Novela de
João Pedro Figueredo
Escrito por
João Pedro Figueredo
Personagens deste capítulo:
Lucas (Danilo Mesquita)
Daniel (Gabriel Contente)
Matheus (Pedro Novaes)
Jéssica (Jéssica Ellen)
Tônia (Débora Bloch)
Jorge (Marco Ricca)
1 EXT. ÁGUA BELA. DIA
Parte 1: Paixão. Vemos a cidade serrana de onde nossa história se passa. Ruas cheias de árvores, cachoeiras ao longe, pessoas pela rua. A voz de LUCAS (17) entra.
LUCAS
(off)
Saudades... um simples substantivo
abstrato com um significado tão
forte. Eu sinto saudades de algo.
Não sei muito bem o que é, mas está
aqui. Sempre dentro de mim.
FUSÃO PARA:
2 INT. CASA DE LUCAS. BANHEIRO. DIA
Lucas sem camiseta, apenas com uma bermuda de dormir. Ele observa toda o seu corpo em frente do espelho. Conseguimos ver que ele não gosta do que vê, que ele se sente mal com o seu corpo. Seus olhos percorrem desde suas pernas até encontrar o seu reflexo. Ficar ali é como estar em estado alfa. Tempo. Lucas é interrompido com batidas fortes na porta.
LUCAS
Tem gente!
MATHEUS
(off)
Anda logo, Lucas! Eu preciso usar o
banheiro. Eu também tenho que ir
pro cursinho hoje.
LUCAS
Já estou saindo, só um minuto.
Lucas, meio sem jeito, coloca a camiseta, lava o rosto e abre a porta. MATHEUS (18) está lá esperando o primo sair do banheiro.
MATHEUS
Deveria usar mais o seu banheiro.
Eu não tenho uma suíte que nem
você.
LUCAS
Matheus, eu estava aqui em baixo,
estava apertado. Você acha mesmo
que eu iria subir só para ir ao
banheiro?
MATHEUS
(tentando arrumar o que
disse)
Eu preciso me arrumar para ir ao
cursinho também. Eu não tenho um
banheiro no meu quarto onde eu
possa fazer tudo o que eu queira.
Desculpa se você se sentiu
ofendido.
Matheus entra no banheiro, enquanto Lucas sai.
LUCAS
Foi nada, não precisa pedir
desculpas! Não me senti. Só não
estou com muita cabeça hoje.
MATHEUS
Se precisar de alguma coisa, pode
falar comigo.
LUCAS
Obrigado!
Lucas sai do banheiro. Matheus entra e se prepara para tomar
banho.
CORTE PARA:
3 INT. ÁGUA BELA. RUA. DIA
O Sol está em pleno nascer. Seus raios batem no rosto de Lucas que anda sozinho pelas ruas da cidade. Ele está uniformizado indo para o colégio.
CORTE PARA:
4 INT. COLÉGIO MACHADO DE ASSIS. PÁTIO. DIA
A música continua. Lucas chega no colégio. É um colégio particular normal, sem nenhuma influencia dos colégios norte americanos. Em volta de Lucas vários alunos conversando e animados por rever seus amigos após as férias. Lucas anda sozinho pelo pátio até que encontra JÉSSICA (17), sua melhor amiga. Ao ver Lucas, ela o abraça feliz.
JÉSSICA
Não aguentava mais ficar na casa da
minha tia, Lucas.
LUCAS
Deveria ter falado para o seu pai
ter te trazer de volta.
JÉSSICA
E você não conhece meus pais? Eles
nunca vão querer me deixar ficar em
Água Bela sozinha. Ainda mais na
sua casa depois daquela cena
ridícula da sua mãe.
LUCAS
Realmente me desculpe por aquele
papelão. Minha mãe é problemática
mesmo. Ela não deveria ter dito
aquelas coisas a você.
JÉSSICA
Não deveria mesmo. Ser chamada do
que eu fui por ela é imperdoável.
Sua mãe precisa abrir os olhos para
a realidade dela. Ela pode ser
rica, pode ser uma ótima médica,
mas racistas jamais serão boas
pessoas.
LUCAS
Mas você sabe, né, que ao contrário
dela, eu te amo muito e você ainda
é a minha melhor amiga, né?
JÉSSICA
(brincando)
Tenho que pensar nesse caso ainda.
Jéssica ri. O sinal toca.
JÉSSICA (CONT'D)
Acho que temos que ir.
CORTE RÁPIDO PARA:
5 INT. COLÉGIO MACHADO DE ASSIS. SALA. DIA
Lucas e Jéssica entram na sala. CORTE PARA: Fora da sala uma multidão de alunos passam, entre eles Matheus junto de uma menina.
JÉSSICA
O seu primo não perde uma
oportunidade de ficar com uma
garota, né?
LUCAS
O Matheus é realmente problemático.
Parece que ele nunca se contenta em
ficar sozinho. Precisa ter alguém
com ele.
JÉSSICA
Em compensação a gente nunca
namorou.
LUCAS
Tem pessoas com mais sorte que as
outras.
JÉSSICA
Eu não acho isso. Talvez seja até
melhor isso não ter acontecido. Às
vezes eu não sei lidar nem comigo,
como eu vou lidar com uma outra
pessoa? Tirando que amor próprio é
tudo.
LUCAS
Eu não sei se esse negócio de amor
próprio realmente existe. Talvez a
gente tenha que achar alguém de
verdade.
JÉSSICA
Acho lindo o seu romantismo, Lucas,
mas a gente também deve ter o pé no
chão. Quem voa muito, uma hora pode
cair.
LUCAS
Será que esse ano eu vou encontrar
alguma pessoa? Sei lá, Jéssica, nós
estamos no último ano do ensino
médio. Eu nunca nem beijei na vida,
eu não posso sair dessa escola sem
nunca ter namorado na vida.
JÉSSICA
Muitas pessoas começam a namorar na
faculdade ou depois dela. Calma que
uma hora chega. Pode ser também que
você esteja procurando errado.
LUCAS
Como assim procurando errado?
JÉSSICA
Ah, talvez você devesse se conhecer
um pouco mais antes de começar a
buscar alguma garota. Você é um
rapaz muito bonito, Lucas, mas o
que tem dentro de você? Por fora
você busca uma garota loucamente,
mas e o que tem dentro de você quer
o quê?
Com essas palavras Lucas começa a se questionar internamente. A professora entra na sala.
PROFESSORA
Bom dia, eu sou a professora NOME.
É um prazer conhecer vocês.
Então...
A professora é interrompida com batidas na porta. É DANIEL (17).
DANIEL
Desculpa interromper a sua aula,
professora. Posso entrar?
PROFESSORA
Claro! Só estava me apresentando.
Daniel entra na sala procurando algum lugar para sentar. CORTE PARA: Lucas ainda refletindo com que Jéssica lhe disse. Em SLOW ele levanta cabeça e vê Daniel. A professora continua a falar no fundo, mas Lucas ainda está refletindo. Daniel o interrompe.
DANIEL
Posso sentar aqui do seu lado?
Lucas olha assustado para Daniel.
Abertura:
6 INT. COLÉGIO MACHADO DE ASSIS. SALA. DIA
Continuação da cena anterior: Lucas extasiado.
LUCAS
Claro! Por que não?
(ri)
Prazer! Lucas.
DANIEL
Prazer, me chamo Daniel.
JÉSSICA
(vindo de trás)
E eu sou Jéssica, prazer.
DANIEL
Prazer!
LUCAS
Você já morava aqui na cidade?
Nunca te vi.
DANIEL
Não! Vim de São Paulo há pouco
tempo. Nunca nem tinha ouvido falar
de Água Bela. E que nome, hein?
LUCAS
É por causa das águas medicinais da
serra. Pouca gente conhece, mas é
uma cidadezinha muito boa. Pelo
menos eu gosto daqui.
JÉSSICA
Eu detesto! Não tem nada pra fazer
aqui e o povo não tem mais do que
fazer, além de ficar cuidando da
vida dos outros.
LUCAS
É! Esse ponto é verdade mesmo.
DANIEL
Que trágico!
LUCAS
Mas uma hora você se acostuma com a
chatice dessa cidade.
DANIEL
São Paulo é muito diferente daqui.
JÉSSICA
Eu que o diga! Estive lá nas minhas
férias. A cidade é enorme.
DANIEL
É a maior da América Latina.
LUCAS
E você tem namorada?
DANIEL
Não, eu não namoro.
(t)
E vocês?
JÉSSICA
Graças a Deus não!
LUCAS
Infelizmente não.
DANIEL
(ri)
Vocês são bem diferentes, né?
LUCAS
Somos, por isso somos tão amigos.
Os três continuam conversando. Entra a música "Where's My Love", de SYML cobrindo a conversa dos três.
CORTE PARA:
7 EXT. CASA DE LUCAS. FRENTE. FIM DA TARDE
Daniel, Jéssica e Lucas voltando do colégio.
LUCAS
Bom, Daniel, essa é a minha casa e
é aqui que eu vou ficar.
DANIEL
Olha só! Não moramos muito longe.
Minha casa é uns três quarteirões
para cima.
JÉSSICA
Ótimo! a minha é duas para cima.
Assim não fico sem companhia até em
casa.
DANIEL
(ri)
Então não é agora que eu fico
sozinho.
LUCAS
Eu preciso ir. Tchau, gente.
DANIEL E JÉSSICA
(juntos)
Até mais, Lucas!
Jéssica e Daniel seguem andando. Lucas entra em casa.
CORTE PARA:
8 INT. CASA DE LUCAS. ENTRADA. FIM DE TARDE
Lucas entra em casa e percebe que está sozinho. Ele sobe as escadas correndo.
CORTE PARA:
9 INT. CASA DE LUCAS. QUARTO DE LUCAS. NOITE
Lucas entra no quarto suspirando. Ele percebe a chegada de uma mensagem em seu celular. Quando ele abre se depara com uma foto de Jéssica e Daniel. Ambos felizes. No topo, vemos que quem mandou a foto foi Jéssica e embaixo uma mensagem: "Tenha uma ótima noite <3". Lucas sorri emocionado. Após esse momento de emoção, ele joga o celular na cama e vai para o banheiro.
CORTE PARA:
10 INT. CASA DE LUCAS. QUARTO DE LUCAS. BANHEIRO. NOITE
A música continua. Ao entrar no banheiro, Lucas acende as luzes e tira a roupa em frente ao espelho. Mais uma vez percebemos o quanto ele se sente incomodado consigo mesmo. Enquanto ele se observa, suas mãos vão descobrindo os desenhos de seu corpo, numa tentativa forçada de aceitação a si mesmo.
CORTE PARA:
11 INT. CASA DE LUCAS. SALA DE JANTAR. NOITE
TÔNIA (50), Lucas, Matheus e JORGE (46) em volta da mesa jantando.
TÔNIA
E aí, filho? Como foi a volta as
aulas?
LUCAS
Ah, mãe, normal! Nada de muito
diferente.
TÔNIA
Como assim, nada de diferente? Não
está animado? Logo você vai prestar
o vestibular e teremos mais um
médico na família...
Tônia é interrompida pela risada não esperada de Matheus.
TÔNIA (CONT'D)
Assim como eu e seu tio Jorge.
Jorge concorda com a cabeça.
JORGE
Só não dê ouvidos ao deboche do seu
primo. Ele é um encostado mesmo.
Nunca vai pegar jeito.
Matheus bate na mesa com raiva.
MATHEUS
(grita)
Qual é, pai? Perdeu o respeito?
JORGE
(impondo respeito)
Não grita comigo, Matheus. Quero
respeito nessa mesa.
MATHEUS
E ninguém me respeita, né?
TÔNIA
(tentando apaziguar)
Matheus, você também não tinha que
debochar do seu primo.
MATHEUS
Cara, vocês ficam forçando o
moleque a fazer um curso que
obviamente ele não quer. Caiam na
real!
(para Jorge)
Eu não cursei medicina porque eu
sou folgado, pai. Eu tenho dezoito
anos. Eu não gosto da área. Preciso
pensar também. Eu não sou um
robozinho que vai sair do ensino
médio com toda a minha vida
planejada. Eu preciso viver a minha
vida. Um dia de cada vez, pai. Eu
não quero saber agora de sentar num
curso seja lá do que for e me matar
por mais de quatro anos. Eu sei que
isso faz parte da vida, é bom
estudar, mas eu não quero isso
agora.
JORGE
E viver a vida pra você é gastar
dinheiro com bebida, né? Sair todos
os finais, pegar qualquer uma,
ficar jogando dinheiro fora com
aquelas porcarias que você usa. As
pessoas dessa cidade comentam,
Matheus. Você não sabe a vergonha
que eu sinto quando um paciente meu
chega na minha sala e comenta que
viu você usando drogas, bebendo
litros de álcool. Como que fica o
meu nome na cidade, o nome da sua
tia? As suas atitudes me dão
vergonha, filho.
MATHEUS
(debochando)
É claro! É com isso que o doutor
Jorge se preocupa. Com o que as
pessoas vão achar dele. Em nenhum
momento você se preocupa comigo,
pai.
(t)
Viver pra mim não é beber, usar
drogas, sair com meninas, por mais,
é claro, de que eu goste de tudo
isso. Viver é não passar vontade. É
olhar para alguma coisa e saber que
fazer aquilo não vai ser tão
prejudicial. É se jogar de cabeça
naquilo que você quer.
Eu sei que isso é perigoso, mas eu
não quero morrer com vontade de ter
feito algo que eu não fiz.
JORGE
Um dia você vai olhar pra trás e
ver como o seu pai sempre esteve
certo. E eu estarei aqui de braços
abertos, meu filho.
MATHEUS
Um dia você vai ver que se a gente
não viver enquanto pode, nós vamos
sobreviver amargurados.
(t)
Perdi a fome.
Matheus levanta da mesa e sai da sala de jantar. Clima tenso.
TÔNIA
(para Lucas)
É sério que você não quer fazer
medicina, Lucas?
LUCAS
É sério que você quer conversar
sobre isso agora, mãe?
Tônia abaixa a cabeça.
LUCAS (CONT'D)
Mas pensando bem, eu tenho uma
novidade sim sobre hoje.
TÔNIA
Coisas boas, que ótimo.
LUCAS
Conheci um menino. O nome dele é
Daniel. Ele passou o dia comigo e
com a Jéssica.
TÔNIA
(desprezando)
Ah, você ainda está andando com
essa garota?
(t)
E esse menino, pelo menos é de boa
família?
LUCAS
Você ainda teima com a Jéssica,
mãe? Ela não fez nada pra você.
(t)
E não, não sei se o Daniel é de
família boa, ótima, ruim ou
horrível. Eu não faço a questão de
saber. Agora se isso ajuda, ele é
de São Paulo.
TÔNIA
E veio fazer o que aqui em Água
Bela?
(ri)
Toma cuidado com esse garoto, hein?
Não é bom andar com qualquer um.
LUCAS
HA HA HA muito engraçada você,
mãezinha. Ele, provavelmente, ainda
vai vir aqui em casa. Se você
estiver aqui, não quero que você
faça climão. O Matheus inclusive.
Nesse momento Matheus aparace agasalhado e com uma mochila nas costas na porta da sala de jantar.
JORGE
Aonde você vai assim, filho?
MATHEUS
Só passei por aqui para avisar que
eu estou de saída.
JORGE
A essa hora você não vai sair não.
Matheus dá de ombros ao pai e sai do mesmo jeito.
CORTE PARA:
12 EXT. CASA DE LUCAS. FRENTE. NOITE
Matheus sai de casa. O clima frio serrano é percebido.
CORTE PARA:
13 EXT. ÁGUA BELA. RUA. NOITE
A música continua. Matheus anda sozinho pela rua deserta.
INSERT de CAP 1, cena 11: Matheus discute com o pai.
JORGE
Um dia você vai olhar pra trás e
ver como o seu pai sempre esteve
certo. E eu estarei aqui de braços
abertos, meu filho.
MATHEUS
Um dia você vai ver que se a gente
não viver enquanto pode, nós vamos
sobreviver amargurados.
FIM DO INSERT.
Matheus para de andar e olha ao redor. Ao ver que está sozinho pega na sua mochila um cantil, dentro, alguma bebida alcoólica forte. Matheus bebe e logo vemos que ele se sente mais calmo. Matheus continua a beber.
CORTE PARA:
14 INT. CASA DE LUCAS. QUARTO DE LUCAS. NOITE
Lucas em sua cama, deitado, pega o celular e vê a foto de Jéssica e Daniel, da cena 9. Lucas sorri e ouve um barulho vindo lá de fora. Ele se levanta e vai até a janela. Ele abre a cortina e olha para baixo. CORTE PARA: Do lado de fora, Matheus entrando claramente bêbado em casa. Reação de Lucas indignado, mas que também não é a primeira vez que isso acontece.
CORTE PARA:
15 INT. CASA DE LUCAS. QUARTO DE MATHEUS. NOITE
Matheus entra em seu quarto devagar, tentando não fazer barulho. Lucas está sentado em uma poltrona e Matheus se assusta ao ver o primo.
MATHEUS
(surpreso)
Lucas? O que você tá fazendo aqui?
LUCAS
Você bebeu de novo, Matheus?
MATHEUS
(se defendendo da acusação
de Lucas)
Não, eu não bebi nada não.
LUCAS
Me engana que eu gosto. Matheus, eu
não vou conseguir te defender e te
ajudar sempre. Eu vi você chegando,
mas poderia ter sido a minha mãe ou
o seu pai.
MATHEUS
Ai, Lucas, se orienta! Eu só bebi
um pouquinho. Eu precisava me
acalmar. Você sabe como eu sou.
LUCAS
E pra isso você precisou beber, né?
MATHEUS
Eu tô bem, cara, juro!
Nesse momento Matheus praticamente tropeça no próprio pé. Lucas corre pra ajudar o primo.
LUCAS
Vêm! Vou te levar pra tomar um
banho.
Reação de Matheus.
CORTE RÁPIDO PARA:
16 INT. CASA DE LUCAS. QUARTO DE LUCAS. BANHEIRO
Lucas ajuda Matheus a tirar a roupa, exceto a cueca. A última Matheus tira sozinho, enquanto Lucas liga a ducha com água quente para o primo.
LUCAS
Vêm!
MATHEUS
Eu consigo tomar banho sozinho. Eu
estou bêbado, não retardado.
LUCAS
Ok!
Lucas vai até a pia, de costas, e Matheus entra na ducha.
LUCAS (CONT'D)
Digo e repito, essa é a última vez
que vou te ajudar com alguma coisa
em relação a bebida.
MATHEUS
Não se preocupa, primo, isso não
vai se repetir.
LUCAS
Espero que isso não se repita
mesmo.
(t)
Eu sei que a gente tem as nossas
diferenças, Matheus, mas eu me
preocupo muito com você. Eu encubro
todas as merdas que você faz e você
que é o mais velho. Eu não quero
estar te ajudando em tudo. Depois
quem ouve sou eu. Você sempre foi
mais legal, sempre namoradeiro,
aventureiro, mas do que adianta
tudo isso, se você sempre acaba na
bebida?
MATHEUS
(começa a chorar)
Desculpa! Desculpa! Desculpa! Eu
não queria que fosse assim. Você
acha mesmo que eu ia querer que
tudo se resolvesse desse jeito?
Essa é a única forma que eu tenho
de me sentir melhor quando eu estou
nervoso.
LUCAS
Eu não acho que é assim porque você
quer, mas em algum momento você
quis. Seu pai sabe muito bem do
jeito que você é, por isso ele não
te deixa beber.
MATHEUS
Ele, como médico, deveria entender
que não é tirando de uma vez que se
resolve.
LUCAS
E do que adianta a ajuda se você
não quer ela?
MATHEUS
(ainda chorando)
Desculpa, Lucas!
Lucas entra na ducha junto com Matheus, vestido, sem nenhuma insinuação sexual. Matheus abraça Lucas forte. A roupa de Lucas é toda encharcada.
CORTE PARA:
17 INT. CASA DE LUCAS. QUARTO DE LUCAS. NOITE
A música continua. Matheus, já seco, deitado na cama de Lucas. Lucas joga o cobertor sobre ele.
LUCAS
Essa noite você dorme aqui. Vou
tomar um banho e colocar uma roupa
seca e depois vou para o seu
quarto.
MATHEUS
Obrigado, Lucas!
LUCAS
Por nada, Matheus.
Lucas dá um beijo na testa de Matheus.
LUCAS (CONT'D)
Você me dá muita dor de cabeça, mas
eu te amo, primo.
MATHEUS
Também te amo, Lucas.
Lucas se levanta e vai até o banheiro. Ele vai fechando a porta devagar enquanto ele e Matheus trocam olhares.
CORTE PARA:
18 INT. CASA DE LUCAS. QUARTO DE LUCAS. BANHEIRO. NOITE
Lucas fecha a porta do banheiro. Ele encara seu reflexo no espelho. Sua roupa toda molhada é refletida junto.
FUSÃO PARA:
19 EXT. ÁGUA BELA. DIA
Amanhece.
CORTE PARA:
20 INT. CASA DE LUCAS. QUARTO DE MATHEUS. DIA
Lucas dormindo. Matheus entra no quarto, ele sente um pouco da ressaca. Ajoelha ao lado do primo e o cutuca. Lucas, acorda.
LUCAS
(acordando)
Que foi, Matheus?
MATHEUS
Acho melhor você levantar já. Nem
meu pai, nem sua mãe acordaram
ainda. Se algum deles vier em
qualquer quarto, vai dar ruim
depois.
LUCAS
Você tá certo.
Lucas se levanta e vai até a porta.
MATHEUS
(barrando Lucas)
Ei?
Lucas se vira
MATHEUS (CONT'D)
Obrigado, Lucas! Eu não sei o que
faria se não fosse você.
LUCAS
A gente é muito parecido, Matheus.
Eu acho que a gente tem que se
apoiar. Afinal, nós dois estamos na
mesma casa, convivemos praticamento
o tempo todo. Mesmo com modo de
vida diferente, nós estamos no
mesmo barco.
Matheus vai até Lucas e abraça o primo. Lucas sorri e sai do quarto.
CORTE PARA:
21 INT. CASA DE LUCAS. SALA DE JANTAR. DIA
Lucas, Matheus, Jorge e Tônia sobre a mesa do café da manhã. A empregada traz uma jarra de suco de laranja.
MATHEUS
(para Jorge)
Pai?
JORGE
O que foi, Matheus?
MATHEUS
Desculpa por ontem!
Reação de Jorge e de Lucas surpresos.
MATHEUS (CONT'D)
Eu me exaltei um pouco e acabei
falando o que não devia. Eu sei que
temos opiniões e modos de vida
diferentes. Eu não queria que
ficasse esse clima chato entre a
gente. E eu também te amo, pai.
Assim como eu também amo a minha
mãe.
JORGE
Eu também te amo, filho. Eu também
peço desculpas por ontem. Não quero
que pense que eu tenho vergonha de
você, como eu disse erroneamente
ontem a noite.
MATHEUS
Tudo bem!
TÔNIA
Enfim, a paz novamente nessa casa.
Todos riem. Em SLOW Matheus e Lucas se olhando e sorrindo. Matheus pisca com um olho para Lucas, que fica tímido.
CORTE PARA:
22 INT. COLÉGIO MACHADO DE ASSIS. PÁTIO. DIA
Jéssica e Lucas
JÉSSICA
Tudo isso numa noite só?
LUCAS
Pois, é, menina. Nem sei como a
gente consegue refletir com tanta
coisa acontecendo ao mesmo tempo.
JÉSSICA
Caramba!
(ri)
Fico feliz que esteja tudo bem e
que você e o Matheus estejam se
dando bem.
LUCAS
Nós temos as nossas diferenças,
mas, no fundo, ele é uma pessoa de
coração bom.
JÉSSICA
Será que não rolou nenhum clima
entre vocês depois da noite de
ontem?
LUCAS
Que é isso, Jéssica?
(ri)
Ele é meu primo e também nunca tive
nenhum interesse por ele. Aliás,
seria praticamente impossível
acontecer alguma coisa entre nós.
JÉSSICA
Nunca diga nunca, Lucas. O destino
sempre dá um jeito de nos
surpreender.
LUCAS
Que o destino saiba que essa
surpresa, eu não quero.
JÉSSICA
Não cospe pra cima que cai na
testa.
LUCAS
Ah, Jéssica, sei lá, acho que não
rolaria nem se ele quisesse. Eu
acho que estou me interessando por
outra pessoa. Alguém que não tem
nada a ver com o meu primo. E que
bom que não tem.
JÉSSICA
E eu posso saber quem é o
felizardo?
LUCAS
Acho que na hora certa, você vai
saber.
Nesse exato momento, mais a diante dos dois aparece Daniel.
Daniel se aproxima de Lucas e Jéssica. Lucas e Daniel trocam olhares
profundos e Jéssica percebe o clima.
DANIEL
Poxa! Finalmente encontrei vocês
aqui.
LUCAS
Eu também estava procurando por
você.
Lucas e Daniel sorriem um para o outro.
Fim do capítulo 1.
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