VIAGEM NO TEMPO: 1989. Um Brasil esperançoso cercado de queridos amigos.



 Dia 20 de julho foi o Dia do Amigo e para essa passagem não passar em branco vamos relembrar Queridos Amigos, minissérie de 25 capítulos, escrita por Maria Adelaide Amaral e direção de Denise Saraceni.

 Uma pequena análise:

          Doze amigos inseparáveis que viveram num país dominado por militares e se reencontram em 1989 com um outro contexto histórico. Maria Adelaide Amaral soube retratar muito bem o final dos anos 80 com um texto primoroso que falava da retomada não só de um grupo de amigos, mas também da esperança de um país pós ditadura com tudo o que estava acontecendo de mais atual naquela época, não só no campo político como também no aspecto social. Ela retratou muito bem o homossexualismo nos anos 80, a chegada da AIDS, o convívio dos travestis com famílias tradicionais, as revistas pornográficas, a febre das bandas de Rock e tantas outras coisas que fizeram parte do final da década de 1980.
          Denise Saraceni soube muito bem encaixar as trilhas sonoras que marcaram os anos 80 nas cenas da minissérie com uma recriação incrível de um país, cuja população estava otimista com as primeiras eleições diretas pós ditadura. Denise também fez um trabalho especial com os 12 atores que viveram os amigos, deixando eles conviverem juntos por um mês numa casa, antes de iniciar as gravações para que eles adquirissem afinidades. Deu tão certo que a amizade do grupo parecia super real em cena e os atores transmitiam amizade de anos.


 Eu já estou com o pé nessa estrada, qualquer dia a gente se vê ... Sei que nada será como antes...


Anos 70: Léo (Dan Stubach),  Lena (Débora Bloch), Ivan (Luiz Carlos Vasconcelos), Bia (Denise Fraga), Pedro (Bruno Garcia), Benny (Guilherme Weber), Tito (Matheus Naschtergaele), Vânia (Drica Moraes), Raquel (Maria Luísa Mendonça), Pingo (Joelson Medeiros), Lúcia (Malu Galli) e Rui (Tarcísio Filho) formam um grupo de amigos jovens que exalam sonhos, ideias e a luta por um país em melhor em meio à ditadura militar.
Esse grupo com o passar dos anos vão criando laços e conflitos, muitos engatam romances, se casam, se separam, brigam e muitos deles acabam ficando sem se falar por algum tempo.Alguns são exilados por se envolverem com a política e retornam após o fim da ditadura.

1989:  Léo (Dan Stubach) mora na Serra da Cantareira em São Paulo isolado de todos com a companhia da namorada Karina (Mayana Neiva).  Quando  Léo descobre uma grave doença, resolve resgatar seus antigos sonhos da juventude e  tenta se reaproximar de seu grupo de amigos que não vê reunido há anos.

 

A doença de Léo piora e ele se recusa a fazer os tratamentos. Para ele o seu remédio é viver feliz ao lados das pessoas que ele mais ama nos últimos dias que ainda lhe restam de vida e passa a dedicar esses momentos finais de sua vida em reaproximar e unir todos os amigos novamente, mesmo sendo uma árdua tarefa, já que muitos ficaram com relações estremecidas ao longo do tempo. Será que Léo vai conseguir reunir  e resgatar a amizade dos 12 amigos  antes de sua morte?

O que feito, amigo, de tudo que a gente sonhou? O que foi feito da vida? O que foi feito do amor?


Benny (Guilherme Weber), homossexual assumido e autodestrutivo. Vive se envolvendo com drogas e confusões. Por conta do preconceito veste uma máscara de arrogante, mas no fundo é um poço de generosidade com aqueles que ama. No passado era apaixonado por Pedro (Bruno Garcia) e no reencontro dos amigos choca ao aparecer acompanhado da travesti Cíntia (Odilon Esteves) e jogar verdades na cara de todos os amigos, mas no fundo todos sabem que essa acidez dele é na verdade um pedido de socorro.

Bia (Denise Fraga), talvez seja a amiga com maiores traumas no grupo. Nos anos 70, ela foi torturada após sair da Escola de Artes Dramáticas em São Paulo. Essa violência a deixou com vários complexos, mas mesmo assim ela continua uma pessoa doce que sonha com um grande amor. É astróloga e vive fazendo o mapa astral dos amigos. Ela também tem conflitos com sua mãe, Iraci (Fernanda Montenegro) por não ter progredido na vida. Bia diz que fracassou na vida pelo posicionamento de Saturno no seu mapa astral.

Vânia (Drica Moraes) e Tito (Mateus Nashtergaele) foram casados nos anos 70 e tiverem dois filhos, mas o engajamento político dele com a extrema esquerda marxista o afastaram da esposa que acabou se divorciando e se casando com Fernando (Tato Gabus) que é o oposto do ex marido. Mas Tito nunca esqueceu a ex esposa e ainda tem esperanças de reconquistá-la.


Raquel (Maria Luísa Mendonça) e Pingo (Joelson Medeiros) formam um casal feliz com quatro filhos, mas tudo desmorona quando ela descobre que o marido tem um caso com uma aluna e eles acabam se separando. Raquel entra em depressão e com a ajuda de Léo resolve sair da angústia e fugir sem rumo para se encontrar e é onde ela conhece uma banda de rock na estrada e acaba recuperando a felicidade.

Lena (Débora Bloch) larga o casamento e a filha para viver um amor com Ivan (Luiz Carlos Vasconcelos), mas ele não tem coragem de abandonar a esposa e Lena acaba ficando sem saber o que fazer, pois acabou perdendo o amor da filha. Ela foi namorada de Léo na adolescência e depois tornaram grandes amigos. Léo é o responsável por reaproximar Lena da filha e fazer com que Ivan se separe e assuma Lena.

Pedro (Bruno Garcia) se isolou dos amigos após a morte de seu grande amor, Márcia (Luli Muller), com a volta de Léo ele acaba voltando a interagir com os amigos e se apaixona por Lúcia (Malu Galli) que é casada com seu amigo Rui (Tarcísio Filho) causando um grande conflito na amizade do grupo. Rui é médico e é o único que sabe da doença de Léo.

Fernanda Montenegro: Um espetáculo à parte

Sem dúvidas, as cenas mais emocionantes de Queridos Amigos ficaram a cargo de Iraci (Fernanda Montenegro). Ela era a mãe de Bia com quem vivia um relacionamento cheio de conflitos pelo fato da filha estar desempregada e nunca ter dado certo no trabalho e no amor. Mas apesar desse conflito, Iraci se mostra uma grande mãe e resolve ir atrás do torturador de sua filha que foi o responsável por deixar Bia tão traumatizada. As cenas de diálogos entre Fernanda Montenegro e Denise Fraga eram de arrepiar e um dos momentos mais aguardados é quando Bia fica frente a frente com seu torturador.

Se em casa Iraci tinha uma vida com muitas discussões, na rua ela só queria saber de se divertir. Ela adorava sair para bailes e dançar com seu namorado Alberto (Juca de Oliveira) e aproveitar a vida da melhor maneira possível ao contrário de sua filha Bia que acabou se isolando.

Vale a pena conferir a chamada da personagem:




Por trás das câmeras ..

Maria Adelaide Amaral escreveria uma minissérie sobre Maurício de Nassau, mas devido ao alto custo a Globo cancelou e pediu que a autora entregasse outra sinopse. Dan Stubach que viveria Nassau na minissérie sugeriu à Maria Adelaide que adaptasse seu livro "Aos Meus Amigos".

Queridos Amigos é uma adaptação do livro escrito por Maria Adelaide Amaral chamado Aos Meus Amigos. 

Guilherme Weber foi eleito o melhor ator de 2008 pelo homossexual Benny.

Os teasers da minisséries eram bem caprichados e se alternavam mostrando os 12 amigos em situações diferentes como o casamento hippie de Léo em 1982, o reveillón de 1989 e também a chegada de alguns amigos que foram exilidos retornando ao Brasil após o fim da ditadura.


A minissérie retratou o universo das travestis de forma bem realista e nada caricato. Com bastante cenas de dramas e mostrando o preconceito que elas enfrentam para ter uma vida normal na sociedade. Uma das cenas mais marcantes é quando a travesti Cíntia (Odilon Esteves) chega na casa dos amigos de Léo e ao brincar com as crianças, uma delas perguntam se ela é homem ou mulher e Cíntia responde emocionada "Eu sou gente.".

Amigo é coisa para se guardar, debaixo de sete chaves, dentro do coração ...

A chamada da minissérie é linda ao som do Milton Nascimento que foi responsável por várias músicas da trilha sonora.





Sei que nada será como está, amanhã ou depois de amanhã...

Finalizo o post com a abertura lindíssima de Queridos Amigos que mostra um brasileiro correndo com a bandeira do Brasil em meio as obras de arte do artista plástico Elifas Andreato que representavam as mudanças do país entre as décadas de 1970 e 1980.



Espero que tenham gostado e um grande abraço aos meus queridos amigos!