Série
criada e escrita por:
Thiago
Figueroa
Personagens deste episódio
RITA
SPENCER.................................................ROSAMARIA MURTINHO
STELLA
MANCINI...............................................ARACY BALABANIAN
MARGO......................................................................BIA
NUNNES
LEILA.......................................................................BIA
SEIDL
CARLOS..............................................................ARY
FONTOURA
ALBERTO.................................................................CÁSSIO
GABUS MENDES
Cena 1. Programa de
Televisão. Interior.Noite
Flashes mesclando prédios de uma cidade durante a noite e instrumentos de uma banda como piano e saxofone. É revelado Rita e Stella sendo entrevistadas por um entrevistador na faixa dos 60 anos de cabelos grisalhos.
Apresentador – Todas as
mulheres lá de casa falam direto dessa série. Vocês são tão populares quanto o
movimento hippie dez anos atrás (Risos).
Stella – Sabe... Eu deixo que o público
diga se uma obra foi um sucesso ou não. São os fãs que nos dão e mantêm uma
carreira, os críticos só pegam carona quando o veículo está em alta.
Apresentador – É sério, vocês imaginavam que conseguiriam
fazer tanto sucesso agora?
Rita – Bom... tinha gente que não dava
crédito para essa história, e principalmente para nós duas, mas mostramos que
mulheres maduras rendem histórias (Risos).
Apresentador – Tenho certeza que os seus fãs
ficam felizes vendo que a rivalidade não passa de história de bastidor. (Olhando
para a câmera) Não perca o último episódio de Último
Outono! Esta semana! Na TV Astro!
Corta para:
Cena 2. Programa de
Televisão. Interior. Noite
Rita anda pelos corredores do
programa ao lado de Margo.
Rita – Dá para acreditar que ela pediu
uma mesa com uma cascata de frutas? Nunca vi algo tão cafona desde que eu saí
dos anos 60.
Corta para:
Cena 3. Mansão de Stella.
Interior. Noite
Em frente ao espelho do seu
banheiro, Stella retira os seus cílios.
Stella – Se alguma coisa que aquela cretina
falou inviabilizar o resto da minha carreira, eu vou processá-la. (Apalpando o
cabelo).
Corta para:
Cena 4. TV Astro. Interior. Final
de tarde
Na sala de edição, Alberto, o
diretor Sérgio e Leila observam cenas de Rita e Stella em uma câmera.
Sérgio – O que achou, grande criador?
Alberto – Ficou perfeito, Sérgio, só vamos
precisar deixar a imagem um pouco mais clara! (Se afasta dos dois) A reunião do
elenco para o último episódio vai ser naquele restaurante de Botafogo mesmo?
Sérgio – Sim! Não é o Copacabana Palace,
mas...
Alberto – Perfeito, ao menos se for um
desastre a visto do Pão de Açúcar vai amenizar a insatisfação.
Leila – E você vai poder fugir no primeiro
barco (Riso). Vocês dois não precisam transferir o drama para fora das lentes.
Corta para:
Cena 5. TV Astro. Interior.
Noite
Alberto e Leila, andam por uma
cidade cenográfica.
Leila – Por que todos vocês agem
como se tivessem se livrado de uma âncora?
Alberto – Porque se não desse certo, ia nos
puxar de vez para baixo.
Leila – E já deu certo! O final é uma mera
conclusão.
Alberto – Exato! Todos se lembram da Norma
Desmond descendo as escadas e olhando para a câmera. É do final que as pessoas
vão lembrar mais, principalmente se for muito bom ou muito ruim.
Leila – Então de qualquer forma pode ser
memorável. (Faz uma pausa) Nossa! Esse lugar é incrível, não é? Me lembra a
minha juventude em Los Angeles.
Alberto – Foi escrever algum artigo sobre o
modo de operação dos estúdios?
Leila – Não! A gente se mudou pra lá por
causa do emprego do meu pai. Aí minha mãe por lá trabalhava como figurinista
nos estúdios da Metro, e eu obviamente dava um jeito de acompanhar. Eu achava
aquilo tudo mágico.
Alberto – Tenho certeza que se você fosse
atriz por lá, iria desbancar algumas estrelas.
Leila – (Rindo) Atriz eu nunca cogitei,
mas sabia que o meu lugar era nesse meio de alguma forma.
Corta para:
Cena 6.
Restaurante. Interior. Noite
Flashes de Rita e Stella lado a
lado de pé sendo fotografadas por repórteres que a cercam.
Reporter –
Sorriam!
Foco nas atrizes e depois na câmera
do repórter.
Corta para:
Cena 7. Sala de Espera.
Interior. Manhã
Stella está sentada em um sofá da sala lendo um jornal enquanto sua assistente está em uma poltrona bem ao lado. Foco em matéria com a foto de Rita e Stella. Uma mulher loira de 30 anos aparece.
Ellen – Senhorita Mancini? Prazer, Ellen!
Stella interrompe a sua leitura.
Stella – Bom... Vejo que o velho Steiner lembrou que só trabalha aqui até hoje por minha causa.
Ellen - O senhor Steiner teve uma emergência de última hora, mas disse que senhora pode voltar amanhã.
Stella – Ah, claro! Se mandou a estagiária falar comigo, é melhor eu vir outro dia.
Corta para:
Cena 8. Restaurante. Interior. Manhã
Rita e Leila andam pelo interior do restaurante até chegarem ao recepcionista.
Recepcionista – Oh! Rita! Não esperava a senhorita vindo essa hora. Está deslumbrante como sempre!
Rita – Obrigada, Marco! Eu soube que a senhorita Stella ultimamente vinha jantar aqui, e acho que os meses que passamos trancadas em um estúdio já foi convivência suficiente.
Recepcionista – Podem me acompanhar! (Guiando as duas) A mesa é por aqui.
Corta para Rita e Leila sentadas.
Rita – Está vendo?
Leila – O que foi?
Rita estica a cabeça em direção a um casal, que acena e recebe outro da atriz.
Leila – Acho que você já encontrou os
seus fãs.
Rita – Ou querem saber quando será a minha última aparição pública antes de eu me isolar em alguma cidade da Suíça. Igualzinho quando as pessoas me reconheceram na rua pela primeira vez. Eu acabava achando que uma outra pessoa poderia estar tripudiando de mim com um sorriso de deboche querendo criticar a minha atuação. De qualquer forma eu vou aproveitar enquanto sabem o meu nome. Essa série pode ter sido a minha última oportunidade.
Leila – Bom... Eu não diria que foi a última. Não se você aceitar o roteiro que eu tenho para te apresentar.
Rita – Um roteiro do Cláudio? Por que não me disse antes?
Leila – Não, esse meu.
Rita – Não sabia que você escrevia.
Leila – Faz um tempo que eu ando desenvolvendo. Já está quase pronto.
Rita – Sabe, a televisão sempre foi um grande clube de bolinha, onde a gente precisa quebrar pedaços do pedestal montado pelos homens até desmoronar. Mas eu fiz umas pesquisas, e descobri que agora nos anos 70 a participação feminina no mercado de trabalho foi aumentando aqui no Brasil, e a tendência é crescer cada vez mais. Sabe o que isso significa?
Leila – Que todos terão menos tempo para ver televisão.
Rita – Significa que haverá cada vez mais produções feitas por mulheres para mulheres, principalmente com o aumento da população feminina em relação à masculina, isso vai por em descrédito os mitos que a indústria inventa sobre quem o público quer ver nas telas.
Leila – Fico impressionada com a sua visão ampla.
Corta para:
Cena 9. Mansão de Stella. Interior. Manhã
Stella está em sua sala organizando discos do Nat King Cole, até que é interrompida pela chegada de um roteirista guiado pela assistente da atriz.
Stella – (Apontando para os discos) Carmen, leve estes discos lá para o meu quarto, por favor! Vou deixá-los na mesinha ao lado da cama.
Carmen – Já estou indo!
Stella – (Olhando para o roteirista) Você deve ser o tom, não é isso?
Tom – Sim! Era Thomas, mas uma cartomante me disse que Tom com o meu sobrenome teria uma energia melhor.
Stella – Durante o meu casamento com um roteirista, uma cartomante me disse que eu teria algum problema na área matrimonial. No final eu tive que pegar pensão.
Stella vai até um móvel da sala e pega um envelope.
Stella – Aqui está o seu roteiro. Tomei todo o cuidado para te devolver intacto no envelope.
Tom – Mas a senhorita leu, não foi?
Stella – Sim eu li.
Tom – Não acha que é um bom momento para voltar para as novelas?
Stella – O problema é o que as novelas acham, e as da TV Astro pelo menos acham que não sirvo para ter uma história própria.
Tom – Mas o seu papel é importante, você vai ser praticamente a mentora da protagonista em sua jornada para vingar a morte do pai.
Stella – O que não vai fazer diferença nenhuma pra mim. Em outra época eu até aceitaria para não ficar no ócio, mas agora... Seria praticamente jogar fora todos os dias que eu fiquei gravando essa série.
Tom – Eu entendo...
Stella – Mas não fique triste! Você é um autor promissor, mas um mero trabalho que você faz só para não perder o contrato com a emissora não vai ser o último a constar no meu currículo.
Tom – Desculpe o incomodo.
Corta para:
Cena 9. Escritório. Interior. Manhã
Steiner está sentado em sua mesa conversando com Stella.
Steiner – A senhorita não aceita uma bebida?
Stella – Não, Steiner, muito obrigada! Eu não quero tomar muito tempo. Estou pensando tirar umas tirar umas semanas e ir para Nova York.
Steiner – Final de ano por lá é uma época perfeita para quem gosta de frio.
Stella – É... Então... Eu não sei quantas
ofertas de projetos eu tenho. Eu gostaria só de dar olhada para nós fazermos um
planejamento... Assim eu consigo
organizar melhor a minha a minha agenda.
Steiner – Bom... Como eu posso dizer? Não tem nada!
Stella – Nada?
Steiner – Bom... Só uma participação ou outra em novela, mas nenhum dos papéis é grande coisa.
Stella – Eu acabei de protagonizar uma das séries de maior sucesso do últimos anos.
Steiner – Você não poderia retomar a carreira de uma forma melhor. Aguardamos ansiosos por propostas de autores.
Stella – Eu mostrei para todos que ainda posso jogar. Aturei aquela mulher horrorosa e no final ela ajudou minha carreira mais que você. Preciso reconhecer que essa série só aconteceu por causa dela. O que você fez por mim?
Steiner – Eu não posso fazer se achar bons papéis maduros é como... acertar uma joaninha com uma flecha.
Stella – Com os olhos vendados.
Steiner – É, você sabe como é difícil, já treinou arco e flecha para um filme que eu consegui pra você. (Respiração funda) Eu tenho certeza que próximo ano as ofertas virão, aí eu faço a filtragem de sempre.
Stella encara irritada.
Corta para:
Cena 10. Casa de Show. Interior. Manhã
Insert: Até o final da cena 11
Banda de Jazz se apresentando no palco. A câmera se move e mostra Rita e Alberto em uma mesa.
Corta para:
Cena 11. Limusine. Interior. Noite
Rita e Alberto conversam sentados.
Rita – Você viu quem estava na mesa em frente à nossa?
Alberto – Quem?
Rita – Werner Adler! Eu soube que ele planeja uma adaptação brasileira de Sunset Boulevard para o cinema. Ele vai dirigir, mas precisa de alguém para cuidar do texto, e de uma Norma Desmond, é claro! Será que eu consigo alguma coisa se marcar um jantar lá em casa?
Alberto – Talvez só um dia de golfe seja suficiente! Dizem por aí que ele já derrotou o Sinatra em uma partida. Você já não fez Sunset Boulevard no teatro.
Rita – Sim, mas agora vai ser outro formato, e com atriz. Eu evolui e vou ter mais bagagem, nem que eu tenha que recorrer à minha vida. Mas se você não puder por estar ocupado demais na agitada vida da televisão eu vou entender.
Alberto – Bom... Por enquanto o Menezes só me colocou para supervisionar a novela de um autor.
Rita – (Pegando um cigarro) Ao menos alguém conseguiu ser aceito na máfia. Fizeram algum ritual de iniciação ou colocaram um cavalo morto na cama de alguém? Eu
Alberto – Ah, qual é, todos nós sabemos que você é uma indicação certa nas premiações.
Rita – Mas vitórias improváveis.
Alberto – Mas não impossíveis.
Rita – Um dos desafios nesse meio é mostrar que você ainda capaz de encabeçar o elenco de uma produção, porque eles inventam que é necessário um dia fazer uma transição e sair da protagonista para mãe da protagonista, e depois para avó da protagonista. Eu já consegui mostrar, mas se até agora eu não recebi propostas, imagina quando o efeito dessa série passar.
Alberto – Tentaremos esse filme, não é mesmo? E eu prometo escrever mais sucessos para você na televisão.
Rita olha a para a janela. Take rápido da limusine preta passando por cima de um jornal com a foto de Rita e Stella.
Corta para:
Cena 12. Sala de Carlos. Interior. Manhã
Carlos está sentado em sua mesa.
Carlos – (Falando ao telefone) Pode avisar que se ela não quiser colocar uma peruca branca, outras vão aceitar sem problemas.
A secretária de Carlos entra.
Secretária – A senhorita Spencer está aqui desejando falar com o senhor. Posso mandar entrar?
Carlos – (Desligando o telefone) Ah, o que foi dessa vez? Manda entrar.
A secretária sai da sala, dando lugar para a atriz, que entra segundos depois e anda até a mesa de Carlos.
Carlos – Ah, oi, Rita! Gostou do piano que eu mandei colocar aqui na minha sala? Eu nem tive que vender 1/3 dos meus móveis.
Rita – Quando aprendeu a tocar?
Carlos – (Anda até o piano) Nunca! É que eu sempre achei chique! Me lembra um clube de jazz que em Chicago. (Faz uma pausa) E então... Animada com o roteiro que eu te mandei?
Rita – O que eu faço uma mulher que passa boa parte da trama só chorando pelo filho desaparecido enquanto o marido empresário está envolvido com cassino clandestino?
Carlos – Pensa que o público sempre se comove com essa história. É um clássico! Mas se não quiser, não tem problema, eu chamo outra.
Rita – E eu sei muito bem que não é a Glória Menezes ou a Tereza Rachel.
Foco total em Carlos de costas para Rita enquanto olha para a janela e alisa o seu piano
Carlos – Isso já aconteceu antes, mas se você não sente segurança na história, tudo bem. Para mostrar que eu ainda sou seu amigo, eu te desejo boa sorte nas indicações. Sei que não vão ignorar uma atriz do seu gabarito dessa vez.
Carlos se vira e
só encontra a sua secretária.
Secretária – Ela acabou de sair!
Corta para:
Cena 13. Mansão de Stella. Interior. Manhã
Stella
está em uma cadeira ao lado da piscina lendo um roteiro. Corta para a atriz na
sala de estar olhando para um prêmio em uma estante enquanto sua assistente te
faz companhia.
Stella – Ao menos eu sempre vou ter esse aqui só pra mim, talvez ele não fosse tão especial se eu tivesse sido a primeira opção.
Stella se
vira para a assistente.
Stella – Carmen, prepara meu dry martini, por favor! Tenho certeza que o dia foi proveitoso.
A assistente se afasta. Logo após isso, a atriz volta a olhar o prêmio. Corta para a fachada da mansão.
FIM DO SÉTIMO EPISÓDIO.
Nenhum comentário:
Postar um comentário