Nada Será Como Antes - A Patroa de Jusbrida

Olá, hoje faço este post com uma ideia completamente original e nunca antes vista: Relembrar uma novela luxuosa da televisão brasileira.
Mas não falarei de uma novela, e sim de uma série, uma puta série boa que infelizmente passou em branco na exibição original. Você que está lendo provavelmente nem deve se lembrar de sua existência.
Sim, estou falando dela, o luxo ignorado por todos, menos por mim. Nada Será Como Antes!

Jorge Furtado, o autor da série, vinha querendo emplacar uma produção sobre a chegada da televisão no Brasil, há muuuuitos anos, but sempre era barrado, mas em 2016, ele finalmente conseguiu botar seu tão ansiado projeto no ar, para a alegria de todos os 25 nadaserácomoantesfãs espalhados por todo Brasil!

História


A trama que se passa no Rio de Janeiro, no começo dos anos 50, começa quando Saulo (Murilo Benício), dono da rádio Guanabara, tem uma ideia ousada, cara e arriscada: inaugurar a primeira emissora de televisão no Brasil. Mas pra isso, ele precisa de um investidor, e encontra um, Otaviano (Daniel de Oliveira) um pleyba (bjs reginão, mocinha do novelão do meu próximo post, não percam!) riquinho que planeja se lançar como político, com a ajuda de seu pai, Pompeu (Osmar Prado)

Paralelo à isso, temos a relação de Saulo com sua esposa, Verônica (Débora Falabella), antiga estrela da rádio Guanabara. Os dois tentam ter um filho, mas nunca conseguem. Saulo resolve fazer um exame e descobre que é estéril, assim ferindo sua masculinidadezzzzz, o que faz com que ele não conte isso para Verônica, e sim que se divorcie dela, sem mais nem menos. 
Verônica achando que Saulo pediu o divórcio por ela mesma ser a culpa dois dois não terem filhos (isso porque ele já tinha revelado que teve um caso com uma garota quando jovem e ela engravidou) tem um caso de uma noite com um ator de Hollywood que estava de passagem no Brasil para prestigiar a estreia da TV Guanabara e chocantemente, engravida dele! Causando a ira machista ridícula de Saulo.

Paralelo à isso temos Beatriz (mais conhecida como Marilyn Monroe brasileira) uma mulher jovem, deslumbrante, que mantém um caso com Otaviano, e com a ajuda dele, emplaca na TV Guanabara já na primeira novela da emissora, baseada no romance Anna Karenina, protagonizada por Verônica. A personagem de Beatriz bomba entre o povão, ganhando espaço na novela e fazendo a mocinha de Verônica, virar quase uma figurante na própria novela, o que obriga os roteiristas à transformarem sua personagem na grande vilã da novela (fazendo referência aos autores atuais que ainda são obrigados à mudar personalidades, cortar tramas e até matar personagens seguindo a preferência do público).
Mas por trás da imagem de femme fatale de Beatriz, se esconde uma garota doce, até ingênua, de origem humilde, mas com um passado triste e horrível, filha de uma empregada doméstica, Odete (Cassia Kis), que Beatriz traz para morar com ela depois que fica famosa.

A série também aborda o racismo e a homofobia (que na época, era bem mais pesada que atualmente) com os personagens Péricles (Fabrício Boliveira), um ator negro, muito famoso pela sua voz, por ter sido mocinho de várias rádio-novelas, mas que não consegue uma chance na televisão pela sua cor.

E pelo personagem Rodolfo (Alejandro Claveaux), o maior galã da TV Guanabara, mocinho de todas as novelas, que tenta manter em segredo da imprensa sua homossexualidade, pois se descobrissem, seria o fim de sua carreira.


Polêmicaxxx

Como toda boa produção de horário tardio da Rede Globo, a série lançou suas ousadisses.
E tudo num mesmo núcleo, o do triângulo amoroso semi-incestuoso de Beatriz, Otaviano e Júlia (a fada da atuação, Letícia Colin) que protagonizaram algumas dezenas de cenas pesadinhas de sexo (mesmo assim, o romance entre os irmãos, era apenas insinuado, nunca rolou nenhum beijo entre eles)
Ao decorrer da trama, Beatriz descobre estar verdadeiramente amando Júlia, um sentimento que ela não sente por Otaviano.

Na reta final da série, Davi (Jesuíta Barbosa) um bêbado cantor de bar, entra na história como novo caso de Beatriz, o que não agrada nenhum pouco os irmãos, principalmente Otaviano.


Audiência e Repercussão

A série não foi exatamente um flop, sendo exibida semanalmente, manteve uma média de 18 pontos (quaaase a meta do horário) durante toda a exibição.

Em repercussão, ela teve, mas só que pelos motivos errados.
Enquanto sua "antecessora" Jusbrida, fazia sucesso não só pela putaria, e sim por todo o conjunto (menos a trama de sexta do Cauã que era um lixo, nem a Drica salvou aquilo), Nada Será hitava apenas nos dias em que a diva Bruna Marquezine aparecia nua simulando um sexo oral.


Pontos Positivos e Negativos


No geral, a série foi muito boa, ela tem um cara de ser lenta e barriguda, mas é só aparência mesmo, os autores fizeram algo muito parecido com o atual 'rodízio" de núcleos da Gloria Perez em A Força do Querer, ou seja, a cada 2, 3 episódios, a série focava em uma trama, o que possibilitou à todos os atores terem seu grandes momentos em cena.

E por falar em elenco, TODOS estavam muito bem em seus devidos personagens.
Destaque para o principal "quarteto feminino" da série:

Débora Falabella, que sempre impressiona por sua versatilidade e entrega total, fez muitas cenas lindas e ao mesmo tempo tristes com Isabela Dragão (atualmente no ar em Novo Mundo, como Cecília), com a kid que interpretava seu filho, Thiago, e principalmente com Murilo Benício, também seu marido na vida real.

Letícia Colin, deusa felizmente e finalmente reconhecida pelo povão agora em Novo Mundo, também pisava como a Júlia. Letícia deu um ar de frieza e solidão maravilhoso à personagem.
A sua cena final dela é memorável!

Cassia Kis sempre surpreende o povo tudo com seu talento, e em Nada Será Como Antes, ela não fez diferente. É bem triste ver como a Odete era uma mulher sofrida, passou por muita coisa horrível na vida, mas mesmo assim, sempre tinha ânimo pra sorrir quando via sua filha, Beatriz.

Bruna Marquezine, a dona da geração dá vontade, né Emília teve na série, a melhor personagem da carreira (e pelo visto, vai continuar sendo, já que foi escalada pra fazer mais um circo das 19h ano que vem). Beatriz era a personagem mais difícil e complexa de toda a trama, mas Bruna com seu carisma e extremo talento dramático arrasou em todas as cenas, e fez jus ao texto delicado da personagem.

Destaque para TODAS as cenas de mãe e filha entre Beatriz e Odete, eram a coisa mais fofa do mundo, principalmente uma em que Beatriz ensina como ligar a televisão para a mãe (que nunca tinha visto uma antes)

Um ponto negativo pode ter sido o filtro usado, um amarelo alaranjado completamente saturado, bem desconfortável de se aguentar, mas nada que impeça ninguém de aproveitar a série.


Para terminar, fiquem com a ótima abertura da série (que tem mais duas outras versões alternativas) com uma filmagem interessante em que a câmera passeia por todos os núcleos dentro de uma tela de tv dos anos 50, ao tema do hino jazz Try A Little Tenderness em um cover da Cássia Eller.


E espero que com esse post, quem perdeu a série ou simplesmente não quis ver na época em que estava sendo exibida, tenha se interessado e agora dê uma chance à esse luxo futuramente cult!