimos nos surpreender! É uma coisa extraordinária, temos que comemorar!

 

Ele coloca uma uva na boca dela.

 

ANA: Não dizem que é impossível conhecer uma pessoa completamente? Não vejo nada de extraordinário na nossa capacidade conjunta de ser renovar, um aos olhos dos outros. Mas concordo que precisamos comemorar...

 

CARLO: Se eu não precisasse me reencontrar, longe de tudo e todos, eu chegaria a me arrepender de ter estado ausente por tanto tempo! Não dizem também, que mudamos todos os dias, todos os minutos e segundos que passam? Perdi tantas Ana’s enquanto estive longe!

 

ANA: Apesar das mudanças naturais da vida, pode confiar, continuo sendo a mesma Ana, única, simples e verdadeira!

 

CARLO: Acredito, mas quero desvendar as nuances desta antiga e também nova Ana!

 

Os dois se olham ternamente, enquanto continuam comendo.

 

ANA: Você não disse que o Max viria com você, onde ele está?

 

CARLO: Ainda deve estar dormindo no hotel, deve éter estranhado o fuso horário... E a sua mãe, resolveu abandonar a coitada por mim? Tenho coração, pergunto mesmo sabendo que ela não gosta de mim...

 

ANA: Eu liguei pra ela, agora ela já está bem, depois vou dar uma passadinha lá...

 

CARLO: Vou com você, preciso “aparecer” pro velho também!

 

Ana olha para o seu celular com uma chamada perdida de Paulo e tenta simular um sorriso para Carlo, CORTA PARA:

 

CENA 11 EMISSORA EDUCATIVA INT/DIA



 

A equipe, com as gravações paralisadas, joga uma partida de carteado numa mesa do cenário.

 

LEONORA: Ganhei de novo! Acho que vou me dar bem hoje, apesar do dia de trabalho perdido!

 

LOLA: Vou parar, era o que faltava perder os trocados no ônibus pra senhora: o seu salário dá pra pagar dez vezes o meu aluguel!

 

LEONORA: Jogo é jogo: se ganha ou se perde, não adianta choramingar! Pega ai mais um dos meus bolinhos de carne de panela e vamos de mais uma rodada!

 

Todos se deliciam com os bolinhos de Leonora.

 

PAULO: A essa hora a Carla não vai dar mais as caras mesmo!

 

HEITOR: Era compreensível né, acabar um casamento depois de tantos anos, nunca é fácil.

 

LEONORA: Eu terminei o meu casamento com o bode velho pai dele e no outro dia estava pulando de felicidade e correndo atrás dos meus projetos, da minha glória profissional...

 

LOLA: Não se faça dona Leonora, todo mundo sabe que a senhora arrancou as calças do velho!

 

LEONORA: E você queria o que, menina? Que eu me fizesse de orgulhosa e saísse com as mãos abanando? Nunca, arranquei as calças, os ternos de chambre feitos sob medida, as camisetas e meias inglesas e metade do que ele tinha no nome dele (ainda fui benevolente, abri mão das coisas que estão em nomes de laranjas!) ... Só abri mão das cuecas, por que aí eu estaria atentando contra a dignidade masculina dele...

 

Paulo anda de um lado para o outro.

 

HEITOR:  Meu diretor não quer sentar, está me dando nos nervos!

 

PAULO: Não obrigado, estou bem assim mesmo.

 

LEONORA: Duvido que ele esteja assim por causa da prima...

 

PAULO: A mãe da Ana tá doente, e ela não me atende...

 

LEONORA: Coma mais um bolinho enquanto espera, mas cuidado, a pimenta pode ter efeitos colaterais!

 

HEITOR: (Olhando para Lola e ela retribuindo o seu olhar com desdém) Dizem que é afrodisíaca...

 

LEONORA: Não sei, mas dizem que na combinação dessa receita, fermenta o ciúme entre os casais...

 

HEITOR: Não dizem que o ciúme é o tempero do amor? Ganhei essa rodada!

 

Lola faz uma careta de desgosto.

 

LOLA: Só eu que vou sair sem ganhar nenhuma!

 

PAULO: É um milagre, nenhum ataque de estrelismo até agora!

 

Num canto os atores interagem entre si, separados da produção.

 

BELLA: [...] na televisão é assim? As estrelas deixam os atores iniciantes esperando?

 

EMÍLIO: É melhor ir se acostumando, já já você vai presenciar o seu primeiro show de estrelismo...

 

LEANDRO: Sou uma estrela, não se esqueçam disso... Estou de bom humor, não vou saciar desta vez a vontade de vocês por uma bela intriga de bastidores!

 

BELLA: Mas eu não a julgo também, ela deve estar segurando uma barra pesada...

 

LEANDRO: Solteira, livre, leve e solta não dou uma semana para que ela se apaixone por mim, um homem de verdade e não um bruto antiquado que manteve ela longe das telas por tanto tempo!

 

EMÍLIO: Convencido!

 

Bella chama Nando para perto dela.

 

BELLA: Já que não vamos trabalhar mesmo, você podia me levar pra dar um rolê por aí, queria tomar um sorvete! Está um calor!

 

NANDO: Pode ser sim, vamos...

 

LEANDRO: (Cortando Nando) Qualquer dia te levo num restaurante mia Bella! E você tenha cuidado, não a deixe comer qualquer porcaria nessas sorveterias de esquina!

 

Bella fulmina o colega com o olhar. Lola mexe no celular.

 

LOLA: Tô passada!

 

Lola levanta o aparelho para todos verem: mostra uma matéria de fofocas com uma foto de Carla apontando uma tesoura.

 

PAULO: MEU DEUS!

 

HEITOR: Espero que ela não tenha se machucado!

 

LEONORA: Se ela nos fez perder todo esse tempo, ao menos vai conseguir chamar a atenção de todos e consequentemente fazer uma propaganda indireta do nosso trabalho... Falem e deixem que fale, mal ou bem, da vida pessoal dos atores ou não, mas falem de qualquer jeito!

 

Leonora solta uma risada sonora que ecoa pelo estúdio, CORTA PARA: 

 

CENA 13 APARTAMENTO DE CARLA INT/DIA

 

Virginia fala com Carolina pelo celular.

 

VIRGINIA: Se vira aí e garante que eu não vou ficar desempregada, não posso largar a minha amiga aqui!

 

CAROLINA: (Pelo celular) Relaxa, o Henrique vai entender como uma espécie de filantropia... Ele valoriza a “solidariedade humana” ... E Pratica! A editora vai pagar um adiantamento muito acima da média de que pagamos, lá pra Gisele e seu súbito trabalho como ilustradora...

 

VIRGINIA: Depois você me dá detalhes, não posso falar por mais tempo! Tchau, vou desligar!

 

Virginia desliga o celular e se dirige para Heloisa, que sai do quarto da filha.

 

HELOISA: Você me desculpa a bagunça aqui em casa, tivemos um incidente com a água do banheiro e não conseguimos limpar tudo ainda...

 

VIRGINIA; Como ela tá?

 

HELOISA: Tá deitadinha: não fala nada, não come, não dorme.., Parece que está em estado de choque, tô com os nervos a flor da pele... Mas não posso me esquecer de te agradecer, você foi um anjo protetor pra minha filha!

 

VIRGINIA: Na minha bolsa ainda está um chumaço de cabelos daquela loura aguada... Qualquer coisa eu levo a Carla numa encruzilhada ali na tijuca, a gente faz uma amarração e o cabelo daquela senhora cai todinho!

 

Heloisa não consegue reprimir uma expressão de terror.

 

VIRGINIA: Tõ brincando! (rindo) 

 

HELOISA: (Constrangida) Você aceita um chazinho?

 

VIRGINIA: Aceito sim, com certeza, não comi nada hoje à tarde...

 

As duas passam para a cozinha, CORTA PARA:

 

CENA 12 APARTAMENTO DE ANA INT/DIA

 

Ana entra no banheiro para falar com mais privacidade no celular.

 

ANA: Ela tá bem sim, não precisa se preocupar com ela...

 

PAULO: (Por telefone) Eu me preocupo com você, se cuide primeiro pra poder cuidar da sua mãe depois...

 

ANA: Eu também me preocupo com você, com o nosso trabalho... Eu vi as fotos da Carla, lastimável!

 

PAULO: Vou dar uma passada na casa dela pra ver se consigo ajudar a juntar os estilhaços!

 

ANA: Depois me liga de novo, tá?

 

PAULO: Tá, estou com saudades.

 

ANA: Eu também, tchau.

 

PAULO: Tchau.



 

Ana desliga, de repente se depara com sua visitante recorrente sentada na privada com as pernas cruzadas.

 

ANA: Sua abelhuda!

 

FIM DO CAPÍTULO.





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