Série escrita por: Thiago Figueroa
Personagens deste episódio
RITA.....................................................................ROSAMARIA MURTINHO
LEONORA...............................................................GLÓRIA MENEZES
DIONÍSIO................................................................LIMA DUARTE
CARLOS...............................................................ARY FONTOURA
MARGO....................................................................BIA NUNNES
ALBERTO..............................................................CÁSSIO GABUS MENDES
Cena 1. Rio de Janeiro
Tela preta onde lê-se em letra brancas garrafais:
RIO DE JANEIRO
1976
SONOPLASTIA: (Até o fim desta cena)
Takes alternados. Surgem imagens da faixada de uma emissora de televisão, de câmeras antigas, diretores gravando cenas de atores, salas de edição e diferentes pessoas assistindo televisão em suas casas.
Dionísio (V.O) – Televisão, desde o seu surgimento alimentando sonhos, seja dos milhões de telespectadores que deixam de lado a realidade para embarcar nos diversos mundos que a imaginação pode oferecer em um simples objeto, ou dos que querem ganhar a vida contribuindo para a formação dessas realidades alternativas, na frente ou atrás das câmeras. Mas há grandes histórias que acontecem quando os holofotes estão desligados.
corta para:
Cena 2. Rio de Janeiro. Premiação. Interior. Noite.
Durante uma premiação, uma atriz está recebendo seu prêmio enquanto Rita Spencer observa em sua mesa.
Atriz – É uma sensação indescritível! Eu realmente não esperava que esse momento chegaria,
Close em Rita em sua fazendo cara de indiferença enquanto olha para a sua taça de dry martini
Atriz - (Em off) mas é só a consequência de um trabalho que eu busquei sempre me empenhar com muita dedicação. O que realmente importa é ter alcançado o reconhecimento, concorrer com Rita Spencer me parecia algo inatingível (Estende o braço em direção à Rita).
Rita, sorrindo falsamente, levanta sua taça em direção à atriz
Rita – (Cochichando com Margo) A gente já se conheceu?
Margo – (Também cochichando) Foi ela que te mandou aquelas orquídeas!
Atriz – Só tenho a agradecer por esse momento! Muito obrigada!
Todos aplaudem, incluindo Rita, que novamente esboça um sorriso falso.
Rita – Sabe que essa nem era tão ruim! Ao menos teve mais falas que cenas com decote.
Leonora se aproxima das duas.
Leonora – Não acredito! Rita, querida!
Rita – Leonora! Não esperava te ver por aqui!
Leonora – Eu não esperava te ver por aqui! Achei que você ia fazer que nem aquela esquisita da Katharine Hepburn e se esconder em uma caverna (Risos). Mas eu não culpo nenhuma das duas, porque tem vezes que até eu penso em espairecer.
Rita – Muito cansativo conduzir o seu programa? (Pega uma taça de Martini que estava na bandeja de um garçom).
Leonora – Você não imagina o quanto! Essa cidade está cheia de amadores que só podem ter entrado em uma emissora pulando o muro ou subornando os seguranças.
Leonora nota alguém a chamando e anda.
Rita Spencer – Eu vi ontem sua entrevista com aquela atriz que faz a protagonista dessa novela das nove, qual o nome dela mesmo? Ando tão atônita que acabo esquecendo alguns nomes (Risos).
Leonora – Por isso que você precisa aparecer mais no clube! Você joga um pouco de carteado e de brinde só é importunada por algum garçom oferecendo drink.
Leonora se afasta.
Rita – Curiosa para saber qual canastrona ela irá entrevistar amanhã.
corta para:
Cena 3. Mansão de Rita. Interior. Manhã.
A cena começa mostrando a fachada da mansão branca de Rita com um enorme jardim na frente. Pequeno corte para Margo colocando um quadro antigo de Rita no lugar até que é interrompida pela campainha e se dirige até a porta, revelando Carlos Menezes do outro lado com uma sacola na mão.
Margo – A dona Rita está ocupada!
Carlos – Ah! Mas eu tenho certeza que ela vai adorar me ouvir!
Margo – Ela me avisou que se fosse o senhor, você diria algo parecido com isso!
Carlos - (Entrando) Ela de qualquer forma iria para a minha sala! Ao menos vou poupar aborrecimento.
Outro corte para uma sala da mansão onde Rita canta “On the Sunny Side of the Street’’ em pé com um pianista. Até que Carlos aparece, os interrompendo. Margo aparece logo em seguida.
Margo – Me desculpe! Ele foi entrando...
Rita – (Olhando para o pianista) Vitor! Acho que você já pode fazer um intervalo! (Sinaliza com a cabeça para ele se retirar).
Margo acompanha o pianista para fora da sala.
Rita – Menezes! Eu prefiro que você me avise antes de aparecer! (Anda até um móvel e enche um copo com duas pedras de gelo e whisky) Não gosto de ser pega de surpresa!
Carlos – Tentei falar com você ontem, mas você sumiu da premiação!
Rita – Você sabe que eu só fui para entregar um prêmio para o Raul Cortez. Como ele é um grande amigo meu, eu não poderia recusar.
Carlos – Eu trouxe as fitas daquela sua última novela! Essa você não me pediu, mas não custa deixar de recordação.
Rita – Obrigada! (Faz uma pausa) Mas e então, Menezes, eu até queria falar com você, porque eu queria fazer alguma coisa na televisão.
Carlos – Mas você não acabou de fazer uma novela ano passado?
Rita – Eu nem gravei tantos capítulos! E fiquei sentada em quase todas as cenas!
Carlos – Bem... Eu posso dar uma olhada nos projetos dos autores e te avisar se achar alguma coisa interessante!
Rita – Eu agradeço!
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Cena 4. Rio de Janeiro. Teatro/Casa de Carlos Menezes. Camarim de Rita/Quarto. Interior. Noite.
Fachada do teatro. Aparece algumas pessoas saindo do local. Corta para Rita em seu camarim falando ao telefone.
Rita – Alô, Menezes?
Carlos – Rita? Uma hora dessas?
Rita – Eu preferi terminar minha peça antes de falar com você.
Carlos – Já leu os roteiros?
Rita – Já li sim... (Em tom irônico) Qual você acha que eu deveria fazer: A Bibliotecária rancorosa, a alienígena, ou uma das dez mães megeras?
Carlos – A minha parte eu já fiz, os roteiros que ultimamente não querem contribuir.
Rita – Após os quarenta você percebe com mais facilidade. Em um deles eu era mãe do Carlos Zara!
Carlos – Fiz o máximo que eu estava ao meu alcance. Mas você sabe como é, não é todo dia que nasce um “Crepúsculo dos Deus’’. Trabalhar nessa área é entrar em um palheiro para procurar uma agulha
Rita – Provalvemente as agulhas foram para outro lugar, devia trabalhar nisso.
Carlos – Você é tão sagaz. Talvez seus problemas sumissem se você pensasse na carreira de roteirista, .
Rita – Quantas atrizes da emissora você acha que abandoram a carreira e foram pra escrita?
Carlos – Quantas atrizes você acha que ligam pra mim tarde da noite para conversar porque estão sem papéis?
Pequeno corte para margo aparecendo para falar com Rita após a ligação.
Margo – O público parece que adorou a peça! E a crítica também, li ótimos comentários nos jornais.
Rita Spencer – Quais jornais? Os mesmos que são capazes de tecer comentários terríveis se for conveniente? Nem se eu estivesse no auge da decadência uma nota positiva em jornal seria minha luz no fim do túnel. Não se esqueça, desgraças são insumos dos jornais.
Interrompendo a conversa das duas, Dionísio bate na porta e entra.
Dionísio – Boa noite! A estrela de um grande espetáculo merece flores.
Rita Spencer (Rindo sarcasticamente) – Olha só quem veio acompanhar de perto a queda de uma estrela. Pensei que estivesse ocupado demais, tenho certeza que a TV Astro por esses tempos anda demandando mais trabalho que o habitual.
Dionísio – Você sabe que eu sempre tenho tempo para ver espetáculos no teatro. Vim correndo quando eu soube que essa era a última noite em cartaz. Você estava ótima como sempre!
Dionísio estende a mão para beijar o dorso de Rita, que revira os olhos, mas acaba aceitando mesmo que com desdém
Rita Spencer – Obrigada!
Dionísio – A peça estava ótima também! Acho que foi uma das melhores adaptações de ‘’Um Bonde Chamado Desejo’’ que eu já vi!
Rita Spencer – Que bom que gostou! Te espero em outros trabalhos.
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Cena 5. Rio de Janeiro. Teatro. Corredores do Teatro. Interior. Noite.
Rita e Margo estão andando pelos corredores do teatro até a saída.
Rita – Quem estamos querendo enganar? Tennessee Williams seria esfolaria vivo esse autor que desfigurou um “Um Bonde Chamado Desejo’’. Mas até que um pouco de bajulação é bom. Talvez se Norma Desmond visse fãs, teria evitado uma tragédia.
Margo – Só acho que há formas menos calorosas de se pedir um autógrafo.
Rita – Ai, Margo, sempre imaginativa! Você que deveria virar autora!
Margo – Bem... Se eu fosse aproveitar algumas histórias que eu já vi...
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Cena 6. Flashes
Rita anda pela sua mansão segurando as flores que recebeu de Dionísio.
Rita – (V.O) As flores mais bonitas que eu já recebi foram de um empresário do ramo de tabaco. Eu nem imaginava que daquelas viriam as alianças. Na época eu ainda ficava receosa com os empresários fascinados por mim. Eu achava que eles só queriam um trofeu, mas eu prefiro acreditar que eu só me acorrentei com os que se identificavam com a minha forma prática de ser.
Rita coloca seu buquê em uma sala da sua mansão que tem alguns vasos com flores e um quadro enorme com uma pintura da atriz ao lado de um tigre.
Rita – (V.O) Meu pai, um empresário de Chicago odiado pelos hippies, sempre disse que um dia eu me casaria com um homem de negócios. Era um desejo, e parece que o destino, por eu nunca ligar para os negócios da família, resolveu dar um jeito de transformar a minha casa em uma coluna sobre a bolsa de Wallstreet. De alguma forma, esse universo viria até mim.
Foco em Rita, usando um vestido branco de noiva, se casando com um homem elegante de terno.
Rita – (V.O) Eu só não imaginava que seria quatro vezes... Sim! Quatro casamentos! Sempre de branco, porque eu gosto de sentir que é a primeira vez. E sempre no exterior, porque eu sabia que poderia não ser o último.
A câmera se afasta e revela que o casamento estava acontecendo em uma capela vazia de Las Vegas, sendo realizada por um mestre de cerimônias vestido de Elvis Presley.
Rita – (V.O) É óbvio que eu sempre quis que dessem certo, mas não escrevo os roteiros sozinha e nem deixo que assumam a minha parte.
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SONOPLASTIA: (Até o fim da cena 7)
Na portaria do clube, a entrada de Alberto é barrada.
Porteiro – Me desculpe, senhor Alberto Spina, mas a direção do clube me mandou barrar sua entrada.
Alberto – Só pode ter alguma coisa errada!
Porteiro – Tem mesmo! O senhor está há seis meses sem pagar a mensalidade.
Alberto – Mas eles me deram mais dois meses!
Porteiro – Sim! Dois meses atrás.
Rita, com um chapéu e óculos escuros, aparece vinda de dentro do clube.
Rita – Pode deixar entrar! Ele está comigo!
Pequeno corte para Rita e Alberto andando pela grama do clube.
Rita – E então? Como está a Beatriz?
Alberto – Provavelmente feliz com o novo noivo em alguma cidade do interior da França.
Rita se compadece de verdade.
Rita – Eu sinto muito!
Alberto – Ela reclamava faz tempo, mas não achei que chegaríamos a esse ponto.
Rita – Acredite! Eu sei bem como é!
Alberto – Aceita que eu te pague um drink?
Rita – Acho que valho mais que um drink (Risos)!
Alberto – É que eu gosto de um drink quando vou discutir assuntos importantes.
Rita – Assuntos importantes eu deixo para discutir longe de ouvidos alheios.
Alberto – Isso tudo foi para quê, então?
Rita – Ajudar um amigo em necessidade!
Alberto – Só tive um pequeno desentendimento com o estúdio. Não existe receita certa para um filme ir bem de bilheteria.
Rita – Você não precisaria disso se tivesse seguido a minha ideia de fazer um filme sobre a Dóris Duke. Eu já estava até preparada.
Alberto – Mas e então... Como eu posso te retribuir?
Rita – Que tal indo me fazer uma visita amanhã?
Close no rosto de Rita.
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Cena 8. Rio de Janeiro. Mansão de Rita. Entrada/Sala. Interior. Manhã.
Rita recebe Alberto em sua mansão e o leva até a enorme sala de estar.
Aberto – É uma bela casa. A decoração clássica é um primor. Poderia facilmente se localizar em Sunset Boulevard.
Rita – Quem dera eu estivesse em Hollywood. O meu único problema era o mau gosto horroroso que o meu marido tinha para artigos de decoração, tinha que ver os quadros que ele comprava, por sorte consegui vender todos, menos um que eu fiz questão de quebrar na sua frente.
Alberto – Mas imagino que não tenha me chamado para me mostrar os detalhes da sua mansão.
Rita – Claro! Por curiosidade, quanto tempo leva para escrever? Você perdia muitas horas, dias, meses?
Alberto – Depende muito do autor e do projeto em questão. Uma novela, por exemplo, demanda muito mais tempo que uma série. Acho que já entendi onde quer chegar.
Rita – Imagino que um autor com uma carreira relativamente iniciante na área e com a sua sofisticação seja a pessoa ideal para valorizar uma atriz de qualidade.
Alberto – Já entendi, então quer eu traga o seu brilho de volta?
Rita – Não se trata disso! Trata-se de fazer o público ávido por beleza vazia superficial voltar a reconhecer o genuíno e puro talento. Eu continuo grande, certas cabeças que ficaram pequenas!
Alberto – Não sei se eu seria a pessoas indicada
Rita – Claro que é, quem melhor que alguém que já trabalhou com a Janete Clair e já assistiu Sunset Boulevard? Sei que logo logo terá um projeto em mente.
Alberto – Na verdade eu acho que tenho sim uma ideia, mas não sei se vai funcionar.
Rita – Ótimo! Margo, traga uma bebida para o rapaz! Você bebe não é? Aposto que sim. Traga um whisky! sabia que é uma bebida que fica mais forte com o tempo? Agora... Me conta um pouquinho do que você tem em mente...
SONOPLASTIA: (Até o fim da cena 8)
corta para:
Cena 9. Takes alternados do Rio de Janeiro. Exterior. Manhã.
Takes alternados do Cristo Redentor, de Copacabana, da Barra da Tijuca e da fachada da TV Astro.
corta para:
Cena 10. Rio de Janeiro. TV Astro. Sala do diretor de dramaturgia Carlos Menezes. Interior. Manhã.
Alberto – O que você acha da ideia?
Carlos – Você quer mesmo saber?
Alberto – Essa série que eu quero fazer tem uma atriz decadente rivalizando com uma escritora frustrada... Não sei o que pode dar errado!
Carlos – Alberto, o problema não é a história, é você! Acho que depois daquela sua última novela, você deveria tirar uns 3 anos para pensar em algo. No momento não podemos sair gastando com qualquer projeto. O último autor nos fez reconstruir um Velho Oeste americano.
Alberto – Mas esse nem vai ter tanto custo! São só duas atrizes e um único cenário para grande parte das cenas.
Carlos – Talvez esse tipo de trama ainda tenha algum apelo. Acho que tenho alguns nomes em mente.
Alberto – Eu pensei na Rita como uma das duas protagonistas.
Carlos – Você não melhor duas atrizes mais novas? Rita já teve o seu auge! Não é ele que chamará o público.
Alberto – Ela ainda tem muitos fãs, nisso você pode acreditar! Fui em sua casa e tinham mandado cartas e um disco do Cole Porter.
Carlos – Será que ela faz os fãs cortaram a grama daquele jardim que nem a Joan Crawford fazia?
Alberto – Mas ela ainda é uma estrela!
Carlos – E ela sabe disso! Me deu muita dor de cabeça me ligando às 3 da manhã reclamando de diretor, reclamando dos roteiros...
Alberto – Você sabe que eu não sou o único precisando de um sucesso! Os rostos atuais te garantem a audiência que você precisa? O que se faz em time que está perdendo?
Carlos – Ok! Você pode ter razão. E parando para pensar um pouco, acho que sei qual atriz seria perfeita para estrelar ao lado de Rita!
Fim do primeiro episódio
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