Nos Trilhos: Capítulo 25 (ÚLTIMO CAPÍTULO!)

Novela de

Sandy

 

Escrita por

Sandy


 Classificação: 



Personagens deste capítulo:

ANA e antítese de Ana (Carolina Kasting)

CARLO (Danton Mello)

GISELE (Christine Fernandes)

LÍVIA (Lucy Ramos)

BEATRIZ (Nívea Maria)

CARLA (Débora Falabella)

LIZA (Vivianne Pasmanter)

NANDO (Chay Suede)

PAULO (Murilo Benício)

PEDRO (Dan stulbach)

LEILA (Giovanna Rispoli)

HELOISA (Ângela Vieira)

LÚCIO (Dalton Vigh)

LOLA (Maria Clara Gueiros)

HEITOR (Marcelo Médici)

HENRIQUE (Petrônio Gotinjo)

MAXIMILIANO (Emílio Orciollo Netto)

VIRGÍLIO (Marcelo Melo jr.)

VIRGINIA (Lavínia Vlasak)

CAROLINA (Isabel Fillardis)

LEANDRO (Fernando Pavão)

BELLA (Barbara França)

EMÍLIO (Danilo Mesquita)

FRANCO (Marcos Caruso)

EVANDRO (Stênio Garcia)

 

Título do capítulo de hoje: "Vestindo o passado ou amar pela metade".




CENA 01 CONTINUAÇÃO DIRETA DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO ANTERIOR CASA DE EVANDRO INT/NOITE

 


Ana adentra na casa de sua infância, acende a parca luz, e se dá conta que nada mudou! Quase tudo está em seu lugar, ainda que sinais do tempo sejam mais do que perceptíveis: teias de aranha e poeira consomem os móveis. Ela passeia pela sala, até que um quadro na parede chama a sua atenção: ele representa Beatriz lindíssima em um decotado vestido vermelho, de cabelos soltos e sensuais.

 

FLASHBAK ON:

 

Beatriz briga com Evandro, numa extensão de seu desentendimento com Franco. Ela costura em uma máquina o vestido rasgado pelo irmão.

 

BEATRIZ: [...] É melhor vocês poderem uma coisa na cabeça oca de vocês: nem pai, nem irmão e nem marido vão decidir o que o eu devo vestir! Nunca me senti tão linda, tão desejada, como me sinto ao usar esse vestido!

 

EVANDRO: Mas é presente daquele desgraçado! Você devia ter mais respeito por mim, mulher!

 

BEATRIZ: Eu não te desrespeitei em momento algum, você que não tem confiança em mim! Esse vestido não significa nada!

 

Criança, Ana assiste a cena, temendo um desenlace trágico.

 

FLASHBACK OFF.

 

Alguém toca o braço de Ana, e ela se vira assustada.

 

EVANDRO: Quem é você?

 

Ela olha profundamente para os olhos do pai, CORTA PARA:

 

CENA 2 CASA DE CARLA INT/NOITE


 

Carla fica parada na porta, meio estupefata com Pedro: ele lhe entrega o buquê ela o convida para entrar.

 

CARLA: São lindas, muito obrigada pelo presente, mas o que eu fiz pra merecer esse mimo?

 

PEDRO: Você existe, apenas por isso merece todas as flores do mundo!

 

Carla fica surpresa e constrangida.

 

PEDRO: A tempos eu venho sentindo um vazio enorme, algo dentro de mim me consome cada vez mais... Eu sinto falta de você, do seu jeito delicado, da sua voz doce nos meus ouvidos, da sua compreensão... Preciso ter você de volta pra me sentir inteiro outra vez!

 

Ele se ajoelha implorando.

 

PEDRO: Volta pra mim, por favor!

 

CARLA: Homens! Sempre confundem doçura com submissão!

 

Ele agarra a mão dela.

 

PEDRO: Você nunca foi submissa a mim, pelo contrário, sempre teve vontade própria!

 

CARLA: (Furiosa) Mas nunca tive coragem de usá-la! E sempre me anulei pra caber no seu mundinho quadrado!

 

Ela arranca sua mão de dentro da dele.

 

CARLA: Só Deus sabe o quanto eu queria voltar pra televisão, pros palcos... O quanto eu sentia falta da minha arte, de expressar os meus sentimentos, como se não fossem meus!

 

PEDRO: Não seja injusta, eu nunca te impedi de trabalhar, de atuar!

 

CARLA: Mas eu sempre tive medo de te perder, de se afastar de você... Eu tinha a ilusão, uma boba ilusão, que me voltando totalmente pra você, Pedro... Você não ia me abandonar! E no final das contas não adiantou de nada!

 

Fúria no rosto de Carla, sofrimento no rosto de Pedro, CORTA PARA:

 

CENA 03 APARTAMENTO DE LIZA INT/NOITE



 

Liza pega suas roupas e joga apressadamente numa mala.

 

JULIA: Que surto foi esse, Liza?

 

LIZA: Ele comprou flores, e não são para mim!

 

JULIA: Vai abandonar o apartamento, tuas coisas todas, só por causa disso? Talvez haja uma explicação...

 

LIZA: Sim, mas eu não vou sair de mãos abanando, Darling!

 

Ela fecha com dificuldade a mala, sentando em cima.

 

LIZA; Já fiz a limpa com o dinheiro que estava na nossa conta conjunta, uma quantia razoável para eu me manter fora do Brasil... Pelo menos até eu conseguir arrancar até as calças dele no processo de divórcio!

 

JULIA: Não creio!

 

LIZA: Agora eu vou passar essa noite num hotel caríssimo, usando o cartão de crédito dele!

 

Ela vai até a gaveta dele, retira a carteira de lá dentro e pega o cartão e algumas notas de cem reais (que coloca no sutiã entre os seios).

 

LIZA: Vamos querida!

 

As duas saem do apartamento.

 

JULIA: Não vai nem fechar a porta, vai deixar tudo escancarado?

 

LIZA: Sim, e tomara que um grupo de mendigos venha passar a noite aqui!

 

Liza bate as tamancas.

 

LIZA: Não vou levar um grão de pó dessa minha vida passada e miserável! Quero alguém que me ame de verdade e eu não seja apenas uma válvula de escape!

 

Ela dá uma gargalhada, CORTA PARA:

 

CENA 05 CASA DE EVANDRO INT/NOITE



 

Pai e filha se olham profundamente, apesar da parca iluminação.

 

ANA: Não reconhece mais a própria filha?

 

Evandro continua em silêncio durante alguns segundos, pego de surpresa.

 

EVANDRO: Filha? De repente se lembrou que tinha um pai vivo ainda?

 

Ana parece ter os olhos vítreos

 

ANA: Nunca me esqueci do senhor, sempre esteve nas minhas lembranças, você é um fantasma que me assombrou durante toda minha infância, durante toda a minha vida, seria melhor dizer... Mas os adultos não demostram os medos que sentem, adultos não devem ter medo de fantasmas!

 

EVANDRO: Medo de mim? Me abandonou por medo? Eu nunca pus a mão em você, garota!

 

ANA: Eu tenho medo do que você representa, medo de todos os abusos que você fez a minha mãe passar e eu presenciar!

 

EVANDRO: Ela te colocou contra mim, era esperado, depois de ter fugido com aquele desgraçado fura-olho do Alfredo!

 

ANA: Pior que ela nunca falou nada a seu respeito, tão pouco mal. Isso era o que mais me irritava nela! Sofreu o pão que o diabo amassou nas suas mãos e nas do tio Franco, mas vivia vida com um sorriso no rosto, como se cada tapa, cada surra, não tivessem deixado marcas!

 

EVANDRO: Ela sempre foi descarada demais, surra nenhuma corrigiu sua conduta ou lhe deixou marcas por muito tempo! A cada tapa que levava, voltava a me provocar com mais violência, sorrindo cínica com dentes a mostra!

 

ANA: Mas eu presenciei tudo, lembro como se as barbaridades cometidas no passado contra ela, estivessem acontecendo aqui na minha frente nesse momento!

 

Ela desaba sobre o sofá encardido.

 

ANA: Tio franco segurando-a pelos braços com forças, e você vindo com aquela tesoura que ela mesma usava nas costuras... E eu, uma criança assustada, com medo que fossem desfigurar o rosto dela, como tantas vezes tinham prometido!

 

Enquanto Ana fala, imagens do passado se materializam em sua frente: Franco segura Beatriz enquanto Evandro corta os longos cabelos dela.

 

ANA: (Chorando, apenas as lágrimas, sem emitir ruídos). E ela se debatia, sempre soube que os seus longos cabelos escuros eram seu maior atributo de belezas... Sempre dizia que era a moldura de seu rosto...

 

Evandro olha para a pintura da ex-mulher.

 

EVANDRO: (Hipnotizado) Um quadro lindo, não precisa de moldura luxuosa...

 

ANA: Tem razão, com cabelo curto ela ficou mais moderna, mais jovem... Parecia uma daquelas artistas de novela... Nunca mais deixou o cabelo crescer de novo!

 

EVANDRO: Aquela vadia!

 

Evandro bate com força no quadro da parede, CORTA PARA:

 

CENA 06 CASA DE CARLA INT/NOITE



 

Pedro suplica a Carla.

 

PEDRO: Um dia nós nos amamos tanto, fomos tão felizes, por que não podemos resgatar algo tão bonito? Me aceita de volta!

 

CARLA: Te dei todo o meu coração inteiro um dia, mas tu o desprezasses, é natural que perdesses território:  não sei amar pela metade, deixei de te amar e agora amo outro!

 

PEDRO: (Inflamado) Você não é uma heroína de romance, e nem aquele paspalho é o cavalheiro que resgata a princesa das garras do vilão!

 

CARLA: Nunca despreze os ensinamentos dos romances...

 

Calmamente ela se aproxima da porta e a abre.

 

CARLA: Creio que agora podemos findar esse epilogo deprimente. E pode levar as flores, acho que meu namorado não ia gostar se soubesse...

 

PEDRO: Não, é um presente e deve ficar com você, apesar do papel ridículo que estou interpretando...  Vão murchar aos seus olhos vistos, uma lembrança frugal de mim.

 

Ele dirige um olhar significativo à ex-mulher e sai tristemente. Carla fecha a porta com força e se encosta na superfície de madeira fria, escorregando até o chão; CORTA PARA:


CENA 07 CASA DE EVANDRO INT/NOITE

 

Evandro agarra Ana pelos ombros e a chacoalha.

 

EVANDRO: Por que viestes atormentar ainda mais a minha falta de paz interior? Atormentar o teu velho pai virou um novo esporte entre os filhos desnaturados?

 

Ela olha para ele de forma penetrante, com os olhos brilhantes e aponta para o quadro de Beatriz na parede.

 

ANA: Ela sumiu, se desfez da face da terra, como poeira no vento!

 

Ele a olha intrigado.

 

EVANDRO: Ele desapareceu também?

 

Ela assente silenciosamente.

 

EVANDRO: Fugiram de novo, o que aqueles dois desgraçados fizeram a vida toda, e agora na velhice não seria diferente! Aquele charlatão e a tua mãe sempre quiseram

bancar os misteriosos, os imprevisíveis...

 

Evandro faz gestos de mágica com as mãos.

 

EVANDRO: Quando você conhece bem demais o mágico, o feitiço perde a sua magia: você sabe exatamente como a coisa se desenrola... Nada mais previsível em relação a Beatriz, mia Beatrice e o Alfredo, mio amico, do que a fuga...

 

Ana permanece parada ouvindo a voz do pai, o vento uivando lá fora.

 

EVANDRO: Fugiram uma vida inteira: a começar da pobreza, tanto ela reclamava da penúria, e a ganancia dela destruiu o meu prazer com pintar, hoje apenas mexo com essas coisas por sobrevivência (e mal consigo!); das relações familiares, do nosso lar...

 

ANA: (Incendiada) Fugiu da violência, fugiu desse pardieiro, da fome! Fugiu de passar horas e horas em cima de uma maquina de costura enferrujada, fugiu dos seus ciúmes doentios!

 

Ele solta uma risada espectral.

 

EVANDRO: No fundo, ela gostava dos meus ciúmes, sempre me provocava quando algum condenado começava a dar em cima dela!

 

Ana se agarra as roupas sujas de tinta e terra do pai, com uma expressão de dor

 

ANA: Ela queria ser livre, pai! Queria mandar no próprio corpo, viver um grande amor!

 

EVANDRO: Ela nunca amou ninguém.

 

ANA: Ama sim, por muito tempo amor dela me sufocou... Um amor que eu sentia que não era capaz de retribuir na mesma intensidade, me sentia mal por isso! A ela, só consegui amar com uma terrível deficiência, mesmo a admirando... Querendo ser como ela: bela, valente, indestrutível!

 

Evandro ouve o monólogo da filha, e quando findo, os dois mergulham em silêncio.

 

EVANDRO: Quer saber onde ela se enfiou, não é? É pra isso que veio atrás do seu velho e cansado pai?

 

Ela confirma com os olhos. Ele tira um cigarro e um isqueiro dos bolsos, acende o primeiro e começa a fumar: uma fumaça cinza povoa o ambiente parcamente iluminado.

 

EVANDRO: Uma das grandes queixas da mia Beatrice, sempre foi que nunca a levei para conhecer o mar... Lá no Rio vocês tem muitas praias, mas quem sabe aquele traste não a levou para a costa, para alguma cidade litorânea?

 

ANA: (Sussurrando) Obrigada.

 

EVANDRO: Antes de ir vá no quarto e abra o guarda-roupas, tem algo pra você lá dentro...

 

Ela nada responde e se dirige lentamente até o quarto, CORTA PARA:

 

CENA 08 QUARTO DE CASAL INT/NOITE


 


Ana entra no quarto do pai, onde outrora a mãe também habitou, e observa o estado das coisas: cheira mal, tudo está em desordem (a cama bagunça, roupas e objetos de pintura pelo chão). Ela abre o guarda-roupas, de madeira envernizada em amarelo, e se depara com as roupas em uma bilha cíclica, quase formando uma bola de tecido...

 

ANA: Os ratos devem fazer a festa aqui dentro!

 

Mas no fundo do móvel, um conjunto feminino vermelho-carmim chama a sua atenção – bem passado, dobrado e arrumado. Ela retira as peças e se aconchega com elas, sentindo um delicioso perfume advindo delas.

 

ANA: Tem o cheiro da minha mãe!

 

Ela se aproxima do velho espelho e coloca as peças sobre o corpo, medindo o comprimento contra si. Ela resolve experimentar e então começa a se despir e a vestir as peças, CORTA PARA:

 

CENA 09 CASA DE EVANDRO INT/NOITE

 

Ana surge na sala de estar, como incontida em brumas, e se apresenta ao pai vestida com as roupas que foram de Beatriz.

 

ANA: Quando eu era criança eu assaltava as gavetas dela, fazia uma bagunça, e brincava usando as roupas dela... Vestia os sapatos de salto alto e saia desfilando pelo quarto! Mas me faltava altura, corpo para vestir essas roupas... Mas hoje, quando eu já perdi a vontade de brincar, elas me serviram direitinho!

 

EVANDRO: Você nunca pareceu tanto com ela, e nunca esteve tão linda!

 

Ana nada diz e abraça o pai, num adeus silencioso, CORTA PARA:

 

CENA 10 CASA DE EVANDRO EXT/NOITE



 

Ana abre a porta do carro e encontra Carlo dormindo apoiado sob o volante. Ela o acorda com um beijo na nuca.

 

ANA: Vamos meu amor, no caminho eu digo para onde...

 

Ele esfrega os olhos, sorri para ela, linda e resplandecente como nunca esteve. Ela se acomoda ao seu lado e ele liga o veículo.

 

CORTA PARA:

 

CENA 11 ESTRADA DE TERRA/DIA



 

Ana e Carlo viajam ao litoral a noite toda e de manhã sentem o cheiro do mar na brisa: ela coloca uma das mãos para fora e brinca no ar.

 

ANA: (Em off) Às vezes você passa uma vida inteira tentando se encaixar, tentando se ajustar ou encontrar, em meio a ambientes inóspitos – que deveriam ser acolhedores... Laços que sufocam, laços que você daria tudo para romper...

 

Em seu apartamento, Paulo tenta ligar muitas vezes para a esposa, mas sem sucesso, ele começa a sentir preocupado.

 

ANA: (Em off) Mas de repente, como um passe de mágica de uma varinha de condão, algo muda dentro de você e então percebe que nunca deveria ter mudado, nunca deveria ter se anulado, se controlado... O seu lugar sempre esteve reservado no mundo!

 

Ana olha feliz para Carlo, apaixonada, CORTA PARA:

 

CENA 12 HOSPITAL INT/DIA



 

Lívia trás um presentinho para a filha de Virgínia e Virgílio.

 

LÍVIA: Não é nada muito luxuoso, escolhi apenas uma lembrancinha... Comprei hoje na pressa, depois eu prometo que trago um presentão para a pequena! Qual é o nome da belezinha?

 

Virgínia olha para a filhinha que amamenta entre os braços.

 

VIRGÍLIO: Vitória, ela já nasceu sendo uma vitoriosa.

 

VIRGÍNIA: Não precisa trazer nada muito caro, nós que estamos em dívida com você, e esperamos que aceite a nossa forma de agradecer...

 

VIRGÍLIO: Lívia, você aceita ser a madrinha da Vicky? Já velou por ela desde o nascimento, é muita reponsabilidade, mas esperamos que aceite!

 

Lívia pega as mãos dos pais da menina.

 

LÍVIA: (Emocionada) Será uma honra!

 

VIRGÍNIA: Então venha aqui Comadre e segure a sua afilhada!

 

A mãe coloca a filha nos braços de Lívia e ela sorri para o pai, o clima é de alegria e felicidade, CORTA PARA:

 

CENA 13 APARTAMENTO DE LEONORA INT/DIA

 

Paulo procura conforto com a mãe e a encontra fazendo as malas.

 

PAULO: A senhora só pode ter enlouquecido!

 

LEONORA: Nunca estive tão lúcida em toda a minha vida! Apenas uma temporada longa em Paris poderá me trazer alguma paz de espírito novamente!

 

PAULO: E desde quando é tão fácil assim? Vai fazer as malas e entrar de penetra num avião? Ou vai se enfiar numa caixa de sapatos e ir pela mala postal do correio?

 

LEONORA: Felizmente eu ainda tenho alguma influência nesta cidade provinciana: bastou dar uma ligada a uma amiga dona de uma agência de viagens e consegui uma passagem de última hora – pra hoje ainda e um quarto em um hotel três estrelas! (Geralmente não aceito menos de quatro estrelas, então abri uma exceção).

 

PAULO: Vai me abandonar mãe?

 

LEONORA: Mon petit, te sufoquei durante a tua vida inteira, e deve ser por isso que você se tornou um paspalho enganado por todos – sobretudo pelas mulheres. Mas talvez, agora você se torne um homem de verdade!

 

Ela pega a mala, se enrola com um xale de veludo roxo, coloca um par de óculos escuros e sai desfilando.

 

LEONORA: Quando sair feche a porta e deixe as chaves com o porteiro, acho que vai demorar até que eu me sinta a vontade para pôr os pés de novo nesse apartamento! Au revoir!

 

Paulo tira os óculos de grau e deixa algumas lágrimas escorrem, CORTA PARA:

 

CENA 14 QUARTO DE CARLA INT/DIA



 

Max e Carla estão nus: ela deitada com a cabeça no peito peludo dele e ele brincando com os fios de cabelo dela.

 

CARLA: Você nunca vai me abandonar, não é?

 

Ele a olha zombeteiramente, aconchega a cabeça dela contra si e beija-lhe a fronte molhada de um suor refrescante.

 

MAX: Non, amada mia! Nunca. Solo se estourar un'altra guerra: io vo ter que ir lutar e deixar você aqui, chorando, rezando e esperando per me!

 

Ela se levanta, levando consigo o lençol para cobrir suas vergonhas.

 

CARLA: Se estourar outra guerra, eu iria atrás de você... e combateria a teu lado, não ia aguentar ficar em casa sem fazer nada!

 

Ele a abraça forte.

 

MAX: Mia bella não ia querer bordar uma farda troppo elegante pro teu marito?

 

CARLA: Não, mas mesmo que eu quisesse não ia conseguir, não sei pregar um botão em uma camisa! Sou um horror em relação a prendas domésticas... Ainda vai querer uma esposa tão inútil?

 

MAX: Non ho bisogno di niente, quando sono con te!

 

Os dois se beijam apaixonadamente e se entregam a paixão, CORTA PARA:

 

CENA 15 PARQUE EXT/DIA



 

Lola e Bella tomam um sorvete.

 

BELLA: Novela mexicana? O grande ator brasileiro Leandro Venturini agora atua em novelas mexicanas! O mundo gira numa velocidade surpreendente, ein...

 

LOLA: Não lê revistas, não acessa as redes socias? Depois que você expôs as situações de assédio que ele te colocou, foi como se tivessem aceso o pavio de uma dinamite... Outras atrizes, camareiras, até faxineiras relataram casos semelhantes...

 

BELLA: Então ele não conseguiu mais nem papel de porteiro em novela do Manoel Carlos e teve que ir emigrar pra terra dos sombreiros?

 

LOLA: Eu tenho pra mim que ele foi banido, a carreira dele por aqui deve acabar... E você está certa, o mundo realmente gira numa velocidade impressionante: se ele está na pior, por outro lado você...

 

BELLA: Vou protagonizar uma novela das seis! Usar aquelas roupas antigas, aqueles vestidos longos e armados... Chapeis cobertos de rendas, sombrinhas...

 

Ela rodopia animada nas pontas dos pés, como uma bailarina.

 

LOLA: Depois te mostro os croquis que desenhei, o figurino da próxima novela da Elizabeth Jhin será estupendo! Com referências da moda da era Georgiana inglesa!

 

De repente, Bella nota que próximo dali Nando e Emílio fazem um pedido em outra barraca de sorvetes.

 

LOLA: Que constrangedor, vamos embora?

 

BELLA: Não mesmo, vou falar com eles.

 

LOLA: Se vai fazer um bom barraco, espere eu dar uma passadinha naquele pipoqueiro do outro lado da rua!

 

Bella se aproxima do casal, os cumprimenta e eles começam a conversa animadamente.

 

LOLA: Maldita civilidade!

 

Bella abraça os dois e eles dão os braços a ela: os três saem, ela no meio dos dois, rindo e se divertindo.

 

LOLA: Isabela! Eu não sou descartável, querida!

 

Lola corre atrás deles, CORTA PARA:

 

CENA 16 CARRO DE NANDO INT/DIA



 

Emílio e Nando estão sozinhos no carro, abraçados olhando o pôr do sol na cidade.

 

EMÍLIO: A Bella foi legal com a gente, não é?

 

NANDO: Sim, mas eu não esperava outra atitude vindo dela... Eu não merecia tanto respeito, pois fui desleal com ela, mas eu sei que você precisava do carinho dela de volta... Só assim o seu coraçãozinho se aquietaria no peito, não é?

 

Emílio abraça o namorado.

 

EMÍLIO: Me assusto em como você consegue ler no meu rosto tudo o que se passa na minha cabeça, no meu coração... Me sinto nu praticamente, não consigo esconder nada de você!

 

NANDO: Você é puro, um livro aberto, qualquer com um pouquinho de sensibilidade pode lê-lo...

 

Ele faz um gesto simbolizando uma quantidade pequena.

 

EMÍLIO: Eu não quero ficar escancarado para qualquer, só quero que você me leia, me interprete corretamente... Num piscar de olhos, por que você tem a chave, a quipitrografia do meu coração?

 

NANDO: Então temos que tomar bastante cuidado, não queremos que uma preciosidade como essas caia em mãos erradas, não é mesmo? Serei o guardião da tumba secreta, do seu tesouro!

 

Nado toca o coração de Emílio, e ele fecha os olhos e aperta as mãos do namorado contra si e os dois se beijam apaixonadamente, CORTA PARA:

 

CENA 17 PRAIA DESERTA/DIA



 

Finalmente Ana e Carlo desembarcam em seu destino final: o carro para perto da orla, ela desce e tira os sapatos e vai andando pela areia fofa e quente e sentindo o frescor da brisa marítima, e ele faz o mesmo.

 

ANA: Ela precisa estar aqui!

 

Ela caminha inicialmente lentamente, olhando para todos os lados, como se Beatriz pudesse se materializar a sua frente a qualquer momento.

 

CARLO: Acho que ela não deve ter vindo pra cá, não...

 

De repente Ana começa a correr na areia fofa, e Carlo corre atrás dela, como se eles estivessem brincando de pega-pega. Nessa corrida maluca, eles sobem correndo uma ladeira e avistam uma linda casa de praia no top deste um terreno íngreme.

 

ANA: Aqui, tenho certeza que ela está aqui!

 

CORTA PARA:

 

CENA 18 APARTAMENTO DE GISELE INT/DIA




Gisele entra no quarto com olhos tapados pelas mãos de Lúcio, e ele a faz se sentar na cama ao lado de uma linda caixa de presente: ele tira delicadamente as mãos.

 

LÚCIO: Eu sei que o fim da “Sognare” te deixou muito triste, mas talvez esse mimo possa te deixar um pouco melhor, ou ao menos te tirar algum sorriso nesses lábios lindos!

 

Ele toca delicadamente o rosto da mulher, que fecha os olhos ao estimulo dele.

 

GISELE: Agradeço as boas intenções, mas nada me fará feliz no momento, ao menos que eu ganhasse na megasena e pudesse salvá-la da falência...

 

LÚCIO: Abra por favor, garanto que não vai se arrepender!

 

Ela faz uma careta de descrença, mas começa a desatar a fita do pacote, logo retira de lá um maço de papel dentro de um envelope de papel pardo.

 

GISELE: É o seu novo livro? Tanta pompa e circunstância para isso? Tudo bem você querer a minha opinião antes de mandar pra lambisgoia da Virgínia, mas não precisava desse carnaval todo!

 

LÚCIO: Antes de fazer essa cara de desgosto e decepção olhe o conteúdo do envelope, por favor! Deveria ter retirado do envelope e grampeado as folhas... Vou anotar em algum lugar isso pra não me esquecer da próxima vez!

 

Ele sorri matreiro enquanto ela retira o maço de folhas do envelope: na capa do manuscrito lê-se em letras garrafais: GISELE, com o nome completo de Lúcio em uma fonte menor logo abaixo.

 

GISELE: (Surpresa) Meu nome? O seu novo livro levou o meu nome como título?

 

LÚCIO: Sim, não existe um título melhor para ele, cabe como uma luva.

 

GISELE: Fico grata, mas não entendo o porquê!?

 

LÚCIO: Você foi e sempre será a minha musa, a minha inspiração! Não apenas desse livro, mas de toda a minha obra, de tudo o que eu escrevi! Cada suspiro, cada olhar que vêm de você eu absorvo...

 

GISELE: Sou tão comum, por que um escritor, ou melhor, um poeta se inspiraria em mim?

 

LÚCIO: Não sei de outras pessoas, algum poeta ou escritor, coisa que não me considero como... Mas eu preciso de você para viver, como uma planta necessita de ar! Escrevendo ou não, preciso de você comigo, do meu lado! Escrevo, na verdade, apenas para te homenagear: quero que o mundo conheça a mulher forte e inteligente que você é! Nesse livro, tomei a liberdade de contar a nossa história, pra tentar sufocar a vontade que cresce dentro de mim de gritar pro mundo: te amo.

 

Ela sorri de canto a canto, mas nada fala; ela vai até a gaveta da sua cômoda e retira dali um manuscrito.

 

GISELE: Não sei nem o que falar para agradecer a tua homenagem, tô extasiada de felicidade... Mas acho que temos um problema.

 

LÚCIO: Probleminha ou problemão?

 

GISELE: Depende do ponto de vista...

 

Ela entrega ao marido um manuscrito.

 

GISELE: Acho que acabamos tendo a mesma ideia: eu escrevi meu primeiro livro... e ele conta a nossa história, desde o começo... Os nossos amores, os nossos problemas... enfim tudo! Eu ainda não decidi o título, quero a sua ajuda para isso...

 

Ele olha o manuscrito encantado.

 

LÚCIO: Não é um problema, quando mais pontos de vista o leitor tiver de uma mesma história a sua disposição, melhor pra ele...

 

Os dois se olham felizes, e ela abraça o marido forte, CORTA PARA:

 

CENA 19 CASA DE PRAIA EXT/DIA


 

Ana chega até a fachada da linda casa branca de longas pilastras, que sustentam uma rede multicolorida. Logo Carlo a alcança, e os dois entram em silêncio pela porta de madeira corroída pela maresia e encontram um ambiente aconchegante um sofá-cama coberto por algumas mantas, uma lareira paras as noites frias e livros por toda a parte; Enquanto Ana olha ao redor, uma mulher gorda aparece enxugando as mãos num pano de prato.

 

MULHER: Vocês dois devem são o casal que ia alugar a casa pro fim de semana, não é? Chegaram cedo, nem tive tempo de dar uma geral nas coisas... Adesculpa a bagunça, uma cambada de jovens passou o feriado aqui e quase derrubaram o telhado na minha cabeça!

 

Eles se entreolham.

 

ANA: A gente resolveu chegar mais cedo, precisávamos urgentemente de um tempo sozinhos, perto da natureza...

 

MULHER: Pra espairecer né, entendo senhora, aqui sempre é movimentado por causa do povo da cidade querendo espairecer... Essa casa nunca fica fechado, a num ser no inferno.

 

CARLO: Onde eu posso colocar o carro, aqui tem uma garagem?

 

MULHER: Tem sim, senhor. Vô pedir pro capataz abrir a garage pr’ocê...

 

Carlo sai e desce o a ladeira para resgatar o carro, como se fosse normal se submeter ao doce engano que se encontraram.

 

MULHER: Sente-se senhora, vô preparar umas coisas boas pr’ocês comer: tem uma broa de milho no forno, é pra já!

 

A mulher começa a ordenar a bagunça do local e Ana cansada deixa-se escorrer pelo sofá.

 

MULHER: Cabeça minha, me esqueci de perguntar qual a graça da senhora!

 

Um silêncio toma o ambiente, ouve-se apenas o som das ondas desembocando nos rochedos da praia. Ana rompe o silêncio e fala com naturalidade:

 

ANA: O dono não lhe disse os nossos nomes?

 

MULHER: Não, só disse que um casal muito bonito e apaixonado ia passar o final de semana aqui...

 

Ela ri, pensando que aqueles adjetivos realmente se aplicam a eles.

 

ANA: Bonito e apaixonado...

 

A mulher sorri constrangida, enquanto varre a sala.

 

ANA: Meu nome é Beatriz, pode me chamar de Beatriz!

 

Um brilho diferente ilumina os olhos de Ana, CORTA PARA:

 

CENA 20 AVIÃO RUMO A PARIS INT/DIA



 

Leonora já está acomodada em sua poltrona confortavelmente, lendo “Memórias de uma moça bem comportada” de Simone de Beauvoir, quando Liza entra no avião carregando muita bagagem e mão.

 

LEONORA: (Em pensamento) Não acredito que essa desajustada vai sentar do meu lado...

 

Liza se aproxima e Leonora faz uma cara de poucos amigos.

 

LIZA: Oi, tudo bem? Tá calor ein, mas dizem que em Paris faz muito frio, então eu comprei um casaco de pele de onça falsa lindíssimo!

 

LEONORA: (Antipática) Acredito que fala bastante frio lá mesmo...

 

Liza guarda suas malas no compartimento superior e senta-se, apertando Leonora contra a janela.

 

LIZA: Desculpa, desculpa... Acho que comi demais hoje, não consegui resistir algumas porções de sorvete de chocolate... Quando uma mulher termina um relacionamento o chocolate é o seu melhor amigo!

 

Leonora solta sorriso amarelo. De repente a porta do compartimento não aguenta a pressão dos pertences de Liza e estoura, despejando o conteúdo em cima delas: Leonora se levanta em estado de fúria e retira uma calcinha fio dental de sua cabeça.

 

LIZA: Obrigada, isso é meu!

 

LEONORA: (Descontrolada) Sua brega! Nunca escutou a máxima que menos é mais? Vai pra Paris contrabandear muamba na Torre Eiffel?

 

LIZA: Pera aí sua velha coroca, você não tem o direito de falar assim comigo! Isso só pode ser de um homem, sua velha seca!

 

Leonora fica vermelha de raiva e dá um tapa na cara de Liza, as duas saem no tapa, uma pegando no cabelo da outra.

 

LEONORA: Sua loura de farmácia, cheirando a água oxigenada!

 

Uma aeromoça e um segurança tentam separar as duas, CORTA PARA:

 

CENA 21 APARTAMENTO DE PAULO INT/DIA

 

Paulo limpa o vapor do espelho do banheiro, abre a torneira e começa a fazer a sua barba. Nervoso, com saudades de Ana, ele faz um movimento brusco e acaba se cortando.

 

PAULO: Merda!

 

Uma gota de sangue cai em uma das suas mãos e mancha de sangue a aliança de casamento: ele olha transtornado e sente a dor pulsar no rosto.

 

PAULO: Ana, onde está você?

 

Ele limpa o rosto e estanca o ferimento com uma toalha, até o sangue parar de jorrar. Logo depois ele tira a aliança e começa a lavar as mãos com sabonete, num descuido a aliança escorrega e cai pelo ralo.

 

PAULO: Meu Deus, ela nunca vai me perdoar!

 

Paulo olha para o furo escuro na pia, e deixa escorrer uma lágrima dos seus olhos, CORTA PARA:

 

CENA 22 CASA DE PRAIA INT/NOITE

 

O tempo passa, a lareira está acesa e Carlo e Ana se deliciam jantando uma comida caseira e tomando vinho tinto.

 

CARLO: Onde estará a sua mãe e o meu tio?

 

Ana nada fala por um certo tempo, até que responde.

 

ANA: Não sei, não faço a menor ideia.

 

Carlo larga a sua taça de vinho, se aproxima de Ana e lhe dá um abraço forte e quente.



 

ANA: Do seu lado, eu tenho plena certeza: nada pode me fazer mal.

 

CARLO: Não me idealize, eu sei que te machuquei, que fui infantil e mal caráter...

 

ANA: Você não me machucou mais do que eu mesma me machuquei. Te amar é um perigo que faço questão de correr!

 

Ele beija-lhe a fronte, ela sente o hálito alcoólico dele e sua a barba roçar-lhe a pele, CORTA PARA:

 

CENA 23 PRAIA EXT/DIA

 

O dia amanhece em meio a natureza, onde pássaros sobrevoam o mar a procura de peixes suculentos para se alimentar, um garoto passeia com o seu cachorro na praia e dois pescadores desembaraçam a rede de onde obtém o sustento... Ana sentada numa toalha de praia lê um livro, vestida num maiô negro esquecido por outros visitantes à casa de praia. Carlo acena para ela, joga-lhe mil beijos e corre para o mar, onde mergulha na água morna do oceano... Quando ele some na profundeza azul, ela volta novamente os olhos para a sua leitura.

 


ANA: (Lendo) Quando o trem parou na estação, Anna saiu na multidão dos demais passageiros e, desviando-se deles como se fossem leprosos, deteve-se na plataforma e tentou lembrar para que fora até ali e o que tencionava fazer. Tudo aquilo que antes lhe parecia possível, agora se mostrava muito difícil de compreender, sobretudo na ruidosa multidão daquelas pessoas repulsivas, que não a deixavam em paz...

 

Ela desvia o olhar e sorri vendo uma ninhada de tartarugas bebês brotando da areia fofa.

 

ANA: (Lendo) E de repente, ao lembrar o homem que fora esmagado pelo trem no dia do seu primeiro encontro com Vrónski, Anna compreendeu o que tinha de fazer. Com passos ligeiros e ágeis, desceu os degraus que levavam do reservatório de água até os trilhos, parou junto ao trem que passava, diante dela.

 

Ela vê Carlo emergindo e submergindo, como uma bailarina dançando dentro d’água.

ANA: (Lendo) Olhou para baixo dos vagões, para os parafusos, as correntes, as altas rodas de ferro do primeiro vagão, que rodavam lentamente e, só com os olhos, tentou calcular o ponto intermediário entre as rodas dianteiras e as traseiras e o instante exato

em que esse ponto estaria na sua frente.

 

O vento sobra na sai fronte quente por causa da luz do sol.

 

ANA: (Lendo, assustada) Envolveu-a um sentimento parecido ao que experimentava, quando se preparava para entrar na água, ao tomar banho, e Anna fez o sinal da cruz. O gesto familiar despertou, em seu espírito, toda uma série de recordações de infância e de mocidade e, de repente, as trevas que encobriam tudo para Anna se romperam e a vida, por um momento, apresentou-se com todas as radiantes alegrias passadas. No exato instante em que o ponto intermediário entre as rodas dianteiras e traseiras passava à sua frente, Anna caiu embaixo do vagão apoiada nas mãos e, com um movimento ágil, como que se preparando para erguer-se logo depois, ajoelhou-se.

 

Ela levanta-se, levando o livro consigo.

 

ANA: (Lendo) Quis levantar-se, jogar-se para trás; mas algo enorme, inexorável, empurrou sua cabeça e arrastou-a pelas costas. “Deus, perdoe-me tudo!”, disse, percebendo que era impossível lutar. E a luz da vela, sob a qual ela havia lido um livro repleto de aflições, ilusões, desgraças e maldades, inflamou-se e ficou mais clara do que nunca, iluminou para ela tudo aquilo que, antes, eram trevas, começou a crepitar, empalideceu e extinguiu-se para sempre.

 

Ela fecha o volume e o aperta contra o peito.

 

ANA: Carlo, onde você está?

 

Ninguém responde, e ela aflita corre até o mar segurando o livro nas mãos.

 

ANA: (Gritando) Carlo, amore mio, você não pode me abandonar de novo! Nunca!

 

Ela gira na água, sente seu corpo esmorecer e a cabeça girar.

 

ANA: Carlo!

 

Alguém água fria jorra em cima dela, que tenta proteger o volume com os braços, ela vira-se e encontra o seu amado sorridente e zombeteiro, espirrando água com os braços musculosos. Ana respira aliviada. 



Ele nada ao seu encontro e os dois se beijam fervorosamente, a câmera se afasta progressivamente, e lê-se na tela os dizeres:

 

“Toda a diversidade, todo o encanto, toda a beleza da vida é feita de luz e sombra” – Lièv Tólstoi em Anna Kariênina.

 

FIM DO CAPÍTULO.


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