Doce Prazer: Primeiro Capítulo

 






 

 

CAPÍTULO 01

 

 

NOVELA DE:

 

Du

 

SUPERVISÃO DE TEXTO:

 

Vanessa Dias

 

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

 

 

Malu Mader LÍVIA

 

 

Paolla Oliveira LORAYNE

 

 

Rosanne Mulholland VICTÓRIA

 

 

Fernanda Montenegro CARMEN

 

 

Patrícia Pillar JUDITE

 

 

Bruno Ferrari DON

 

 

[Fique agora com o primeiro capítulo.]

 

 

CENA 01 – Sala da fazenda / Interior / Noite

 

Estamos no ano 2000, todos estão comemorando a festa de aniversário de 6 anos de Victória. Recebendo presentes, um em especial a chama mais atenção.

 

VICTÓRIA  Olha, mamãe, é a tia Carmen. Ela veio!

 

Victória corre até Carmen, que lhe dá um abraço muito apertado.

 

CARMEN – Oh minha sobrinha, é claro que eu não ia me esquecer do aniversário da minha bebezinha.

 

VICTÓRIA – O que é isso na sua bolsa, titia?

 

CARMEN – Oh, já ia me esquecendo. Isso é o seu presente, eu espero que você goste.

 

Carmen dá o presente nas mãos de Victória, ela abre e seus olhos começam a brilhar.

 

VICTÓRIA – Titia, isso é uma boneca! Eu nunca tive uma boneca.

 

CARMEN – Não é só uma boneca, Vic. É uma boneca de luxo, ela veio de muito longe e acabou chegando até aqui.

 

Lívia, mãe de Victória, interrompe a conversa.

 

LÍVIA – Carmen, que bom que você veio... Esta boneca deve ter custado uma fortuna, não precisava. Filha, devolva a boneca para a sua tia, por favor.

 

VICTÓRIA (esperneando) – Mamãe, deixa eu ficar com a boneca, por favor!

 

CARMEN – Victória, por que não vai mostrar a boneca para a sua irmã? Eu e sua mãe precisamos bater um papo.

 

Victória corre e Carmen começa a falar com Lívia. A cena vai ao pouco perdendo o volume. Corte

 

CENA 02 – Cozinha da fazenda / Interior / Noite

 

Victória mostra a boneca dada por Carmen para a sua irmã, Lorayne.

 

VICTÓRIA (em êxtase) – Lô, Lô, olha a minha boneca de luxo que a tia Carmen me deu.

 

LORAYNE – Que boneca de luxo? Isto está mais para um trambolho comprado numa barraca de 5 centavos.

 

VICTÓRIA (chateada com o comentário) – Mas é de marca, olha, tem tudo escrito na caixa...

 

LORAYNE (enfurecida) – E eu lá quero saber o que tem ou não escrito nesta porcaria? Ah me poupe, Victória.

 

Lorayne sai do local irritada. Foca no rosto triste e choroso de Victória. Corte

 

CENA 03 – Sala da fazenda / Interior / Noite

 

Carmen continua o papo com Lívia, até que a mesma vê sua filha, Lorayne, entrando no quarto e batendo fortemente a porta.

 

LÍVIA – Carmen, com licença... É melhor eu ver o que aconteceu com a Lorayne.

 

Lívia se dirige ao quarto onde Lorayne está. Corte

 

CENA 04 – Quarto da fazenda / Interior / Noite

 

LÍVIA – O que foi isto que você acabou de fazer? O que aconteceu? Que cara é esta?

 

LORAYNE – Você ainda me pergunta o que aconteceu? A Victória vem toda feliz mostrar aquele presente que a tia Carmen lhe deu!

 

LÍVIA – E qual é o problema em mostrar o presente que a coitada ganhou?

 

LORAYNE (furiosa) – O problema é que eu nunca ganhei uma boneca, sempre os meus presentes foram roupinhas, presilhas, principalmente os da tia Carmen. Agora ela vem dar uma boneca importada pra Victória? É demais para mim.

 

LÍVIA – Sabe qual é o nome disto? É inveja, você é invejosa. Está se doendo só porque sua irmã ganhou um presente relativamente bom... Não foi assim que te criei, Lorayne!

 

LORAYNE (caindo na real) É, você tem razão, me exaltei por besteira. Me desculpa.

 

LÍVIA – Que ótimo que você enxergou a sua infantilidade. Pronto, encerrou o assunto, vamos voltar para a festa antes que sintam nossa falta.

 

Lívia pega nas mãos de Lorayne e sai do quarto deixando a porta aberta. Ocorre uma passagem de tempo. A câmera dá continuidade à cena, saindo da porta e se direcionando até a cama, onde Lorayne, já jovem, está fazendo as suas malas.

 

CENA 05 – Quarto da fazenda / Interior / Dia

 

LÍVIA Oh minha filha, você não sabe a dor que meu coração tá sentindo com você indo embora.

 

LORAYNE Mãe, olha só. Eu juro que vou te visitar, e eu nunca vou esquecer da senhora. Sempre vou fazer o possível pra mandar lembranças até eu terminar o curso e conseguir me estabilizar lá em Minas.

 

LÍVIA Eu tô muito, mas muito orgulhosa de você. Desculpa falar, mas você tem um futuro brilhante, diferente da sua irmã.

 

 

LORAYNE Ei, não fala assim da Vic! Eu tenho certeza que um dia ela vai arranjar um caminho, mesmo que demore.

 

 

LÍVIA Caminho? Que caminho? Aquela garota só pensa em dinheiro, sucesso. Às vezes... nem parece que nasceu do meu ventre

 

 

LORAYNE Todo mundo tem que ter um pouco de ambição nessa vida, inclusive a senhora...

 

 

Victória entra no quarto.

 

VICTÓRIA Impressão minha ou já estão falando de mim?

 

 

LORAYNE Claro que não, mana. Não vai me dar um abraço de despedida?

 

VICTÓRIA Não, vou deixar pra fazer isso na hora você realmente subir naquele ônibus e se mandar daqui.

 

LORAYNE – Victória, joga para escanteio toda essa birra desnecessária, eu tenho certeza que vai melhorar e muito o seu humor.

 

VICTÓRIA (exaltada) – Ótimo! Você vai ir embora de Trunfo Verde e eu sou obrigada a ficar aqui esperando a irmãzinha dar um mísero centavo pra ter o que comer!

 

LORAYNE (sem paciência) – Uma hora ou outra você também vai sair daqui, mas aceita que tudo não acontece de repente, Victória! Ah, e outra, o dinheiro que eu conseguir não vai ser pra te alimentar não, vai ser em gratidão à nossa mãe. Por mim você saia na rua e procurasse um emprego ou bico qualquer, coisa que você não tem a mínima coragem de fazer!

 

Lívia interrompe a conversa.

 

 

LÍVIA Bom meninas, acho que já tá na hora da gente ir pro terminal. A Lorayne não pode se atrasar!

 

Corta para




 

CENA 06 – Terminal / Exterior / Dia

 

Lívia, Victória e Lorayne chegam no terminal rodoviário de Trunfo Verde.

 

LÍVIA Olha seu ônibus ali, filha! Corre, corre!

 

 

LORAYNE Aí gente muito obrigada, amo vocês! Torçam por mim.

 

 

VICTÓRIA Fica com Deus, pestinha.

 

 

Lorayne pega o ônibus e vai embora dando tchau para sua família.

 

 

LÍVIA (chorando) – Que Deus te proteja, minha filhinha.

 

 

Corta para

 

 

CENA 07 – Sala da fazenda / Interior / Dia

 

Após terem levado Lorayne até o terminal, Lívia e Victória voltam para a sua casa, onde as duas começam uma discussão.

 

LÍVIA Viu, Victória? É esse o futuro que você tem que tomar.

 

 

VICTÓRIA Ah pelo amor de Deus, não começa com esse enjoo!

 

 

LÍVIA Enjoo? Eu só quero o seu bem, que você estude, faça um curso, siga uma carreira, que você tenha um sonho!

 

 

VICTÓRIA Eu já tenho sim um sonho. O sonho de sair dessa merda de vida e ir pra um lugar melhor!

 

 

LÍVIA Lava essa boca, sua infeliz! Eu sempre dei tudo que você queria e é assim que você se refere? Como uma merda?

 

 

VICTÓRIA Uma merda mesmo, uma bosta! Tenta nascer de novo, vai que assim você consiga nascer rica, bonita e dar um futuro digno para os seus filhos!

 

 

LÍVIA – Cala a boca!

 

 

Lívia dá um tapa em Victória. Corte

 


 

CENA 08 – Sala da fazenda / Interior / Dia

 

LÍVIA (chorando) Meu Deus... me desculpa, filha.

 

 

VICTÓRIA Não encosta em mim!

 

 

LÍVIA Não era pra ter sido assim...

 

 

VICTÓRIA Fecha essa sua boca, megera!

 

 

Victória corre para seu quarto e pega uma mala.

 

 

LÍVIA O que você tá fazendo?!

 

 

VICTÓRIA Eu tô indo embora desse mausoléu!

 

 

LÍVIA (desesperada) Você não pode fazer isso! Eu não consigo viver aqui sozinha de maneira alguma!

 

 

VICTÓRIA A senhora devia ter pensando nisso antes de tudo que fez pra mim. Quer saber? Vai lá pra Minas, vai atrás da sua filhinha querida, do orgulho da família! Adeus...

 

 

Victória cospe no chão da sua casa. Chorando, Lívia grita o nome de Victória, na fé que sua filha olhe para trás e volte pra casa. Corte

 

CENA 09 – Sala da fazenda / Interior / Dia

 

A câmera foca em Lívia aos prantos após sua filha decidir abandoná-la, com um instrumental melancólico. Corta para

 

CENA 10 – Estrada / Exterior / Dia

 

Victória segue uma estrada de chão, até que um carro estranho se aproxima da jovem.

 

 

??? – Tá perdida, mocinha?

 

 

VICTÓRIA Não. Eu só estou seguindo meu rumo!

 

 

??? Hum, e seu rumo é em que local? No postinho do Seu Judas?

 

 

Victória se irrita e começa a agredir verbalmente o estranho.

 

 

VICTÓRIA Olha aqui seu mala sem alça, quem você acha que é pra ficar me insultando dessa maneira? Vá pro inferno!

 

 

O desconhecido saí do carro e vai até Victória para tirar satisfação.

 

 

??? Tá irritada, donzela? Eu só tô querendo te ajudar nesse fim de mundo!

 

 

VICTÓRIA Ajudar? Nossa, realmente muito, mas muito obrigada pela sua ajuda. Agora sai da minha frente, pois eu não vou chegar em São Paulo olhando pra essa cara de peixe morto que você tem.

 

 

??? Ei, vamos parar de fazer intrigas bestas. Primeiramente meu nome é Don e eu também estou indo para São Paulo. Coincidência, não?

 

 

VICTÓRIA Aí garoto, pega essa coincidência e enfia no meio do teu...

 

 

DON Não precisa completar a frase! Eu tô vendo que você está desnutrida e cansada... Não quer ser minha companheira de estrada até lá?

 

 

VICTÓRIA Eu aceito essa carona sim, mas se você vier com gracinha pro meu lado, eu não vou responder por mim.

 

 

DON Calma, estressadinha. Vai lá, pode entrar no carro.

 

 

Victória entra no carro e segue para São Paulo com Don. Corta para

 

 

CENA 11 – Sala da fazenda / Interior / Dia

 

Judite, amiga fiel de Lívia, encontra a amiga desamparada.

 

 

JUDITE Amiga? Você tá bem? O que aconteceu?

 

 

LÍVIA (chorando) Meu mundo caiu, minha vida acabou. Eu perdi todo mundo que eu amava... Eu sou um monstro.

 

 

JUDITE Lívia, não fala assim! Ergue essa cabeça, essa não é a mulher guerreira e batalhadora que eu conheço.

 

 

LÍVIA (chorando) – Essa mulher nunca existiu... Quando o mundo desabava pra cima de mim eu fingia ser forte, eu fingia não sentir dor... Mas por dentro eu tava destruída, minha alma estava acabada. Eu sempre criei a Victória com todo o amor de mãe do mundo, levantava cedo pra trabalhar e dar um futuro honesto pra aquela criança. Aí eles crescem, aí eles crescem... a gente vê que tudo que fizemos pra eles não passa de um mero desperdício.

 

 

JUDITE Você sabe o quão a Victória é esquentada, logo logo ela volta.

 

 

LÍVIA (chorando) – Que essa megera vá pro quinto do inferno. Megera... foi assim que ela me chamou, Judite. Faz uma coisa pra mim, pega tudo que pertence à ela e coloca no porão, por favor!

 

 

JUDITE Tudo bem, eu vou fazer isso. Mas antes vai lá pra fora tomar um ar enquanto eu pego um copo de água pra você.

 

 

A tela aos poucos vai perdendo a opacidade, e logo após é mostrado um plano aéreo entre Trunfo Verde e São Paulo, mostrando a transição do dia para a noite. Corta para

 

CENA 12 – Motel / Interior / Noite

 

Don e Victória chegam em São Paulo e se hospedam num motel.

 

 

VICTÓRIA Sério que vamos ter que ficar nesse lugar?

 

 

DON Bom, pode ter certeza que esse lugar é melhor do que ficar debaixo da ponte. Esse motel é o único que cabe no meu bolso.

 

 

VICTÓRIA É, você tem razão. Eu nem sei como dizer isso, mas muito obrigada por ter me ajudado. Um dia eu juro que vou te recompensar.

 

 

DON E se esse dia for hoje?

 

VICTÓRIA Como assim? Olha, se for pra transar com você, já pode tirar o cavalinho da chuva.

 

 

DON Até que não seria uma má ideia! Mas eu tô precisando é de outra coisa. Um amigo meu precisa que eu entregue essa mochila pra ele, mas eu tô morrendo de cansaço e essa entrega tem que ser hoje.

 

 

VICTÓRIA E o que tem de tão importante nessa mochila?

 

 

DON Nada demais, só umas roupas emprestadas e que ele precisa urgentemente para ir a um evento amanhã de manhã.

 

 

VICTÓRIA Bom, já que eu não tenho nada pra fazer eu entrego essa mochila pro seu amigo sim. Mas aonde fica a casa dele?

 

 

DON É só virar pra direita na primeira esquina e seguir reto, não é tão longe. A casa dele é uma amarela com portão dourado. E se você se perder, o que eu acho difícil, é só perguntar pra algum estranho na rua.

 

 

VICTÓRIA Ok. Vou logo fazer isso que você tá pedindo antes que fique tarde.

 

 

DON Tchau e toma cuidado!

 

Corta para

 

CENA 13 – Rua / Exterior / Noite

 

VICTÓRIA Deve ser aqui... Mas não tem nenhuma casa igual o Don falou... estranho. Aquela viatura parada ali deve saber o local, melhor eu ir perguntar.

 

 

Victória caminha até o local onde a viatura está parada.

 

 

VICTÓRIA Alô? O senhor sabe se existe alguma casa amarela aqui? É urgente, por favor.

 

 

POLICIAL 1 O que a mocinha tá fazendo a essa hora da noite na rua?

 

 

VICTÓRIA Eu só estou aqui pra entregar uma encomenda pra um amigo meu, eu juro que não é nada de errado. Agora pode responder minha pergunta?

 

 

POLICIAL 2 Antes a princesa vai ter que mostrar o que tem dentro dessa mochila! Major, revista a mocinha!

 

 

VICTÓRIA Ei, não! Me larguem!

 

 

O policial abre a mochila e Victória se surpreende.

 

 

POLICIAL 2 Olha, olha o que temos aqui. Droga, então a princesa é traficante?

 

 

VICTÓRIA (desesperada) – O que é isso?! Moço eu juro que isso não é meu! Eu fui enganada! Eu fui enganada por um rapaz, isso não é meu!

 

 

POLICIAL 2 Ah é? Então fala quem é esse rapaz que enganou a senhorita!

 

Corta para

 

CENA 14 – Motel / Interior / Noite

 

DON (cantando) – Dont'let me down, dont'let me down.

 

 

A campainha toca e Don abre a porta.

 

 

DON Ué, já voltou? Você não entregou a mochila?

 

 

Victória entra no quarto sem dizer nada.

 

 

DON Que cara é essa?

 

 

VICTÓRIA Me desculpa...

 

 

DON Desculpa pelo o que? Você se perdeu, foi isso? Não tem problema, pode deixar que eu levo. Me dá essa mochila. Espera, cadê as coisas que estavam aqui dentro?

 

 

Os policiais entram de surpresa no quarto.

 

 

POLICIAL 1 O senhor pensa que vai aonde?

 

 

DON Que isso? Acho que houve um engano, vocês entraram no quarto errado.

 

 

POLICIAL 2 Talvez seja isso que você esteja procurando na mochila, não é?

 

 

O policial mostra a droga encontrada na mochila.

 

 

DON Isso... Isso não é meu!

 

 

POLICIAL 1 Chega de mentiras, Don Rodriguez. Você achou mesmo que ia escapar novamente?

 

 

DON Isso é um equívoco, vocês vão se arrepender.

 

 

POLICIAL 2 Não há nenhum equívoco aqui. Senhor Don, você está preso!

 

 

Don é algemado pelos policiais e a câmera foca em Victória aos prantos.

 

Fade In – Foo Fighters - The Sky Is A Neighborhood (até o fim da cena)



 

DON Foi você sua cretina! Foi você que me entregou!

 

 

VICTÓRIA (chorando) – Eu confiei em você.

 

 

DON Eu vou acabar com a sua vida! Sua vagabunda, ordinária!

 

 

Don é levado pelos policiais até a viatura que está estacionada na frente do motel. Todos no redor observam o bandido sendo detido. A câmera vai se afastando aos poucos e a imagem congela. Corta 

FIM DO CAPÍTULO.

 


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