Novela de
Sandy
Escrita por
Sandy
Classificação:
Personagens deste capítulo:
ANA e antítese de Ana (Carolina Kasting)
CARLO (Danton Mello)
GISELE (Christine Fernandes)
LÍVIA (Lucy Ramos)
BEATRIZ (Nívea Maria)
CARLA (Débora Falabella)
LIZA (Vivianne Pasmanter)
NANDO (Chay Suede)
PAULO (Murilo Benício)
PEDRO (Dan stulbach)
LEILA (Giovanna Rispoli)
HELOISA (Ângela Vieira)
LÚCIO (Dalton Vigh)
LOLA (Maria Clara Gueiros)
HEITOR (Marcelo Médici)
HENRIQUE (Petrônio Gontijo)
MAXIMILIANO (Emílio Orciollo Netto)
VIRGÍLIO (Marcelo Melo jr.)
VIRGINIA (Lavínia Vlasak)
CAROLINA (Isabel Fillardis)
LEANDRO (Fernando Pavão)
BELLA (Barbara França)
EMÍLIO (Danilo Mesquita)
Título do capítulo de hoje: "Em pedaços".
CENA
01 APARTAMENTO DE ANA INT/DIA
Ana
acorda tarde, dormiu mal e continua cansada.
ANA:
Que noite horrível!
Ela
passa manteiga no pão com dificuldade, fecha os olhos cansados: não há ninguém;
fecha os olhos sua visitante está de volta.
ANNA:
Sentiu saudades de mim querida? Mil desculpas pela abordagem equivocada! Não
devia ter aparecido segurando a cabeça que o trem arrancou nos meus braços! Mas
agora vou ser mais cautelosa: estou aqui inteira e linda, modéstia à parte!
Em
Ana com os olhos arregalados.
ANA:
Era só o que faltava... Ficar louca, completamente louca...
ANNA:
Não acho que você seja mesmo louca, talvez um pouquinho apressada, muito
ansiosa... Sempre colocando o carro na frente dos bois! Já experimentou algum
chazinho? Boldo, camomila... Dizem que ajuda!
ANA:
É coisa da minha cabeça, se eu me concentrar posso conseguir fazer parar!
Ela
fecha os olhos, e faz força.
ANNA:
Oi? Não adianta nada fechar os olhos e tapar os ouvidos! Vou continuar aqui!
Que falta de educação ignorar os outros e deixá-los falando sozinhos!
Ela
corre para o quarto e fecha a porta com chave.
ANA:
Vou chamar uma benzedeira e mandar fazer um descarrego nessa casa! Só podem ter
feito um trabalho pra atravancar a minha vida! Querem me deixar louca,
completamente descabelada e descontrolada! Mas não vão conseguir! Vou me manter
em controle!
Ela
para e respira. Durante um tempo se ouve o silêncio. Ela estufa o peito, toma
coragem e abre a porta para espiar. Sai do quarto, a passos vagarosos, se
certificando que está sozinha de verdade. Cai no sofá da sala soltando um
suspiro de alívio, CORTA PARA:
CENA
02 APARTAMENTO DE PAULO INT/DIA
Stocks
shots do Rio, Ana está numa reunião com Leonora, instalada por tempo
indeterminado na casa do filho. As duas trabalham em silêncio num computador
durante um certo tempo.
LEONORA:
(Rompendo o silêncio) Gosta da decoração deste apartamento?
ANA:
(Surpresa com a pergunta inesperada) Sim, sim senhora... É um lindo
apartamento, de muito bom gosto!
LEONORA:
Meu filho escolheu a decoração sozinho, recusou sumariamente qualquer ajuda
minha... Ele e sua criatividade ímpar são os únicos que conseguem dobrar meus
ímpetos de mãe controladora!
Ana
nada responde, apenas sorri constrangida.
LEONORA:
Você gosta dele, não é querida?
ANA:
Gosto sim, como não gostaria, o trabalho dele é impecável... Não atoa ganhou
tantos prêmios...
LEONORA:
Não estava me referindo ao âmbito profissional, apesar dos meus ouvidos
apreciarem seus elogios também. Perguntei no sentido humano, sentimental, gosta
do meu filho como homem?
Ana
torna-se rubra.
LEONORA:
Vejo as interações entre vocês, a cumplicidade que se formou tão
naturalmente... Formam um belo casal...
ANA:
Mas nós não somos um casal ainda, acho que a senhora se precipitou um pouco, estamos
apenas nos conhecendo... Aquele dia...
LEONORA:
Se apaixonará cada vez mais, meu menino é encantador, modéstia a parte.
Ana
sorri novamente, e tenta se concentrar no trabalho.
LEONORA:
(Mudando de assunto) Chamou minha atenção alguns diálogos que você escreveu...
Eles têm um tom muito pessoal...
ANA:
São apenas sugestões, não me cabe me aprofundar nessa tarefa...
LEONORA:
Vou os remodelar a meu gosto e tom pessoais, mas você merece meus elogios...
Diálogos muito bons... Para uma novata no campo de trabalho...
ANA:
Muito obrigada, seus elogios significam muito pra mim.
LEONORA:
Não se arrancam elogios da minha boca com tanta facilidade, sinta-se
privilegiada.
Ana
sorri novamente, tentando esconder seu constrangimento, CORTA PARA:
CENA
03 BISTRÔ DE UM SHOPPING INT/DIA
Ana
lancha um sanduíche de atum na companhia de Lívia. Um rapaz aparece e entrega
um buquê de flores a nossa heroína.
ANA:
Do Paulo!
LÍVIA:
Esse homem além de maravilhoso, bonito e cheiroso, é mágico também? Como ele
sabia que você estaria aqui, nesse horário...
ANA:
A gente já comeu aqui umas cinco, seis vezes... Deve ter decido arriscar, teve
sorte e acertou...
LÍVIA:
Então a coisa é séria, já está ciente dos lugares onde você vai e dos horários costumeiros...
ANA:
Acho que está mais sério ainda do que seria desejável...
LÍVIA:
Ele lhe mandou um buquê, e não uma coroa de velório!
ANA:
Ando meio irritada, é a TPM... E a dias não durmo direito, não sei como ando
aguentando trabalhar com a mãe! Tô quase jogando tudo pro alto: mulherzinha
presunçosa e insuportável...
LÍVIA:
Uma comédia romântica: filho perfeito e mãe megera...
ANA: Eu nem acho que ande contribuindo muito, para
falar a verdade: tudo o que eu faço ela teima em desfazer e fazer diferente...
Se eu sugiro algo, ela muda parece sentir prazer em levar a coisa para um lado
completamente diferente...
LÍVIA:
Vou marcar mais uma coisa no meu bingo de clichês: chefe carrasco!
ANA:
Mas é verdade! Acho que eu devo receber meu cachê apenas por que ela precisa de
alguém para torturar semanalmente: sou o ratinho nas mãos do cientista maluco,
servindo como cobaia para algum experimento maléfico! Mas vou calar a minha
boca, parar o bombardeio... Vamos falar de você, amiga, cadê a correntinha?
LÍVIA:
A que o Virgílio me deu? Não gosto de usar sempre, tenho medo de perder...
ANA:
Mas você sempre foi tão desprendida, até mesmo com coisas de valor...
LÍVIA:
Mas ela não deixa de ter um sentido simbólico... Se eu a perder, de certa forma
vou assumir a negligência que sempre me acusam de ter com as pessoas e os meus
afetos... Se eu a perder, vou o estar perdendo... Pra sempre!
ANA:
Felizmente não sou só eu que me derramo em questionamentos filosóficos...
LÍVIA:
Mas pode ser o contrário também, confesso que me sentiria um pouco presa,
andando pra todo lado com ela pendurada no meu pescoço... Preciso de um tempo
pra mim, preciso de liberdade...
ANA:
Vai colocar só quando estiver com ele?
LÍVIA:
Não! Vou colocar sempre que achar necessário, não vou fazer algo só pra
agradá-lo... Eu preciso ter ela ao meu lado, colocar quando o meu coração
pedir, com o Virgílio ou sozinha... Pra me lembrar, pra me sentir ao lado dele,
mas sem nenhuma pressão... Sem me sentir sufocada...
ANA:
Um dia ainda atinjo esse nível de espírito libertário!
Elas
terminam de comer, pagam a conta e vão embora, CORTA PARA:
CENA 04 CASA DE CARLA INT/DIA
Virgínia
faz uma visita a sua amiga de colégio, Carla. Mas ela não está novamente.
HELOISA:
Ela foi a uma apresentação da escola do meu neto!
VIRGÍNIA:
Mas eu avisei naquela minha última ligação, tenho algo muito importante a
tratar com ela!
HELOISA:
Recentemente ela resolveu retomar a carreira, em grande estilo numa produção de
época... Você deve ter lido sobre, está em todos os jornais e revistas... Mas
ela de forma alguma quer abandonar a educação do pequeno, então aproveita
qualquer brechinha para estar com eles! Me pediu para transmitir as mais
sinceras desculpas...
VIRGINIA:
Não eu não li nada a respeito, ando muito desatenta ao mundo dos famosos...
Será que ela vai demorar, eu posso esperar se não for incômodo...
HELOISA:
Logo, logo ela aparece aí, vou providenciar um café para a gente conversar...
Vou lhe mostrar um álbum lindo com fotos nos bastidores, fazendo aquela novela
das seis, inesquecível!
VIRGINIA:
Vou adorar... Traga adoçante, estou de dieta! Enquanto isso vou ao toilette!
Virginia
segue para o banheiro, olhando deslumbrada a decoração.
VIRGÍNIA:
Ela bem que poderia me presentear com um quadro chique desses, depois que eu
abrir os olhos da pobrezinha!
Ela
retira o celular da bolsa e começa a fotografar tudo.
VIRGÍNIA:
Quanto bom gosto, quanta finesse!
Entra
no banheiro com o celular na mão, retira fotos até da pia. Larga o celular e a
bolsa ali mesmo, abre e o usa o vaso sanitário. Lava as mãos, e se esquece que
pôs o celular em cima da toalha: assoviando, puxa com tudo e o celular cai
dentro da privada.
VIRGÍNIA:
Meu deus! Perdi as provas do crime!
Corte
rápido, ela passa pela casa recusa o café e sai de fininho.
HELOISA:
(Desapontada) Mas o café está tão cheiroso!
CORTA
PARA:
CENA
05 APARTAMENTO DE ANA INT/NOITE
Ana
chega em casa, cansadíssima, senta-se no sofá e se espreguiça antes de acender
a luz. Mas ouve um barulho e rapidamente liga o abajur.
ANNA:
Que demora... Passei o dia te esperando... E você chega cada vez mais tarde!
Cuidado, a cidade é bastante inapropriada para uma moça solteira!
Ana
não se assusta, apenas demostra estar resignada.
ANNA:
Estamos progredindo, desta vez não desmaiou ou quis me dar umas vassouradas!
Finalmente podemos ser boas amigas!
ANA:
Desisti, e minha vida anda tão bagunçada, que não vou mais lutar: vou me
internar num manicômio e assumir a loucura!
ANNA:
Pare, basta parar e respirar: você não está ficando louca, apenas precisa se
acalmar um pouco!
ANA:
A questão é que eu não quero me acalmar! Cansei de segurar a pressão, sempre na
iminência de explodir, me mantendo intacta, segura e dona de mim! Às vezes é
preciso extravasar, deixar a lava escorrer e fazer um belo de um estrago!
ANNA:
Isso querida, ponha pra fora, vai lhe fazer melhor!
ANA:
Eu devia procurar o primeiro abismo e me jogar de cabeça...
ANNA:
Ainda bem que não existe uma estação de trem aqui por perto...
ANA:
Cheguei ao fundo do poço, falar sozinha, com essa coisa...
ANNA:
Não vou lhe repreender desta vez por essa indelicadeza, mas apenas dessa vez!
Tanta raiva é por causa daquele desmiolado sem lugar e pouso?
ANA:
Não consigo separar os meus sentimentos, não sei onde termina e onde começa a
massa heterogenia que se move dentro do meu coração... Mas eu sei que uma parte
de tudo o que eu sinto, de melhor e de pior, é dele, é por causa dele...
ANNA:
Amores de longa-data, dores e ressentimentos antigos... Mas e o outro, aquele
bançudinho diretor de novela?
ANA:
Ele me faz bem, muito bem, mas eu me sinto um pouco mal: uma pessoa não é um
remedinho daqueles que se compra em farmácia, um analgésico que diminui a dor
por certo tempo... E mesmo se fosse, uma hora o efeito passa e a dor volta,
latente no nosso corpo...
ANNA:
Talvez um paliativo natural dê mais efeito a longo prazo!
ANA:
Eu não devia, mas eu me sinto traindo o Carlo, mesmo teoricamente o nosso
relacionamento não impedir esse tipo de coisa... Mas eu não sou desprendida
como ele, não consigo não me envolver, não consigo não sofrer...
Ana
levanta o olhar, como se quisesse pedir a opinião de Anna, mas ela não estava
mais ali: o fantasma evaporara da mesma forma que apareceu: do nada, CORTA
PARA:
CENA
06 EMISSORA EDUCATIVA INT/DIA
Stcoks
shots do Rio, anunciando o dia seguinte. Carla faz a prova final de um dos seus
figurinos, Ana observa encantada o trabalho final de Lola.
ANA:
Tô sem palavras...
Carla
se olha no espelho de corpo-inteiro.
LOLA:
Que tal as palavras “esplêndido” e “perfeito”, mas não se prenda ao meu léxico,
são apenas sugestões!
ANA:
Tenho medo não lhe fazer jus, minha amiga!
Carla
acena a cabeça para Lola em agradecimento.
CARLA:
Muito obrigada, querida e parabéns pelo trabalho impecável!
Lola
agradece com um sorriso.
CARLA:
Onde minha irmã se enfiou? Ela veio exatamente pra ver a prova final...
ANA:
Que coincidência, ela é minha aluna...
CARLA:
Ela gosta muito de literatura...
ANA:
Adoro os olhos dela, inquietantes, brilhantes, prestando atenção na minha
aula...
CARLA:
Imagino que certos alunos se distinguem naturalmente aos olhos dos mestres...
Lola
se agacha e começa a fazer a barra.
LOLA:
Em um minutinho eu resolvo isso aqui e a gente termina.
ANA:
Ela é uma menina muito aplicada, em tudo que faz, inclusive no que proponho nas
minhas aulas...
CORTA
PARA:
CENA
07 EMISSORA EDUCATIVA INT/DIA
Num
cantinho escondido, nos bastidores de um estúdio, Nando e Leila conversam.
LEILA:
[...] Parou de estudar, não foi?
NANDO:
Lá em casa alguém precisava trabalhar, a aposentadoria do velho não estava mais
dando pra cobrir as despesas...
LEILA:
Quando voltar...
NANDO:
Se eu voltar...
LEILA:
(Autoritária) E vai voltar, vai fazer algo relacionado a rádio e TV?
NANDO:
Não sei... Não necessariamente o que vou fazer no futuro precisa ter ligação
com o que estou fazendo agora, com o que eu sou no presente! Amanhã, dependendo
das minhas necessidades, e um pouco menos do meu humor, posso estar fazendo
algo totalmente diferente...
LEILA:
Seguindo o fluir da corrente...
NANDO:
Isso.
LEILA:
(Mudando de assunto bruscamente) E aquela menina?
NANDO:
Que menina?
LEILA:
Aquela atriz, aquela lourinha, que dançou com você aquele dia...
NANDO:
Nunca mais vi, mas devo cruzar com ela nas gravações...
LEILA:
Ela na frente das câmeras e você atrás...
NANDO:
Nessa conjuntura, duvido que ela vá me notar...
Os
dois se olham ternamente e se beijam, CORTA PARA:
CENA
08 EMISSORA EDUCATIVA INT/DIA
O
céu azul rebrilha, nenhuma nuvem ameaça despontar. Lê-se na tela: “Semanas
Depois”. Ana entra com uma pasta, sobe o elevador e anda pelo corredor em
direção em aos estúdios, em um deles encontra a sinalização de que estão em
atividade. Ela entra, em silêncio e começa a prestar atenção: Rodam a cena do
primeiro encontro de Anna e Vronsky na estação de trem, na verdade um grandioso
chorma key. Paulo dirige tudo meticulosamente, Carla e a atriz que interpreta a
mãe de Vronsky desembarcam de um vagão cenográfico e encontram o rapaz.
ANNA:
Durante o trajeto vossa mãe falou muito do senhor, Conde: sinto como se o
conhecesse a anos...
VRONSKY:
Espero que mamãe tenha falado de mim com certa bonomia, ou ao menos tenha
ocultado alguns dos meus defeitos de temperamento...
ANNA: As mães sempre tem a melhor visão
possível dos filhos, falo com propriedade, pois não para de pensar em meu
Aliocha como um anjo do Senhor caído do céu.
A
mãe apressa o filho: os dois precisam ir embora, Vronky beija a mão de Anna, e
os dois trocam um olhar demorado.
PAULO:
Agora!
A partir
da ordem do diretor, começa nevar: flocos de papel coloridos voam com ajuda de
um grande ventilador e o efeito é deslumbrante e original.
ANA:
(Maravilhada, para si mesma) Perfeito!
Paulo
vê o rosto de Carla num close no monitor.
PAULO:
Corta!
A
gravação termina, ouve-se o som do elevador parando. Paulo vai até a prima e
aperta as mãos dela.
PAULO:
Os seus olhos brilhavam tanto, irradiavam tanta luz, você precisa ver!
Ela
sorri, como uma diva do cinema em preto e branco.
PAULO:
Vamos parar por uns trinta minutos, depois voltamos com força total!
Carla
passa para o camarim, seguida de longe pelo olhar de Anna, CORTA PARA:
CENA
09 CASA DE BEATRIZ INT/DIA
Beatriz
está fortemente gripada, mas mesmo assim trabalha tirando as medidas de um
vestido de Heloisa, sua cliente de velha data.
HELOISA:
[...] Você terá tempo de sobra, as gravações mal começaram... Pretendo usar
esse vestido novo na estreia, na volta da minha querida filhinha à televisão!
BEATRIZ:
Fico muito feliz pela senhora e pela Carlinha, eu me lembro, fui eu a primeira
“figurinista” dela...
HELOISA:
Eu me lembro como se fosse hoje: você fez um vestido, todo azul
cor-do-mar... Com umas pedrarias...
BEATRIZ:
Pra mim azul sempre foi a cor da sorte, da paz... Eu sempre sinto coisas boas
ao olhar um céu límpido, um mar calminho...
HELOISA:
E deu sorte pra ela, ela passou naquele teste e virou uma estrela!
Beatriz
termina de medir, e as duas se dão as mãos.
HELOISA:
Minha amiga!
As
duas ficam um instantinho em silêncio, Heloisa põe a mão na testa de Beatriz.
HELOISA:
Beatriz? Está se sentindo bem? Sua testa está adernando em febre!
Beatriz
se levanta.
BEATRIZ:
É só um resfriado, tomei uma aspirina e já vai passar...
Ela
bambeia, as pernas moles, mas é acudida pela amiga. Nesse momento Alfredo entra
em casa.
ALFREDO:
O que aconteceu?
HELOISA:
Ela está doente, e provavelmente a dias sem se importar com isso! Vamos levar
ela para o quarto...
Os
dois levam ela para o quarto, CORTA PARA:
CENA
10 EMISSORA EDUCATIVA INT/DIA
Carla
olha-se no espelho do seu camarim, e retoca ela mesma com um pincel sua
maquiagem.
CARLA:
(Cantarolando) Prometa que não vai me abandonar de novo, que vai cuidar melhor
de mim e desse amor...
O
celular toca, inicialmente ela quer ignorá-lo, mas ele toca com tanta
insistência que ela se levanta, abre a bolsa e vai atende-lo.
CARLA:
Tô indo,.. Alô?
A
expressão despreocupada, aos poucos vai mudando e a decepção se escreve no
olhar da moça: ela senta-se e põe as mãos na cabeça, CORTA PARA:
CENA
11 APARTAMENTO DE GISELE INT/DIA
Gisele
chega da rua, procura o marido e não o encontra em lugar algum.
GISELE:
(Estranhando) Onde aquele tonto se enfiou?
Na
expressão de dúvida da moça, CORTA PARA:
CENA
12 AGÊNCIA DE EMPREGOS INT/DIA
A
CAM segue vários homens sentados esperando, de todas as idades e posições
sociais até uma mesa onde Lúcio está sendo atendido.
LÚCIO:
Eu aceito qualquer coisa, moça... O tempo em que eu exigência, como se eu fosse
o empregador e não um desempregado, ficou para trás!
MULHER:
Na sua área de atuação e com as suas qualificações, iria ficar muito difícil...
Mas tem uma vaga em aberto como faxineiro numa transportadora...
LÚCIO:
Como recusar?
A
moça sorri, tentando encorajá-lo, CORTA PARA:
CENA 13 EMISSORA EDUCATIVA INT/DIA
Ana
se aproxima de Paulo, e ele a abraça na frente de todo mundo.
BELLA:
Nada como pegar o chefe, para ascender na hierarquia do trabalho...
LOLA:
Você devia pegar um ator rico e famoso, pra te levar para os lugares certos e
te apresentar à as pessoas certas...
Bella
olha para Nando, que está resolvendo um problema na luz.
BELLA:
Infelizmente ando me interessando por alguém que está abaixo de mim...
LOLA:
Essa conversa parece saída de uma novela de época: escolha entre o pobre rapaz
anarquista e o filho de um barão!
As
duas caem na risada.
ANA:
Sua mãe não veio acompanhar as gravações?
PAULO:
Decidiu ficar em casa, sozinha... Espero que quando chegar em casa ela não
tenha mudado a decoração ou começado uma obra de última hora...
ANA:
Ela vive elogiando os eu bom gosto...
PAULO:
Ela elogia o que você faz, mas não quer dizer que não vai mudar tudo pro jeito
que dela...
Os
dois sorriem um para o outro. De repente, Carla sai do camarim correndo, aos
prantos e dispara para fora do estúdio.
PAULO:
O que aconteceu?
ANA:
Não sei, mas é melhor ir atrás dela!
Paulos
sai correndo atrás da prima, mas não consegue alcança-la: apenas a vê entrando
de roupa de época no elevador e ele indo embora, CORTA PARA:
CENA
14 EMISSORA EDUCATIVA EXT/DIA
Com
a maquiagem borrada e cabelo desgrenhado, Carla desce as escadas e sai pra
fora: um pedaço do seu vestido engancha num arbusto do jardim, e sem dó nem
piedade ela rasga parte dele para poder continuar o seu caminho. No meio da
rua, um carro para na iminência de atropela-la.
HOMEM:
Sai do meio da rua sua maluca!
Ela
olha para o homem e chorando sai correndo, CORTA PARA:
CENA
15 EMISSORA EDUCATIVA INT/DIA
Paulo
volta ao estúdio sem Carla.
PAULO:
Ela foi mais rápida que eu...
LOLA:
O que aconteceu? Por que ela saiu correndo, vestindo o meu precioso figurino!
ANA:
Nós nãos sabemos o que aconteceu...
PAULO:
Ela tava transtornada... Espero que não tenha acontecido nada grave...
Nando
se aproxima e chama Ana com um gesto para perto de si.
ANA:
Que cara é essa, menino? Aconteceu alguma coisa...
NANDO:
Meu vô me ligou...
Ana
reprime uma careta.
ANA:
Olha, se for dinheiro, eu não tenho nenhum comigo aqui... Mas posso ir tirar
rapidinho...
NANDO:
Não, não! Com o dinheiro que eu tiro daqui dá pra gente se virar de boas...
ANA:
Mesmo assim: teu primo deveria mandar alguma ajuda.
NANDO:
Ele tá fora do ar, até a gente conseguir captar algum sinal dele... Mas não é
sobre isso, não... O velho me mandou lhe avisar: sua mãe passou mal!
ANA:
(Surpresa) O que ela tem?
NANDO:
Teve umas tonturas, ameaçou uns desmaios... Ele tá lá com ele... Mas você é a
filha, né...
ANA:
Obrigada por dar o recado, vou dar uma passada lá...
Ele
acena com a cabeça, e ela volta para perto de Paulo.
ANA:
Vou indo, tive um problema lá com a minha mãe, vou dar uma olhadinha dela... E
me mantém informada...
Ele
beija-lhe o rosto.
PAULO:
Mas tarde te ligo.
Ela
solta delicadamente a mão dele e sai, CORTA PARA:
CENA 16 BAIRRO NOBRE EXT/DIA
Quase
no fim da tarde, Carla ainda anda desnorteada pela cidade, soltando lágrimas
esporádicas: praticamente já está desidratada. Um táxi quase a atropela de
novo: o motorista faz cara feia, mas num lapso de consciência, abre a porta do
veículo e entra.
TAXISTA:
Ficou louca? Quer morrer ou uma carona?
CARLA:
Toca, quando nós estivermos rodando, eu te digo aonde parar!
O
taxista reluta, mas olha bem para o estado da moça, tem piedade e o carro sai.
FIM DO CAPITULO.
Nenhum comentário:
Postar um comentário