Episódio 08: “Ela causa inveja”
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01:
2012 | RIO GRANDE DO NORTE | PRAIA DE SIBAÚMA
| DECK | TARDE.
SONOPLASTIA: GIRL GONE WILD; Madonna.
Está acontecendo o concurso de beleza “Garota
Verão Potiguar 2012”. A plateia observa cada uma das concorrentes que vem numa
passarela improvisada para desfilar de biquíni, ao som de aplausos, gritos de
animação e assobios da plateia e indo de encontro ao apresentador, Léo Souza,
que televisiona o evento.
LÉO — Boa
tarde, minha querida. Qual o seu nome?
JOVEM —
Flávia.
LÉO — Quantos
anos você tem, Flávia?
FLÁVIA —
18.
LÉO — Que
praia do nosso estado você está representando?
FLÁVIA — Ponta
Negra.
LÉO — E quais
são as suas maiores inspirações como modelo?
FLÁVIA — Gisele
Bündchen, Adriane Galisteu e Xuxa.
LÉO — Caramba,
arrasou na referência. — dá um abraço nela — Muito prazer em te
conhecer, Flávia, boa sorte, você parece ser uma forte candidata. — p/o
público — E essa foi Flávia, a nossa Garota Ponta Negra, palmas para ela. —
todos as aplaudem.
Flávia se retira de cena pelo mesmo caminho
que entrou e passado alguns segundos, vem outra candidata para a animação do
público, que demonstra uma reação ainda mais vibrante que a candidata anterior.
LÉO — Essa já
chegou aclamada, hein? — p/a jovem — Qual sua graça, minha jovem?
JOVEM —
Luciana.
LÉO — Tem
quantos anos?
LUCIANA —
17.
LÉO — Qual
praia você representa?
LUCIANA —
Sibaúma.
LÉO — Representando
o nosso cenário, não é pra qualquer uma, hein? Luciana, conta pro povo de casa:
quais são as modelos que te influenciam?
LUCIANA —
Olha, eu poderia dizer o nome de mil e uma modelos, mas eu acho que nenhuma
delas é mais inspiradora para mim do que a minha mãe, Dona Zezé. — aponta p/uma
senhora na plateia p/a qual todos se voltam — Que mesmo com todas as
dificuldades do mundo nas costas, sempre disse para eu nunca desistir dos meus
sonhos e se não fosse por ela, eu certamente não estaria aqui hoje,
participando desse evento tão lindo.
Emocionados com as palavras de Luciana, todos
da plateia começam a bater palmas em direção a ela.
LÉO — Nossa...
essa foi de arrepiar... então Luciana, foi um prazer conhecer você, te
desejo boa sorte porque você promete. — dá um abraço nela e se dirige ao
público — E essa foi a nossa Garota Sibaúma, Luciana! Quem gostou, bate
palma, quem não gostou paciência.
Luciana se despede do público com um rápido
aceno e se retira sem fazer muitas protelações, sob os calorosos aplausos da
plateia que conquistara.
02: *SEMANAS DEPOIS*
Mesmo cenário, mesmo horário. Chegamos na
última fase do concurso. Restaram apenas três candidatas e dentre elas, está
Luciana.
LÉO — Boa
tarde pra você que está ligado na InterTV Cabugi, ansioso pra saber quem vai
ser a nossa Garota Verão Potiguar e o negócio é o seguinte: quem votou, votou,
quem não votou, não vota mais. A nossa enquete já está sendo apurada e em
questão de minutos, eu vou ter a honra de anunciar a vencedora para vocês: será
Ísis, a nossa Garota Pipa? Felipa, a nossa Garota Barreta? Ou Luciana, a nossa
Garota Sibaúma?
A plateia aplaude as três finalistas,
enquanto uma assistente de palco se aproxima dele e o entrega um envelope com
os resultados.
LÉO — Nossa...
foi mais rápido que eu imaginava. Enfim, chegou a hora do resultado! — abre
o envelope e lê o resultado — E o terceiro lugar... é seu... ÍSIS! Meus
parabéns, minha linda. Uma salva de palmas para a nossa Garota Pipa.
Toda a
plateia dá seus últimos aplausos para a figurante terceira colocada.
LÉO — E
agora... vamos a vencedora, tá todo mundo esperando por ela — lê os resultados
novamente — Foi uma disputa bem acirrada, hein? Mas só pode ter uma única vencedora
e esse mérito é todo seu... — encara as meninas numa pausa dramática —
LU-CI-ANA!!! — ela se choca c/o resultado — A nossa Garota Sibaúma! Sua
trajetória foi perfeita. Uma salva de palmas para ela e para a nossa segunda
colocada que defendeu brilhantemente a nossa praia de Barreta.
Ao receber a notícia, Luciana não se aguenta
e começa a chorar de alegria, enquanto a plateia aplaude freneticamente a sua
vitória, chegando inclusive a gritar o seu nome. Léo dá a chance para ela falar
algumas palavras:
LUCIANA
[chora] — Acho que eu só tenho uma coisa a dizer que é “obrigada” a
todos vocês que torceram e votaram em mim. Eu saio daqui muito satisfeita e
mais bem-sucedida do que eu imaginava e sabendo que eu consegui fazer o meu
nome aqui e espero não decepcionar vocês. É isso.
A transmissão do concurso é encerrada e Zezé e
sua afilhada, Simone saem da plateia e sobem ao palco para abraçá-la.
ZEZÉ — E no
fim, deu tudo certo mesmo.
SIMONE —
Que fim o quê? Isso é só o começo, a Luciana tem um futuro lindo pela frente,
madrinha.
LUCIANA — Eu
disse que eu ia conseguir.
ZEZÉ — E o mais
importante, você sempre acreditou nisso.
SIMONE — Errada
não tá.
LUCIANA —
Agora eu quero que a senhora faça aquilo que me prometeu. Eu sei o quanto ele
ajudou a senhora, mas vocês chegaram a um ponto onde não tem mais volta. A senhora
não pode passar o resto da vida aceitando qualquer coisa porque ainda acha que
depende dele, eu não quero isso pra senhora. Chegou a hora de dar um basta
nessa história.
ZEZÉ [respira
fundo] — Tá bem, minha filha.
SIMONE —
Vai ser melhor pra senhora, acredita em mim.
LUCIANA — Depois
disso, a gente vai embora daqui de Tibau e vamos direto pra Natal e lá a gente
vai começar uma vida nova só nossa. Tá bem? — abraça Zezé que deixa escorrer
algumas lágrimas pelo rosto — Mas não vamos pensar nisso agora. Esse
momento é pra gente comemorar.
Luciana dá um beijo na testa de Zezé e ao ver
alguém a chamando ali, corre para saber do que se trata.
03:
FACHADA DA CASA DE LUCIANA | MANHÃ.
Luciana e Zezé saem da casa levando suas
malas e Simone as ajuda. O padrasto de Luciana vai até a porta e as encara com
um olhar de fúria e um ar de superioridade intragável, chamando a atenção dos
transeuntes e dos vizinhos que trocavam ideias na calçada.
JANUÁRIO — Tão
esperando o quê pra dar o fora daqui, suas ingratas?
LUCIANA — Não
é da sua conta.
JANUÁRIO — Olha
como você fala comigo, menina, sua mãe não te ensinou a ter respeito pelos mais
velhos?
LUCIANA — Eu
me recuso a respeitar um velho nojento que metia a porrada na minha mãe por
qualquer coisa que não saísse do seu agrado.
JANUÁRIO — Como
é a história, Luciana?
LUCIANA — É
exatamente isso! O senhor acha mesmo que eu vou permitir esse seu teatrinho pra
vizinhança de que o senhor tá expulsando a gente de casa só pra satisfazer o
seu ego? Mas já que o senhor quer tanto aparecer, que apareça dizendo a verdade
— se volta p/os curiosos e aumenta o tom de voz — Esse homem que diz ser
tão bondoso e gentil comigo e com a minha mãe não passa de um parasita
fedorento que desde que se aposentou por invalidez, vive as custas da minha mãe.
E só porque ajudou a minha mãe quando o meu pai morreu, ele se via no direito
de espancar a minha mãe por qualquer coisa que saísse do controle dele.
JANUÁRIO — Como
você tem coragem de falar uma coisa dessas de mim? Eu sempre tratei você como
se fosse minha filha.
LUCIANA —
Só se for filha da puta mesmo e mesmo assim, ninguém merece ser tratado da
maneira que o senhor trata a mim e a minha mãe. Ou o senhor pensa que eu
esqueci do dia que o senhor queria me dar uma porrada quando soube que eu me
inscrevi pro concurso e gritou na minha cara: “filha de faxineira, faxineira é”?
Só não me bateu porque a Simone chegou na hora. — uma lágrima escorre do seu
rosto, mas ela a enxuga e respira fundo — Mas eu tenho pena do senhor. É,
pena mesmo: já tá velho, invalidado, vive de uma aposentadoria vagabunda, serve
nem pra lavar um prato. Eu já trabalho, posso perfeitamente ajudar nas despesas
da casa com a minha mãe. Vou fazer 18 anos daqui a pouco, vou receber convite
de sobra pra trabalhar como modelo, então a gente não tem nenhum motivo pra
continuar com um estorvo como o senhor na nossa vida.
JANUÁRIO — Vocês
vão voltar pra mim de joelhos, pedindo arrego e eu vou ter o enorme prazer de
bater a porta da minha casa na cara de vocês, suas vagabundas.
LUCIANA —
Pode até dar errado, não vou fingir. Mas o senhor pode ter certeza que eu vou
debaixo da ponte, mas eu não venho me rebaixar pro senhor de jeito nenhum. Eu
posso passar pelo que for, mas eu não me dou por vencida. E me agradeça por eu
não denunciar o senhor, não quero fazer minha mãe passar por mais uma situação
degradante.
JANUÁRIO — Sua
pentelha...
LUCIANA — E
o senhor é um velho babão.
Envergonhado com a aglomeração que foi se
formando aos poucos, loucos para registrar um escândalo, Januário entra para
dentro da sua casa.
Zezé se segura para não chorar e ao vê-la,
Luciana corre para abraçá-la, juntamente com Simone.
LUCIANA — Me
desculpe, mãe. Eu imagino o quão horrível deve ser ouvir toda essa história ser
jogada no ventilador. Mas eu tenho certeza que depois de hoje, nenhuma mulher
vai passar nas mãos dele o que a senhora passou. — respira fundo — Agora
a gente vai viver uma nova vida. Não vale mais a pena olhar pra trás. Eu vou te
dar tudo que a senhora merece, pode acreditar.
A vizinhança toda aplaude aquele abraço de
mãe e filha, enquanto ambas deixam escapar algumas lágrimas de emoção e assim,
a imagem vai escurecendo gradativamente...
—
2020 | RIO GRANDE DO NORTE | NATAL.
SONOPLASTIA: SOY LOCO POR TI AMÉRICA; Ivete Sangalo.
Imagens panorâmicas da noiva do sol em seu
horário de pico são exibidas. O sol mais brilhante do que nunca, praias cheias,
trânsito engarrafado, pessoas subindo e descendo dos ônibus, pontos de comida lotados,
etc.
—
04:
CASA DE LUCIANA | COZINHA | TARDE.
Zezé abre o forno e tira dele uma forma de
bolo, enquanto entra Luciana que ao vê-la colocando o bolo na mesa, resolve pegar
um prato e também a ajuda a tirar o bolo da forma.
ZEZÉ — Ai,
minha filha, obrigada. Dessa vez não ficou solado, graças a Deus.
LUCIANA —
Deve tar uma delícia como qualquer bolo seu, até os solados. — ri se
aproxima da mãe p/dar-lhe um beijo na bochecha.
Ouve-se a campainha tocar para o
estranhamento das duas.
LUCIANA — A
senhora pediu alguma coisa?
ZEZÉ — Não.
Deve ser o rapaz da água pra saber se eu quero garrafão e aproveitar a viagem.
Zezé vai até a fachada da casa, enquanto
Luciana corta alguns pedaços do bolo e os separa num outro prato, esperando
esfriar. Nesse meio tempo, Zezé volta para a cozinha juntamente com Simone.
SIMONE — E
aí, Luciana, como é que você tá? — dá um abraço nela.
LUCIANA — Vou
muito bem e você?
SIMONE —
Vou ótima! — se afasta do abraço e se senta na mesa — Fez agora esse
bolo, madrinha? Pela cara deve tar gostoso! — pega uma fatia.
ZEZÉ — Que bons
ventos a trazem aqui, Simone?
SIMONE —
Então, eu queria te pedir pra passar uns dias aqui. Peguei um cliente aqui que
quer uma ajuda pra abrir um negócio e depois, eu vou tirar umas férias porque
eu sou advogada, mas eu sou filha de Deus, né? Quero cuidar de mim um pouco,
afinal de contas eu mereço.
ZEZÉ — Mas e as
crianças? E os cachorros?
SIMONE —
Tão tudo na casa de Lavínia e Adriel. Eles não queriam tanto passar mais tempo
com as crianças? Pois vão ter tempo de sobra agora e levaram de brinde
Chitãozinho e Xororó.
LUCIANA [rindo
igual uma louca] — Só tu mesmo pra botar esses nomes nos cachorros.
SIMONE — E
quando eu voltar, eu vou adotar um terceiro pra meter o nome dele de
Evidências.
ZEZÉ —
Simone, definitivamente você não existe. — ri — Bem, eu acho que você já
sabe que você é bem-vinda sempre aqui em casa, fique a vontade.
SIMONE —
Obrigada, madrinha, a senhora é um anjo.
LUCIANA —
Bom, gente, o papo tá muito bom, mas tem alguém aqui que precisa trabalhar. —
se levanta da mesa.
SIMONE —
Quer uma carona, Luciana?
LUCIANA —
Não precisa não, Simone, você deve tar cansada de passar 4 horas naquele carro
e também, eu quero aproveitar enquanto o preço da passagem não sobe. Deixa essa
carona pra próxima. — se aproxima de Zezé e lhe dá um beijo na testa.
ZEZÉ — Vá com
Deus, minha filha.
LUCIANA —
Fique com Deus, minha mãe.
Luciana vai embora de casa, deixando Zezé e
Simone a conversarem.
06: *ÔNIBUS*
Luciana embarca no veículo e rapidamente
encontra um assento, onde se instala, tira o celular da bolsa, coloca os fones
de ouvido e começa a zapear pelas estações de rádio, até parar em uma qualquer.
LOCUTOR — Boa
tarde, queridos ouvintes da Rádio Mix! Hoje vamos ter um papo com uma grande
especialista do ramo da moda, Branca Malheiros, uma booker maravilhosa que está
organizando um super desfile. Conta pra gente.
BRANCA — Boa
tarde, ouvintes. Então, eu estou organizando um desfile do Erasmo Cantú, um
estilista espanhol que criou uma coleção incrível inspirada na cultura do nosso
Brasil enquanto estava de viagem e ele me passou a ideia de reunir 27 jovens,
cada uma de um estado diferente para representar o lugar de onde veio num
grande festival de moda que vai acontecer em Miami.
LOCUTOR — E
você está a caça da nossa garota potiguar?
BRANCA — Exatamente,
meu querido. Eu procuro por uma garota comum que represente a sua gente com
força e personalidade. Tenho apenas uma ideia vaga, mas antes de vir pra cá, eu
soube de um concurso de modelo que se não me engano, era patrocinado
pela emissora local daqui.
LOCUTOR — Garota
Verão Potiguar? Esse concurso era tudo de bom mesmo. Inclusive fica a
dica, dona InterTV Cabugi: voltar com o concurso Garota Verão Potiguar! Mas me
fala, Branca: alguma candidata do concurso te interessou?
BRANCA — Eu
mostrei algumas meninas pro Erasmo e ele ficou muito interessado numa menina em
específico. Como era o nome dela? Luísa, Diara, Stephanie, Laura, Lara, Natasha,
Joana... parece que ela venceu uma edição, em 2012 eu acho...
LOCUTOR — Você
tá falando da Luciana Dutra?
BRANCA — Era
esse o nome dela mesmo e eu falando uns nomes nada a ver. — ri.
LOCUTOR — A
eterna Garota de Sibaúma, eu torci por ela, votei horrores na época.
BRANCA — O
Erasmo achou essa menina linda, bateu o olho e disse: “é ela”. Foi a única vez
que ele opinou em alguma das modelos, seria interessante se ela participasse.
Mas infelizmente, não conseguimos localizá-la, a agência onde ela trabalhava
perdeu o contato.
LOCUTOR — Nossa,
Branca. Mas quem sabe a nossa Garota de Sibaúma não está nos ouvindo? Que
recado você gostaria de passar a ela? É a sua chance! Vai que ela ou algum
conhecido esteja nos ouvindo?
BRANCA — Então
Luciana, primeiramente boa tarde. Se essa entrevista tiver chegado até você, eu
gostaria que você entrasse em contato comigo pelo meu Instagram: @thebookerbranca,
tenho certeza que você não vai se arrepender da proposta.
Percebendo que se tratava dela, Luciana se
mantém estática e chocada por instantes. Até que ela se toca de que já chegou
em seu ponto e rapidamente se apressa para desembarcar do ônibus.
07: *BAR SANGUE LEVE*
Luciana adentra o bar que aparentemente está vazio,
põe a sua bolsa numa bancada ali perto e se senta, até que um homem sai dos
fundos para recebê-la.
HOMEM —
Boa tarde, Luciana. Como vai a nossa querida Garota de Sibaúma?
LUCIANA — E
todo dia você fala mesma coisa quando eu chego. Boa tarde, Márcio. Vou muito
bem, e você?
MÁRCIO — Melhor
agora! Não é qualquer bar de Ponta Negra que tem uma Garota Verão Potiguar como
garçonete e eu me sinto privilegiado por isso. Afinal de contas, você foi a
maior vencedora daquele concurso. Nenhuma das que vieram depois de você teve um
quinto da aclamação que você teve na época. — se senta junto a ela.
LUCIANA —
Falando em Garota Verão Potiguar, tem uma história que se eu te contar, você
não vai acreditar.
MÁRCIO —
Veremos. Conta!
LUCIANA —
Eu tava ouvindo rádio no ônibus e começou um programa de entrevistas. A
entrevistada era uma booker famosíssima procurando uma modelo daqui pra
desfilar num festival em Miami pra uma grife de um estilista espanhol.
MÁRCIO — E
você vai se candidatar a vaga, não vai?
LUCIANA — Você
não faz ideia, ela disse que o estilista viu umas fotos minhas da época do
concurso e pediu que fosse eu. Só que eles não conseguiram me localizar.
MÁRCIO —
Mas você vai dar sinal de vida pra essa booker e pra esse estilista, sim e vai
dizer que topa participar. Qual rádio você tava ouvindo?
LUCIANA — A
Mix.
MÁRCIO —
Fica em Lagoa Seca, né?
LUCIANA —
Sim.
MÁRCIO — Se
a gente sair daqui agora, a gente ainda pega ela. — se levanta.
LUCIANA —
Mas e o bar?
MÁRCIO — A
gente abre mais tarde. É segunda-feira, o movimento é fraco. Você não pode
perder essa oportunidade. Vambora antes que o engarrafamento comece.
Márcio volta aos fundos do bar para pegar as
chaves de seu carro. Luciana resolve não contrariá-lo e pega sua bolsa, se
encaminhando para fora do estabelecimento.
08: *ESTACIONAMENTO NA FACHADA DA RÁDIO MIX
FM*
Branca sai da rádio e se encaminha para o seu
carro. Enquanto isso, o carro de Márcio adentra bruscamente o estacionamento,
com direito a pneu cantando e para numa vaga vazia qualquer, fazendo uma baliza
meia boca. Ao ver a cena, Branca encara aquilo com um certo espanto e Luciana a
observa.
LUCIANA —
Eu acho que é ela.
MÁRCIO —
Você acha que é ela ou é ela?
LUCIANA —
Pelas fotos que eu vi no Instagram, de longe parece.
MÁRCIO —
Só perguntando pra saber mesmo.
Márcio desce rapidamente do carro e vai em
direção a Branca.
MÁRCIO —
Boa tarde! Dona Branca?
BRANCA —
Eu mesma! O que o senhor deseja?
MÁRCIO —
Eu soube que a senhora tá atrás da Luciana Dutra, a Garota de Sibaúma.
BRANCA —
Estou, sim. O senhor sabe onde posso encontrar ela?
MÁRCIO —
Aqui.
BRANCA —
Como assim, aqui?
MÁRCIO [vira
de costas] — LUCIANA! — assobia c/os dedos e a vê colocando a cabeça pra
fora do carro — VEM! — gesticula c/a mão.
Um pouco assustada, mas tentando se conter,
Luciana sai do carro e se aproxima deles, deixando Branca embasbacada.
LUCIANA [trêmula]
— Boa tarde.
BRANCA [incrédula]
— Isso só pode ser miragem... meu Deus, é você mesmo?
LUCIANA — Sim,
senhora.
BRANCA —
Você não imagina o quanto que eu procurei você. Por onde você tava, menina? Não
mudou nada!
MÁRCIO —
No Sangue Leve, ela é garçonete lá no bar.
BRANCA — Bar?
Então a Garota de Sibaúma tava esse tempo todo num bar, trabalhando de
garçonete? Tá aí, eu preciso frequentar mais bares.
MÁRCIO — E
então, a gente gostaria de saber mais sobre essa sua proposta.
BRANCA — O
senhor é pai dela?
LUCIANA — Não.
— ri — Ele é meu patrão.
MÁRCIO — E
ex-namorado.
LUCIANA —
Ela não precisa saber disso, né?
BRANCA —
Menina, eu não tô acreditando. Passei um tempão te procurando pra te encontrar
no estacionamento de uma rádio. — ri — Eu esperava qualquer tipo de encontro,
menos esse.
LUCIANA — Pode
ter certeza que eu também não.
BRANCA — Bem...
pra onde a gente pode ir pra conversar melhor?
MÁRCIO —
Pro bar! Acho melhor a gente conversar lá mesmo, ainda não abriu.
BRANCA — Adorei
a ideia! Vocês vão na frente que eu acompanho vocês.
Luciana e Márcio se afastam e voltam pro
carro deles, enquanto Branca entra no seu e logo em seguida, ambos os veículos
iniciam a partida dali.
09:
CASA DE LUCIANA | SALA | NOITE.
Ao chegar em casa, Luciana conta da proposta
que recebera para Zezé e Simone.
ZEZÉ — Miami?
LUCIANA —
Sim, não é incrível?
ZEZÉ — Claro
que é, mas eu não imaginava que isso fosse acontecer, ainda mais a essa altura
do campeonato.
LUCIANA —
Eu também não imaginava. Achei tão estranho quando eu ouvi no rádio ela falando
de mim, que queria eu como a representante do estado.
ZEZÉ — Você tem
certeza que isso é coisa séria?
LUCIANA —
Pelo que a Branca falou, sim. E pesquisando o nome dela, deu pra perceber que
ela é muito conceituada e respeitada no meio.
SIMONE —
Mas o principal tu ainda não falou: aceitou ou não aceitou?
LUCIANA —
Então, eu ainda não decidi, falei pra ela que eu ia resolver depois que eu
contasse pra mamãe.
ZEZÉ — Minha
filha, eu acho que quem tem que decidir essas coisas é você. Se você acha que
esse trabalho é direito, vá em frente, corra atrás. Eu não quero te impedir de
fazer nada, nunca impedi antes, quando tava com 17 e não vai ser agora, que tá
com 25 que eu vou interferir. Eu só quero que você seja feliz. Com você feliz,
eu também vou estar feliz. Tenha plena consciência de que eu vou te apoiar,
independente da sua decisão.
Luciana e Zezé trocam um abraço, emocionadas
e confiantes.
LUCIANA —
Então eu vou aceitar.
ZEZÉ — Aceita,
minha filha. Eu sei que você tem esse sonho há anos, não pode deixar de correr
atrás.
SIMONE —
Lindas! — as aplaude, enquanto as outras duas se apartam do abraço rindo — Luciana,
quando é que tu vai mesmo?
LUCIANA — Daqui
há um mês, mais ou menos. A Branca ainda vai atrás da Garota Sergipe.
SIMONE — Sua
instalação é toda por conta desse estilista?
LUCIANA — É,
eles querem fazer um grande desfile nesse festival, dinheiro é o de menos nesse
momento.
SIMONE —
Arrasou, minha filha. Se prepare porque a sua carreira internacional de modelo
está apenas começando.
Luciana e Zezé trocam uma leve risada com o
comentário de Luciana e continuam a conversar.
—
UM MÊS DEPOIS | ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA |
FLÓRIDA | MIAMI | TARDE.
SONOPLASTIA: GIRL GONE WILD; Madonna.
Imagens panorâmicas de pontos importantes da
cidade são exibidas. Frames de um avião aterrissando numa pista de decolagem.
—
10: *SAGUÃO DO AEROPORTO*
Ao desembarcar do avião, Luciana adentra o
saguão, carregando duas malas. Após caminhar um pouco, procurando por alguém,
ela avista Branca, que já a esperava e as duas trocam um rápido abraço.
BRANCA — Luciana,
querida. Como foi a viagem? Era o seu primeiro voo, né?
LUCIANA — Sim,
primeiro eu tive um pouco de receio, mas depois eu acabei me acostumando.
BRANCA — Sei
como é, a primeira vez sempre é meio difícil. Prepare-se para conhecer Miami,
esse lugar é um paraíso. Mas vai se acostumando, minha querida. Se esse desfile
repercutir no festival, eu tenho quase certeza que vai, esse é apenas o seu
primeiro trabalho fora do Brasil. Você vai conhecer muitos mais lugares
maravilhosos como Miami.
Branca se encaminha para o lado de fora do
aeroporto e Luciana a segue.
11: *SUÍTE QUALQUER DE UM HOTEL*
Branca abre a porta e adentra junto com
Luciana, que timidamente analisa o local. Uma outra jovem sai do banheiro
quando as vê entrar.
BRANCA —
Rafaela, essa a garota Rio Grande do Norte, Luciana, que vai dividir o quarto
com você.
LUCIANA —
Boa tarde, muito prazer.
RAFAELA —
Prazer.
BRANCA — Apresentações
já feitas, vou deixar vocês duas a vontade. Espero que se deem bem. Hoje a
noite, vocês vão conhecer o Erasmo, estejam no saguão às nove, hein? Quero que
ele veja que eu escolhi as meninas certas.
LUCIANA — Perfeitamente.
Branca se retira, enquanto Luciana desfaz as
suas malas.
LUCIANA —
Rafaela.
RAFAELA — Pode
me chamar de Rafa se quiser. Todo mundo me chama assim.
LUCIANA —
De onde você é?
RAFAELA —
Rio Grande do Sul. Mais especificamente de uma cidade chamada Viamão. Conhece?
LUCIANA —
Não.
RAFAELA —
Já imaginava. É perto de Porto Alegre. — sai do banheiro e presta atenção
nas roupas de Luciana em cima da cama — Que roupas são essas, minha filha?
LUCIANA —
As minhas, oxe.
RAFAELA — “Oxe”
digo eu. — ri — Comprou em brechó?
LUCIANA — Comprei
lá no Alecrim. Chega lá com uma nota de 200 reais que tu compra um brechó
inteirinho.
RAFAELA —
Como foi que te escolheram usando essas roupas?
LUCIANA — Eles
me escolheram porque eu ganhei um concurso de beleza há um tempo atrás na emissora
de televisão local. A Branca descobriu e ficou interessada em mim. E você? Como
foi que te escolheram?
RAFAELA —
Tenho contatos influentes numa agência em Porto Alegre. O meu pai.../
LUCIANA [interrompe]
— Ah, já entendi, você é PATROCINADA. Que bom pra você ter todos esses
privilégios.
RAFAELA — Obrigada.
Agora preciso sair. Tchauzinho, bebê.
LUCIANA — Tchau.
Rafaela pega uma bolsa que estava numa
cadeira e sai do quarto. Luciana a espera sair e solta uma pequena risada,
enquanto continua a desfazer as malas.
12:
SAGUÃO DO HOTEL | NOITE.
Todas as modelos, com exceção de Rafaela,
estão a postos, esperando Branca e Erasmo chegarem. Algumas delas interagem
entre si, porém Luciana se mantém em silêncio, apenas observando a movimentação
delas. Passado alguns segundos, enfim eles chegam.
BRANCA — Boa
noite, meninas. Esse aqui é o Erasmo, que está proporcionando essa experiência
maravilhosa para vocês.
Falando em catalão, ela o apresenta a algumas
das meninas que estão próximas a eles, que as cumprimenta com um aperto de mão.
Rafaela chega, carregando algumas sacolas de
compras e ao ver Erasmo ali, não hesita nem um pouco em se aproximar dele e
intrometer a apresentação de uma outra modelo para tentar se apresentar,
arriscando umas palavras de catalão, enquanto Branca a encara de cima a baixo
com um olhar de reprovação.
RAFAELA — Boa
noite, senhor Cantú, me chamo Rafaela Moreira e vim de Viamão para representar
o estado do Rio Grande do Sul no seu desfile.
ERASMO — Que bom, minha cara.
BRANCA — Rafaela,
que engraçado... não lembro de ter lhe visto aqui quando cheguei.
RAFAELA —
Tive que sair.
BRANCA — Pra
fazer compras?
RAFAELA —
Artigos de primeira necessidade.
BRANCA — Creio
que você tenha entendido que isso aqui é um TRABALHO. Não uma dessas viagens
que você está acostumada a fazer com a sua família. E já que se apresentou por
vontade própria, com licença.
Branca e Erasmo se afastam de Rafaela e se
aproximam de Luciana. Eles trocam um aperto de mão.
BRANCA — Erasmo, essa é Luciana Dutra, ela veio de Natal para
representar o estado do Rio Grande do Norte. Ela é aquela garota que você
queria que participasse, lembra?
ERASMO — Claro que lembro, uma menina dessas é difícil de
esquecer. — p/Luciana — Saiba que eu me sinto muito honrado com a sua
participação.
LUCIANA [p/Branca]
— O que ele disse?
BRANCA — Ele
disse que se sente muito honrado de você ter aceito participar do desfile.
LUCIANA — Imagina,
eu que me sinto extremamente honrada com esse convite. Muito obrigada por ter
me escolhido, senhor Cantú, espero cumprir as suas expectativas.
Branca transmite a resposta a ele, que
concorda fazendo um aceno com a cabeça e sorrindo encantado para Luciana, o que
é percebido até por Rafaela, que visivelmente se incomoda por não ter chamado a
atenção dele como queria.
BRANCA [á
todas] — O Erasmo diz que se sente muito honrado em ter um desfile por meninas
tão lindas e deseja uma boa noite de sono à vocês. Repousem bastante porque os
próximos dias serão fogo. — se retira do hotel, juntamente c/Erasmo.
RAFAELA —
Como se eu tivesse medo de fogo... — aproxima-se de Luciana — O meu
brilho é tão forte quanto uma bola de fogo ou até um pouco mais. Sou brilhante
e reluzente. E você, querida?
LUCIANA —
Eu o quê?
RAFAELA —
Qual o seu brilho pro velho ficar tão encantado por você?
LUCIANA —
O brilho de uma MODELO que está aqui apenas para fazer um trabalho. Nada mais,
nada menos. — dá de ombros.
Luciana se retira dali e Rafaela a segue com
o olhar, obstinada, como se estivesse maquinando alguma coisa.
13:
DIA SEGUINTE | QUARTO DE RAFAELA E LUCIANA
Luciana observa a vista da janela, pensativa,
sem perceber a entrada de Rafaela, que se aproxima cada vez mais dela e leva a
mão as suas costas e no ímpeto, Luciana se vira, ficando de frente a ela.
LUCIANA — Ai,
que susto, menina.
RAFAELA —
Foi mal, eu só queria te parabenizar por conseguir impressionar a Branca
daquele jeito.
LUCIANA — Se
era só isso, muito obrigada. — se afasta.
RAFAELA —
Olha, eu acho que a gente começou com o pé esquerdo, mas eu acho que ainda dá
tempo da gente se acertar ainda. Então, sem ressentimentos? — estende a mão
p/Luciana, que a encara c/um olhar de desconfiança, mas resolve dar uma chance.
LUCIANA —
Tá certo. — aperta a mão de Rafaela.
Rafaela sorri para Luciana que retribui
complacente, sem muita vontade.
RAFAELA —
Você me contou tão pouco da sua vida...
LUCIANA — O
que você quer saber?
RAFAELA — O
que você fez pra chegar até aqui.
LUCIANA — Bem,
eu moro em Natal e acredito que a minha vida seja muito diferente da sua. Você
não deve trabalhar servindo mesa das cinco da tarde até a meia-noite e a sua
mãe não deve ganhar a vida limpando casa, não é mesmo?
RAFAELA —
No way! Como você virou modelo tendo uma mãe faxineira? A vida de modelo é
muito cara para bancar com trabalhos de garçonete e faxineira.
LUCIANA —
Eu participei de um concurso de modelos organizado por uma emissora local e
acabei vencendo. Como o programa era televisionado, teve uma época em que todo
queria saber de mim, queria trabalhar comigo, queria eu de garota propaganda e
tals. Mas depois, tudo isso passou. Foram surgindo novas vencedoras desse mesmo
concurso e os empresários prestaram mais atenção nelas. Normal.
RAFAELA — E
você não moveu uma palha para se manter em evidência?
LUCIANA —
Queria que eu fizesse o quê?
RAFAELA —
Alguma loucura. Vai me dizer que você nunca foi pega cheirada?
LUCIANA —
Credo, nunca cheguei perto dessas coisas.
RAFAELA —
Nunca brigou com um boy no meio da rua também não? Deu um tapa na cara dele e
recebeu outro de volta?
LUCIANA —
Não? Você já fez isso?
RAFAELA —
Aham, saiu nos jornais de Viamão e tudo.
LUCIANA —
Valha-me Cristo.
Elas continuam a conversar.
14: *SEQUÊNCIA DE CENAS*
SONOPLASTIA: GIRL GONE WILD; Madonna.
1. SAGUÃO DO HOTEL | NOITE.
As modelos ensaiam para o desfile, sendo
guiadas por Branca.
2. ESTÚDIO DE FOTOGRAFIA | MANHÃ.
Frames e mais frames de várias modelos se
preparando para fotografarem até chegar a vez delas, onde fazem várias poses e fotografam
ao som de uma música eletrônica, entre elas, Rafaela e Luciana são exibidas aleatoriamente.
3. PRAIA | TARDE
Para algumas modelos, a sessão de fotos ainda
não acabou. São exibidos mais frames delas fotografando de biquíni sob a luz do
pôr do sol e entre elas está Luciana.
15:
QUARTO DE LUCIANA E RAFAELA | NOITE.
Rafaela se maquia no banheiro, quando entra
Luciana que logo se senta na cama e tira os sapatos. Assim que Rafaela termina
de se maquiar, ela sai do banheiro e se aproximando de Luciana, se sentando ao
lado dela.
RAFAELA — E
aí? Como foi a sessão lá na praia?
LUCIANA —
Foi bom, mas foi cansativo demais. — ri — Tô toda moída, meu Deus do
céu.
RAFAELA — Misericórdia,
eu tinha pensado em te chamar pra curtir uma balada com as meninas.
LUCIANA —
Menina, tu tá doida? Não tô com energia pra absolutamente nada, sei nem como eu
vou tomar banho.
RAFAELA — Tem
energia pra beber uma água ainda? Sua pele tá tão ressecada... — alisa o
rosto de Luciana.
LUCIANA — Não
tô com sede.
RAFAELA — Mas
vai tomar mesmo assim. — vai até uma jarra d'água em cima da cômoda, pega um
copo e o enche — Vamos, beba. Eu não saio daqui sem você ao menos beber
essa água. — entrega o copo p/Luciana — Você precisa cuidar da sua pele,
não existe modelo com pele de calcanhar de maracujá.
Luciana recebe o copo e bebe a água, ao
terminar, ela devolve o copo a essa última que o coloca de volta onde estava.
RAFAELA — Bom,
o papo tá muito bom, mas a night me espera e eu vou deixar você tomar seu banho
em paz. Sweet dreams, my angel, vou aproveitar a balada por você.
LUCIANA —
Boa noite pra você também.
Rafaela se retira do quarto, enquanto Luciana
se levanta e vai em direção a cômoda para beber mais um copo d'água. Feito
isso, ela se encaminha direto para o banheiro, enquanto imagem vai escurecendo
lentamente...
—
HORAS DEPOIS, JÁ DE MANHÃ...
—
E vagarosamente, Luciana vai acordando, vendo
tudo embaçado, sentindo um pouco de dor de cabeça e depara-se com o recinto no
mais completo caos, com a cômoda e todos os objetos de decoração jogados ao
chão, ela se assusta com aquela bagunça, sem entender o que está acontecendo,
quando Rafaela entra no quarto.
LUCIANA [confusa]
— O que aconteceu aqui, Rafaela?
RAFAELA —
Não sei, eu acabei de chegar, me responde você.
LUCIANA — Como
assim “me responde você”? Eu tava dormindo, não fui eu que fiz isso.
RAFAELA —
A Branca quer falar com você, se correr, eu acho que você ainda pega ela no
corredor.
Luciana permanece observando aquele cenário
destruído, em choque.
16: *CORREDOR*
Branca se dirige para o elevador e aperta o
botão, esperando-o chegar, quando Luciana sai de seu quarto e corre para
alcançá-la.
LUCIANA — BRANCA!
BRANCA — Era
só o que me faltava, agora você acorda?
LUCIANA — A
Rafaela me disse que você queria falar comigo...
BRANCA —
Quero, sim. Vem, a gente conversa no meu quarto.
As portas do elevador se abrem e as duas
entram.
17: *QUARTO DE BRANCA*
Branca entra, visivelmente estressada e
Luciana a segue, com medo do que a espera.
BRANCA —
Me diz o que foi aquilo que aconteceu no seu quarto, Luciana?
LUCIANA — Aquela
bagunça?
BRANCA — Sim.
LUCIANA — Eu
não sei, não lembro de nada... vocês não escutaram nada? Porque um estrago
desses deve causar uma barulheira do cão.
BRANCA — As
paredes do quarto possuem tratamento acústico para o maior conforto possível
dos hóspedes. Deixa eu ver uma coisa... — segura a cabeça de Luciana e
levanta uma pálpebra dela — Olhos vermelhos e pupila dilatada. Tá
explicado porque você não lembra de nada. — mostra uns pequenos pacotes c/um
pó branco — Eu encontrei isso aqui do lado da sua cama.
LUCIANA — Isso
é droga? Eu nunca usei essas coisas na minha vida. Eu te passo o número da
minha mãe pra você/
BRANCA [corta]
— Que passar número de mãe o quê? Tá
na cara que você tá alterada, não tem como você mentir, dá pra ver isso nos
seus olhos. — pausa p/respirar fundo — Eu já trabalhei com muitas
modelos metidas com drogas, mas nenhuma delas me causou tamanho estardalhaço
quanto você. Francamente, Luciana... eu esperava isso de qualquer menina, menos
de você. Não me admira que tenha passado tanto tempo sem modelar, imagino a
quantidade de merda que você já fez por aí. Me parecia ser tão inteligente, tão
esclarecida, mas... as aparências enganam, né?
Luciana não a responde, apenas tenta não se
abalar com as palavras de Branca, chega até a correr uma lágrima, mas logo ela
a enxuga.
BRANCA — Eu
só não enfio você no primeiro avião pro Brasil porque só vai me atrasar. O
desfile é daqui há cinco dias. Espero que você não me apronte mais nada.
LUCIANA [cabisbaixa]
— Tudo bem.
BRANCA — E
a Rafaela quer trocar de quarto, ela tem medo de você causar outro transtorno.
LUCIANA —
Ela é muito amiga da Renata, a garota Espírito Santo, coloca elas juntas no
mesmo quarto.
BRANCA —
Quem é que tá no quarto da Renata?
LUCIANA — A
paraibana.
BRANCA — Teodora,
sei. Quando elas acordarem, a gente resolve melhor isso.
LUCIANA
[ergue a cabeça] — Mais alguma coisa? — se levanta.
BRANCA — Nada,
agora eu quero dormir. — dirige-se a porta e a abre — Tenha uma bom dia.
Luciana se retira do quarto e Branca fecha a
porta.
18: *CORREDOR*
Se sentindo humilhada ao extremo pelas
palavras de Branca, Luciana não se aguenta e começa a chorar, ela chega a se
desequilibrar e cair no chão, onde se coloca em posição fetal e continua a
chorar copiosamente ali, sozinha, na tentativa sanar a dor de uma injustiça em
ter sido culpada por algo que não fez.
19: *CORREDOR DO ANDAR ONDE FICA O QUARTO DE
LUCIANA E RAFAELA*
Luciana chega no andar pelas escadas e se
depara com um falatório imenso das outras modelos, que voltam seu olhar para
ela por estar apenas de camisola, suja, com os cabelos desgrenhados e descalça;
ela finge não se importar com os olhares e fita seu olhar em Rafaela, que se
assusta ao vê-la andando em sua direção, expressando uma fúria incontrolável.
RAFAELA — Meu
Deus, Luciana. Que foi que aconteceu com você?
LUCIANA — Sua
maldita... — grita.
Luciana avança em Rafaela e começa a rasgar a
sua roupa, em meio a vários gritos de ódio e angústia, empurrando e estapeando
o corpo de sua rival várias vezes. Duas meninas as separa e Luciana continua a
gritar e esbravejar seu ódio contra Rafaela, que aparentemente não entende o
que está acontecendo.
LUCIANA — Então
quer dizer que você tá com medo de mim? Hein? Pois agora você tem motivo de
sobra pra isso.
RAFAELA — Do
que você tá falando, garota?
MODELO — Desculpa
interromper, mas nunca é tarde demais pra dizer o quanto é ridículo e escroto
agir dessa maneira.
LUCIANA —
Não me diga... — ri — Falar é fácil, na teoria qualquer um consegue.
Queria ver você no meu lugar, sendo atacada por uma infeliz que dizia ser sua
amiga. Será que você realmente ia agir com toda essa sua superioridade? “Ah,
mas você não me conhece, então por favor, não generalize”. Eu não sou
uma hipócrita que nem você. Comigo é assim: se me atacar, eu ataco de volta.
RAFAELA —
Eu não ataquei ninguém.
LUCIANA —
Só colocou droga na minha água, nada demais, não é mesmo? Não me surpreenderia
se você tiver destruído o quarto daquele jeito querendo me queimar pra Branca
com essa história de “Ai, eu tô com medo da Luciana”.
RAFAELA —
Quer saber de uma coisa? Eu não tenho medo de você coisa nenhuma não. Eu tenho
nojo, vergonha, pena de uma criatura tão asquerosa e vulgar que nem você.
LUCIANA — A
Branca falou pra mim em alto e bom som: “ME-DO”. Tá fingindo porque, minha
filha? Pra posar de superior na frente dessazinhas? Quem tem nojo, pena, o
caralho a quatro de você SOU EU, ouviu bem? EU! Que não preciso de papai nenhum
pra me botar em desfile em Miami. Eu tô aqui por mérito próprio, não precisei
subornar ninguém pra isso. Graças ao meu bom Deus, eu nunca precisei de esmola
na vida.
RAFAELA — Você
acha mesmo que alguém vai acreditar nas suas mentiras? Se manca, garota, olha o
seu estado!
LUCIANA — Eu
tô cagando pro que essas pragas vão pensar de mim. Você sabe perfeitamente que
é verdade. Afinal de contas, você um dia desses me aconselhou a me manter em
evidência, ser flagrada cheirando uma branquinha, ser presa dirigindo
embriagada, levar porrada na cara de macho no meio da rua. — pausa — Mas
foda-se, a criatura asquerosa e vulgar sou eu, né? Taca a pedrada na Luciana,
Rafaela é uma santa... — ri, altíssimo — Hoje fui eu, mas quem é que tu
vai fuder amanhã? A burra da Renata? — vira-se p/a modelo que falara mal
dela — Mas eu desejo mesmo que seja essa lacraia da Lara, só pra eu ver se
ela vai bancar a fada sensata quando ela descobrir o que você fez.
RAFAELA —
Eu não faço nada com ninguém. Isso é tudo invenção da sua cabeça. Sabe o que eu
desejo pra você? Que você reconheça os seus vícios e se trate, vai fazer tão
bem pra mim quanto pra você.
LUCIANA — Impressionante
como você consegue dizer essas palavras tão bonitas, mas não consegue
transmitir o menor pingo de verdade. Eu quero mais é que o diabo te arraste pro
quinto dos infernos que lá é o lugar de gente da tua espécie.
RAFAELA — Que
Deus tenha misericórdia da sua alma, você tá completamente fora de si.
LUCIANA — Esconde
o teu crucifixo da Branca, ela pode encontrar a carreira de pó que tem dentro
dele e descobrir a bela maldita que você é.
RAFAELA — Eu
não tenho a menor obrigação de ouvir esses absurdos dessa louca, já basta ter
me agredido. Passar bem, Luciana. — se dirige p/o seu novo quarto.
LUCIANA — Não
se preocupe, eu não vou fazer mais nada com você. Mas pode ter certeza que vai
aparecer alguém pior que você se fazendo de sua amiga pra depois acabar com a
tua raça.
Luciana se solta da menina que a apartara de
Rafaela e se dirige ao seu quarto, agora se sentindo mais leve, embora
esgotada.
20: *QUARTO DE LUCIANA*
O quarto já está arrumado. Luciana sai do
banheiro vestida com um roupão e enxugando seus cabelos com uma toalha, quando
entra uma nova menina para dividir o quarto com ela.
MODELO —
Boa tarde.
LUCIANA — Boa
tarde. Teodora, né?
TEODORA — Isso.
LUCIANA —
Acho que eu não preciso nem me apresentar depois daquilo, mas fica tranquila,
eu já estou calma, não mordo nem apresento nenhum risco a sociedade.
TEODORA —
Posso falar uma coisa?
LUCIANA —
Mas é claro.
TEODORA —
Eu amei tudo que você fez hoje, você teve a coragem de dizer na cara daquelas patricinhas
tudo que eu queria dizer a muito tempo.
LUCIANA —
Nossa, mas por quê?
TEODORA —
Essa panelinha das meninas sulistas são todas nojentas. A Rafaela quando ia no
meu quarto com a Renata sempre me olhava de baixo pra cima com uma cara de
nojo, eu ficava “O que é? Tá me achando bonita? Eu sei que eu sou, minha filha.”
— ri — Parecia que a Barbie nunca tinha visto uma negra na vida.
LUCIANA —
Nossa, essa criatura é muito mais podre do que eu imaginava.
TEODORA — É
difícil ser modelo sendo pobre e se for negra é dez vezes pior. Você tem a
metade de tudo.
LUCIANA —
Sei como é, a minha mãe é negra e sempre trabalhou a vida inteira como
empregada.
TEODORA —
Você me desculpa, mas eu sabia desde o início o plano da Rafaela em sabotar
você, eu só não te avisei antes porque eu pensava que você era que nem elas.
LUCIANA —
Tudo bem. Depois de hoje são poucas as pessoas que vão ficar do meu lado.
TEODORA —
Mas eu posso te dar um conselho? Não deixa a Rafaela se dar bem no desfile. Com
esse escândalo hoje, eu tenho certeza que ela vai armar uma pra você ainda.
LUCIANA — O
que você quer que eu faça?
TEODORA — Ah,
sei lá. Coloca pó de mico na roupa que ela vai usar. A Renata tem, eu posso
roubar dela se você quiser. Quebra o salto pra ela se arrebentar no meio da
passarela, imagina? — ri.
LUCIANA — Que
horror, menina. Eu não sou de fazer essas coisas não e além do mais, depois de
hoje, eu tomei uma decisão: esse vai ser o meu último trabalho como modelo.
Quando tudo acabar, eu volto pra Natal e continuo trabalhando como garçonete
num bar na praia de Ponta Negra.
TEODORA — O
quê? Você tá doida? Menina, você tem um talento absurdo pras passarelas, eu vi
nos ensaios. Eu aposto que tu sai de Miami com proposta de trabalho numa dessas
grifes aí e a Rafaela sai com as mãos abanando. Seja uma boa branca privilegiada,
minha filha. Não desista do que você sempre quis por causa de meia dúzia de
invejosas. Eu já passei por coisa muito pior e não desisti, não admito que você
também desista. Repensa essa sua decisão, minha filha.
LUCIANA —
Tá bom, vou pensar. Eu posso te dar um abraço? Há uma hora atrás, eu tava
arrasada, com ódio de Deus e do diabo e me aparece você, que tá sendo a pessoa
mais fofa do mundo comigo. Sério, conversar com você aqui tá me fazendo muito
bem.
TEODORA —
Vem cá, vem.
As duas trocam um abraço, felizes e
sorridentes.
LUCIANA —
Você é de que parte da Paraíba?
TEODORA —
João Pessoa mesmo.
LUCIANA —
Acredita que eu tenho uma amiga que mora em João Pessoa e vive de Natal pra
João Pessoa, de Natal pra João Pessoa? Ela é advogada.
Em off, as duas continuam a conversar,
demonstrando estar muito entrosadas.
21:
DIAS DEPOIS | QUARTO DE LUCIANA | NOITE.
Chegou o dia do desfile. Sentada em sua cama,
Luciana mexe em seu celular e dá início a uma chamada de vídeo com Zezé,
esperando ela retornar.
ZEZÉ — Luciana,
minha filha, como você tá linda.
LUCIANA — Obrigada,
mãe.
ZEZÉ — Eles tão
tratando você bem?
LUCIANA — Tão
sim, não se preocupa. Bom, eu tô ligando porque o desfile é hoje e eu não podia
sair sem antes pedir a sua benção.
ZEZÉ — Você já
tem ela desde que saiu de casa. Eu acredito que vai dar tudo certo.
SIMONE [off]
— Vira a câmera pra mim, madrinha. — a videoconferência foca agora nela —
Vai lá e arrasa, Luciana, saiba que a gente vai tar torcendo pra você daqui.
Esse desfile vai ser transmitido em algum lugar?
LUCIANA —
Vai sim, no YouTube, é só pesquisar “Miami semana da moda”, não é tão difícil
de encontrar.
SIMONE — Tá
certo. Vou arrumar aqui as coisas com a madrinha pra gente assistir.
LUCIANA —
Tá certo. — nesse momento, Teodora entra no quarto — Gente, essa é a Teodora,
a garota que divide o quarto comigo, ela tá sendo um anjo em me aguentar. Dá um
“Oi” pra eles, amiga.
TEODORA — Oi,
gente. Tudo bem?
SIMONE — Oi,
tudo ótimo, menina. Que estado tu representa?
TEODORA — Paraíba.
Você é a afilhada da mãe da Luciana que vive de Natal pra João Pessoa, de Natal
pra João Pessoa e tem dois cachorros chamados Chitãozinho e Xororó?
SIMONE —
Mentira que a Luciana fala essas coisas pra você. — ri.
ZEZÉ — Oi,
Teodora, boa sorte pra você também no desfile, você é linda e eu tenho certeza
que você também há de brilhar.
TEODORA —
Obrigada. A Luciana tem sorte de ter uma mãe e uma amiga como vocês. Ela é uma
pessoa maravilhosa, pena que quer desistir da carreira de modelo.
SIMONE — Como
assim, desistir?
TEODORA — Ela
disse que esse vai ser o último desfile dela por causa de uma menina invejosa
que foi super escrota com ela.
ZEZÉ — Luciana,
que história é essa?
LUCIANA —
Não é nada demais. Teodora, qual a necessidade de falar isso?
TEODORA —
Elas precisam saber a verdade. — p/Simone e Zezé — Essa menina armou pra
Luciana ficar queimada no desfile porque se sentiu ameaçada por ela estar se
destacando nos ensaios e ela quer desistir por isso.
SIMONE — Luciana,
gente invejosa existe em todo canto. Você acha que eu não passei por
dificuldade pra virar advogada? Que não apareceu gente invejosa do além pra
tentar me dar rasteira? Eu desisti? Se eu desse motivos praqueles infelizes
cantarem vitória em cima de mim, hoje, estaria assim, linda e maravilhosa, cheia
de clientes e como você mesma diz: “vindo de João Pessoa pra Natal, de Natal
pra João Pessoa”?
LUCIANA — Claro
que não.
SIMONE — Então,
desistir pra quê? Pra voltar a ser garçonete num bar? Isso não vale a pena pra
ninguém. Principalmente pra alguém que já desfilou em Miami.
TEODORA — É
o que eu disse, ela tá sendo muito precipitada.
ZEZÉ — Luciana,
você não pode desistir... eu sempre disse que eu ia te apoiar. Mas eu também
disse pra você correr atrás dos seus sonhos, não vou aceitar que você se apague
pra uma invejosa brilhar as suas custas. Por favor, não vale a pena fazer uma
coisa dessas. Você sabe o que eu sempre quis fazer da vida: ser médica.
Consegui? Não! Acabei virando diarista por falta de oportunidade. A sua
história é diferente: graças a Deus, eu tive sorte em te dar todas as
oportunidades possíveis pra ser modelo, agora você quer jogar tudo fora? Presta
atenção no que você tá fazendo, eu sei que você é uma menina muito inteligente
e muito superior a esse tipo de gente.
LUCIANA — Tá
certo, mãe. Eu vou pensar.
ZEZÉ — Pensa
direito, por favor.
LUCIANA — Enfim,
tenho que ir. O desfile é daqui a pouco.
ZEZÉ — A
gente vai assistir. Quando você tiver naquela passarela, lembra a sensação
maravilhosa que é estar ali, com todos os olhares voltados pra você. Você
sempre me falou que é uma sensação maravilhosa. Não deixa ninguém estragar esse
momento.
LUCIANA — Tá
bom. Tchau.
ZEZÉ — Tchau
e se cuida. Obrigada, Teodora por cuidar da minha filha.
TEODORA —
Imagina, minha senhora.
SIMONE — Tchau,
Luciana. Vai lá e arrasa.
Luciana dá um último sorriso para elas e
desliga a chamada. Teodora se senta na cama e segura a mão de Luciana.
TEODORA — Eu
não vou desistir e não vou deixar você desistir também. A Rafaela, se depender
de mim, pode desistir a vontade, ela não precisa disso. Desculpa tocar nesse
assunto com a sua mãe, mas eu me recuso a deixar a Rafaela e a corja dela sair
por cima dessa história.
LUCIANA — É...
tem razão. Mas eu não preciso nada pra Rafaela se ferrar, ela vai se ferrar
sozinha. Pode escrever.
TEODORA — Que
os deuses te escutem.
A porta se abre e Branca entra.
BRANCA — Meninas,
já estão prontas?
LUCIANA —
Sim.
BRANCA — Então
pelo quê vocês estão esperando pra descer? O desfile não espera por vocês nem
por ninguém.
Luciana e Teodora se retiram do quarto e
seguem Branca para fora do hotel.
22:
BACKSTAGE DO DESFILE | ESPAÇO RESERVADO |
NOITE.
As modelos se arrumam para o desfile. Luciana
está sendo maquiada em frente a um espelho, vestindo um roupão. Ela não tira os
olhos de Rafaela, que está atrás dela, sendo refletida no espelho e percebe que
ela ainda não calçou os sapatos. Quando a maquiadora termina, ela se levanta da
cadeira e outra modelo assume seu lugar.
Luciana não vê mais Rafaela e então se dirige
a uma prateleira onde estão os sapatos das modelos que ainda não se calçaram.
Ao ver um par etiquetado com o nome de Rafaela, ela o pega, tira do bolso um
canivete e começa a cortar a região do salto de um dos sapatos. Rapidamente,
ela o devolve onde estava e guarda o seu canivete sem que ninguém perceba.
Neste momento, Branca adentra o backstage,
sendo seguidas por outras modelos que ainda não se vestiram, apressadas.
BRANCA — Meninas,
vocês são as próximas. Espero que já estejam preparadas. Nada pode falhar essa
noite, hein?
As modelos terminam de se vestir, apressadas
com a notícia. Branca vai organizando as primeiras modelos que irão desfilar, as
levando para a passarela, Luciana e Teodora as seguem por curiosidade, mesmo
sem ser as primeiras.
23: *PASSARELA*
SONOPLASTIA: GIRL GONE WILD; Madonna.
Dá-se início ao desfile. Conforme os mandados
de Branca, uma a uma das modelos ganha a passarela e o público as observa,
fascinados.
Pelo backstage, Teodora e Luciana observam o
desfile, encantadas com o resultado e deslumbradas, tecendo comentários para si
mesmas.
BRANCA — Rafaela,
você é a próxima.
Chega a vez de Rafaela, que passa por Luciana
e Teodora com um ar de superioridade e atravessa
a passarela com o maior nariz empinado. Mas na metade do caminho, o salto de
seu sapato se quebra e ela vai ao chão, perante as câmeras e flashes, o
falatório e os olhares de reprovação do público; ela chora de vergonha e nem
consegue se levantar. Dois seguranças invadem a passarela para tirá-la dali, a
levando para Branca.
BRANCA [transtornada]
— Rafaela, como você deixa isso acontecer?
RAFAELA [chora]
— Meu sapato quebrou no meio da passarela, queria que eu fizesse o quê?
BRANCA — Terminasse
o desfile de pé como uma modelo competente e não sair arrastada da passarela,
isso é vergonhoso ao extremo. Você tem noção que eu passei o mês inteiro
organizando esse desfile nos mínimos detalhes pra na hora H, você estragar
tudo?
RAFAELA — Desculpa.
BRANCA — Agora
sai daqui, não aguento mais olhar pra essa sua cara.
Mancando e chorando, Rafaela se afasta de
Branca. Teodora e Luciana se entreolham: a primeira chocada e até mesmo
intrigada, como se perguntasse algo a última com o olhar, que responde sorrindo
e confirmando com a cabeça e as duas riem do acontecido.
BRANCA — Teodora,
agora é você.
Teodora dá o ar da graça na passarela com a
maior satisfação estampada no rosto pelo que aconteceu com Rafaela e
rapidamente, o falatório da plateia se apazigua para prestar atenção na continuidade
do desfile.
BRANCA — Sua
vez, Luciana, vai lá.
Luciana respira fundo e toma a passarela para
si, chamando a atenção de todos que logo esquecem o que aconteceu anteriormente
para comentar e observar ela, sem nenhum olhar desviado e ali, ela se sente hipnotizada
com aquela sensação de poder e exercer o fascínio do público a sua volta...
porém chega a vez dela partir e sem pestanejar, ela se retira da passarela tão
glamourosa como entrou, deixando o público com um gostinho de “quero mais”.
O último take a ser mostrado é Luciana
piscando para uma câmera que televisiona o desfile antes de sair e assim
chegamos ao...
FIM
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